Professores da rede estadual de São Paulo reunidos na tarde de ontem em assembleia na capital aprovaram a convocação de uma greve a partir de segunda-feira, por tempo indeterminado. O movimento, liderado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), reivindica um reajuste salarial de 34,3%, aumento que está fora de cogitação, segundo a Secretaria Estadual da Educação. A pasta classificou a aprovação da greve como “decisão política”.
Segundo a Apeoesp, a assembleia de ontem reuniu de 9 a 10 mil docentes em frente ao prédio da Secretaria da Educação, na praça da República, região central.
Após a votação da greve, os professores saíram em passeata até a Praça da Sé. A categoria conta com 215 mil docentes em atividade. A rede atende a 5 milhões de alunos em cerca de 5 mil escolas.
“A assembleia foi satisfatória, tivemos o comparecimento de representantes de todas regiões da Grande São Paulo”, diz a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo. “Um fator muito relevante foi que se aprovou a greve por unanimidade, coisa muito rara.”
O reajuste salarial reivindicado é a reposição de perdas salariais acumuladas de 1998 para cá, segundo cálculos comparativos do poder aquisitivo do salário do professor feitos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
“Com o movimento, esperamos que o governo nos chame para negociar, numa negociação que possamos ganhar alguma coisa”, diz o presidente do Centro do Professorado Paulista (CPP), José Maria Cancelliero. Além da Apeoesp e do CPP, apoiam o movimento grevista os sindicatos Udemo (diretores), Afuse (funcionários), Apase (supervisores) e Apampesp (aposentados).
Em nota, a Secretaria de Educação do Estado destacou que as entidades contestam “todos programas de evolução educacional instituídos pelo governo, extrapolando as reivindicações sindicais”.
“A secretaria confia que o conjunto dos professores, a exemplo das tentativas anteriores da Apeoesp, não vai se mobilizar em relação a essa pauta que só prejudica o ensino público e é contrária aos interesses dos professores.”
O governo estadual faz referência aos dois últimos anos, quando o movimento grevista não foi além de manifestações em frente ao prédio da secretaria. Em 2008, a greve chegou a ser declarada, mas a pequena adesão a interrompeu no início. Em 2009, a assembleia geral não aprovou a greve.
Na semana que vem, em busca de mais adesão, os sindicalistas farão “corpo a corpo” com colegas nas escolas. Para a próxima sexta-feira, dia 12, foi convocada nova assembleia geral, desta vez na Avenida Paulista. “Espero que todos parem, mas o pessoal do interior me parece desmobilizado”, diz a professora Catarina Santos.
Além do reajuste, os sindicatos dos docentes pedem o fim do programa de promoção por mérito, que instituiu uma prova para dar aumentos anuais apenas para os 20% mais bem classificados.
CONTEXTO DA DISPUTA
PROMOÇÃO POR MÉRITO
O governo estadual criou programa que dá bônus para até 20% dos professores melhores colocados em uma prova. Mas os sindicatos da categoria alegam que a medida fere a isonomia da classe e brigam na Justiça para derrubá-la
TEMPORÁRIOS
O Estado aplicou uma prova para servir como critério para a distribuição das aulas aos professores, de acordo com o desempenho.
Sindicato tentou na Justiça alterar a ordem da lista para privilegiar os temporários que estão há mais tempo na rede
RAIO X DA GREVE
Quantos são:
215 mil docentes em atividade
O que afeta: 5 milhões de alunos em 5 mil escolas
O que eles querem:
A principal reivindicação é um reajuste salarial de 34,3%
O que o governo oferece:
Por ora, diz que “não há condição econômica de pagar um aumento dessa dimensão, o que desorganizaria todos os programas que permitem o funcionamento das mais de 5 mil escolas estaduais”