A quebra do sigilo telefônico de Marcos Valério e seu sócio Cristiano Paz revelou que os dois efetuaram e receberam 397 ligações, entre 2001 e 2003, totalizando mais de 12 horas de conversação, para as empresas dirigidas pelo dono do banco Opportunity, Daniel Dantas, príncipe de Fernando Henrique durante o processo de doação das estatais de telefonia. As empresas de Daniel Dantas também figuram como as maiores depositárias, cerca de R$ 165 milhões, nas contas das empresas de Marcos Valério.
A grande maioria das ligações é direcionada para o Consórcio Voa, empresa constituída por Daniel Dantas, em 1999, para a compra de três jatos executivos, por US$ 35 milhões. O consórcio é formado pelo CVC Opportunity Equity Partners Administradora de Recursos Ltda, 3,3% das cotas, cabendo 70% à Brasil Telecom Participações S/A e o restante à Telemig Celular Participações S/A e à Tele Norte Celular Participações, todas controladas pelo Opportunity. Os jatos são usados por Dantas, sua irmã, Verônica Dantas, executivos do Opportunity e ainda existe a suspeita de que políticos ligados ao PFL e ao PSDB tenham utilizado as aeronaves, principalmente durante campanhas políticas.
Cristiano Paz ligou ainda uma vez para o Opportunity Asset Managemant Ltda., no dia 29/07/2002 e Marcos Valério manteve contato em duas oportunidades com a Brasil Telecom, empresa que não figura como cliente da sua empresa de publicidade.
Valério foi operador do caixa 2 do PSDB a partir de 1998. No mesmo ano, Daniel Dantas, já no controle da Telemig e Amazônia Celular, contratou o mesmo Marcos Valério para atuar em campanhas publicitárias daquelas empresas.
Daniel Dantas figura como o principal beneficiado pelo grupo de Fernando Henrique no processo de privatização e Marcos Valério como o principal operador de caixa do PSDB em Minas Gerais, até 1998, quando passou a ter contatos com o governo federal após Eduardo Azeredo ter sido derrotado na eleição para o governo de Minas.
PRIVATIZAÇÃO DAS TELES
Durante as privatizações do antigo sistema Telebrás, Fernando Henrique autorizou que o seu nome fosse usado para forçar o fundo de pensão do Banco do Brasil a entrar no consórcio do Opportunity. O aval foi dado ao então presidente do BNDES, André Lara Resende. Após explicar que a Previ era importante para o consórcio do Opportunity, Lara Resende sugere fazer “certa pressão” e diz: “A idéia é que podemos usá-lo aí para isso”.
FHC responde: “Não tenha dúvida”.
De acordo com um dossiê montado pela Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão, “Daniel Dantas sequer é acionista do banco Opportunity. Ele se esconde atrás de parentes como a irmã, Verônica Dantas, o cunhado, Arthur Carvalho, o ex-cunhado Carlos Rodenburg e outros fiéis escudeiros, como Wady Jasmim, Rodrigo Andrade e Luis Octavio da Motta Veiga. É raro alguém encontrar a assinatura do Sr. Dantas em qualquer documento ou contrato, ainda que nada seja feito nas empresas controladas pelo grupo Opportunity sem o conhecimento do chefe”. Este fato pode dificultar que a CPI dos Correios identifique ligações diretas de Marcos Valério com Dantas.