quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Brasil em ritmo chinês

A economia brasileira disparou no primeiro trimestre e cresceu 2,7%, em ritmo equivalente a 11,2% ao ano, enquanto a maior parte do mundo mal começava a sair da recessão. O governo tem excelentes motivos para celebrar esse desempenho, especialmente porque o aumento da produção e das vendas veio acompanhado de uma forte expansão do emprego. Mas a boa notícia é também um fator de preocupação. Para o Brasil, expansão chinesa resulta em aumento da inflação e em perigoso desajuste das contas externas.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concorda com essa avaliação, mas tenta tranquilizar quem se preocupa. Segundo ele, a acomodação já começou e o crescimento acumulado no ano ficará entre 6% e 6,5%.

Os bons números divulgados ontem pelo IBGE não chegaram a surpreender. Tanto no governo quanto no setor privado já se estimava para o primeiro trimestre uma expansão na faixa de 2% a 2,5%. Mantido ao longo do ano, esse nível de atividade resultaria num crescimento pouco abaixo ou pouco acima de 10%.

Na última semana, as projeções econômicas coletadas pelo Banco Central em consultorias e instituições financeiras já eram baseadas em estimativas dessa ordem. Os cálculos indicavam para 2010 uma inflação de 5,6%, bem acima do centro da meta (4,5%), um superávit comercial de apenas US$ 15 bilhões e um déficit de US$ 48,5 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos. Para 2011 projeta-se um rombo de US$ 58 bilhões.

É razoável prever alguma acomodação da atividade econômica ao longo do ano e alguns sinais já são indicados pelas entidades empresariais. Mas são sinais pouco claros. Em maio, as montadoras produziram 309.629 veículos, 6,6% mais do que no mês anterior e 14,9% mais do que um ano antes. O arrefecimento observado em abril parece ter sido passageiro. Os últimos dados gerais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) são desse mês. Em abril, segundo esse levantamento, a indústria de transformação faturou 4,9% menos que em março, descontada a inflação. As horas de trabalho na produção diminuíram 3,4%.

No entanto, o uso da capacidade instalada aumentou 0,8%, chegou a 83% e voltou ao nível anterior à crise de 2008. De janeiro a abril deste ano o faturamento real foi 12,1% maior do que o de um ano antes. Se a capacidade usada é a mesma de antes da crise, o investimento do último ano e meio foi insuficiente para um crescimento seguro.

Essa hipótese parece confirmada pelo IBGE. No primeiro trimestre, o investimento em máquinas, equipamentos e instalações aumentou 7,4% em relação aos três meses finais de 2009, um resultado notável. Mantido até o fim do ano, esse desempenho corresponderia a um crescimento de 33%. A proporção entre o investimento e o Produto Interno Bruto (PIB), 18%, voltou ao nível do primeiro trimestre de 2008.

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