Nascida e criada na zona leste paulistana, a advogada Vanda Pignato, 46 anos, jamais sonhou com a vida em palácios. Agora, no entanto, ela só aguarda o término de uma reforma para se mudar, com o marido, o presidente Mauricio Funes, e o filho Gabriel, a quem chama de Bibi, para a residência presidencial, em San Salvador, a capital de El Salvador. Como se não bastasse o papel de primeira-dama, Vanda também assumiu a Secretaria de Inclusão Social do país, que tem sete milhões de habitantes, 10% deles abaixo da linha da pobreza. O tempo livre, dedica ao filho, que ainda não completou dois anos, e teve de ser tirado de El Salvador durante a campanha eleitoral, devido às ameaças que a família sofria. Foi o começo da cota de sacrifício que, acredita Vanda, o filho está pagando em favor do país. O garoto já se adaptou à nova realidade. "O Bibi gosta da ritualística do poder. Desde a festa da posse, em toda solenidade de que participa, ele lança acenos, todo compenetrado, para as pessoas", conta.
Petista de carteirinha, Vanda representou o partido na América Central até junho, quando Funes, antigo correspondente da CNN em espanhol e âncora do Canal 12, foi empossado na Presidência. Há cerca de 13 anos, ela apresentou o marido a Luiz Inácio Lula da Silva, cujos programas agora inspiram o governo Funes. Não se trata, porém, de uma simples clonagem. "A esquerda salvadorenha, mesmo quando estava longe do poder, soube pensar o país", diz Vanda.
"Temos a chance, agora, de colocar isso em prática, somando nossos esforços com a experiência de países amigos, em especial o Brasil."
ISTOÉ - Como a sra. define seu estilo de primeira-dama?
Vanda Pignato - Sou o que sempre fui: uma mulher de ação política e compromisso social. Virei primeira-dama por uma feliz coincidência do amor e da luta política. E não vou trair, jamais, o meu destino. Ser primeira-dama me orgulha e me abre portas dentro e fora do meu país. Mas quero ser mais conhecida por meu trabalho na Secretaria de Inclusão Social.
ISTOÉ - A sra. não corre o risco de cair no clientelismo?
Vanda - Não. A secretaria, aliás, é um símbolo do estilo que queremos implantar. Ela foi criada para substituir a antiga Secretaria de Família e da Juventude, de característica clientelista. A Secretaria Nacional da Família era ocupada, tradicionalmente, pelas primeiras-damas salvadorenhas.
ISTOÉ - É possível exercer o poder sem se afastar das bases?
Vanda - Impossível mesmo é governar longe das bases. Em apenas dois meses de governo, o presidente já se reuniu mais vezes com os movimentos sociais do que em vários anos do antigo regime. O presidente quer ampliar cada vez mais sua base social e política, num trabalho de articulação com os movimentos sociais e os partidos. Ele acaba de criar, inclusive, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
ISTOÉ - Um de seus principais projetos na campanha eleitoral foi o Cidade Mulher. Ele já foi colocado em prática?
Vanda - Já temos o projeto da primeira unidade, que, aliás, é de um dos gênios da arquitetura brasileira, João Filgueiras Lima, o Lelé. Um dos arquitetos de mais sensibilidade social que conheço.
ISTOÉ - Como vai funcionar?
Vanda - O Cidade Mulher é um grande centro de apoio e atendimento às mulheres e seus filhos de até cinco anos. É um misto de espaço de convivência e de formação profissional e cultural. Em cada unidade vão funcionar creche, serviços de atendimento médico e odontológico, oficinas de formação de mão de obra, agências de microcrédito e apoio jurídico, centro de inclusão digital, biblioteca e teatro.
ISTOÉ - Quantos centros como esse El Salvador precisa?
Vanda - A ideia é construir 14 unidades em todo o país, nas capitais administrativas. Estamos buscando financiamento internacional para isso e a receptividade tem sido muito boa. Meu sonho é inaugurar a primeira Cidade Mulher no início do próximo ano.
"Maus exemplos antidemocráticos, como o golpe em Honduras, não prosperam mais na América Latina. Causam nojo e vergonha"
ISTOÉ - A sra. tem um filho, Gabriel, de pouco mais de um ano. Como é conciliar a maternidade com as atividades de primeira-dama?
Vanda - Às vezes é duro. Mas o Mauricio é um grande pai e isso ajuda muito. Minha família toda também é muito presente. O Bibi, como salvadorenho, está pagando a sua cota de sacrifício em favor de um país melhor para os adultos de hoje e para a geração dele, dos seus filhos e netos. E o Bibi gosta da ritualística do poder. Desde a festa da posse, em toda solenidade de que participa, ele lança acenos, todo compenetrado, para as pessoas.
ISTOÉ - Foi a sra. quem apresentou seu marido ao presidente Lula?
Vanda - Sim. Isso aconteceu há uns 13 anos. Desde o primeiro momento, rolou uma boa química e simpatia entre os dois. Além disso, eles têm uma visão de mundo bem parecida.
ISTOÉ - Como se dá o intercâmbio com o governo Lula?
Vanda - Da forma mais madura e solidária possível. O presidente Lula elevou o Brasil a um novo patamar no mundo, e feliz do país que tenha a colaboração do Brasil. Eu e Mauricio temos a felicidade de ser amigos, de muitos anos, do presidente Lula e de vários membros da sua equipe. Estamos ainda estudando as formas mais efetivas de troca de experiências e ações conjuntas em várias áreas.
ISTOÉ - O presidente, o ministro Patrus Ananias e o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, estiveram recentemente em El Salvador. Qual a contribuição deles ao governo Funes?
Vanda - Eles são amigos pessoais e velhos companheiros de luta. Todos, agora, com ampla experiência em um dos governos mais exitosos do mundo. As sugestões deles têm sido valiosas para nós. Porém, o melhor é que eles estão opinando em cima de propostas nossas. Não estamos simplesmente importando acriticamente as experiências brasileiras, por melhor que elas sejam. A esquerda salvadorenha, mesmo longe do poder, soube pensar o país. Temos a chance, agora, de colocar isso em prática, somando nossos esforços com a experiência de países amigos, em especial o Brasil.
ISTOÉ - O presidente Funes pretende implantar o Bolsa Família?
Vanda - Na verdade, o governo passado, mesmo sendo de direita, já havia feito uma primeira experiência, fazendo uma cópia malfeita e diminuta do Bolsa Família. Mauricio ampliou o programa e fez modificações. É um começo. Nossa ideia é fazer um programa mais amplo e diversificado.
ISTOÉ - A sra. é filiada ao PT desde 1981 e durante muitos anos representou o partido na América Central. Como vê o PT hoje?
Vanda - O PT está num grande momento de amadurecimento e crescimento. É hoje um dos maiores partidos de massa do mundo e sabe se comportar, muito bem, como partido governante. Vi, recentemente, uma pesquisa em que ele aparece como o partido de maior preferência entre os brasileiros. Isso não é pouco.
ISTOÉ - Na crise que assola o Senado, boa parte do PT defende o presidente da Casa, José Sarney. A sra. apoia esta postura?
Vanda - Sou brasileira, mas sou também primeira-dama de um país estrangeiro. Não me compete comentar particularidades da vida política brasileira. Mas tenho experiência política suficiente para saber que o partido de um presidente deve buscar sempre dar governabilidade ao seu governo. Toda vez que apoiar o presidente e a governabilidade, o PT, na minha opinião, está agindo bem.
ISTOÉ - Quais lições a sra. leva do PT para aplicar em El Salvador?
Vanda - A principal eu posso dizer numa frase: compromisso prioritário com os mais pobres.
ISTOÉ - E quais lições a sra. leva para não aplicar?
Vanda - Acho que o PT, como partido, só tem boas lições a dar. Um ou outro problema individual não significa posição partidária.
ISTOÉ - Honduras faz fronteira com El Salvador. Como a instabilidade política daquele país afeta El Salvador?
Vanda - O caso de Honduras não afeta apenas El Salvador, mas a democracia em todo o mundo. Não é por acaso que os golpistas estão recebendo a desaprovação unânime de todos os países. Mas a democracia em El Salvador é sólida e a transição tem se dado com muito equilíbrio. Maus exemplos não influenciam mais o povo salvadorenho. Até porque tenho certeza de que no desfecho final a democracia vai vencer em Honduras.
"Dona Marisa não gosta de protagonismo, mas trabalha no bastidor. Ela continua sendo a principal conselheira do presidente Lula"
ISTOÉ - Mas a instabilidade política em Honduras pode favorecer a volta de golpes militares na América Latina?
Vanda - Ao contrário. Acho que vai servir para consolidar ainda mais o sentimento e a prática da democracia. Na América Latina vai ficar o sentimento de repulsa a atitudes arbitrárias e criminosas. Repito: é um mau exemplo. E maus exemplos antidemocráticos não prosperam mais na região. Causam nojo e vergonha.
ISTOÉ - O que a sra. acha da atuação de dona Marisa como primeiradama?
Vanda - Tenho o privilégio de conhecer dona Marisa e o presidente Lula há décadas. Dona Marisa é uma petista histórica, das mais apaixonadas. É uma mulher que não gosta de protagonismo, mas que trabalha, com constância e firmeza, no bastidor. É uma pessoa muito sensível e atenta às questões sociais. Ela continua sendo a principal conselheira do presidente Lula.
ISTOÉ - Dona Marisa conheceu Lula no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Como a sra. conheceu Funes?
Vanda - Fui chamada ao Canal 12, para opinar, como diretora do Centro de Estudos Brasileiros da embaixada do Brasil, sobre a compra de um pacote de novelas. Isso foi há mais de 15 anos. Pedi na ocasião para conhecer o Mauricio, de quem eu era fã de carteirinha, por causa de seu estilo destemido e independente. Foi paixão à primeira vista.
Petista de carteirinha, Vanda representou o partido na América Central até junho, quando Funes, antigo correspondente da CNN em espanhol e âncora do Canal 12, foi empossado na Presidência. Há cerca de 13 anos, ela apresentou o marido a Luiz Inácio Lula da Silva, cujos programas agora inspiram o governo Funes. Não se trata, porém, de uma simples clonagem. "A esquerda salvadorenha, mesmo quando estava longe do poder, soube pensar o país", diz Vanda.
"Temos a chance, agora, de colocar isso em prática, somando nossos esforços com a experiência de países amigos, em especial o Brasil."
ISTOÉ - Como a sra. define seu estilo de primeira-dama?
Vanda Pignato - Sou o que sempre fui: uma mulher de ação política e compromisso social. Virei primeira-dama por uma feliz coincidência do amor e da luta política. E não vou trair, jamais, o meu destino. Ser primeira-dama me orgulha e me abre portas dentro e fora do meu país. Mas quero ser mais conhecida por meu trabalho na Secretaria de Inclusão Social.
ISTOÉ - A sra. não corre o risco de cair no clientelismo?
Vanda - Não. A secretaria, aliás, é um símbolo do estilo que queremos implantar. Ela foi criada para substituir a antiga Secretaria de Família e da Juventude, de característica clientelista. A Secretaria Nacional da Família era ocupada, tradicionalmente, pelas primeiras-damas salvadorenhas.
ISTOÉ - É possível exercer o poder sem se afastar das bases?
Vanda - Impossível mesmo é governar longe das bases. Em apenas dois meses de governo, o presidente já se reuniu mais vezes com os movimentos sociais do que em vários anos do antigo regime. O presidente quer ampliar cada vez mais sua base social e política, num trabalho de articulação com os movimentos sociais e os partidos. Ele acaba de criar, inclusive, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
ISTOÉ - Um de seus principais projetos na campanha eleitoral foi o Cidade Mulher. Ele já foi colocado em prática?
Vanda - Já temos o projeto da primeira unidade, que, aliás, é de um dos gênios da arquitetura brasileira, João Filgueiras Lima, o Lelé. Um dos arquitetos de mais sensibilidade social que conheço.
ISTOÉ - Como vai funcionar?
Vanda - O Cidade Mulher é um grande centro de apoio e atendimento às mulheres e seus filhos de até cinco anos. É um misto de espaço de convivência e de formação profissional e cultural. Em cada unidade vão funcionar creche, serviços de atendimento médico e odontológico, oficinas de formação de mão de obra, agências de microcrédito e apoio jurídico, centro de inclusão digital, biblioteca e teatro.
ISTOÉ - Quantos centros como esse El Salvador precisa?
Vanda - A ideia é construir 14 unidades em todo o país, nas capitais administrativas. Estamos buscando financiamento internacional para isso e a receptividade tem sido muito boa. Meu sonho é inaugurar a primeira Cidade Mulher no início do próximo ano.
"Maus exemplos antidemocráticos, como o golpe em Honduras, não prosperam mais na América Latina. Causam nojo e vergonha"
ISTOÉ - A sra. tem um filho, Gabriel, de pouco mais de um ano. Como é conciliar a maternidade com as atividades de primeira-dama?
Vanda - Às vezes é duro. Mas o Mauricio é um grande pai e isso ajuda muito. Minha família toda também é muito presente. O Bibi, como salvadorenho, está pagando a sua cota de sacrifício em favor de um país melhor para os adultos de hoje e para a geração dele, dos seus filhos e netos. E o Bibi gosta da ritualística do poder. Desde a festa da posse, em toda solenidade de que participa, ele lança acenos, todo compenetrado, para as pessoas.
ISTOÉ - Foi a sra. quem apresentou seu marido ao presidente Lula?
Vanda - Sim. Isso aconteceu há uns 13 anos. Desde o primeiro momento, rolou uma boa química e simpatia entre os dois. Além disso, eles têm uma visão de mundo bem parecida.
ISTOÉ - Como se dá o intercâmbio com o governo Lula?
Vanda - Da forma mais madura e solidária possível. O presidente Lula elevou o Brasil a um novo patamar no mundo, e feliz do país que tenha a colaboração do Brasil. Eu e Mauricio temos a felicidade de ser amigos, de muitos anos, do presidente Lula e de vários membros da sua equipe. Estamos ainda estudando as formas mais efetivas de troca de experiências e ações conjuntas em várias áreas.
ISTOÉ - O presidente, o ministro Patrus Ananias e o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, estiveram recentemente em El Salvador. Qual a contribuição deles ao governo Funes?
Vanda - Eles são amigos pessoais e velhos companheiros de luta. Todos, agora, com ampla experiência em um dos governos mais exitosos do mundo. As sugestões deles têm sido valiosas para nós. Porém, o melhor é que eles estão opinando em cima de propostas nossas. Não estamos simplesmente importando acriticamente as experiências brasileiras, por melhor que elas sejam. A esquerda salvadorenha, mesmo longe do poder, soube pensar o país. Temos a chance, agora, de colocar isso em prática, somando nossos esforços com a experiência de países amigos, em especial o Brasil.
ISTOÉ - O presidente Funes pretende implantar o Bolsa Família?
Vanda - Na verdade, o governo passado, mesmo sendo de direita, já havia feito uma primeira experiência, fazendo uma cópia malfeita e diminuta do Bolsa Família. Mauricio ampliou o programa e fez modificações. É um começo. Nossa ideia é fazer um programa mais amplo e diversificado.
ISTOÉ - A sra. é filiada ao PT desde 1981 e durante muitos anos representou o partido na América Central. Como vê o PT hoje?
Vanda - O PT está num grande momento de amadurecimento e crescimento. É hoje um dos maiores partidos de massa do mundo e sabe se comportar, muito bem, como partido governante. Vi, recentemente, uma pesquisa em que ele aparece como o partido de maior preferência entre os brasileiros. Isso não é pouco.
ISTOÉ - Na crise que assola o Senado, boa parte do PT defende o presidente da Casa, José Sarney. A sra. apoia esta postura?
Vanda - Sou brasileira, mas sou também primeira-dama de um país estrangeiro. Não me compete comentar particularidades da vida política brasileira. Mas tenho experiência política suficiente para saber que o partido de um presidente deve buscar sempre dar governabilidade ao seu governo. Toda vez que apoiar o presidente e a governabilidade, o PT, na minha opinião, está agindo bem.
ISTOÉ - Quais lições a sra. leva do PT para aplicar em El Salvador?
Vanda - A principal eu posso dizer numa frase: compromisso prioritário com os mais pobres.
ISTOÉ - E quais lições a sra. leva para não aplicar?
Vanda - Acho que o PT, como partido, só tem boas lições a dar. Um ou outro problema individual não significa posição partidária.
ISTOÉ - Honduras faz fronteira com El Salvador. Como a instabilidade política daquele país afeta El Salvador?
Vanda - O caso de Honduras não afeta apenas El Salvador, mas a democracia em todo o mundo. Não é por acaso que os golpistas estão recebendo a desaprovação unânime de todos os países. Mas a democracia em El Salvador é sólida e a transição tem se dado com muito equilíbrio. Maus exemplos não influenciam mais o povo salvadorenho. Até porque tenho certeza de que no desfecho final a democracia vai vencer em Honduras.
"Dona Marisa não gosta de protagonismo, mas trabalha no bastidor. Ela continua sendo a principal conselheira do presidente Lula"
ISTOÉ - Mas a instabilidade política em Honduras pode favorecer a volta de golpes militares na América Latina?
Vanda - Ao contrário. Acho que vai servir para consolidar ainda mais o sentimento e a prática da democracia. Na América Latina vai ficar o sentimento de repulsa a atitudes arbitrárias e criminosas. Repito: é um mau exemplo. E maus exemplos antidemocráticos não prosperam mais na região. Causam nojo e vergonha.
ISTOÉ - O que a sra. acha da atuação de dona Marisa como primeiradama?
Vanda - Tenho o privilégio de conhecer dona Marisa e o presidente Lula há décadas. Dona Marisa é uma petista histórica, das mais apaixonadas. É uma mulher que não gosta de protagonismo, mas que trabalha, com constância e firmeza, no bastidor. É uma pessoa muito sensível e atenta às questões sociais. Ela continua sendo a principal conselheira do presidente Lula.
ISTOÉ - Dona Marisa conheceu Lula no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Como a sra. conheceu Funes?
Vanda - Fui chamada ao Canal 12, para opinar, como diretora do Centro de Estudos Brasileiros da embaixada do Brasil, sobre a compra de um pacote de novelas. Isso foi há mais de 15 anos. Pedi na ocasião para conhecer o Mauricio, de quem eu era fã de carteirinha, por causa de seu estilo destemido e independente. Foi paixão à primeira vista.