Motoristas que quiserem trafegar pelo bairro do Caxingui, entre as regiões do Butantã e do Morumbi, ou pelo também nobre Vila Paulista, vizinho ao parque Ibirapuera, enfrentarão uma série de obstáculos dispostos na via.
A passagem de veículos ficará mais "apertada" devido ao estreitamento de ruas.
Além de calçadas ampliadas, haverá rotatórias com jardins ou lombofaixas -um tipo de faixa de travessia elevada, como uma rampa, com sinalização e cor chamativa.
Em alguns trechos, até chicanes -curvas artificiais que costumam ser implantadas para reduzir a velocidade dos carros em pistas de corrida.
O que se busca nesses bairros nobres e residenciais é impor dificuldades para atenuar a tentação dos motoristas fazerem deles uma rota de fuga de engarrafamentos.
As propostas, solicitadas e custeadas pelos próprios moradores, foram aprovadas nas últimas três semanas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e devem sair do papel ainda este ano.
Trata-se dos dois primeiros projetos de moderação de tráfego avalizados pela CET após a regulamentação do assunto, há mais de um ano.
A ideia resgata uma tentativa iniciada em 2005 pelo órgão, implantada parcialmente no City Boaçava, em Alto de Pinheiros (zona oeste), mas que enfrentou a resistência do Ministério Público.
Um inquérito segue aberto para apurar "até que ponto as medidas são boas para toda a cidade ou só para alguns bairros", nas palavras do promotor José Carlos Freitas.
Na Vila Paulista (zona sul), as mudanças atingem uma área com 200 imóveis. Do custo estimado em R$ 200 mil há cinco anos, quando foram sugeridas, metade já foi até paga pelos moradores. O restante será rateado agora.
No Caxingui (zona oeste), a despesa máxima foi calculada em R$ 500 mil. Além do dinheiro dos vizinhos, que somam 200, a associação tenta auxílio de empreiteiras para compensar os impactos da obra da linha 4 do metrô, que fechou a av. Francisco Morato por 60 dias e agravou desvios por vias residenciais.
"O primeiro projeto era pelo fechamento do bairro. Depois mudou. O motorista poderá entrar. Mas não será estimulado a isso", afirma Nelson Terra Barth, presidente da associação de moradores.
ELITISTA
Essas intervenções têm a aprovação majoritária de técnicos porque, além de reduzir acidentes, evitam a degradação de ruas projetadas para só terem tráfego local.
A principal crítica ao modelo da CET é a tendência de só favorecer áreas ricas, já que os gastos são bancados pela própria população.
A lei permite casos excepcionais arcados pelo poder público em áreas carentes. Mas eles não avançam.
"O poder público tem que assumir, e não ficar a reboque dos outros", defende Flamínio Fichmann, urbanista e consultor em trânsito.
"Se for bom, precisa ser para toda a cidade. Não pode ser elitista", reforça Freitas.
O promotor analisa eventuais impactos negativos em bairros vizinhos em razão da possível migração dos carros para outras rotas de fuga.