O PT estava ontem determinado a emparedar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para garantir a indicação da ex-prefeita Marta Suplicy para o Ministério da Educação. Em reunião da comissão política do partido marcada para hoje os dirigentes - de todas as tendências - devem fechar questão em defesa do nome de Marta. Já sabendo da movimentação do PT, Lula disse ontem que quem manda no seu governo é ele. Perguntado sobre o apetite do seu partido por cargos, em conversa com jornalistas no almoço do Itamaraty oferecido ao presidente da Bolívia, Evo Morales, Lula respondeu:
- Eles podem até querer, mas quem decide sou eu.
Berzoini: Marta é um pleito do PT nacional
O presidente voltou a dizer que não tem pressa em fazer a reforma e que ainda está pensando nas mudanças:
- Estou fazendo reflexões. Não trabalhem com uma data. Eu não marquei data com ninguém.
Bem ao seu estilo, de tentar confundir os aliados, Lula sugeriu que a reforma não está tão adiantada como acreditam os partidos:
- Só quem tem cargo definido somos eu e o Zé Alencar.
À mesa do almoço do Itamaraty, Lula ainda brincou com parlamentares do PMDB presentes, dizendo que deviam levar em conta mais um ministério: o das Relações Exteriores, já que o ministro Celso Amorim é filiado à legenda, embora sem militância partidária.
A atitude do PT tem criado constrangimentos a Lula. Nos últimos dias, ele confidenciou a interlocutores que gostaria de manter no cargo o atual ministro da Educação, Fernando Haddad. Lula considera que um político com o perfil de Marta pode trazer desarmonia à equipe, embora não tenha decidido ainda que ela não será ministra.
O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), lembrou ontem que o partido abriu mão de disputar o Ministério das Cidades para evitar causar desconforto com o PP, que defende a permanência de Márcio Fortes no posto. Com o temor de um veto ao nome de Marta, o partido passou a assumir ontem publicamente o pleito pelo nome da ex-prefeita. Antes, o movimento era restrito aos bastidores.
- Ter a Marta no Ministério da Educação não é um pleito do PT de São Paulo, mas do PT nacional. Sua presença no governo é algo razoável e natural. Como há uma negociação entre os partidos da coalizão e limites de vagas, temos que fazer uma reestruturação nos ministérios que já são do PT. A Educação já é do partido. Então, não podemos ficar limitados a uma indicação apenas técnica. Vamos oferecer ao presidente Lula nomes com perfil nacional que possam contribuir - explicou Berzoini.
- Não cabe pedir ampliação do espaço do PT no governo por causa da coalizão. Mas pode acontecer um remanejamento. O ministro Haddad é um quadro técnico que deu excelente contribuição ao governo. Mas Marta terá uma atuação política muito mais forte - completou o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ).
Cabral volta a defender Temporão para Saúde
Outro problema que Lula tenta resolver é a disputa no PMDB pelo Ministério da Saúde. O governador do Rio, Sérgio Cabral, insiste na indicação do técnico José Gomes Temporão, que tem a simpatia de Lula, mas a bancada da Câmara resiste. Ontem, Cabral fez defesa enfática da indicação, depois de encontro com Lula e com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL):
- Continuo apoiando a indicação de Temporão por entender que saúde pública não pode ser objeto de negociação e de interesses menores. É um técnico, um quadro que tem a confiança de todos os militantes da saúde no Brasil inteiro.