segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Jornalista da Globo ameaça Rigotto e Paim

No último lote de pesquisas Datafolha, a novidade vem do Sul. Chama-se Ana Amélia Lemos, é jornalista, nunca disputou um único voto, mas ameaça a a eleição ao Senado de um dos dois candidatos favoritos às vagas do Rio Grande do Sul, o ex-governador Germano Rigotto (PMDB) e o atual senador Paulo Paim (PT).

De acordo com a pesquisa, Rigotto lidera com relativa folga, com 41% das intenções de voto. É seguido de perto pelo senador Paulo Paim (37%), que disputa a reeleição. Ana Amélia está nos calcanhares dos dois com 33%, sem nunca ter disputado uma única eleição ou ter alguma atividade partidária.

Ela mesma reconhece que sua popularidade decorre do fato de ter trabalhado durante 33 anos nos telejornais da RBS, afiliada da TV Globo no Rio Grande, um caminho, aliás, percorrido por outras personalidades gaúchas, como é o caso da governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB), candidata à reeleição e por enquanto atrás dos candidatos Tarso Genro (PT) e José Fogaça (PMDB). Ela pediu demissão para ser candidata.

"É a norma da casa", explica a jornalista. O rompimento - difícil - de uma relação de três décadas, segundo Ana Amélia, só demonstra o apetite com que entra na disputa eleitoral gaúcha: "Sou novata, profissional de comunicação e ficha limpa", diz.

Ana Amélia trafega na contramão. Num Estado em que a política está polarizada entre PT e PMDB, ela é filiada ao PP, partido que deitou raízes firmes no Rio Grande do Sul, onde tem menos prefeitos apenas que o PMDB. Mulher, é bem cotada numa eleição majoritária num momento em que a bancada feminina do Senado corre o risco de diminuir, e pode ser eleita por um Estado governado também por uma mulher, Yeda Crusius, cujo percentual de aprovação é o pior do país, segundo as pesquisas.

Ana acha que as dificuldades sofridas por Yeda nada têm a ver com o fato de ela ser mulher. "São políticas. Yeda esteve sempre muito sozinha, não reagiu, fragilizou emocionalmente e precisava de mais apoio. Mais sustentação político-emocional", diz. Forte no Rio Grande do Sul, o PP foi fundamental para brecar o pedido de impeachment da governadora na Assembleia Legislativa. Como Yeda saneou as contas do Estado, quebrado há cerca de 40 anos, Ana Amélia ainda aposta na reeleição da governadora, apesar de ela estar em terceiro lugar na disputa e da tradição do Rio Grande de não reeleger seus governadores.

Se for eleita, Ana Amélia promete fugir do estereótipo da mulher com mandato em Brasília, em geral reduzido a assuntos como educação, saúde, menor, prostituição infantil. Sua agenda é municipalista, a mesma encampada por seu partido, cuja palavra de ordem passou a ser "descentralização" desde que o PP deixou de ser uma capitania do deputado Paulo Maluf.

A candidata acha que no Brasil o eleitor vota em nome e não em partido. "A minha ideologia é a do interesse coletivo". Em Brasília, pretende juntar-se a nomes como Aécio Neves (MG) e Roberto Requião (PR). "Quero me unir a essas pessoas para fazer uma discussão desse tal de pacto federativo", diz. "Este é meu foco. A federação está falida, é injusta e desequilibrada". Todo ano tem marcha de prefeitos a Brasília, registra. "Asfixia tributária não tem retorno em serviços".

As pesquisas indicam que Ana Amélia terá o segundo voto de boa parte dos eleitores do PT e do PMDB. Assim como não vota em partido, mas em nomes, "o eleitor não é ideológico", acredita a candidata. Ela, particularmente, não vê problemas no tamanho do Estado. Mínimo ou grande, o que importa "é a eficiência do Estado", diz. Daí discordar que o PP seja forte no RS por representar a "direita gaúcha", resposta pronta para explicar o sucesso do partido no Estado - a Arena, origem do PP (e do PFL/Democratas ) sempre foi forte no Sul.

Na primeira eleição direta para governador permitida pelo regime militar, já como PDS, seu sucedâneo, o Rio Grande do Sul foi o Estado mais importante a ficar com um aliado do regime militar nas regiões Sudeste e Sul. Em São Paulo ganhou Franco Montoro, no Rio, Leonel Brizola, em Minas, Tancredo Neves e, no Paraná, José Richa - todos do PMDB. Já na eleição seguinte o PDS perdeu o posto no Sul, mas bem ou mal foi se mantendo nas prefeituras. Hoje comanda 148 dos 496 municípios gaúchos.

A história de Ana Amélia, de certa forma, se confunde com a da Arena e de seus sucedâneos. Ela morou durante 31 anos em Brasília, transferida pela RBS.. Seu marido, Octávio Cardoso, era suplente do senador Tarso Dutra e assumiu definitivamente a cadeira em 1983, após a morte do titular. Havia 15 anos que o PP pressionava Ana Amélia a se filiar. Ela se rendeu em 15 de março, quando se demitiu do grupo RBS para se candidatar.

"Ela não é uma candidata competitiva", diz o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), sobre Ana Amélia. "É a candidata eleita".

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