terça-feira, 18 de maio de 2010

Nas ruas, turcos dizem que opção pelo diálogo ajuda o país

A visão geral de comerciantes, empresários, lideranças industriais e jovens turcos é de que a opção pelo diálogo com o Irã, em vez da imposição de sanções, é francamente apoiada. A reportagem do Valor conversou com moradores de Istambul e Ancara, respectivamente a maior cidade e a capital da Turquia. A maioria aprova a intermediação do governo turco a favor do Irã. Empresários e lideranças industriais, concentrados em Istambul, não acreditam que as conversas com os iranianos, foco internacional de discórdia, gerem problemas para os negócios. A visão geral é que a ligação com o Brasil e a opção pelo diálogo, em vez de impor sanções ao país presidido por Mahmoud Ahmadinejad, beneficia a inserção da Turquia no mundo global.

"Não há problema interceder a favor do Irã, como nosso governo e Lula estão fazendo. Não sou favorável a desenvolvimento nuclear, mas se os americanos podem, porque os iranianos não podem também?", afirma Murat Govaglü, que trabalha como comerciante em Istambul, mas vive em Anatolia, a parte oriental da cidade. Murat, com pouco mais de 30 anos de idade, espelha o pensamento majoritário dos jovens turcos. O país é grande receptor de turistas. No ano passado, foram cerca de 24 milhões de turistas, 2 milhões a menos que em 2008, devido aos efeitos da crise mundial na depreciação da renda. Neste ano, o governo turco espera receber quase 30 milhões de turistas - o Brasil, como comparação, recebe em média 6 milhões de turistas por ano.

A maior concentração de turistas é Istambul, cidade de 16 milhões de habitantes, dividida em lado ocidental e oriental, chamado de Anatolia pelos turcos. O jovem Huram Mietiniz, que trabalha no Grande Bazar, compara a recepção turística com a política diplomática. "Recebemos russos, alemães, italianos, brasileiros, e nossos irmão do Oriente Médio, como iranianos, israelenses, libaneses. Não podemos discriminá-los no país, assim como o governo não pode escolher amigos, mas conversar com todos e tentar entender todas as motivações", afirma Huram, que destacou o fato de ter vizinhos iranianos em Anatolia.

"O diálogo do governo com Ahmadinejad não interfere em nada os negócios. Pelo contrário, inclusive, uma vez que o Irã é dos nossos principais parceiros comerciais", diz Mehmet Aykut Eken, vice-presidente da Tusiad, a associação das indústrias da Turquia. Devido ao boicote de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, o Irã tem opções restritas de mercados para importar. Para os industriais turcos, que lidam com elevadas taxas de juros - atualmente em 7,7% ao ano - e câmbio valorizado - por volta de 1,52 liras turcas por dólar - a demanda garantida dos iranianos é uma importante válvula de escape para exportar.

Murat Yalçintas, presidente da Câmara de Comércio de Istambul, que une cerca de 55% das exportações turcas, avalia que os empresários do país estão se beneficiando das relações mais próximas com países como Síria, Armênia, Rússia e Irã. O vice-presidente da entidade, Dursun Topçu, afirmou que viajou ao Irã em abril e "lá pude ver uma série de produtos turcos e europeus". Para ele, "as boas relações comerciais devem ser também políticas".

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