quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

São José dos Campos abre espaço para novos habitantes


O acelerado ritmo de crescimento de atividades da Embraer e da Petrobras fará com que aterrisse em São José dos Campos (SP), neste ano, um número recorde de engenheiros, técnicos e operários. Junto com a equipe que vem sendo reforçada pelas empresas nos últimos anos, esse batalhão promete estimular os setores de comércio, serviços e construção, contribuindo para mudar a fisionomia da cidade.

A agenda desses profissionais já está tomada para o ano todo. Na Embraer, eles precisam produzir 165 aviões e ainda compensar os atrasos de 2006, quando foram entregues cinco jatos a menos que os 135 previstos inicialmente pela própria empresa.

Ao todo, serão 3,7 mil novos funcionários na Embraer, dos quais 1,4 mil irão para as unidades de Botucatu e Gavião Peixoto, as duas também no interior de São Paulo. Por abrigar a área de desenvolvimento, a fábrica de São José vai receber a maior parte da equipe de engenheiros e do setor administrativo, que totalizam aproximadamente 700 novas pessoas.

Enquanto o pessoal operacional está sendo contratado na região do Vale do Paraíba, os profissionais mais especializados virão de diferentes regiões do país. Hoje, o alto escalão representa 20% dos 19,2 mil funcionários da Embraer, segundo o vice-presidente de desenvolvimento humano, Júlio Franco.

Na Petrobras, a missão dos trabalhadores é modernizar a refinaria Revap e construir unidades para aumentar conversão de óleo combustível em derivados mais leves. Para isso, a estatal vai investir US$ 2,04 bilhões até o fim de 2009. As obras na refinaria vão demandar o trabalho de até 10 mil pessoas no momento mais crítico.

Em média, serão 5,5 mil pessoas na área de construção até 2009. Após o término serão criados 200 novos empregos fixos, segundo Guilherme Luna, gerente de implantação de empreendimentos na Revap. As obras começaram no segundo semestre do ano passado.

Esta perspectiva de aquecimento nos negócios já começou a se refletir na procura por imóveis. "É impossível deixar de notar o aumento do número de canteiros de obra na cidade", diz o diretor regional do Sinduscon-SP (sindicato da construção), José Luiz Botelho. Segundo ele, não há números consolidados, mas as perspectivas para o futuro são muito animadoras. "O alto nível de renda da população, assegurado pela atuação das indústrias sustenta esta evolução", diz.

De acordo com a Aconvap, associação das construtoras da região do Vale do Paraíba, foram vendidas 5,6 mil unidades em 2006 e 5 mil em 2005. Cada unidade corresponde a um apartamento ou casa. "Foi um avanço considerável em relação a 2004, quando o mercado estava muito fraco", diz João Dantas, presidente da entidade, ligada ao Secovi (sindicato da habitação). O número de projetos aprovados passou de 27 para 34 nos últimos dois anos, segundo ele.

O preço dos terrenos também vem subindo com o aumento da demanda. De acordo com Luiz Rodolfo Fedato, sócio da Construtora Costa Norte, o metro quadrado na região mais nobre da cidade passou de R$ 140 para R$ 1000 desde 1994, ano de privatização da Embraer. Levando em conta a correção pelo IPCA no período, a valorização foi de 177,63%. O bairro residencial Aquarius, um dos mais badalados da cidade, está chegando a sua lotação máxima, o que dará mais visibilidade para novos espaços.

Terrenos mais distantes do centro começam a receber a atenção das construtoras, especialmente para projetos de classe média. Bairros antigos próximos ao centro também estão despertando o interesse destas empresas, que optam por derrubar casas para construir edifícios residenciais. A Construtora Costa Norte, por exemplo, acaba de comprar uma academia na Vila Diana, bairro de alto padrão onde não constrói há muitos anos. "Agora vale a pena voltar para estas regiões", diz Fedato.

A Rossi Residencial, que fez seu primeiro lançamento em São José dos Campos há dois anos, está colhendo bons frutos e planeja expandir sua atuação na cidade. Depois de concluir dois projetos de alto padrão, a empresa vai partir para o filão da classe média com dois lançamentos com um total de 320 unidades este ano.

Em 2008, outro de igual porte deve ser concluído, segundo o diretor regional para São Paulo, Marcelo Dadian. "É um mercado que estava adormecido mas está reagindo muito bem", diz. Um dos lançamentos da companhia, chamado Authentique, está sendo ocupado por um grande número de funcionários da Embraer.

De acordo com o Sinduscon, o segmento de habitação popular também está crescendo para atender o déficit habitacional já existente e os novos trabalhadores que devem chegar. Este ano ocorrerão licitações para a construção de 1,16 mil casas, mais da metade do que no ano passado.

O vice-presidente comercial da construtora mineira MRV, Eduardo Barreto, conta que desde que atua na cidade, há oito anos, a empresa vendeu quase 900 unidades. Outras 741 estão sendo construídas ou vendidas, sem contar os projetos para três terrenos que estão sendo comprados.

A agitação já despertou o interesse de varejistas como Extra, Carrefour, Leroy Merlin e Telhanorte, que nos últimos três anos abriram novas lojas na cidade, sendo que no caso do Extra e do Carrefour foi o segundo empreendimento local. Ao todo, as empresas empregaram mais de 2 mil pessoas.

O aumento da arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS) no município não deixa dúvidas sobre o aquecimento das atividades locais. Em 2004, o valor arrecadado duplicou em relação aos anos anteriores. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, parte deste aumento pode ser justificado pela lei complementar nº 116 de 2003, que aumentou o leque de serviços tributados e estipulou a alíquota mínima de 2% (antes era no máximo 0,5%). Com a lei, muitas empresas passaram a recolher os tributos no local onde os serviços são prestados, e não em cidades vizinhas que ofereçam taxas menores.

O aumento do número de automóveis na cidade, que cresceu 23,7% entre 2001 e 2006, é outro termômetro. O ganho na frota é superior ao crescimento populacional no período, de 9,8% para 610 mil habitantes.

Apesar da pujança das cadeias produtivas da Petrobras e da Embraer, que junto com a cadeia da General Motors (GM) correspondem a mais de 50% do PIB industrial da cidade, a indústria local tem passado por alguns momentos de crise nos últimos dois anos. Desde 2005, cerca de 1,36 milhão de pessoas perderam seus empregos na GM, na LG Philips e na Kodak, que transferiu sua fábrica para Manaus.

Esta retração pode ter contribuído para a queda da riqueza gerada pelo município, conhecida como Valor Adicionado, de acordo com o vice-prefeito e secretário de desenvolvimento econômico de São José dos Campos, Ruigi Kojima. Em 2005, o valor adicionado foi de R$ 15,2 bilhões, abaixo dos R$ 16,2 do ano anterior. Mesmo assim, ele prevê um crescimento contínuo para o futuro. "Nossa sensação é de que há uma melhora ano a ano", afirma.

A ocupação do terreno que pertence à Kodak pode ser um sinal positivo. A primeira a se mudar para o local foi a divisão de válvulas da Dresser. A companhia se transferiu de Jacareí (SP) em agosto e opera com 70 funcionários. De acordo com executivos locais, a consultoria imobiliária Richard Ellis está cuidando da locação dos demais prédios instalados no terreno da Kodak.

Para agilizar a atração de novas empresas, a prefeitura e o governo do Estado estão investindo em um Núcleo Tecnológico onde universidades, centros de pesquisa, e empresas poderão trocar informações. A Embraer, o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) já anunciaram sua instalação no parque, sediado na antiga unidade da Solectron.

Com novos empreendimentos, a cidade poderá diversificar ainda mais suas atividades e reduzir a dependência em relação aos negócios da Embraer.

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