Sem consenso dentro da bancada do PT no Senado, os senadores do partido adiaram para hoje a reunião em que vão definir se acatam o pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o PT sustente José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado. O impasse continua e petistas que defendem o afastamento temporário de Sarney temem que o presidente Lula imponha a manutenção da aliança com o PMDB nos Estados, acima dos interesses dos diretórios estaduais do partido.
A ausência da líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), e do senador Delcídio Amaral (MS), o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), cancelou a reunião de ontem. A estratégia foi vista dentro da bancada como forma de adiar a decisão até que a crise no Senado envolvendo o presidente da Casa seja minimizada, do ponto de vista político. Ontem o DEM já dava sinais de que não insistirá no afastamento de Sarney, assim como o PSDB. "Nós fizemos a sugestão, mas se Sarney não quiser seguir não seguirá", disse Antonio Carlos Magalhães Jr (DEM-BA).
Os que defendem o afastamento de Sarney para garantir a lisura das investigações reiteraram ontem o pedido. "O anúncio de medidas administrativas não é suficiente para conter a crise no Senado", disse a senadora Marina Silva (AC). "Não se trata de agradar ao presidente Lula ou à bancada. É preciso tomar a melhor decisão para resolver a crise", afirmou.
No partido, petistas temem que se a bancada recuar na decisão de pedir o afastamento de Sarney por causa da pressão de Lula , o presidente poderá fazer o mesmo nos Estados, para manter a aliança com o PMDB. Um caso emblemático é o de Minas: o diretório petista aprovou candidatura própria, mas o comando petista nacional quer que o partido apoie o ministro Helio Costa, pelo PMDB.
Articulador das alianças políticas do PT, o ex-ministro José Dirceu defende que o exemplo de articulação política no Espírito Santo, entendimento entre PT e PMDB , se repita nos Estados onde não houve acordo ainda. No Espírito Santo, tendo à frente o prefeito reeleito de Vitória, João Coser, o PT consolidou sua aliança com o PMDB e com o governador Paulo Hartung (PMDB). O partido apóia o vice-governador Ricardo Ferraço como candidato ao Estado, abrindo mão de indicar candidato próprio (o prefeito Coser).
No Mato Grosso do Sul, o PT reunificou suas duas principais lideranças: o ex-governador Zeca do PT e o senador Delcídio Amaral. Os dois formaram uma chapa única para o diretório regional e poderão formar uma chapa para o governo do Estado e o Senado ou negociar com o atual governador do PMDB, André Puccinelli. Com o divisão no PT-MS, Pucinelli controlava sua própria sucessão, mas agora acena com a possibilidade de apoiar Dilma. Na Bahia, o PT local quer a reeleição de Jaques Wagner, mas não há acordo ainda com Geddel Vieira Lima. No Pará, o partido tem que reconstituir a aliança que elegeu a governadora petista Ana Júlia Carepa, já que Jader Barbalho e Ana Julia romperam.