Sem a presença da pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, foi lançada ontem a pré-candidatura do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) ao governo do Rio, ao lado de PSDB, DEM e PPS. Até em faixas do PV o nome de Marina foi coberto por fitas adesivas para evitar confrontações. A coligação vai possibilitar um palanque duplo presidencial. Tanto Marina quanto José Serra, pré-candidato do PSDB a presidente, terão espaço na propaganda eleitoral na TV e no rádio na chapa dos quatro partidos no Estado. "Existe uma ausência [no evento] compreensível da Marina e do Serra porque estamos na pré-candidatura. E aqui, além da minha posição favorável à Marina, há inúmeros proporcionais e majoritários que apoiam o Serra. Então seria interessante que estivessem os dois ou não estivesse nenhum", afirmou Gabeira, durante o lançamento de sua pré-candidatura, na sede do clube América, zona norte do Rio.
Segundo Gabeira, apesar das divergências partidárias, o objetivo da coligação é "quebrar a hegemonia do PMDB e de seus aliados" no Rio. O pré-candidato do PV não falou de Marina em seu discurso, mas ao citar projeto de sua autoria na Câmara, de gratuidade da entrega do coquetel de medicamentos para tratamento da Aids no país, lembrou que Serra teria se inspirado no projeto para implementar a iniciativa quando foi ministro da Saúde.
O principal rival de Gabeira no Estado é o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição aliado à pré-candidata a presidente do PT, Dilma Rousseff. Também está no páreo o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que ainda não definiu com quem vai se aliar na campanha presidencial.
Outra ausência no evento de ontem foi a do vereador Alfredo Sirkis, presidente do PV do Rio e coordenador de campanha de Marina Silva. Sirkis ficou insatisfeito com o arranjo das quatro legendas que deixou de lado o nome da vereadora do PV Aspásia Camargo para concorrer ao Senado. A coligação escolheu Marcelo Cerqueira, do PPS, e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, do DEM. No lugar de Aspásia ficou Maia. Nas eleições de 2008, Gabeira, aliado ao PSDB e ao PPS, disparou críticas à gestão Maia, que deixava o cargo após três mandatos.
No palanque do Gabeira, além de Maia, estavam os presidentes do PV, José Luiz Penna, e do DEM, Rodrigo Maia. A deputada Solange Amaral (DEM), que disputou a prefeitura com Gabeira em 2008, pediu engajamento na campanha da coligação.
Marina e Sirkis passaram o dia de ontem em São Paulo, em preparação para o debate dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria (CNI) amanhã, em Brasília. "Já estava combinado que Marina e Serra não iriam", disse Sirkis, que não escondeu seu descontentamento com o lançamento da pré-candidatura de Maia. "É público, notório e óbvio que sou contra", afirmou. Gabeira quase desistiu de disputar o governo do Rio porque tinha resistências a Maia. O acordo foi selado depois que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pressionou em favor de Maia, em nome do acordo nacional de tucanos e demistas em torno da candidatura Serra.
Marcelo Cerqueira disse que a aliança das quatro legendas é "indestrutível" e comparou o acordo com a formação do MDB, que unia vertentes políticas distintas contra a ditadura militar. "Nós somos Serra presidente, nós somos Gabeira governador", disse Cerqueira. Na avaliação de Cesar Maia, a coligação é "inusitada", pois une apoiadores de Serra e de Marina, o que "produz algum tipo de desconforto", mas avalia que "as coisas vão se acomodando". Márcio Fortes, vice tucano na chapa de Gabeira, afirmou que os partidos estão unidos porque "falam a mesma língua" e citou em seu discurso palavras de apoio às pré-candidaturas presidenciais do PSDB e do PV.