quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Decisão da Aneel afasta risco de falta de gás


Os reservatórios das hidrelétricas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste deverão começar o ano que vem com pelo menos 36% da capacidade total para evitar o acionamento de usinas térmicas. A meta foi fixada ontem pela diretoria colegiada da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e praticamente afasta o risco de nova crise de desabastecimento de gás natural. No fim de outubro, o fornecimento de gás às termelétricas paralisou indústrias e taxistas no Rio de Janeiro, por falta de insumo.

Sem unanimidade - o diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, votou contra -, foi aprovada a nova proposta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Em vez de 61% como nível mínimo dos reservatórios no início de janeiro, o ONS reestimou a chamada "curva de aversão ao risco" para 36%. Para isso, baseou-se em estimativas menos conservadoras do regime de chuvas.

Se tivesse adotado a primeira proposta, seria grande o risco de acionar todas as usinas termelétricas, incluindo as movidas a carvão e óleo combustível, fazendo disparar o preço da energia. Isso porque as precipitações chegaram com atraso neste ano e, a menos de duas semanas do fim de dezembro, os reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste estão com 45,5% da capacidade total de armazenamento -- ainda distante da primeira proposta feita pelo ONS.

O operador do sistema alegou que seria imprudente ligar as térmicas agora, com todos os efeitos colaterais que isso pode trazer, em meio ao período de chuvas. A argumentação convenceu os diretores da Aneel, à exceção de Kelman, para quem essas usinas deveriam ser acionadas justamente agora, por precaução.

Ele advertiu que, se o regime de precipitações for ruim, os reservatórios podem estar comprometidos mais à frente sem que se tenham adotado as medidas necessárias com antecedência para poupar agora a água armazenada. A Aneel vai pedir um monitoramento semanal até maio dos reservatórios ao ONS e avisou que poderá mudar a "curva de aversão ao risco" ao longo de 2008.

Atingir o número apontado na curva não significa que o país esteja à beira de um apagão. Mas é um alerta de que, se um cenário conservador for levado em consideração, será preciso economizar a água dos reservatórios para não chegar a uma situação irreversivelmente crítica no futuro próximo. A curva sugerida pelo ONS e aprovada pela Aneel é para o biênio 2008-2009.

A alteração feita pelo ONS, em relação à proposta original, reduz de 65% para 53% o nível de segurança do sistema ao fim de janeiro. Para implantar essa mudança, o operador acabou fazendo uma "troca": em vez de enfrentar um sufoco já no mês que vem, aponta compromissos mais rigorosos de armazenamento de água nos reservatórios no decorrer de 2008 e de 2009.

O ONS recorreu a uma sutileza para embasar sua nova proposta. Na anterior, adotava como referência (muito conservadora) uma média dos quatro piores biênios em volume de chuvas 1933/34, 1953/54, 1954/55 e 1955/56. Na nova, pega apenas o biênio 1933/34. Naquele biênio, choveu pouco durante o ano, exceto em janeiro, quando a afluência foi de 114% da média histórica.

Nos outros biênios, apesar de a média anual de precipitações ter sido parecida com a de 1933/34, os meses de janeiro tiveram chuvas bem mais fracas, entre 45% e 65% da média. Assim, a adoção de apenas um biênio ruim de chuvas alivia a situação de janeiro, minimizando a necessidade de acionamento das térmicas e diminuindo o risco de desabastecimento de gás, mas há uma contrapartida.


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