A histeria do senador Bornhausen
Por Altamiro Borges
Na crise política que se arrasta no país há mais de cinco meses, sinistros personagens têm conquistado os holofotes da mídia por sua postura raivosa e golpista. Entre eles, destaca-se o senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL. Quando a tensão atingiu o seu ápice, ele festejou a possibilidade do impeachment do presidente Lula e da derrota das esquerdas para uma platéia de ricaços em São Paulo: "Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos". Rechaçado pela declaração racista, o notório reacionário tentou remendá-la. Na seqüência, diante dos cartazes espalhados em Brasília com sua foto sobreposta a uma imagem nazista, ele teve um chilique e esbanjou histeria, relembrando seus velhos tempos de serviçal da ditadura militar.
Agora, ameaça processar o sociólogo Emir Sader, um dos intelectuais brasileiros mais lúcidos e corajosos na denúncia da oposição de direita e que o taxou de "banqueiro racista" num texto à Agência Carta Maior. Lamentavelmente, o seu pronunciamento do Senado anunciando a abertura do processo teve o beneplácito de senadores petistas e pedetistas, bem ao estilo da cínica diplomacia parlamentar [1]. A ofensiva da velha raposa oligárquica, que durante algum tempo ficou na moita, mostra que a oposição liberal-conservadora está excitada. Escorraçada na eleição presidencial de 2002, ela parte para a revanche e não esconde o seu ódio de classe - para tristeza dos mercadores de ilusões que apostaram no fim da luta de classes no país!
Passado sinistro
Mas o senador Jorge Konder Bornhausen não está com esta bola toda! Como desabafou recentemente o presidente Lula, irritado com os hidrófobos do PFL, "eles não têm moral para criticar". Na vida política, o senador sempre esteve a serviço das piores causas. Ele iniciou sua carreira na UDN, partido da elite, com roupagem moralista, conhecido pelas ações golpistas contra Getúlio Vargas e João Goulart. Após o golpe de 1964, foi um dos líderes da Arena, partido da ditadura, da tortura e dos assassinatos, sendo presenteado com o posto de governador biônico de Santa Catarina. Com a redemocratização, fundou o PFL e ajudou a forjar a imagem de Fernando Collor de Mello. Defendeu este governante corrupto até o seu impeachment.
No triste reinado de FHC, Bornhausen foi um de seus principais ministros e ajudou no nocivo processo de privataria do Estado e de desmonte do Brasil. Em toda sua trajetória política, inclusive como embaixador, ele se projetou pela postura de subserviência diante dos interesses imperialistas dos EUA e de apologista do ideário neoliberal de enxugamento e privatização do Estado, de abertura indiscriminada do mercado interno, de redução dos gastos públicos nas áreas sociais e de flexibilização dos direitos trabalhistas. Uma coisa é certa: ele nunca escondeu as suas posições nitidamente identificadas com as teses da direita mais reacionária e entreguista, como se constata em seus discursos no Senado de fácil acesso na internet.
Já na vida privada, o banqueiro Jorge Bornhausen também tem um passado bastante suspeito. Oriundo de uma família oligárquica de Santa Catarina, ele sempre gozou de muito dinheiro e poder, tanto que chegou à presidência da poderosa Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Nas relações promiscuas entre o público e o privado, que caracterizam os patrimonialistas tupiniquins, o senador já foi acusado de vários atos ilícitos. Em junho de 2002, por exemplo, a revista Isto É denunciou: "Na investigação sobre remessa ilegal de dinheiro, Polícia Federal acha boleto bancário em nome de Bornhausen". A matéria descrevia em detalhes um megaesquema de corrupção no envio irregular de bilhões de dólares do Brasil ao exterior.
"Na papelada encontrada por investigadores americanos na agência do Banestado em Nova York havia um boleto bancário no valor de R$ 185 mil em nome de Jorge Konder Bornhausen". Esse montante teria saído da agência do Banco Araucária em Foz do Iguaçu. Em seguida, passou por um offshore num paraíso fiscal e desembarcou nos EUA. Com 35 mil páginas, o relatório da PF revelava a movimentação de 137 contas suspeitas feita através da CC-5. Entre 1992 e 1997, pessoas e empresas utilizaram este recurso para enviar ilegalmente ao exterior R$ 124 bilhões. Deste montante, a PF identificou quase R$ 12 bilhões que provinham de dinheiro sujo, "procedente de corrupção, tráfico de drogas e de armas e outros ilícitos" [2].
Estranhamente, FHC arquivou o dossiê da PF e ainda afastou o delegado José Castilho Neto, responsável pela investigação. "O estopim foi a divulgação do nome do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, entre os envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro". A investigação ainda incriminou vários tucanos de alta plumagem, como o próprio FHC, José Serra e o falecido Sérgio Mota [4]. Revelou que o Banespa, sob controle do PSDB, usou este mesmo esquema de lavagem para enviar US$ 50 bilhões ao exterior em 1997. O Banestado quebrou em 1998, num escândalo que causou prejuízos de US$ 200 milhões para seus quatro mil clientes. Essa lavanderia mundial foi uma das fontes de recursos do condomínio PSDB-PFL.
Jorge Bornhausen também aparece em outros casos sinistros. Segundo o deputado Eduardo Valverde (PT-RO), ele esteve diretamente envolvido no escândalo da Pasta Rosa, que relacionou 49 parlamentares que receberam dinheiro para suas campanhas da Febraban e do Banco Econômico que nunca foi contabilizado - o famoso caixa-2. Luiz Carlos Bresser Pereira, tesoureiro da campanha de FHC em 1994, reconheceu publicamente que cerca de R$ 10 milhões destes recursos não foram contabilizados. O senador ainda é citado no caso da Feira de Hannover, "em que sua filha, sócia de uma empresa, ganhou sem licitação um contrato de quase R$ 17 milhões para a organização da feira. Jorge Bornhausen foi o principal defensor do governo FHC porque obtinha vantagens, não era por ideologia", ironiza o deputado petista.
Em junho de 2003, os procuradores Luiz Francisco de Souza, Raquel Branquinho e Valquíria Quixadá entregaram à Receita Federal cerca de seis mil documentos sobre 52 mil pessoas que lavaram US$ 30 bilhões nos EUA a partir do Banestado de Foz do Iguaçu. O maior foco de investigações recaiu sobre "a família do sr. Jorge Bornhausen, do PFL, cujo banco familiar, o Araucária, lavou ao menos US$ 5 bilhões nesse esquema, que envolvia dinheiro de traficantes, de doleiros, mas sobretudo das sobras de campanhas eleitorais" [5]. Todos estas graves denúncias, infelizmente, não fluíram no conciliador governo Lula. Elas bem que poderiam desmascarar muitos dos que hoje pousam de políticos honestos e esbanjam arrogância.
Notas
1- Marco Aurélio Weissheimer. "Escolha o seu lado e as suas causas". Agência Carta Maior, 04/11/05.
2- Andrei Meireles e Expedito Filho. "Surpresa para todos". Revista Isto É, 17/06/2002.
3- Amaury Ribeiro e Sônia Filgueiras. "Operação maluco". Revista Isto É, 21/06/2002.
4- Leonardo Attuch e Hugo Studart. "Os nomes e as provas do dossiê da PF". Isto É Dinheiro, 07/07/02.
5- "MP acusa Bornhausen de lavar US$ 5 bilhões no exterior". Revista Consultor Jurídico, 15/06/03
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "Encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, junho de 2005).
Por Altamiro Borges
Na crise política que se arrasta no país há mais de cinco meses, sinistros personagens têm conquistado os holofotes da mídia por sua postura raivosa e golpista. Entre eles, destaca-se o senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL. Quando a tensão atingiu o seu ápice, ele festejou a possibilidade do impeachment do presidente Lula e da derrota das esquerdas para uma platéia de ricaços em São Paulo: "Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos". Rechaçado pela declaração racista, o notório reacionário tentou remendá-la. Na seqüência, diante dos cartazes espalhados em Brasília com sua foto sobreposta a uma imagem nazista, ele teve um chilique e esbanjou histeria, relembrando seus velhos tempos de serviçal da ditadura militar.
Agora, ameaça processar o sociólogo Emir Sader, um dos intelectuais brasileiros mais lúcidos e corajosos na denúncia da oposição de direita e que o taxou de "banqueiro racista" num texto à Agência Carta Maior. Lamentavelmente, o seu pronunciamento do Senado anunciando a abertura do processo teve o beneplácito de senadores petistas e pedetistas, bem ao estilo da cínica diplomacia parlamentar [1]. A ofensiva da velha raposa oligárquica, que durante algum tempo ficou na moita, mostra que a oposição liberal-conservadora está excitada. Escorraçada na eleição presidencial de 2002, ela parte para a revanche e não esconde o seu ódio de classe - para tristeza dos mercadores de ilusões que apostaram no fim da luta de classes no país!
Passado sinistro
Mas o senador Jorge Konder Bornhausen não está com esta bola toda! Como desabafou recentemente o presidente Lula, irritado com os hidrófobos do PFL, "eles não têm moral para criticar". Na vida política, o senador sempre esteve a serviço das piores causas. Ele iniciou sua carreira na UDN, partido da elite, com roupagem moralista, conhecido pelas ações golpistas contra Getúlio Vargas e João Goulart. Após o golpe de 1964, foi um dos líderes da Arena, partido da ditadura, da tortura e dos assassinatos, sendo presenteado com o posto de governador biônico de Santa Catarina. Com a redemocratização, fundou o PFL e ajudou a forjar a imagem de Fernando Collor de Mello. Defendeu este governante corrupto até o seu impeachment.
No triste reinado de FHC, Bornhausen foi um de seus principais ministros e ajudou no nocivo processo de privataria do Estado e de desmonte do Brasil. Em toda sua trajetória política, inclusive como embaixador, ele se projetou pela postura de subserviência diante dos interesses imperialistas dos EUA e de apologista do ideário neoliberal de enxugamento e privatização do Estado, de abertura indiscriminada do mercado interno, de redução dos gastos públicos nas áreas sociais e de flexibilização dos direitos trabalhistas. Uma coisa é certa: ele nunca escondeu as suas posições nitidamente identificadas com as teses da direita mais reacionária e entreguista, como se constata em seus discursos no Senado de fácil acesso na internet.
Já na vida privada, o banqueiro Jorge Bornhausen também tem um passado bastante suspeito. Oriundo de uma família oligárquica de Santa Catarina, ele sempre gozou de muito dinheiro e poder, tanto que chegou à presidência da poderosa Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Nas relações promiscuas entre o público e o privado, que caracterizam os patrimonialistas tupiniquins, o senador já foi acusado de vários atos ilícitos. Em junho de 2002, por exemplo, a revista Isto É denunciou: "Na investigação sobre remessa ilegal de dinheiro, Polícia Federal acha boleto bancário em nome de Bornhausen". A matéria descrevia em detalhes um megaesquema de corrupção no envio irregular de bilhões de dólares do Brasil ao exterior.
"Na papelada encontrada por investigadores americanos na agência do Banestado em Nova York havia um boleto bancário no valor de R$ 185 mil em nome de Jorge Konder Bornhausen". Esse montante teria saído da agência do Banco Araucária em Foz do Iguaçu. Em seguida, passou por um offshore num paraíso fiscal e desembarcou nos EUA. Com 35 mil páginas, o relatório da PF revelava a movimentação de 137 contas suspeitas feita através da CC-5. Entre 1992 e 1997, pessoas e empresas utilizaram este recurso para enviar ilegalmente ao exterior R$ 124 bilhões. Deste montante, a PF identificou quase R$ 12 bilhões que provinham de dinheiro sujo, "procedente de corrupção, tráfico de drogas e de armas e outros ilícitos" [2].
Estranhamente, FHC arquivou o dossiê da PF e ainda afastou o delegado José Castilho Neto, responsável pela investigação. "O estopim foi a divulgação do nome do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, entre os envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro". A investigação ainda incriminou vários tucanos de alta plumagem, como o próprio FHC, José Serra e o falecido Sérgio Mota [4]. Revelou que o Banespa, sob controle do PSDB, usou este mesmo esquema de lavagem para enviar US$ 50 bilhões ao exterior em 1997. O Banestado quebrou em 1998, num escândalo que causou prejuízos de US$ 200 milhões para seus quatro mil clientes. Essa lavanderia mundial foi uma das fontes de recursos do condomínio PSDB-PFL.
Jorge Bornhausen também aparece em outros casos sinistros. Segundo o deputado Eduardo Valverde (PT-RO), ele esteve diretamente envolvido no escândalo da Pasta Rosa, que relacionou 49 parlamentares que receberam dinheiro para suas campanhas da Febraban e do Banco Econômico que nunca foi contabilizado - o famoso caixa-2. Luiz Carlos Bresser Pereira, tesoureiro da campanha de FHC em 1994, reconheceu publicamente que cerca de R$ 10 milhões destes recursos não foram contabilizados. O senador ainda é citado no caso da Feira de Hannover, "em que sua filha, sócia de uma empresa, ganhou sem licitação um contrato de quase R$ 17 milhões para a organização da feira. Jorge Bornhausen foi o principal defensor do governo FHC porque obtinha vantagens, não era por ideologia", ironiza o deputado petista.
Em junho de 2003, os procuradores Luiz Francisco de Souza, Raquel Branquinho e Valquíria Quixadá entregaram à Receita Federal cerca de seis mil documentos sobre 52 mil pessoas que lavaram US$ 30 bilhões nos EUA a partir do Banestado de Foz do Iguaçu. O maior foco de investigações recaiu sobre "a família do sr. Jorge Bornhausen, do PFL, cujo banco familiar, o Araucária, lavou ao menos US$ 5 bilhões nesse esquema, que envolvia dinheiro de traficantes, de doleiros, mas sobretudo das sobras de campanhas eleitorais" [5]. Todos estas graves denúncias, infelizmente, não fluíram no conciliador governo Lula. Elas bem que poderiam desmascarar muitos dos que hoje pousam de políticos honestos e esbanjam arrogância.
Notas
1- Marco Aurélio Weissheimer. "Escolha o seu lado e as suas causas". Agência Carta Maior, 04/11/05.
2- Andrei Meireles e Expedito Filho. "Surpresa para todos". Revista Isto É, 17/06/2002.
3- Amaury Ribeiro e Sônia Filgueiras. "Operação maluco". Revista Isto É, 21/06/2002.
4- Leonardo Attuch e Hugo Studart. "Os nomes e as provas do dossiê da PF". Isto É Dinheiro, 07/07/02.
5- "MP acusa Bornhausen de lavar US$ 5 bilhões no exterior". Revista Consultor Jurídico, 15/06/03
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "Encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, junho de 2005).