segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O deputado milionário do PR que tem vergonha de ser rico

O deputado federal do Paraná Marcelo Almeida (PMDB), de 43 anos, é o candidato mais rico do país a disputar uma vaga no Legislativo. Com patrimônio de R$ 708 milhões, ele diz ter vergonha de comprar um Porsche ou um Rolex. Filho do empreiteiro Cecílio do Rego Almeida, que morreu em 2008, e enteado do ex-ministro da Fazenda Karlos Rischibieter, ele cursou engenharia civil, mas nunca exerceu a profissão nem trabalhou em empresas da família. Aos 24 anos entrou para a política e se elegeu vereador em Curitiba. Diz que não bebe, não vê televisão, acorda às 5h e lê seis livros por mês. Foi um dos paranaenses que mais faltaram às sessões no primeiro semestre de 2010, no seu primeiro mandato como deputado federal.


Com patrimônio de R$ 708 milhões, o deputado federal Marcelo Almeida (PMDB-PR), candidato à reeleição e o homem mais rico a disputar uma vaga para o Legislativo em 2010, diz ter vergonha de comprar um automóvel Porsche ou um relógio Rolex. Usa frases como: "Que preguiça de ter de ir numa loja comprar um carro desses" ou "que vergonha de ter isso no braço". Filho caçula de Cecílio do Rego Almeida, empreiteiro que morreu em 2008 e deixou como herança um patrimônio estimado em R$ 9,4 bilhões, ele viu sua declaração de bens dar um salto de 700% desde a última candidatura, mas afirma ser "desprendido" do assunto dinheiro. "Não vou usufruir do que tenho", explica.

Almeida também é enteado de Karlos Rischbieter, que foi ministro da Fazenda de João Batista Figueiredo e que o ensinou "a entender Brasília". "Ninguém tem o privilégio de ter o Cecílio e o Rischbieter por perto", comenta, em seu escritório em Curitiba, cercado por fotos da família.

Ele cursou engenharia civil, que tem tudo a ver com as atividades do grupo CR Almeida, mas nunca exerceu a profissão. "Fiz para imitar os outros, ainda não tinha claro o que queria", diz. O deputado tem 43 anos e é pai de quatro filhos, com 2, 5, 7 e 12 anos de idade. Diz que é "um líder de gente" e nunca pensou em trabalhar nas empresas da família, que atua nas áreas de construção, concessão de rodovias, logística de transporte e química.

Quando concluiu o curso superior, foi apresentador de programa de rádio, antes de ser eleito vereador, aos 24 anos. Sua posse não foi tranquila. Após a diplomação, foi vaiado e o pai tomou as dores e chegou a brigar com manifestantes. Marcelo exerceu dois mandatos na Câmara de Vereadores, contra a vontade de Cecílio.

Seu interesse por transporte e educação no trânsito fez com que em 2003 fosse convidado pelo ex-governador Roberto Requião (PMDB), seu amigo, para ser o diretor do Departamento de Trânsito do Paraná. "Ele deu a oportunidade de um filho de empreiteiro ser político", comenta, sobre Requião, a quem defende e para quem trabalhou na tentativa de viabilizar uma candidatura à Presidência pelo PMDB. Embora, para ele, ninguém vá conseguir ser tão bom para o país como foram Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

Agora, Almeida acredita na volta do ex-governador para o Senado, "para dar uma chacoalhada" na Casa, e integra a aliança que tem Osmar Dias (PDT) como candidato ao governo do Paraná. Foi com Osmar que ele quase deu outro salto na vida política, ao ser sondado para ser o vice na chapa. Seria uma parceria inusitada, já que o irmão de Osmar, o também senador Alvaro Dias (PSDB), era visto como inimigo por Cecílio. "Meu pai adorava quem eu não gostava, caras para quem eu não daria a mão", responde. Mas a candidatura de vice ficou com o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB), também filho de empresário, o presidente da Federação das Indústrias do Paraná, que tem o mesmo nome e é sócio da empresa de alimentos Nutrimental.

Marcelo diz que pretende gastar R$ 3,5 milhões na campanha, do próprio bolso, embora tenha registrado a possibilidade de o valor atingir R$ 6 milhões. Sobre a vida pública, ele ora cita dificuldades, como não ver os filhos crescerem por ter de estar em Brasília ou viajando pelo Paraná, ora lembra que "vale a pena oferecer esperança para as pessoas". Afirma que não deseja ver um filho no mesmo caminho. "Mas eu só gosto disso", conta.

Gosta também de leitura e diz que não bebe, não vê televisão, acorda às cinco da manhã todos os dias e lê seis livros por mês. Tem até um grupo de leitura, formado por 800 pessoas e, em cálculo rápido, cita que gasta R$ 2 mil por mês na compra de livros, depois aumenta o valor para "uns R$ 5 mil".

O preço das ações na bolsa de valores, a cotação do dólar e investimentos em bens são assuntos que não atraem sua atenção. "Me preocupo com o número de votos de que preciso." Da primeira vez, ele entrou como suplente do deputado Reinhold Stephanes, que virou ministro da Agricultura, e ficou com a vaga após a morte do deputado Max Rosenmann, em 2008.

Nesta eleição, planeja passar dos 100 mil votos. "Boto fé no mandato 2011-2015. No segundo mandato você fica mais enraizado, precisa se expor um pouco mais nas comissões." Ele foi apontado como uma deputados paranaenses que mais faltaram às sessões no primeiro semestre de 2010 e justificou que a ausência foi motivada pela morte de um irmão, Roberto Almeida, em abril, o que o teria obrigado a permanecer em Curitiba para resolver questões familiares e empresariais.

Questionado sobre se defende interesses da CR Almeida no Congresso, ele responde rápido. "Minha família não precisa de mim. Nunca usou um filho para ganhar uma obra." Nos últimos anos, envolveu-se principalmente em assuntos de trânsito e leitura - é presidente da Frente Parlamentar de Leitura.

Entre seus títulos prediletos, cita "Estação Carandiru", de Drauzio Varella, "Código da Vinci", de Dan Brown e os livros do escritor catarinense, radicado em Curitiba, Cristóvão Tezza. Diz que já saiu de carro para percorrer locais e visualizar personagens citados nas histórias que leu. Tem uma pequena biblioteca no escritório e faz anotações pessoais na primeira página dos seus livros. Na última, coloca a quantidade de vezes que parou a leitura daquele livro.

Faz cruzada contra motoristas alcoolizados. Também está tendo aulas particulares sobre orçamento público, porque diz que não "quer ser enganado". Sobre seu estilo de vida, diz que se sente bem dirigindo um automóvel próprio, pegando carona ou usando ônibus que saem da rodoviária para visitar municípios do interior. Também brinca com o apelido que tem: mente brilhante. "Não porque sou muito inteligente, mas por causa da minha careca", ri.Valor Econômico

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