quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Fernando Henrique Cardoso demite maestro John Neschling por e-mail


Por causa de reações negativas a entrevista concedida ao Estado, o maestro John Neschling foi demitido ontem da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) por e-mail. A decisão, assinada pelo presidente do Conselho de Administração da Fundação Osesp, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi unânime. Por meio de assessor, Neschling, que está na Grécia, afirmou que recebeu a carta por e-mail ontem à tarde, que vai conversar com algumas pessoas para entender melhor a situação e que não vai se pronunciar sobre a demissão até seu retorno, no final da próxima semana.

Neschling já havia comunicado, em 13 de junho do ano passado, que só permaneceria à frente da orquestra até 31 de outubro de 2010. Mas, diz a carta de FHC, como as declarações do maestro ao Estado, em entrevista publicada no dia 9 de dezembro, repercutiram negativamente entre os músicos, o conselho reuniu-se para analisar a entrevista e "estimar seu efeito" nas condições em que a sucessão no comando da orquestra se daria "nos quase dois anos ainda por decorrer até a expiração do atual contrato".

"À luz da gravidade dos termos daquela entrevista, que coroa uma série de manifestações na mesma direção, o Conselho de Administração, com pesar, mas no cumprimento de seu dever estatutário (...), decidiu, por unanimidade, pela ruptura contratual imediata", afirma o texto. "A manifestação pública de Vossa Senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade - como era nossa intenção - de uma convivência harmoniosa, no processo de sucessão, evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais", prossegue a carta.

''PROJETO MEU''

Na entrevista, Neschling criticou ter sido marginalizado do processo sucessório. "Estou preocupado com a maneira como a sucessão está sendo feita. E magoado por ter sido excluído do processo", disse. Ele também declarou que há 12 anos a Osesp "era inexistente, existia mal e porcamente, estava acabando" e que, sob seu comando, "uma orquestra que não existia fez de São Paulo um centro sinfônico".

Ele afirmou ter proposto uma transição "mais lenta" e "pacífica". "Pedi mais dois anos de contrato ao longo dos quais eu regeria menos e ajudaria a procurar um substituto. Não obtive resposta", declarou.

Neschling afirmou também estar preocupado com o futuro. "A Osesp é um projeto meu, não deles. Mas, agora, é deles, daqueles que não me quiseram mais na orquestra, a responsabilidade de levá-la adiante. O perigo é imenso. A possibilidade de dar errado é grande porque não há um projeto claro."

Na carta de demissão, Fernando Henrique Cardoso lamenta que "o passo natural de renovação" não tenha sido "percorrido de melhor maneira" e encerra com "justas homenagens pelo admirável trabalho realizado".

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