O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa por Moscou, amanhã, viagem de uma semana a três países da Europa e dois do Oriente Médio que será um verdadeiro teste para seu prestígio pessoal e à confiança que a política externa brasileira construiu na comunidade internacional. Será uma das últimas das grandes viagens do presidente desde que o Itamaraty, com sua benção, retomou com intensidade a política Sul-Sul, em ritmo só comparável ao do período militar. Depois, Lula fará ainda uma longa viagem à África e deve encerrar seus oito anos de mandato com uma visita à China.
São dois os testes de Lula. O mais importante é o Irã, onde estará nos dias 16 e 17. Teerã está sob intensa pressão da comunidade internacional para abrir seu programa nuclear aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica.
O Irã recorre até a argumentos religiosos para assegurar que seu programa é pacífico. "Pela lei islâmica e por um decreto do líder espiritual a produção de armas de destruição em massa é proibida", diz o embaixador iraniano em Brasília. Moshen Shatrezadeh. Lula é contrário à aplicação de sanções econômica que devem ser impostas pela ONU e defende o diálogo entre Teerã e as grandes potências internacionais.
A viagem à Rússia tem um forte componente comercial. Mas Lula deve tratar da questão iraniana com o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e com o presidente, Dmitriy Medvedev, em conversas previstas para amanhã e depois. Os russos inicialmente tentaram ajudar o Irã, que os ignorou, mas agora devem apoiar a posição dos Estados Unidos e da França, seus parceiros no Conselho de Segurança da ONU, de aplicar sanções comerciais ao Irã.
Segundo o governo brasileiro, além dos negócios, a viagem de Lula ao Irã é uma oportunidade para o Brasil exercitar seu compromisso com a paz e demonstrar sua confiança no diálogo como sendo caminho adequado para a solução de problemas. No Palácio do Planalto afirma-se que Lula, como um ex-sindicalista, acredita na conversa "olho no olho". O Brasil já se satisfaz em mediar o diálogo entre Teerã e as grandes potências - só a China deve se abster de votar no Conselho de Segurança da ONU. Uma posição que países aliados, como a França, consideram "ingênua".
Isolada, Teerã elegeu o governo brasileiro como um parceiro confiável. As autoridades iranianas aceitariam, por exemplo, que o Brasil fosse o local para a troca de seu urânio semienriquecido por combustível nuclear, se os líderes mundiais aceitassem a proposta.
Outro problema foi a ameaça de Lula de não comparecer à 6ª Cúpula da União Europeia, América Latina e Caribe, em Madri, por causa da presença no encontro do presidente de Honduras, Porfírio "Pepe" Lobo, cuja eleição não foi reconhecida pelo Brasil. Honduras também está suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde o ano passado por causa do golpe de Estado que depôs o presidente Manuel Zelaya. O impasse foi resolvido por um arranjo de agenda que impedirá Pepe de cruzar com o brasileiro, mas era Lula quem mais tinha a perder se não fosse à cúpula: a UE já admite fazer acordos com o Mercosul, e a reunião de Madri será uma oportunidade única de negociação.
No fim do segundo mandato de governo o prestígio e o reconhecimento internacional de Lula e do país estão sendo questionados por causa do viés ideológico que passou a ser detectado em certas decisões. Lula, por exemplo, não condenou Cuba pela morte de um preso político que fazia greve de fome, é compreensivo com decisões ditatoriais de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, e agora com Teerã e seu programa nuclear, que as autoridades iranianas asseguram ter fins pacíficos
Em contrapartida, Lula não foi à posse de um presidente eleito democraticamente, o chileno Sebastián Piñera, um reconhecido direitista, em março, sob a alegação de problemas de segurança causados pelo terremoto que causou cerca de 500 mortes - o Brasil foi um dos países que mais ajudaram no socorro às vítimas do sismo.Valor Econômico