A verdade que os jornalões não contam
Helio Fernandes, 31 de julho, 2003
Balança comercial x balanço de pagamentos
Jornalões em geral precisam com urgência de uma decisão: contratar assessores qualificados para os comentários econômicos. Dizem barbaridades, estabelecem tremenda confusão. Freqüentemente misturam balança comercial com balanço de pagamentos. Reconheço: às vezes não é por ignorância e sim excesso de esperteza.
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Nos últimos dias o que se lê com a maior freqüência: "O balanço de pagamentos deixou de ter prejuízos por causa do aumento substancial da balança comercial". Ha! Ha! Ha! Mesmo que contratassem Mailson, Langoni, Pastore, Loyola, o próprio Gustavo Franco, não cometeriam essas impropriedades. São todos "vinculados", mas não despreparados. Mailson é especialista em INFLAÇÃO, que deixou a 82 por cento AO MÊS, AO MÊS, mas conhece balança e balanço.
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Fugindo do economês, usando palavras as mais simples possíveis, sem complicações, o básico e fundamental. Balança comercial é o encontro puramente das vendas e das compras, da exportação e da importação. Se um país vende mais (exporta) do que compra (importa), tem saldo. O contrário é o chamado déficit comercial. Elementar, mas sempre provocando confusão.
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Balanço de pagamentos é o que entra e sai do país, em dinheiro, não relacionado com o comércio. No balanço estão incluídos: fretes, seguros, royalties, juros (das empresas), dividendos, viagens, lucros (também das empresas), etc. etc.
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Até 1990 o Brasil não tinha déficit no balanço de pagamentos. Nessa época tínhamos importante indústria naval, exportávamos navios, praticamente não pagávamos fretes. Com as doações-privatizações aumentaram barbaramente as remessas de juros, lucros, dividendos, etc. Um exemplo: a Vale chegou a exportar 1 bilhão e 600 milhões, que aumentava a balança comercial. Agora, a mesma Vale, doada-privatizada, engorda melancolicamente o déficit do balanço.
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Agora anunciam: o saldo da balança comercial em 2003 deve passar de 17 bilhões e pouco. Arredondemos para 18 bilhões de dólares. Exatamente 18 bilhões de dólares, A-N-U-A-L-M-E-N-T-E, foi o saldo da balança, nos 5 anos do governo Sarney. O saldo que deixou, em 5 anos, foi de 90 bilhões de dólares, número oficial.
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Nos 5 anos do governo Sarney, não houve déficit no balanço de pagamentos. Então o saldo da balança comercial, foi todo utilizado para a maldita AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA QUE NÃO DEVEMOS. O governo gastou com os juros da "DÍVIDA" APENAS 102 bilhões de dólares em 5 anos.
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Conclusão óbvia: o governo brasileiro precisou nos seus 5 anos APENAS (desculpem, mas é a definição) de 12 bilhões de dólares. Quer dizer: Sarney em 5 anos quase não usou recursos externos, não aumentou a "dívida".
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Registro óbvio: isto não se constitui em defesa do governo Sarney, é exibição pura e simples de números. Agora vejamos o que aconteceu com FHC e seu retrocesso de 80 anos em 8.
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Nos 7 primeiros anos de FHC, o Brasil teve um déficit de 47 bilhões de dólares na balança comercial. Só no oitavo (e felizmente último ano), houve um saldo de mais ou menos 10 bilhões de dólares. Portanto a balança comercial teve um déficit monstruoso no retrocesso FHC.
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O balanço de pagamentos piorou barbaramente, o déficit ficou mais ou menos em 8 bilhões de dólares anuais. Isso, como média. Os itens relacionados com as doações-privatizações arruinaram o que se chama também de transações correntes.
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Por outro lado, não existia, apareceu então um novo item destruidor: a DÍVIDA INTERNA. E que não era tão INTERNA assim, pois mais de 30 por cento dessa "DÍVIDA" era e é reajustada em dólar. Por tudo isso, balança comercial, balanço de pagamentos, "dívida" interna reajustada em dólar, houve necessidade de RECURSOS EXTERNOS, a juros de agiotagem.
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Dessa forma, FHC, que havia assumido com uma DÍVIDA EXTERNA de mais ou menos 100 bilhões de dólares, deixou-a em 250 bilhões. Excluídos, naturalmente, os quase 200 bilhões de dólares que pagou de juros. É de longe, o mais indecente, imprudente, incompetente e criminoso governo desde o início da República.
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PS - Em números simples, o que os jornalões deveriam informar. Nem falo da televisão, pois essa nasceu assexuada e emasculada, em matéria de opinião.
terça-feira, 13 de setembro de 2005
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