Que Grécia, que nada. O mais lido relatório do banco de investimentos Goldman Sachs neste mês não fala de crise econômica ou de recessão em países europeus. O assunto é futebol. Jim O " Neill, diretor de pesquisas econômicas globais da Goldman Sachs e criador do termo BRICs, publicou na sexta-feira um relatório de 67 páginas, chamado "2010 World Cup and Economics Report" (A Copa do Mundo de 2010 e a Economia), no qual faz previsões sobre os possíveis vencedores do Mundial. O Brasil, segundo O " Neill, é o mais cotado para vencer a disputa na África do Sul, com 13,76% de probabilidade.
"Não temos dúvida de que esse relatório é o que mais gera controvérsias", disse O " Neill, na introdução do trabalho. As apostas do economista - que é torcerdor fanático do inglês Manchester United e também faz parte de um grupo de investidores que quer comprar o time - são de que Brasil, Argentina, Alemanha e Itália deverão disputar as semifinais do torneio, que começa em 27 dias. "Para aqueles que se irritam com nossas previsões, lembramos que acertamos três dos quatro semifinalistas das Copas de 2006 e de 1998", provocou o diretor da Goldman Sachs.
Mas economistas não são tão bons assim quando o assunto é futebol. Na verdade, na Copa da Alemanha, há quatro anos, O " Neill previu que estariam nas semifinais as seleções do Brasil, da Itália, Alemanha e Inglaterra ou Argentina. Foram classificadas apenas Itália e Alemanha, além de França e Portugal. "Boa observação! Realmente acertamos só duas seleções em 2006", disse ele por e.mail ao Valor. "Minha desculpas. Mas mesmo assim acertamos mais do que em 2002", acrescentou, bem humorado. Na Copa da Coreia e do Japão, há oito anos, o economista havia previsto que os semifinalistas seriam Argentina, França, Itália e Espanha. Nenhum chegou lá. Na edição de estreia do estudo, em 1998, na Copa da França, o diretor da Goldman Sachs foi melhor: acertou três semifinalistas.
As previsões, explica O " Neill, são feitas com base em estudos de probabilidade. Ele analisa quais as seleções que mais tiveram os melhores resultados nos últimos anos e faz suas contas. Mas nessa edição do estudo, assim como na última, os clientes do banco também participaram. Um total de 2.955 investidores apontaram 121 jogadores para formar o time dos sonhos do mercado financeiro no futebol. Os 11 mais votados formaram a seleção, que tem os brasileiros Kaká, Lúcio e Dani Alves. Dentre os zagueiros, os investidores já tiveram uma baixa: escolheram o inglês John Terry, que ontem - um dia depois da convocação da seleção inglesa para a Copa do Mundo - se machucou no treinamento do Chelsea. Segundo os médicos de sua equipe, o jogador pode ficar fora do Mundial.
Mas e o que tem de economia nesse relatório do Goldman Sachs? Pouca coisa. Ao contrário das outras edições do estudo (na quais ele fazia um retrato da situação econômica de cada país participante), O " Neill preferiu, desta vez, ser mais "ligh". "Há quatro anos, no relatório da Copa anterior, nós mostramos como vinha sendo a performance dos mercados em cada país. Mas essa análise não provou ter nenhuma relação com os melhores times da Copa", disse o economista.
O que parece, sim, ter relação com o bom desempenho no futebol, segundo ele, é a melhora na economia de países em desenvolvimento. "O crescimento da economia de um país ajuda essa nação em desenvolvimento a subir no ranking da FIFA", sugere O " Neill, que, para chegar a essa conclusão, cruzou dados econômicos de alguns países com seus últimos resultados no futebol.
Andreas Hoefert, economista chefe da casa financeira UBS Securities, de Londres, não arrisca ir tão longe. Ele também publicou um documento sobre a Copa, no fim de abril, mas não quis arriscar semifinalistas, como o Goldman Sachs. "Acreditamos que o vencedor será o Brasil, com 22% de chance", disse Hoefert, em seu relatório. "Somos economistas e analistas sérios. Mas isso não impede que sejamos fanáticos por futebol", acrescentou ele.
André, vc sabe como conseguir este report? Obrigado. André Coelho