terça-feira, 7 de julho de 2009

O candidato presidente


A corrida do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao governo de Goiás está a pleno vapor. Com a agenda da instituição sem grandes temas em pauta, ele aproveitou os últimos dias para pavimentar acordos que lhe garantam um espaço privilegiado na disputa a ser travada pela sucessão do governador Alcides Rodrigues em 2010. Ontem, ele centrou fogo num dos grupos mais poderosos e influentes do estado, os ruralistas, aos quais avisou: “As portas do Banco Central estão abertas para todos vocês em Brasília”.

O encontro veio em um momento muito favorável para Meirelles. No fim de junho, ele convenceu o Conselho Monetário Nacional (CMN) a aprovar um pleito encaminhado pelos produtores, mudando a classificação de risco daqueles que haviam renegociado dívidas entre 2003 e 2005. Com isso, cerca de 93 mil agricultores, que eram apontados pelos bancos como “próximos ao calote” e estavam impedidos de tomar novos financiamentos, passaram a ter acesso a mais recursos.

“Ao encampar essa medida, o presidente do BC corrigiu uma importante distorção que estava prejudicando muita gente”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, anfitrião de um seminário que reuniu cerca de 600 produtores rurais, todos ávidos por ouvir Meirelles. O empresário ressaltou, no entanto, que os ruralistas ainda não fecharam apoio a nenhum candidato ao Palácio das Esmeraldas. “Vamos ouvir todos e apoiaremos aquele que apresentar as melhores propostas para o nosso setor”, acrescentou.

Apesar do comedimento do presidente da Faeg, Sérgio Ramos Caiado, um dos principais mentores da candidatura de Meirelles e presidente do PP local, está certo da capacidade de seu protegido sair com total apoio dos produtores rurais. “O presidente do BC representa o novo. Em sondagens informais que temos feito, sua candidatura empolga jovens, intelectuais, trabalhadores e empresários de todos os setores”, afirmou. “Todos reconhecem que não há hoje, no estado, nenhuma pessoa com tamanha visibilidade e respeito para assumir o governo local”, disse Caiado.

É com esse discurso que o PP, partido ao qual Meirelles deve se filiar em setembro próximo, pretende aglutinar o maior número de forças políticas em torno de seu candidato. “Estamos conversando com o PT, com o PMDB, com o PR, o PTN, o PSB, o PT do B e o PTB. Até o DEM já sinalizou com a possibilidade de uma composição regional”, contou Caiado, também secretário de Infraestrutura de Goiás. Ele reconheceu que com o PMDB a conversa não está sendo fácil. O atual prefeito de Goiânia, Íris Rezende, é candidatíssimo ao governo estadual.

Para Meirelles, é vital que Íris desista da disputa pela sucessão de Alcides Rodrigues, pois, desta forma, ele se tornaria imbatível. O prefeito entraria em sua chapa como candidato ao Senado. Essa articulação conta com apoio do presidente Lula, que deseja impor uma derrota fragorosa ao senador Marconi Perillo, candidato já confirmado do PSDB. Lula não perdoa Perillo por acusações feitas a um de seus filhos durante as CPIs que investigaram irregularidades no governo.

Vingança
Meirelles também não esconde seu desejo de vingança contra o senador do PSDB. Em 2002, o presidente do BC dava como certo que seria o candidato do partido a uma vaga ao Senado. Tanto que gastou uma fortuna na impressão de folhetos e em propagandas. Mas, por decisão de Perillo, foi preterido por Lúcia Vânia, que foi eleita. Meirelles concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados. Foi o parlamentar mais votado da história do estado. Acabou, porém, renunciando ao mandato e se desfiliando do PSDB para assumir o Banco Central de Lula.

Na árdua tarefa de atrair o PMDB para a sua candidatura e de demover Íris Rezende de concorrer ao governo, Meirelles conta com um grande aliado: seu compadre Ovídio de Angelis, que foi ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso e hoje responde pela vice-presidência para Projetos do Grupo Brasilinvest. De Angelis fez questão de marcar presença no mini-comício de Meirelles para os ruralistas. Assistiu, atento, à palestra do amigo e aprovou o corpo a corpo que o presidente do BC fez na hora em que se retirou do auditório da Faeg, distribuindo beijos e abraços.

As portas do Banco Central estão abertas para todos vocês em Brasília


Não há nenhuma decisão tomada. Estamos focados na economia brasileira


O que eles disseram

Sérgio Ramos Caiado



“O presidente do BC corrigiu uma distorção que estava prejudicando muita gente”
José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, sobre medida aprovada pelo Conselho Monetário Nacional

“O presidente do BC representa o novo. Em sondagens informais que temos feito, sua candidatura empolga jovens, intelectuais, trabalhadores e empresários de todos os setores”
Sérgio Ramos Caiado, presidente do PP goiano

“De início, fiz muitas críticas a sua gestão frente ao BC. Mas, agora, reconheço que ele faz um trabalho fundamental para o país”
Juraci Martins de Oliveira (DEM), prefeito de Rio Verde

“O caminho já está pavimentado. Ele vai se filiar em setembro e, provavelmente, deixar o BC em março do ano que vem”
Sérgio Lucas, secretário-geral do PP de Goiás


Apoio costurado


No que depender do prefeito de Rio Verde, Juraci Martins de Oliveira, o apoio de seu partido, o DEM, à candidatura de Meirelles não será problema. “Assim como eu fui o novo na minha cidade e saí de 2% das intenções de votos no início da campanha para ganhar a disputa, Meirelles pode ter a mesma trajetória”, disse. “Ele é um técnico muito competente e um líder nato. De início, fiz muitas críticas a sua gestão frente ao BC. Mas, agora, reconheço que ele faz um trabalho fundamental para o país”, afirmou.

Para Sérgio Lucas, secretário-geral do PP estadual, a candidatura de Meirelles ao governo goiano é irreversível. “O caminho já está pavimentado. Ele vai se filiar em setembro e, provavelmente, deixar o BC em março do ano que vem”, assinalou. O mesmo disse Francisco Gedda, presidente da MetroBus e articulador político do governo de Alcides Rodrigues. “Estamos coordenando palestras sobre a economia do estado que Meirelles fará em agosto em quatro cidades: Itumbiara, Jataí, Rio Verde e Anápolis”, contou.

O BC nega o compromisso de Meirelles com tais palestras. Mas faz parte do jogo de dissimulação que o presidente do BC precisa fazer. É ele quem diz, quando questionado sobre sua candidatura: “Não há, no momento, nenhuma decisão tomada. Estamos focados na economia brasileira e no trabalho de fazer com que o Brasil seja um dos primeiros países a sair da crise”. Sobre o movimento dos partidos para lançá-lo na disputa pela sucessão de Alcides Rodrigues, ele destacou que se sente “honrado” com a “generosidade do povo e das lideranças de Goiás”, por lembrarem de um “mero homem da terra”. CB

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