quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O mundo de Lula

Em política, raramente existe uma “coincidência”. E a reunião de ontem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, não foi exceção à regra. A convocação do encontro no dia do aniversário de um ano da quebra do grupo Lehman Brothers, nos Estados Unidos, foi proposital.

No dia em que o mundo refletia tudo o que foi feito em um ano desde a queda do gigante norte-americano, o presidente tricotou o tempo todo com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sentada ao seu lado. E, no embalo, mostrou à opinião pública e aos empresários reunidos no Itamaraty que o Brasil está melhor do que muitos países do primeiro mundo e que enfrentou a crise com promoção do consumo e ações rápidas, como a derrubada do IPI dos automóveis.

Em meio a uma parafernália de números apresentados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a perspectiva de crescimento de 4,5% para 2010, Lula aproveitou para pincelar tudo o que deseja apresentar como seu legado para que o eleitor julgue no ano que vem. E, pelo andar da carruagem, ele não quer deixar um buraco para a oposição tentar plantar seus frutos.

Até o momento, o governo se sai bem na área econômica, mas um setor do empresariado considera que ainda é preciso gerar mais empregos e prestar atenção nos gastos públicos, para não deixar estourar o caixa. Também existe uma grande preocupação para uma maior atenção às portas de saída do programa Bolsa Família, que o Conselhão prefere tratar de “porta de entrada no mercado de trabalho”.

O governo calcula que a capacidade de atendimento às famílias chegou ao limite, ou seja, está cada vez mais difícil ampliar o atendimento do Bolsa Família. Portanto, avaliam muitos no Conselho, está passando da hora de o governo fazer com que todos os programas da área social se comuniquem e caminhem juntos de forma a permitir que seus beneficiários ingressem no mercado de trabalho formal. Assim, quanto mais pessoas saírem para esse mercado, mais vagas vão aparecer para que outros, menos afortunados, recebam o Bolsa Família.

Lula avisou ontem que não deixará esse papel para seu sucessor, nem mesmo para o ano eleitoral. Ele encaminhará ao Congresso ainda este ano o novo marco regulatório da área social. Estuda-se, por exemplo, integrar os programas do Ministério do Desenvolvimento Social aos que hoje estão sob o abrigo das pastas da Educação e do Trabalho.

O presidente, que já tem a marca do Programa Bolsa Família como um projeto seu, quer agora ganhar o status de que deu o passo seguinte. Afinal, na opinião dos empresários, a grande política social é gerar um posto de trabalho. E, se Lula conseguir aprovar essa proposta no ano que vem, pode fazer uma festa nas vésperas da eleição para mostrar que não só unificou as bolsas que o governo anterior deixou pulverizadas em vários ministérios, como deixou abertas as portas de entrada ao mercado de trabalho.

Assim, dizem os analistas, o mundo de Lula estará cor-de-rosa no horário eleitoral gratuito: o governo do presidente segurou a economia, criou o Bolsa Família — a porta de saída — e deixou até o marco regulatório da exploração de petróleo do pré-sal, que só vai jorrar para valer daqui a uns seis anos.

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