sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Entre o PT e PSDB


Em carta aberta aos eleitores do PSDB, na reta final da campanha de 2006, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que não haveria futuro para seu partido na política sem uma aproximação com sindicatos e movimentos sociais e sem o que chamou de participação ampliada da cidadania na redução das desigualdades sociais.

O que o ex-presidente colocava na mesa, além das armas daquela eleição que, àquela altura, já dava por perdida, eram os caminhos para o PSDB tentar voltar ao Planalto. Se a alternância de poder em 2002 havia tido como fiador o compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a estabilidade econômica, a sucessão de 2010 teria que passar pela preservação dos ganhos sociais do lulismo.

O governador de Minas, Aécio Neves, retomou, esta semana, a toada dos dois partidos que nasceram para uma aliança e vivem apartados por suas ambições de poder. O discurso do governador sinaliza a busca de um espaço político em seu partido, ainda que sua gestão em Minas não indique claramente de que convergência está falando.

Escasseiam, também no Congresso, sinais de que como essa convergência possa vir a ser processada. O PSDB jubila-se, dada a arrecadação recorde, com o acerto da derrubada da CPMF. Mas não oferece pistas de como sua atuação contrária à elevação da carga tributária no país ofuscará a moeda eleitoral de um salário mínimo que, em dólar, já começa a valer a partir de amanhã quatro vezes mais do que no final do governo FHC.

Não houve quebradeira em massa de prefeituras, os benefícios da Previdência tampouco explodiram, nem a informalidade do emprego aumentou. Há de se buscar um discurso no tucanato para absorver as evidências de que esse fortalecimento do mercado de trabalho não se deu às custas do equilíbrio fiscal.

Em vez de se situar na concorrência pela conquista dessa base popular que o governo vem consolidando, o PSDB dedica-se, com afinco, a confrontá-la. Os poucos parlamentares tucanos que se manifestaram, ao longo da semana, sobre a adesão do Brasil à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho, trataram-na como parte da república sindical que se instalou no Palácio do Planalto.

A grita é injustificada porque a adesão estabelece antes um parâmetro que um veto efetivo à demissão imotivada. São 34 signatários, entre os quais países com dinâmicos mercados de trabalho, como Espanha e Austrália.

A nova lei do salário mínimo, e bem-sucedido em reajustes acima da inflação país afora, o movimento não se preparou para uma conjuntura política e econômica mais desfavorável.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Brasil ensina arte do carro pequeno aos EUA


Em meio a uma crise financeira no país de origem, a Ford decidiu transportar o conhecimento da sua engenharia brasileira na criação dos automóveis pequenos para os Estados Unidos, um país em que seus habitantes sempre valorizaram os carrões e que agora se vêem obrigados a rever conceitos por conta da alta do petróleo e da pressão ambientalista.

Mas não é apenas a experiência na elaboração dos modelos compactos que a Ford quer levar do Brasil para a sua matriz. Também as técnicas de desenvolvimento de motores movidos a etanol com mais eficiência que os existentes hoje nos Estados Unidos é outro objetivo da companhia. E, se fosse possível copiar, a fórmula que fez a operação brasileira sair do prejuízo para sucessivos lucros também seria um sonho para a direção mundial da montadora.

Mark Fields, o executivo que Alan Mulally, presidente mundial da companhia, escolheu em 2005 para comandar a região que engloba as três Américas, esteve no Brasil esta semana e numa conversa com jornalistas ontem, disse ser "muito bom" sair de um país em que o mercado não cresce para um que vive a euforia da expansão de vendas de veículos. "É um belo contraste", disse depois de reuniões em que ele discutiu com o comando local as estratégias que nortearão a operação na América do Sul e toda a companhia daqui para a frente.

Fields, que faz fama no badalado meio automotivo dos Estados Unidos, revelou que a operação na América do Sul é a mais rentável do mundo hoje na companhia. No ano passado, a Ford obteve lucro de US$ 1,2 bilhão na América do Sul, uma região em que o Brasil tem peso de mais de 60%. No mesmo período, o resultado financeiro global da montadora acusou prejuízo de US$ 2,7 bilhões, uma conseqüência clara das perdas acumuladas nos Estados Unidos.

Pressionada agora pela crise econômica nos Estados Unidos, a empresa busca formas de reverter a situação que a tem levado a fechar fábricas e demitir em massa na América do Norte. Fields admitiu que novas medidas serão tomadas se as conseqüências da crise agravarem a situação no mercado automobilístico.

Ele lembrou que o mercado de veículos americano está em queda e deverá registrar este ano o pior resultado da ultima década. É nesse cenário que a Ford estabeleceu a meta de até 2009 reduzir os custos operacionais em US$ 5 bilhões e de recuperar a rentabilidade da atividade nos Estados Unidos.

Além de um drástico corte de pessoal, ainda em curso, e que já eliminou 35 mil postos de trabalho, a companhia negocia a venda de empresas. As inglesas Land Rover e Jaguar estão sendo negociadas pela direção mundial da Ford com a indiana Tata Motors. "Não posso fornecer detalhes de datas, mas as negociações estão bem adiantadas", disse Fields.

O papel do Brasil no novo cenário que a Ford começa a desenhar é no desenvolvimento de produtos, a mesma estratégia que vem sendo adotada há algum tempo pela General Motors, outra montadora americana que vive situação igual à da Ford: lucros na América do Sul e prejuízos na matriz, nos EUA.

Fields explicou que o conhecimento da engenharia brasileira será utilizado para o desenvolvimento de versões do carro pequeno, que está sendo preparado para começar a ser vendido nos Estados Unidos em 2010.

Chamado de projeto Verve, o modelo de carro pequeno é um derivado do Fiesta e será apresentado esta semana no salão do automóvel de Genebra. Na Europa, onde começará a ser vendido ainda este ano, o veículo levará o nome de Fiesta. Apesar do nome, trata-se de um automóvel diferente do Fiesta vendido hoje no Brasil. O Fiesta brasileiro é resultado de um projeto da engenharia brasileira.

Segundo Fields, embora a plataforma do projeto Verve já esteja pronta, a intervenção brasileira se dará na criação de diferentes acabamentos de carroceria do modelo. Com plataformas distintas é possível fazer sobre uma mesma plataforma versões diferentes, que vão do hatch aos sedãs e peruas.

O executivo americano explicou que há até algum tempo, as filais de uma mesma montadora, espalhadas pelo mundo, não trocavam conhecimento por se considerarem auto-suficientes. "Mas para ser competitiva uma empresa global precisa utilizar o conhecimento que já detém e a América do Sul tem um talento na engenharia", destacou.

Nos Estados Unidos, os projetos dos futuros veículos da Ford começam a mostrar um novo tom. Segundo Fields, até três anos atrás, na linha de produtos da empresa 70% eram picapes e 30% automóveis. "Já em 2007 a divisão desses segmentos ficou em meio a meio", destacou.

Faz um ano que a direção da Ford deu início a uma estratégia que visa aproveitar conhecimento e expansão em mercados fora dos Estados Unidos para dar à companhia uma novo formato global. "Temos que aproveitar as oportunidades, como essa força de conhecimento no Brasil para construir essa aliança global", disse.


País faz contraproposta para parceria estratégica com UE


governo brasileiro apresentará esta semana à União Européia (UE) sua contraproposta para delinear a parceria estratégica oferecida por Bruxelas ao país em 2007. Na visão brasileira, três temas são prioritários num plano de ação para elevar a relação bilateral: a cooperação nas áreas de biocombustíveis, de mudanças climáticas e de ciências e tecnologia. Refletindo o atual contencioso da carne bovina, bloqueada no mercado europeu, o Brasil também quer ampliar o mecanismo sobre condições sanitárias e fitossanitárias, para prevenir problemas que afetem grande parte do comércio bilateral.

O novo nível nas relações bilaterais foi oferecido ao Brasil em julho do ano passado durante a presidência portuguesa da UE. Para Bruxelas, isso significa "reconhecer o Brasil tanto como potencial parceiro estratégico quanto como grande ator econômico latino-americano e líder regional".

A comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, considera que juntos o Brasil e a UE podem fazer a diferença em desafios globais como mudança climática, pobreza, multilateralismo, direitos humanos e outros. O plano de ação proposto pela UE foi debatido em Lisboa em julho de 2007, na primeira cúpula Brasil-UE. Na ocasião, ficou acertado que depois o Brasil apresentaria seu documento de prioridades.

A chefe do Departamento da Europa no Itamaraty, embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, informou que a contraproposta brasileira não é muito diferente do documento europeu, mas apresentará várias propostas nos temas que considera mais estratégicos.

Na área de biocombustivel, o Brasil quer reforçar com a UE a cooperação para padronização técnica do etanol e criação do mercado global do produto. Na área ambiental, quer trabalhar junto, com responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Brasília julga que não pode ter as mesmas responsabilidades no combate a mudanças climáticas pois os europeus são causadores de grande parte dos efeitos do aquecimento global.

A agricultura, que representa grande parte do comércio bilateral, está quase ausente dos dois documentos. Na proposta da UE, o termo "agricultura" não foi mencionado uma só vez nas 12 páginas do documento. Agora, o Brasil aceita a visão européia de que abertura de mercados seja discutida no âmbito da Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC). A ênfase bilateral fica para questões específicas sanitárias e fitossanitárias, para desagrado de certos analistas.

"Esse termo de parceria estratégica tem sofrido muito abuso e é preciso mostrar o que significa em termos concretos", diz um analista. "A questão é saber se, ao ser considerado parceiro mais importante, o Brasil vai exportar mais carne, terá mais cotas para produtos agrícolas na Europa".

A UE é o maior parceiro comercial do Brasil, com 22% do comércio total do país. No entanto, o Brasil só conta por 1,8% das trocas da UE. Dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o país é o que atraiu mais investimentos diretos europeus - total de ? 76,3 bilhões de euros no país até 2006. O Brasil e a UE terão nova rodada de negociações nos dias 15 e 16 de abril, em Brasília, para tentar fechar o texto final da parceria estratégica. A idéia é aprová-lo num encontro de cúpula este ano.


Com PAC, BID pode dobrar crédito ao Brasil


O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) começa a preparar a estratégia a ser seguida pela instituição no Brasil entre 2008-2011. Pela primeira vez, o trabalho será liderado pela equipe do banco no país. Antes o planejamento era feito diretamente por Washington, onde está a sede do BID. O documento servirá de base para o plano operativo do banco nos próximos anos e terá como um dos eixos centrais o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A visita ao Brasil do presidente do BID, o colombiano Luis Alberto Moreno, marca o início da elaboração da nova estratégia banco-país da instituição. Moreno reúne-se hoje, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em audiência da qual também deve participar a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, coordenadora do PAC. "Queremos ver como é possível fazer uma parceria PAC-BID", disse Moreno ao Valor.

Sua agenda de trabalho em Brasília permitirá também fazer uma revisão das atividades do BID no Brasil, que é o maior cliente do banco como país, representando cerca de 25% da carteira de empréstimos da instituição. Individualmente, o maior cliente do BID é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A carteira do BID no país é de US$ 12 bilhões, dos quais US$ 6 bilhões referem-se a projetos financiados pelo banco e que ainda estão em execução.

Os projetos típicos financiados pelo BID no Brasil incluem a área social, apoio a micro, pequenas e médias empresas, empréstimos a projetos privados de energia e assessorias técnicas e de crédito às três esferas de governo (federação, Estados e municípios). Para 2008, a perspectiva é que as aprovações do BID para o Brasil totalizem US$ 4 bilhões, mais do que o dobro de 2007. No ano passado, as aprovações do BID para o país somaram US$ 1,7 bilhão.

O aumento deve-se à perspectiva de contratações de operações para o setor privado e para municípios e Estados, além das áreas social e de infra-estrutura. O crescimento também pode ser explicado por um "carry over" entre US$ 700 milhões e US$ 800 milhões de projetos existentes que ficaram para serem aprovados este ano. "Em geral, as perspectivas do banco são muito boas e, com o Brasil, particularmente", afirmou Moreno.

Ele disse que a carteira de crédito do banco vem crescendo. Em 2005, o BID aprovou no total US$ 5,2 bilhões em operações de empréstimo, número que saltou para US$ 7 bilhões em 2007 e pode atingir US$ 10 bilhões este ano. O número é uma perspectiva relacionada aos projetos nos quais o banco trabalha para 2008, alguns dos quais podem ficar para 2009.

Moreno vê o futuro do BID mais orientado ao apoio do setor privado e de Estados e municípios. Segundo ele, a demanda dos clientes do BID tem sido muito boa neste início de ano, inclusive como resultado do trabalho que o banco vem fazendo de ter um "maior enfoque país", de estar presente com mais força nos escritórios de representação. O "foco país" é um dos principais objetivos do BID depois da reorganização do banco, implementada a partir de 2007 e chamada internamente de "realinhamento".

Antes, o BID tinha três vice-presidências divididas geograficamente. Cada região era trabalhada de forma autônoma. Agora existem quatro vice-presidências, das quais duas são as mais importantes: a de países, chefiada pelo economista brasileiro Otaviano Canuto, e a de conhecimento, integrada por especialistas setoriais.

José Luis Lupo, representante do BID no Brasil, disse que a estratégia banco-país que começa a ser preparada localmente pela missão brasileira da instituição permitirá um maior diálogo com o governo e prevê consulta à sociedade civil com o objetivo de recolher opiniões. Na Argentina, o BID também está definindo a estratégia a partir da missão do banco no próprio país.

No caso do Brasil, o planejamento estratégico do BID para os próximos quatro anos deverá ser concluído em setembro. O documento não define volume de recursos, mas prioridades a serem perseguidas. É a partir da estratégia que se define o "pipeline", o plano operativo do banco para o país. Além do PAC, também devem servir como guia da estratégia do banco o Plano de Desenvolvimento da Educação (PED) e outros instrumentos de desenvolvimento que o governo tem posto sobre a mesa, afirma Lupo.

O presidente do BID também mostrou-se otimista em relação à capacidade dos países da América Latina, incluindo o Brasil, de fazer frente à crise financeira que marcará 2008 como um ano de "turbulência" nos mercados. Ele reconheceu que se a demanda se ressentir nos Estados Unidos, os países que exportam para aquele mercado serão afetados. "Mais isso ainda não ocorreu", afirmou.

Para Otaviano Canuto, que acompanha Moreno na visita ao Brasil, a "agonia" maior sobre a possibilidade de redução das exportações é de países da região que dependem mais do comércio com os Estados Unidos, caso do México e de países da América Central.

País se aproxima do momento certo de exportar software


O momento do Brasil desempenhar um papel importante nas exportações de software e serviços relacionados "está chegando de forma assustadora", diz o brasileiro que é responsável por desenvolvimento de estratégias de terceirização da indiana Infosys nos Estados Unidos, Humberto Andrade. O executivo tem autoridade para falar disso. Há dez anos nos Estados Unidos, para onde foi para fazer especialização em administração de negócios (MBA), Andrade foi contratado por uma consultoria de TI, quando conheceu os principais executivos da indústria de terceirização de TI mundial, e acabou contratado pela Infosys em 2002.

Hoje ele é responsável na indiana por conversar com os conselheiros de negócios - que direcionam as empresas que compram serviços de terceirização aos provedores -, além de trabalhar no atendimento a contratos de valores acima de US$ 50 milhões e cinco anos de duração.

A Infosys é a segunda maior indiana do segmento, só atrás da Tata Consultancy Services (TCS). "Mas somos a maior se excetuarmos os contratos que TCS presta dentro do grupo Tata", diz. O crescimento da empresa vem se mantendo em cerca de 35% anualmente. Quando Andrade chegou, ela faturava US$ 1,6 bilhão, e, no ano passado, ultrapassou os US$ 4 bilhões. Mantendo o ritmo, como é a meta global, este ano ela terá US$ 5,5 bilhões e vai passar os US$ 6 bilhões em 2009.

"Vendo de fora do dia-a-dia, vejo as oportunidades para as empresas brasileiras, que ficam discutindo muitas questões, como o custo da mão-de-obra, e têm de se mover agora se quiserem exportar", diz. "O investimento para chegar na Europa é alto. A empresa precisa decidir se isso vai ser prioridade, até porque o mercado brasileiro também tem oportunidades." Ele revela que na Índia vender fora era a única opção, tanto que, com 27 anos de atuação, a Infosys começou a buscar contratos no próprio país apenas em setembro do ano passado.

"As brasileiras devem continuar explicando ao governo que precisam de flexibilidade para a contratação e demissão de pessoas", reconhece. "Mas mesmo com a mão-de-obra mais cara [em relação à Índia e outros países em desenvolvimento], há áreas em que os brasileiros são os melhores do mundo."

Ele cita os serviços relacionados a mainframe (grandes servidores). Outras áreas de qualidade local são os serviços para manutenção de sistemas de gestão, e o conhecimento nos setores financeiro e de telecomunicações, diz. Segundo Andrade, um projeto como o de pagamento pelo celular, criado pela Oi poderia ser exportado aos Estados Unidos, mas como a operadora ainda está muito voltada a sua atuação em São Paulo, vender no exterior é apenas "a sétima ou oitava prioridade".

"O mercado de terceirização de TI movimenta US$ 50 bilhões, com potencial para US$ 600 bilhões. Em 2010, será de US$ 100 bilhões, dos quais a Índia quer ter entre 70% e 80%", diz. "Os pequenos nichos de mercado representam mais de US$ 1 bilhão."
Enquanto a TCS já tem operações crescentes no Brasil, para utilizar mão-de-obra e buscar contratos locais, a Infosys estuda o País, mas Andrade prefere ainda não dar detalhes. O grande centro da América Latina vem sendo montado em Monterey, no México, como forma de atender aos 40 milhões de pessoas que falam espanhol nos Estados Unidos.

Brasil vira uma referência para reestruturação da Ford nos EUA


O Brasil vai estar cada vez mais empenhado nas estratégias globais de produção da Ford Motor Company. "Além do excelente processo de reestruturação, realizado no período de 2001 a 2002, que levou a subsidiária brasileira à lucratividade a partir de 2004, temos aqui também muito talento na engenharia. ´É preciso usar esse talento para o desenvolvimento de produtos globais", disse Mark Fields, presidente da Ford nas Américas e vice-presidente executivo.

Em visita à sede da empresa em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o executivo falou sobre os planos da companhia, que passa por um profundo processo de reestruturação nos Estados Unidos, com o objetivo de chegar à lucratividade na América do Norte em 2009.

Fields destacou que, em razão de os planos terem dado resultados positivos na América do Sul, muitas medidas tomadas pela companhia no Brasil durante o programa de reestruturação estão sendo implementadas também na América do Norte.
"A estratégia principal da companhia atualmente é fazer uma reestruturação agressiva na América do Norte para se adequar à demanda. "Já fechamos várias plantas e reduzimos em 1/3 o número de empregados, mas só podemos cortar custos e ter lucratividade se tivermos produtos", disse Fields.

Para a América do Sul, os planos da companhia, segundo Fielder, são acelerar o lançamento de produtos. "Vamos acompanhar o crescimento do mercado na região", comentou o executivo. "No Brasil, depois da excelente medida de recuperação, houve uma revitalização da marca, que hoje é mais vibrante. A rede de concessionários está mais saudável e a base de funcionários mais motivada e capacitada".

Fields disse que é importante a Ford continuar crescendo no Brasil, pois considera esse mercado importante para as fabricantes e os concorrentes. "Mas é preciso estar preparado para enfrentar os concorrentes chineses e indianos e saber usar os recursos que temos no Brasil - os engenheiros por exemplo, para as demais unidades da Ford no mundo".

Sobre o aumento da participação da Ford no mercado brasileiro, Fields destacou que parte do desempenho dependerá do crescimento da indústria automobilística. "Mas o crescimento da indústria dependerá de vários fatores, como a continuidade da queda das taxas de juros e a disponibilidade de crédito para financiamento de veículos. Hoje a inadimplência mantém-se em baixa, a inflação contida e temos um bom PIB".
Participação no Brasil

"Queremos aumentar a participação no Brasil, crescer também em volume, ganhar dinheiro e investir a longo prazo. A Ford já perdeu muito dinheiro na América do Sul e Brasil, agora queremos ter uma estratégia sustentável", comentou Marcos Oliveira, presidente da Ford Brasil e Mercosul. "O ano de 2007 foi positivo para a Ford do Brasil em resultado de vendas, em novos investimentos e em lançamento de novos produtos, como o Ka, modelo que vem tendo boa receptividade no País. Para 2008, o objetivo é crescer junto com a indústria automobilística".

Nos Estados Unidos, a meta da Ford é continuar a liderança no mercado de picapes, onde a F-150 lidera as vendas. "Antes a empresa tinha 70% do mercado de picapes e SUVs e 30% de crossoveres. Em 2007, a fatia ficou equilibrada em 50%", destacou o presidente das Américas.

Fields lembrou que, em 2006, as perdas totais da Ford foram de US$ 12 bilhões, metade com perdas operacionais. Em 2007 tivermos grande melhora com a perda de US$ 2 bilhões. Só na América do Norte reduzimos em 40% as perdas", disse o executivo.
A meta da companhia, segundo Fields, é reduzir em US$ 5 bilhões os custos na América do Norte em 2008.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

MP acusa juiz de falsidade ideológica


Consta da pauta de hoje do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) denúncia do Ministério Público contra o juiz Vilmar José Barreto Pinheiro, da 1ª Vara de Entorpecentes e Contravenções Penais, acusado de falsidade ideológica para esconder irregularidades na tramitação de processos sob sua responsabilidade. Os desembargadores vão decidir se abrem o processo criminal contra o magistrado, com base na ação de autoria do procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bandarra.

O juiz já responde a outros processos. Ele é alvo de um procedimento administrativo disciplinar desde que a Corregedoria do TJDF apontou que o magistrado demorava até oito anos para despachar ações envolvendo acusados de tráfico de drogas. Por conta dessa postura, criminosos ficaram impunes, já que houve prescrição da punibilidade. Ou seja, mesmo que os crimes tenham sidos cometidos, não há como condená-los e mandá-los à prisão. Na denúncia, que deverá ser apreciada hoje, Bandarra diz que Vilmar Barreto apresentou informações falsas para justificar as irregularidades apontadas pela fiscalização na 1ª Vara de Entorpecentes.

Dos 424 processos em tramitação, 329 ficaram parados acima do tempo permitido por lei. Bandarra afirma no pedido de abertura de processo penal que a Vara comandada por Vilmar Barreto enfrentava “situação caótica” que resultou “na impunidade de incontáveis delinqüentes”, seja com a extinção da punibilidade pela prescrição em várias ações penais ou pela absolvição por insuficiência de provas. O juiz foi procurado ontem, mas a assessoria informou que ele não estava no TJDF. Até o fechamento desta edição, ele não havia respondido à reportagem. Em defesa feita no tribunal, o advogado de Vilmar Barreto, Dirceu de Farias, sustentou que o magistrado é alvo de perseguição do Ministério Público.

Bandarra também encaminhou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pedido de afastamento de Vilmar Barreto de sua função. O caso está sob a relatoria da conselheira Andréa Pacha. O magistrado tem ainda de se defender de uma ação, que tramita na Justiça Federal, protocolada por quatro procuradores da República, na qual se discute a decretação da perda da função do juiz, por ato de improbidade administrativa. O motivo é uma suposta ligação do juiz com a venda de sentença judicial a um traficante, que teria envolvido também o desembargador aposentado Pedro Aurélio Rosa de Farias. Os dois respondem a um processo por advocacia administrativa no Superior Tribunal de Justiça (STJ), junto com o advogado Manoel Barreto, irmão de Vilmar Barreto.

A denúncia que deverá ser apreciada hoje tem a relatoria da desembargadora Haydevalda Sampaio. No ano passado, o TJDF se reuniu para discutir o afastamento de Barreto de suas funções. Mas não houve votos suficientes para suspendê-lo de suas atividades. Na época, o argumento principal para mantê-lo no TJDF era de que ele havia sido removido da 1ª Vara de Entorpecentes para a 4ª Vara de Família. Meses depois dessa decisão, no entanto, ele voltou a despachar no mesmo gabinete em que é acusado de várias irregularidades.

Devanir insiste na tese do terceiro mandato


De volta a Brasília depois de encontrar os eleitores no fim de semana, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) se disse ontem disposto a apresentar nos próximos dias a proposta de emenda constitucional (PEC) que, aprovada, permitirá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputar um terceiro mandato presidencial. “Eu vou apresentar. Vou botar fogo nisso aqui”, declarou, ao Correio, convicto, na entrada do plenário da Câmara.

Amigo de Lula — com quem compartilhou a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (SP), no fim da década de 1980 —, Devanir Ribeiro é o principal entusiasta no Congresso da idéia de permitir ao petista mais quatro anos no Palácio do Planalto a partir de 2011. Em conversas internas no PT, já chegou a articular a proposta de retomar o movimento parlamentarista. Lula, assim, sairia da Presidência ao fim do mandato, mas seguiria à frente do governo, como primeiro-ministro.

Devanir foi desencorajado da idéia parlamentarista. Mas não abandonou o assunto. Em outubro passado, retomou-o, junto com o mineiro Carlos William (PSC) — deputado ligado à antiga bancada controlada pelo ex-governador do Rio Anthony Garotinho, atualmente liderada pelo também fluminense Eduardo Cunha (PMDB). Ribeiro e William cogitaram apresentar juntos a PEC do terceiro mandato, mas puseram o tema em banho-maria devido às críticas generalizadas.

Agora, o deputado petista avisa que vai mesmo empunhar o estandarte. “Eu gostaria de fazer um plebiscito, para que a população decidisse. Mas não querem plebiscito, então vou fazer um projeto mesmo…”, enfatizou, na conversa com a reportagem. Um dos combustíveis a alimentar a fogueira do terceiro mandato, além da ausência absoluta de um candidato competitivo no PT, é a alta popularidade do presidente da República. Pesquisa da CNT/Sensus divulgada na semana passada revelou que Lula tem 66,8% de aprovação, patamar mais alto desde a posse.

A mudança constitucional para dar ao atual presidente mais um mandato teria que mexer no texto do parágrafo quinto do artigo nº 14 da Carta. É o mesmo que foi alterado pela emenda 16, em 1997, e permitiu a reeleição ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. A maioria folgada do governo na Câmara aprovaria sem problemas. A trava está no Senado, onde o Planalto não dispõe dos 49 votos necessários para alterar a Constituição.

Ameaça de impunidade eleitoral


Pelo menos 400 prefeitos e vices acusados de corrupção eleitoral poderão chegar ao final do mandato sem ao menos terem ido a julgamento. A avaliação é do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), entidade formada por várias instituições da sociedade civil organizada. Integrantes do movimento dizem que os políticos serão beneficiados por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na última quinta-feira, ao julgar um pedido de cassação do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), a corte decidiu anular todo o processo para dar oportunidade de defesa ao vice-governador, Leonel Pavan (PSDB). Com a decisão, o processo começa a tramitar do início. Três dos sete ministros já tinham votado pela perda de mandato, mas seus votos foram anulados.

Os ministros do TSE justificaram a decisão alegando que o fato de não incluir o vice no processo representaria um dano aos seus direitos. Se a ação for julgada procedente, ele perderá o mandato junto com o governador. “O problema é que isso nunca foi necessário porque os votos são dados à chapa e quem registra candidatura é o titular. O tribunal sempre decidiu sem notificar os vices. A mudança de entendimento do TSE vai atrapalhar muito a possibilidade de que haja punição aos corruptos”, opinou Carlos Moura, secretário executivo da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Federais (ABRANPPE), Márlon Reis, a mudança de interpretação da lei demonstrada pelo TSE na semana passada deverá resultar no arquivamento de cerca de 400 ações envolvendo prefeitos e vices, que podem recorrer à Justiça pedindo tratamento semelhante ao do governador de Santa Catarina. “Se todas essas pessoas entrarem pedindo uma nova análise dos seus casos, os processos contra eles serão, por certo, arquivados. Os mandatos acabam em outubro e o TSE não tem condições de julgar todos esses casos até lá. Será um culto à impunidade”, avaliou Reis.

Cunha Lima
Na carona do colega de Santa Catarina, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB) — cassado pela Justiça estadual e mantido no cargo por meio de liminar — pode ser beneficiado. Na última sexta-feira — um dia depois do julgamento que decidiu pela necessidade de incluir vices e suplentes nos processos de cassação — o vice-governador da Paraíba, José Lacerda Neto, apresentou um mandado de segurança pedindo a suspensão imediata da ação de investigação judicial eleitoral que tramita na Justiça do estado. Alega não ter sido ouvido, pede sua inclusão e o reinício do processo.

O presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, admitiu que a Corte não possui levantamento sobre o impacto da decisão nos processos que tramitam atualmente, mas ressaltou a necessidade de se garantir o direito de defesa aos vices e suplentes que sejam atingidos por decisões referentes à perda de mandatos. “Ninguém pode ser impedido de exercer um direito assegurado pela Constituição, que é o de ser ouvido e defender-se. É muito difícil dar satisfação a leigos porque todos querem punições a todo custo. Mas isso não se congratula com as normas do direito”, rebateu o ministro.

Marco Aurélio Mello defende a decisão de ouvir vices e suplentes envolvidos nas ações. “Sempre defendi esse direito de defesa. Mas confesso que sempre fui vencido. Agora o pleno entendeu que é necessário ouvir todos os envolvidos. É uma mudança de interpretação, mas isso não é ruim”, disse o presidente.

Onde estão os casos

Segundo a Corregedoria Geral Eleitoral, ainda tramitam na Justiça 1.100 processos relativos às eleições de 2006

Estado - Total
AC - 9
AL - 18
AM - 8
AP - 11
BA - 15
CE - 17
DF - 17
ES - 14
GO - 17
MA - 39
MT - 100
MS - 114
MG - 31
PA - 45
PB - 42
PR - 110
PE - 18
PI - 27
RJ - 40
RN - 21
RS - 81
RO - 76
RR - 30
SC - 37
SP - 128
SE - 13
TO - 22
Total - 1.100

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Aconselhado por Lula, Ciro busca conquistar PT para a disputa de 2010


Seguindo um conselho do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lhe pediu para não hostilizar o PT, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) já começou a costurar apoios dentro do partido para viabilizar sua candidatura em 2010. As hostilidades ao PT cessaram depois que Lula mandou um emissário - Gilberto Carvalho, seu secretário particular - procurar Ciro e lhe pedir expressamente que parasse de bater em seu partido.

Carvalho convidou Ciro para almoçar num restaurante da Vila Planalto, um bairro de classe média localizado a meio caminho dos palácios da Alvorada e do Planalto, e lá deu a mensagem de Lula: "Ciro, você precisa nos ajudar. O presidente pede que você não hostilize o PT. O "bloquinho" - como é conhecido o bloco que reúne três partidos de esquerda (PSB, PCdoB e PDT) da coalizão governista - criou um antagonismo com o PT e isso não é bom". Ciro reagiu bem. O encontro com Carvalho aconteceu há três meses e, desde então, ele parou de falar mal publicamente do PT.

Aquela não foi, segundo um ministro, a primeira vez que Lula pediu a Ciro para abrandar o tom em relação ao PT. O presidente fez isso antes pessoalmente. Num encontro ocorrido há alguns meses no Palácio da Alvorada, com a presença da atriz Patrícia Pillar, mulher de Ciro, Lula fez a mesma advertência ao deputado: que ele construa a candidatura sem guerrear o PT, mas, sim, por dentro do partido.

Naquela ocasião, ainda estavam abertas as feridas da disputa pela presidência da Câmara e a entrada do PMDB no governo. Os dois eventos colocaram em campos opostos, na coalizão, o PT e os outros partidos de esquerda. O PT afastou-se da esquerda e escolheu o PMDB como seu aliado preferencial nas disputas intestinas do governo e nas disputas eleitorais.

Conselheiros políticos do presidente avaliaram que, na eleição da Câmara, em que o petista Arlindo Chinaglia, com o apoio do PMDB, derrotou o comunista Aldo Rebelo, Ciro chegou a ser "seduzido" pelo PCdoB para fazer um "jogo anti-PT". "A idéia de colocar o "bloquinho" como contraponto ao PT é ruim", observou um ministro.

Na avaliação do presidente, Ciro não será um candidato forte sem o apoio do maior partido de esquerda do país. Embora trabalhe com a possibilidade de o PT vir a ter candidato em 2010, Lula, por ora, considera-a remota. Ele acredita que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem chances de emergir como candidata, mas apenas na hipótese de o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) se transformar num retumbante sucesso.

Embora a ministra do Turismo, Marta Suplicy, outra candidata possível do PT, ainda possa se recuperar das derrotas que sofreu nos últimos três anos (prefeitura em 2004 e a prévia para se candidatar ao governo de São Paulo em 2006) e do desgaste de imagem (no meio do caos aéreo, ela celebrizou a frase "relaxa e goza", que segue viva na memória dos eleitores), Lula, segundo seus assessores, acha muito difícil a sua redenção. Os outros possíveis candidatos ele cita por citar nas conversas internas. O ministro da Justiça, Tarso Genro, por exemplo. "O presidente o menciona por pura retórica. Outro que ele cita pouco é Jacques Wagner (governador da Bahia). Acha que ele precisa se firmar e se reeleger", contou um assessor direto.

Nesse cenário, o Planalto avalia que Ciro é, neste momento, o candidato governista mais viável para enfrentar em 2010 o tucano José Serra, governador de São Paulo - no governo, ninguém acredita que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, vá conseguir superar Serra e sair candidato pelo PSDB. A aposta de Lula em Ciro tem, no entanto, uma outra explicação.

O presidente quer fazer o sucessor a qualquer custo. Por isso, não faz questão sequer que ele seja do PT. O importante é eleger alguém que siga seu legado, que derrote a oposição. No apogeu da crise do mensalão, quando alguns correligionários, inclusive do PT, se afastaram dele e mesmo assessores já não acreditavam na sua capacidade de recuperação, Lula não entregou as armas. Não é do seu feitio.

"No meio de uma reunião, em que todos fizeram um diagnóstico pessimista da situação, ele se levantou, foi ao banheiro e, na volta, soltou um palavrão e afirmou: "Esses caras (da oposição) não vão ganhar de mim (em 2006)". Os assessores pensaram: "ele está ficando louco". Todo mundo achava que aquilo era uma necessidade dele para se manter em pé. Não era. Era convicção em sua própria força", revelou um auxiliar. "O medo do Lula é chegar ao fim do mandato como Fernando Henrique. Com os candidatos à sucessão fugindo dele", revelou outro assessor.

Ainda durante o ardor da crise de 2005, Lula sugeriu a Ciro que se candidatasse à sua sucessão já em 2006. O que parecia ser um momento de fraqueza era, na verdade, um teste. O presidente queria saber o quão próximo Ciro estava realmente dele. Fizera isso no passado com outros correligionários. Em 1998, declarou que não disputaria a Presidência da República, sendo que seu único objetivo era saber quem, no PT, tinha planos para desafiar sua liderança. Descobriu o que queria. Tarso Genro manifestou prontamente a intenção de se lançar candidato.

Já Ciro passou no teste. Recusou a oferta da candidatura em 2006, dizendo que o presidente conseguiria se recuperar e disputar e ganhar a eleição. O gesto encantou Lula por demonstrar lealdade num momento difícil. No ano seguinte, o da eleição, depois de já ter recuperado quase inteiramente a popularidade perdida durante o escândalo do mensalão, Lula planejou convidar Ciro para ser o vice na campanha da reeleição.

"Ciro como vice tem a vantagem de que já prepararemos o candidato à sucessão em 2010", disse Lula na época a um assessor próximo. O presidente levou essa idéia até o último minuto antes do prazo legal de escolha, só desistindo dela ao perceber que o vice-presidente José Alencar gostaria de permanecer no cargo para um segundo mandato. "Como gosta muito também do Zé Alencar, ele preferiu deixar assim", conta um ministro.

Ciro, na avaliação do Planalto, está no caminho certo para se viabilizar em 2010. Parou de bater no PT e esvaziou o "bloquinho". Seu maior aliado hoje no PT é o ex-ministro José Dirceu, que o considera um "excelente" candidato e, segundo um ministro do núcleo do poder em Brasília, vem trabalhando as bases do partido para "amadurecer a idéia de o PT não ter um candidato presidencial em 2010".

Outro simpatizante é o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), com quem Ciro cultiva boas relações no Congresso, discute estratégias de articulação política e dialoga, segundo palavras do próprio dirigente petista, "sobre o futuro". Berzoini assegura, no entanto, que o PT terá candidato próprio à sucessão de Lula, embora não descarte a possibilidade de apoiar Ciro.

"Ciro é muito bem relacionado no PT. Tanto por suas posições, como na defesa do governo na crise política de 2005 e na votação da CPMF, quanto por sua gestão à frente do Ministério da Integração Nacional, no projeto da transposição do rio São Francisco", atesta o presidente do PT. "Ele tem uma visão positiva sobre o papel do Estado no desenvolvimento do país. Uma visão de desenvolvimento que conjuga Estado e setor privado, mas sempre com a coordenação forte do Estado. É o que defendemos."

As idéias defendidas por Ciro, principalmente na área econômica, em que se mostra crítico à ortodoxia da atual política monetária conduzida pelo Banco Central, são admiradas por petistas importantes. Para eles, mesmo tendo iniciado sua trajetória política na direita (no extinto PDS) e passado pelo PSDB, Ciro está ideologicamente mais próximo hoje do PT. "Ele é um crítico mordaz do governo FHC, principalmente, do que foi feito na economia. A aliança com Tasso Jereissati (senador do PSDB do Ceará) é uma relação regional que não o vincula ideologicamente aos tucanos. Politicamente, ele defende o governo Lula", sustenta Berzoini.

Lula costuma dizer que a lealdade de Ciro é "inestimável". Embora isso possa parecer apenas parte do jogo do poder, assessores do presidente asseguram que é algo que vai além da política. Um auxiliar recorre a uma imagem bíblica para tentar explicar a gratidão de Lula a Ciro, especialmente, durante o mensalão. Na história do cristianismo, diz ele, há os mártires e os confessores da fé. Enquanto os primeiros dão a vida por causas, os confessores passam por perseguições, difamações, torturas e, mesmo assim, seguem fiéis à fé cristã.

"O presidente preza muito os que permaneceram fiéis nos tempos da provação, no sentido de que é fácil ser fiel ao governo nos tempos de mamata; e muitos fraquejam, se omitem, desaparecem ou amarelam quando se trata de defender publicamente posições incômodas. Com o tempo Lula foi vendo o quanto isso era importante e decisivo", assinalou um amigo do presidente, acrescentando que o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) foi um dos que desertaram no momento mais difícil - embora Lula, assevera um assessor, continue tendo "muito carinho" por ele.

"Um cara como o Ciro, que a rigor poderia ter transigido ou ficado "na moita", foi para o procênio da política e sustentou uma defesa firme e forte do governo e do presidente", comparou o amigo de Lula. "Ele valoriza muito isso."

Um fato recente ilustraria esse aspecto da personalidade do presidente. Jacó Bittar, seu aliado de primeira hora, co-fundador do PT, ex-prefeito de Campinas, rompeu com o partido - e com Lula - nos anos 90. Na legenda, Bittar disputava poder e influência com Lula, hostilizava-o internamente, conta um velho aliado de Lula.

Recentemente, Lula resolveu "adotar" Bittar, que, acometido do Mal de Parkinson, está com a saúde debilitada. O presidente o trouxe para Brasília, acomodou-o no Palácio da Alvorada e chamou seu acupunturista - o médico chinês Gu Hanghu - para tratar diariamente dele. "Lula está cuidando dele como se fosse um filho. Ele devota grande fidelidade aos velhos amigos", comentou um auxiliar, lembrando que, para o presidente, a relação pessoal é tão ou mais importante que a política. Os candidatos que desejarem seu apoio, diz ele, terão que se lembrar disso.

Ciro não é, no entanto, uma unanimidade no PT. Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido e representante de uma corrente de esquerda, diz que, na crise de 2005, Ciro foi solidário "no geral", mas aproveitou para "tirar uma casquinha" da legenda. Em 2006, mesmo com o PT apoiando a eleição de seu irmão para o governo do Ceará, não conseguiu que o PSB fizesse o "óbvio": apoiar Lula desde o primeiro turno. "Na eleição para presidência da Câmara, ele fez campanha para Aldo Rebelo e foi muito duro com o PT", queixa-se Pomar.

O dirigente petista alega que os laços de Ciro com Tasso são muito fortes. Nesse sentido, sua candidatura à presidência seria uma aposta "de renovação conservadora", não de ruptura em relação ao padrão da política brasileira. "O que mais preocupa é que, com ele, vem junto um estilo e uma rede de alianças tucanas (Tasso, Aécio etc.)", critica. Pomar afirma que a chance de o PT apoiá-lo já no primeiro turno da eleição em 2010 "é igual a zero".

Um novo Brasil


Nos últimos anos, Lula vem o Brasil construindo a uma nova realidade. Aos poucos a visão de pária com que o mundo financeiro olhava para o país, sucessivamente incapaz de gerir suas contas externas, vai sendo superada. As várias declarações relativamente recentes de que não iria pagar as dívidas (1982, 1986, 1989), por estar sem condições, marcaram nossa imagem como não confiável.

Desde 2003, entretanto, a vulnerabilidade externa vem sendo reduzida, processo que foi facilitado pelo excepcional momento da economia mundial. Vivemos uma fase de altíssima liquidez. Quer dizer, há muito dinheiro guardado por aí, depositado em bancos e fundos de investimentos. Quem cuida desses recursos está procurando onde aplicá-lo e fazê-los render mais. Assim, a tal “aversão ao risco” diminuiu. Muitos dólares desembarcaram na bolsa e aplicações financeiras (depois de convertidos em reais).

O comércio mundial passou por um ciclo também exuberante. As cotações das commodities — em cuja produção somos excelentes — explodiram. A venda de soja, café, minério, entre outros, rendeu muitos bilhões de dólares, que foram acrescentados às reservas do país. Por fim, a expansão do consumo doméstico, alimentado pelo crédito fácil e o aumento da renda, atraíram os investimentos estrangeiros diretos, voltados para a produção de bens e serviços. Foram mais dólares que entraram. E o Brasil não desperdiçou a oportunidade, como disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Fora da cartilha

O 31 de janeiro fica, então, gravado no calendário nacional como o dia em que, depois de quase 186 anos, alcançamos segurança de poder pagar toda a dívida externa. Essa situação pode mudar. O país pode voltar a dever mais do que dispõe. Ainda assim, não é a questão mais importante. O que aponta como realmente valiosa é a tendência, que está sendo mantida. O Banco Central pode elevar as reservas de US$ 197 bilhões para perto de US$ 300 bilhões até dezembro, voltando ou superando o ponto de equilíbrio.

Por um lado, guardar tanto dinheiro ajuda a aliviar a desconfiança do mercado em momentos de crise financeira, como a que o planeta atravessa detonada pelo estouro da bolha de crédito nos Estados Unidos. Por outro lado, porém, “carregar” as reservas é caro e, quanto maior ficarem, mais dispendioso.

E explica o ganho de confiança dos estrangeiros, que depositam cada vez mais seu dinheiro em investimentos no país. Em 2007, batemos o recorde de aplicações diretas, acima de US$ 32 bilhões. E o conjunto aponta para o recebimento do grau de investimento pelas agências de classificação de risco, seja este ano, seja em 2009 ou 2010. A questão principal, em qualquer circunstância, é a tendência apontada, capaz de imprimir boas expectativas em quem decide sobre investimentos de trilhões de dólares.

O pensamento no Ministério da Fazenda é que deixará de ser uma ameaça de desequilíbrio com o crescimento econômico do país. À medida que o produto interno bruto (PIB) avança mais rápido que o endividamento, a relação entre os dois cai. É relação dívida/PIB o principal indicador de solvência, ou seja, da capacidade de pagar a dívida. A outra forma de lidar com o problema seria poupar mais para pagá-la. Mas, por esse caminho, seria necessário cortar despesas, item que não faz parte da cartilha oficial.

Brasil exporta US$ 1 bi em móveis


Empresas de móveis de alto padrão, com marcas como Artefacto, Florense e Dell Anno, abrem lojas nos EUA e Europa

Dubai, transformada com o dinheiro do petróleo num enorme canteiro de obras , é o próximo alvo para expansão da Artefacto. A empresa brasileira, de móveis de alto padrão, abriu no ano passado a quinta loja nos Estados Unidos e também já chegou ao México. A Dell Anno, especializada em móveis planejados, inaugura a primeira loja em Barcelona e até o fim do ano outro ponto-de-venda em Lisboa. Os Estados Unidos são o foco da Florense, mas Angola também está na mira do avanço externo da empresa.

Os fabricantes de móveis, principalmente os de valor mais elevado, mesmo com o câmbio desfavorável, continuam a investir no mercado internacional para a expansão de suas marcas. Em 2007, as exportações de móveis alcançaram US$ 1 bilhão, alvo perseguido há dois anos. Em 2005, a indústria quase alcançou a meta, quando as vendas somaram US$ 990 milhões. Mas, no ano seguinte, com a desvalorização da moeda americana frente ao real, as exportações despencaram para US$ 945 milhões.

"A recuperação veio com a entrada em novos mercados, com preços competitivos, maior participação das empresas em feiras internacionais e a parceria das pequenas empresas com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex)", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Fernandez. A expectativa para 2008 é crescer 10% em relação a 2007.

"Começamos este ano a prospectar a Rússia, que hoje é atendida pela indústria italiana", diz Fernandez. Até março do ano que vem a estratégia do setor, em conjunto com a Apex, é consolidar mercados conquistados recentemente como México, Angola, Argélia, África do Sul, Emirados Árabes e Índia.

A Dell Anno e a Favorita, marcas da fabricante Única, já são vendidas nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Venezuela, Uruguai, Paraguai e nos Emirados Árabes. "Dubai tem obras por todos os lados e vive um boom de crescimento. Mas estamos atentos também ao desenvolvimento de países emergentes como do Leste Europeu, Angola e a África do Sul", diz o gerente da exportação da Única, Juliano Barreti. Mas, por enquanto, os planos são abrir lojas em Barcelona e Lisboa e se fortalecer nos mercados onde está presente.

"Há três anos nos estruturamos para exportar. Como a fase ainda é de abertura de mercado conseguimos repassar preços", diz Barreti. Além de aumentar a produção, exportar significou para a Única se adaptar às medidas e tendências do mercado externo. "O brasileiro gosta de branco nas cozinhas. Já americanos, árabes e europeus preferem padrões amadeirados."

As vendas externas representaram 5% do faturamento da empresa de R$ 220 milhões em 2007. Mas este ano a Única vai expandir em 15 mil m2 a fábrica e renovar 50% do maquinário, importado da Alemanha, para aumentar a capacidade de produção. Um novo pavilhão de 2,7 mil m2 também deve elevar a capacidade de estocagem de matéria-prima de 15 dias para três meses de produção.

A Artefacto, voltada para o consumidor de alto poder aquisitivo, desembarcou nos Estados Unidos há cinco anos, em Coral Gables, região sofisticada de Miami. Hoje com cinco lojas no território americano e uma no México, a empresa planeja novas expansões. "Devemos abrir mais uma loja em Miami e no ano que vem outra em Dubai, pelo seu potencial de crescimento ", diz o diretor de estilo da marca, Wair de Paula. Mercado externo aquecido somado com as vendas internas, também estimuladas pelo crescimento do mercado imobiliário, convenceram a Artefacto a aumentar em 50% sua área fabril . Em abril a empresa inaugura também duas lojas, com móveis de estilo mais simples, com a nova marca Artefacto Basics. "O foco é o consumidor de apartamentos de 100 m2 a 130 m2 , disposto a ter um móvel de qualidade mas de dimensões menores e poucos detalhes", diz. Por enquanto, a linha será oferecida apenas no Brasil, mas futuramente poderá ser exportada.

Um centro de distribuição em Chicago virou ponto estratégico da Florense para atender os EUA, Canadá e México. "Conseguimos uma solução logística que tornou a empresa mais competitiva", diz o gerente de exportação, Mateus Corrado. A marca, de móveis customizados, tem nove lojas franqueadas em Nova York, Miami, Chicago, México, Panamá, Assunção, Punta del Este, Montevidéu e Angola. A exportação responde por 20% das vendas. A intenção é entrar em novos mercados e elevar essa fatia para 50%.

O dólar derrubou no ano passado as exportações para os EUA da Carraro, marca adquirida pela Todeschini. "As vendas caíram de US$ 10 milhões em 2005 para zero em 2006. Deixamos de exportar", diz o presidente da companhia, Ademar de Gasperi. A empresa vendia para os americanos móveis de madeira maciça para jardim. Para compensar a perda, a Carraro intensificou as vendas de móveis tubulares e aglomerados, mais baratos, para a América Latina, África e Inglaterra. "Recuperamos em parte o que perdemos no mercado americano." Sua expectativa é retornar aos EUA. "Com a inflação na China, talvez os americanos prefiram móveis tubulares e aglomerados do Brasil."

domingo, 24 de fevereiro de 2008

PF flagra deputados de AL exigindo "dinheiro roubado"


Grampos autorizados pela Justiça em telefonemas de parlamentares revelam corrupção

Esquema de desvio de recursos de Assembléia foi deflagrado em Operação Taturana da PF; "quero meu dinheiro", diz ex-deputado

Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram deputados e ex-deputados estaduais de Alagoas cobrando o recebimento de parcelas de um suposto esquema criminoso que desviou cerca de R$ 280 milhões da Assembléia Legislativa e da União e durou de 2001 até o ano passado. As gravações, feitas em março e abril de 2007, fazem parte do inquérito da PF que resultou na Operação Taturana, de dezembro do ano passado, na qual 41 pessoas foram presas e dez deputados estaduais alagoanos -entre eles o presidente da Assembléia, Antônio Albuquerque (DEM), apontado como líder do esquema- foram indiciados sob suspeita de desvio de dinheiro público.

Em uma das gravações obtidas pela Folha, o ex-deputado Gilberto Gonçalves (PMN) liga para o então diretor de recursos humanos da Assembléia, Roberto Menezes, e cobra dele o recebimento de dinheiro. "Eu quero meu dinheiro. E não venha com desconto de INSS, não, porque isso é dinheiro roubado", diz o ex-deputado. "É melhor você me dar do que sair tudo [todo mundo] algemado dessa porra."

Segundo a PF, Gonçalves continuou a se beneficiar do suposto esquema de desvio mesmo com o fim de seu mandato, em fevereiro de 2007. Em outra gravação, o empresário Marcelo José Martins Santos Filho, o Marcelinho, sócio de várias concessionárias em Maceió, fala com o deputado Nelito Gomes de Barros (PMN) sobre possível acerto com Albuquerque para a compra de três Ford Fusion -que, segundo a investigação, seriam pagos com dinheiro da Assembléia. Cada unidade do carro custa em torno de R$ 80 mil.

Marcelinho, segundo a PF, está no topo da organização criminosa -junto com os deputados da Mesa Diretora. O Fusion de Barros está entre os carros e camionetes de luxo apreendidos por determinação da Justiça Federal e que estão amontoados no pátio da Polícia Federal em Maceió.

Em outra gravação, assessora parlamentar apontada pela PF como laranja de Albuquerque reclama com o diretor de RH que pessoas ligadas ao presidente da Assembléia não "receberam". "Uma irmã dele recebeu; outra, não", diz.

As irmãs de Albuquerque estariam incluídas na folha de pagamento da Assembléia sob o código 108. Inspeção feita pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Alagoas na Assembléia, concluída há duas semanas, indicou que a maioria dos 128 servidores da "folha 108" recebia salário sem ter sido nomeada para nenhum cargo. Segundo a PF, a "folha 108" era composta por familiares e laranjas dos deputados investigados e era modificada mês a mês para atender aos interesses da organização criminosa.

"[Os deputados da Mesa Diretora] inseriam funcionários fantasmas na folha, pessoas que nem sabiam que o CPF delas estava na Assembléia", disse o superintendente da PF em Alagoas, José Pinto de Luna. Segundo ele, já há provas robustas da existência do esquema e do envolvimento dos parlamentares. As gravações apontam que o esquema funcionava com a apropriação, pelos deputados, das verbas de gabinete, gratificações dos comissionados, retenção de salários e inserção de servidores fantasmas na folha. Havia ainda, diz a PF, esquema de fraude à Receita, via Imposto de Renda. Folha assinante

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Ipea prevê alta de 8,5% na produção da indústria


A produção industrial do país deverá crescer 1,7% em janeiro, na comparação com dezembro, segundo estimativa divulgada ontem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em relação a janeiro do ano passado, a previsão é que o nível de produtividade na indústria tenha expansão de 8,5%. Se a estimativa do Ipea se confirmar, o resultado de janeiro vai reverter os dois meses consecutivos de queda da produção industrial, tendo como base comparativa o mês anterior. Em dezembro, a produção da indústria recuou 0,6%, após cair 2% em novembro.

Na visão do Ipea, a queda da indústria no último bimestre de 2007 representou uma "pequena acomodação da produção". O estudo "Indicador Ipea de Produção Industrial Mensal" aponta que essa queda não reverteu a tendência de alta na produção industrial. Para 2008, o Ipea prevê crescimento ainda forte, ainda que menor do que o constatado em 2007. O órgão avalia que a produção continuará forte no primeiro trimestre -resultado da recomposição dos estoques após o pico de vendas registrado no final do ano passado.

Alguns fatores, no entanto, podem abalar o ritmo da produção industrial neste ano, diz o órgão. Um deles é o alto nível de utilização da capacidade instalada da indústria, que pode se tornar um entrave a aumentos adicionais de produção. O Ipea ressalta, por outro lado, que o grande volume de investimentos que vêm sendo feitos pode atenuar o problema.

É esperada ainda uma desaceleração da expansão do crédito, em função da preocupação do Banco Central em haver excesso de demanda. Outro fator que pode comprometer o crescimento da produção industrial é a possibilidade de aumento da taxa básica de juros em um prazo mais longo, que vem pressionando o custo dos empréstimos feitos em prazo maior. O Ipea espera ainda queda de produtividade dos setores voltados para a exportação, por causa de uma possível recessão na economia americana.

Lula quer criar Grupo de Amigos de Cuba


A exemplo da experiência com a Venezuela em 2003, o Presidente Lula planeja criar um Grupo de Amigos de Cuba para ajudar Raúl Castro a negociar com os Estados Unidos o fim do bloqueio da maior economia do mundo à ilha caribenha.

Na avaliação de auxiliares de Lula, essa iniciativa só poderá ser deslanchada oficialmente após o resultado em novembro da eleição presidencial americana. A eleição de um democrata facilitaria os entendimentos, crê o governo brasileiro. Barack Obama e Hillary Clinton, os dois pré-candidatos democratas, já demonstraram interesse em negociar com Cuba o fim do embargo criado em 1962.

O grupo de amigos de Cuba teria a participação de países europeus com forte presença econômica na ilha, como Portugal e Espanha, o vizinho México e a Argentina. O Grupo de Amigos da Venezuela nasceu por pressão brasileira em 2003 a fim de mediar as conturbadas relações entre Chávez e a oposição venezuelana e entre Washington e Caracas.

Lula tem sido cuidadoso nas declarações sobre o futuro de Cuba pós-Fidel, que transmitiu o poder a Raúl, seu irmão. Na terça-feira, ao comentar a renúncia de Fidel, Lula afirmou: "Se cada um tomar conta do seu nariz, já está bom demais. O que complica é quando a gente começa a dar palpite nas coisas dos outros. Os cubanos têm maturidade para resolver seus problemas sem a ingerência brasileira ou americana".

Em encontro em janeiro em Havana, o próprio Raúl Castro já pediu a Lula ajuda para melhorar as relações com os Estados Unidos e incrementar os investimentos no país. Pela capacidade de dialogar com os EUA, Venezuela e Cuba, o Brasil seria o país latino-americano mais indicado para liderar um esforço internacional a fim de persuadir os EUA. Raúl, que sempre elogia a ajuda econômica de Hugo Chávez a Cuba, vê o Brasil como um parceiro mais conveniente para o processo de transição.

Trio e moderação

Pela antiga relação de amizade com Cuba, um trio deverá ajudar Lula em conversas de bastidor bem mais do que o Ministério das Relações Exteriores: Marco Aurélio Garcia, vice-presidente do PT e assessor internacional do Palácio do Planalto, Frei Betto, ex-assessor de Lula e amigo de Raúl e Fidel, e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil que tem bom trânsito com os irmãos Castro e o Partido Comunista de Cuba.

PF investigará firma que emitiu nota ao PSDB


Logo pela manhã, deparo com a minha caixa postal lotada de e-mails, com pedidos para que eu publique o conteúdo da notícia do PSDB que está hoje na Folha de São Paulo, para os assinantes. Toda a reportagem estará aqui na integra para os não assinates. leiam e obrigado por me escreverem..

O Ministério Público Federal em São Paulo encaminhou ofício à Polícia Federal, na última quarta-feira, solicitando abertura de inquérito para investigar a Gold Stone Publicidade e Propaganda, empresa que emitiu notas fiscais frias para o PSDB e para a campanha de 2002 de José Serra, então candidato tucano à Presidência. Concluída em dezembro de 2006, a fiscalização na Gold Stone é um trabalho independente da auditoria feita nas contas de partidos políticos.

A iniciativa do Ministério Público decorre de representação fiscal para fins penais enviada ao órgão pela Receita Federal, que detectou uma série de irregularidades praticadas pelos representantes da Gold Stone, empresa que nunca foi localizada pelo fisco desde sua criação (1996), nunca recolheu tributos e nunca teve registro na Junta Comercial de São Paulo, onde informou ter sede.

Segundo os auditores, a Gold Stone nunca teve existência física, ou seja, é fantasma. Apesar disso, a empresa mantinha conta bancária e foi autuada (R$ 3,280 milhões) também por ter tido receita sem origem comprovada. Investigadores ligados ao caso, que pediram para não serem identificados, suspeitam que a Gold Stone fizesse parte de esquema de lavagem de dinheiro e de venda de notas frias.

A PF informou que, com apenas dois dias da solicitação do Ministério Público, não teria como confirmar ontem em que estágio o caso se encontra. A Folha teve acesso ao termo de verificação fiscal referente à Gold Stone. Após várias tentativas, os auditores localizaram o único sócio vivo da empresa, Octavio Moia Claro. Viúvo de Maria Magdalena Paradelo Claro, representante legal da Gold Stone, Moia foi intimado no dia 26 de junho de 2006 a apresentar os documentos contábeis da empresa. No lugar da papelada exigida, enviou dois boletins de ocorrências datados de 21 de junho de 2001.

O primeiro boletim informa roubo/furto de seu veículo, com todos os livros e documentos contábeis da empresa, incluindo o talão de notas. O segundo informa a localização do veículo no dia em que a ocorrência de furto foi feita. Segundo o boletim, o carro foi encontrado em estado de abandono, faltando equipamentos. Não há menção aos livros fiscais.

Moia usou os boletins para afirmar que não possuía nenhum documento contábil da empresa desde o furto do carro. Contou também que havia se separado de Maria Magdalena em 1999 e que, antes do furto (2001), a Gold Stone "já tinha paralisado suas atividades, conforme declarações à minha pessoa pela titular".

Se as declarações forem verdadeiras, ainda que a Gold Stone tivesse existido um dia, a empresa não teria como prestar serviços ao PSDB em 2002, muito menos emitir notas fiscais. Segundo os auditores, a empresa nunca existiu de fato. O fisco expediu ofícios à Junta Comercial de São Paulo solicitando informações sobre a empresa. A Junta informou que não constavam registros.

"A multa de ofício foi qualificada em decorrência do acúmulo de indícios constatados (omissão reiterada de declaração, omissão continuada de receitas, inaptidão, inexistência no endereço cadastral, falta de registro na Jucesp, não-entrega dos livros e documentos fiscais e contábeis, movimentação financeira em valores significativos) na seleção para fiscalização e durante a ação fiscal", escreveram os auditores.

Questionado na quarta como o PSDB localizou a Gold Stone, o vice-presidente-executivo do PSDB, Eduardo Jorge, deu a seguinte resposta: "Em relação ao PSDB, eu não sei, isso é uma coisa que aconteceu há anos". Ontem, por meio da assessoria do PSDB, Eduardo Jorge disse que a empresa se ofereceu para prestar serviços. Sobre a solicitação de abertura de inquérito, disse que é uma relação da empresa com a Receita.
"Empresário" morava numa casa modesta

Único representante vivo da Gold Stone, Octavio Moia Claro leva uma vida humilde para um empresário que presta serviços para grandes partidos e candidatos à Presidência. A reportagem foi ao endereço que Octavio informou ao fisco e no qual morou até meados de 2007, segundo vizinhos: uma pequena casa de fundo, mal conservada, no Jardim Colombo, bairro de classe média baixa em São Paulo.

A nova moradora da casa, Suely Colombo, mostrou as correspondências dos antigos inquilinos. Havia várias cartas de 2008, como contas de telefone celular para Maria Magdalena Paradela Claro, mulher de Moia, morta no começo de 2006. Em seu depoimento à Receita, Moia disse que havia se separado de Maria Magdalena em 1999. Segundo os proprietários da loja vizinha Atacado dos Games, Luiz Carlos e Eliza Roque, eles moraram juntos até ela morrer.

"Era um sujeito simples. Tinha um carro bem velho, um Suzuki todo quebrado, que soltava óleo. Às vezes, nem funcionava. Um dia, quebraram o vidro para tentar roubar, mas o carro não pegou", disse Luiz. "Era uma pessoa humilde, muito boa. Pouco antes de morrer, ela estava muito feliz, pois havia arrumado um emprego. Mas a doença foi muito rápida. Ela morreu pouco tempo depois de saber que estava doente", disse Eliza sobre Maria Magdalena.

Moia disse também aos fiscais que o endereço da Gold Stone registrado no fisco "não é e nunca foi sede" da empresa, mas sim a residência de sua filha, Amanda Paradelo Claro. A reportagem foi até lá, onde hoje está instalada a loja Plena Cor Tintas, na movimentada avenida Cerro Corá. O imóvel, de um pavimento, é tipicamente comercial, bem à beira da rua. Dificilmente uma pessoa fixaria residência naquele local. Hélio Manzo, gerente da loja, sogro do dono, disse que a Plena Cor Tintas está instalada ali há cinco anos. Como em junho de 2006 Moia disse que sua filha morava lá naquela ocasião, as datas não batem. A Plena Cor já estava ali fazia três anos.A Folha não conseguiu localizar nem Moia nem Amanda. Vizinhos de Moia em Jardim Colombo lembram de tê-lo ouvido dizer que iria morar com uma filha em outro Estado .Aqui para assinante

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

TSE julga mandato de governador catarinense


O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) colocou em votação na noite de ontem processo que poderia levar à cassação da diplomação do governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira (PMDB), mas adiou a decisão para novo debate. A ação foi movida pela coligação Salve Santa Catarina, liderada pelo PP de Esperidião Amin, candidato derrotado no segundo turno das eleições de 2006, que acusou o governador pemedebista reeleito de abuso de poder econômico e político por uso da máquina pública durante o período eleitoral.

O adiamento da decisão ocorreu para inclusão do vice-governador, Leonel Pavan, no processo. A dúvida dos ministros era se ele deveria ser incluído em um processo de cassação do governador por "arrastão" ou ser tratado de forma independente. O TSE preferiu que ele tivesse direito à defesa própria.

Ontem à noite, depois de saber da decisão, Esperidião Amin disse que jamais censuraria o fato de o Judiciário dar ampla defesa a alguém, embora fizesse questão de lembrar que o vice-governador já tenha sido ouvido quando o processo estava no Estado, no TRE-SC. "Posso dizer que compreendo a decisão, mas não aplaudo". Ele disse que embora o governador viesse reclamando que a demora em um julgamento final prejudicaria a atração de investimentos ao Estado, "a nova postergação foi de responsabilidade exclusiva dos advogados e do governador que estão "chicanando" o processo".

O governador preferiu cancelar compromissos externos ontem. Na sua agenda estava prevista a assinatura de compartilhamento de terminais de auto-atendimento do Besc e do BB, na Assembléia Legislativa, em que ele não compareceu.

O assunto voltou à pauta do TSE apenas uma semana depois que três ministros votaram pela cassação, seguindo voto do relator José Delgado. O ministro Marcelo Ribeiro foi quem no dia 14 paralisou o julgamento com vistas do processo.

Entre as principais alegações da acusação estão a publicação de um caderno de balanço das obras do governo de Luiz Henrique editado em jornais do interior durante a campanha, a propaganda na TV do programa do governo em que se confundia governador e candidato - o programa governamental, chamado Santa Catarina em Ação, tinha a marca 15, número do então candidato do PMDB -, e ainda a edição de uma lei que dava isenção de IPVA para motos, projeto aprovado pelo sucessor de Luiz Henrique, Eduardo Pinho Moreira, cujo benefício foi veiculado na campanha.

Luiz Henrique, em uma rara entrevista sobre o caso para a RBS, no início desta semana, defendeu-se dizendo que havia deixado o governo no prazo de desincompatibilização, destacou que foi o único governador que renunciou ao mandato para disputar a reeleição. E disse ainda que não acreditava que os votos então dados pelo TSE até o momento "observaram profundamente os fatos".

Em um depoimento por carta para o mesmo veículo chegou a dizer que o adversário queria lhe desgastar perante a opinião pública e acabar com o seu pequeno patrimônio. "Já tive que fazer dois empréstimos, um no Besc, outro no Banco do Brasil. E dona Ivete (sua esposa) está vendendo carro para podermos pagar os advogados".

Na visão do governador, a propaganda do governo foi feita alguns anos e meses antes de sua candidatura e acusou Amin. "Isso tem uma origem, de cultura política. O velho ditado: que o uso do cachimbo deixa a boca torta. Quem está promovendo isso? É quem está acostumado com golpe, com ditadura, com regime de exceção, e que não admite a democracia. Nós o derrotamos três vezes seguidas (..)".

Luiz Henrique chegou a incrementar sua estratégia de defesa acionando a tropa de choque composta por dois de seus secretários, ambos advogados - Antônio Gavazzoni (administração) e Ivo Carminatti (coordenação política) -, para ajudar na condução de sua defesa em Brasília, capitaneada pelo advogado José Eduardo Alckmin. Em Santa Catarina, o caso, quando foi analisado pelo TRE, teve parecer do relator José Trindade dos Santos favorável à cassação , mas foi voto vencido.


Desfiliação


O plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem, por unanimidade, a saída do senador Edison Lobão Filho (MA) do DEM. O parlamentar, filho e suplente do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, argumentou que não estaria passível de cassação por ter saído da legenda, já que sua desfiliação teria justa causa. No caso, o senador argumentou que sofreu "grave discriminação pessoal". O DEM informou que entendeu como justa a decisão do TSE e que já esperava que isso acontecesse.

AGORA SÃO OS GRINGOS QUE DEVEM AO BRASIL


Política econômica responsável faz Brasil ter dinheiro em caixa para quitar, com sobras, débitos no exterior

Desde que tomou seu primeiro empréstimo no exterior, em 1822, para bancar sua independência de Portugal, o Brasil foi visto como um devedor contumaz e, pior, péssimo pagador devido aos constantes calotes impostos a seus credores. Pois ontem, o Banco Central informou que esse histórico desabonador foi enterrado de vez. O país encerrou janeiro com dinheiro suficiente em caixa para pagar toda a sua dívida externa, de US$ 197,7 bilhões, e ainda ficar com sobras de mais de US$ 4 bilhões, quando somadas as reservas internacionais (US$ 188,2 bilhões, até o dia 20 de fevereiro), os créditos que o Brasil tem a receber mais os depósitos de bancos brasileiros no exterior. Esse fato inédito, “é resultado direto da implementação, nos últimos anos, de políticas macroeconômicas responsáveis e consistentes, baseadas no tripé responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas para a inflação”.

A informação deixou o Presidente Lula nas nuvens. “É mais um trunfo que temos para mostrar o quanto o nosso governo está no caminho correto”, afirmou a assessores. Lula não só manteve o pagamento dos débitos em dia, como foi o principal incentivador do Banco Central na compra de dólares no mercado para reforçar as reservas internacionais. .

A expectativa de Lula, agora, é de que as agências de classificação de risco (rating) “se rendam aos fatos” e promovam o Brasil à condição de grau de investimento (investment grade) ao longo deste ano. Esse selo de qualidade não só atrairá mais investimentos estrangeiros, fundamentais para sustentar o processo de crescimento do país, como colocará o Brasil, na expectativa de Lula, em uma situação privilegiada neste momento de crise internacional, onde impera a desconfiança. “Seremos vistos como um porto seguro para o capital”, ressaltou o Presidente.


Resistência maior

Na avaliação de Meirelles, o importante é que, ao seguir políticas econômicas consistentes, que permitiram “o acúmulo de reservas cambiais sem precedentes”, o país aumentou sua resistência a choques. “A melhora expressiva nos vários indicadores de sustentabilidade externa do Brasil é um marco expressivo de nossa história. Essa melhora significa que estamos superando gradativamente um longo período caracterizado por vulnerabilidade e crises, causadas, principalmente, pela dificuldade em honrar o passivo externo do país”, frisou.

Pelos cálculos do BC, a consistência econômica permitiu que, desde 2003, o Brasil registrasse fluxos positivos e crescentes em todas as contas por onde transitam recursos externos. Com isso, o banco pode ampliar as reservas internacionais do país de apenas US$ 16,3 bilhões no primeiro ano de mandato do Presidente Lula para US$ 180,3 bilhões em dezembro passado e US$ 188,2 bilhões até anteontem. A maior parte desses recursos veio dos expressivos saldos da balança comercial, que, nos últimos cinco anos, somaram US$ 150,6 bilhões. O BC ressaltou ainda que também os investimentos estrangeiros diretos (IED), voltados para o aumento da produção e a criação de empregos, que atingiram US$ 34,6 bilhões em 2007 — recorde histórico —, a abertura de capital de empresas e as aplicações em bolsa de US$ 24,6 bilhões ajudaram a engrossar o fluxo de capital.

Lula pagou o FMI

Com tantos recursos disponíveis, o Brasil antecipou em 2005 o pagamento de US$ 20,7 bilhões em empréstimos ao Fundo Monetário Internacional (FMI), pondo fim a uma tumultuada relação. Retirou do mercado todos os títulos vinculados a renegociações de calotes, como os C-Bonds, e pagou, também antecipadamente, as dívidas com o Clube de Paris. “Foi uma virada significativa na história do país”, afirmou o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor da Área Externa do BC, que integrou durante anos os grupos de renegociação da dívida brasileira. A seu ver, as críticas de vários economistas, de que o acúmulo de reservas pelo BC já passou do ponto, impondo pesados custos fiscais ao Tesouro Nacional, ficam diminuídas quando se olha o comportamento da economia brasileira em meio à grave crise internacional provocada pelo estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos.

No Rio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a atual situação veio para ficar e permite ao país “impor respeito” em meio à crise de crédito externo, e esse respeito virá por meio da elevação do Brasil ao grau de investimento. Ele destacou que o cenário atual “habilita o país a ter um papel de protagonista no cenário internacional”.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

E como rouba esse Serra! . Prestação de contas de Serra em 2002 contraria dados do PSDB


Partido havia negado que gastos com empresa, considerada fantasma pela Receita, referiam-se a atividades de campanha; governador não se pronuncia

O comitê da campanha de José Serra à Presidência em 2002 declarou gastos com a empresa Gold Stone Publicidade e Propaganda no valor de R$ 251 mil.
Conforme a Folha publicou anteontem, a Delegacia da Receita Federal de Brasília manteve entendimento de que a Gold Stone nunca existiu fisicamente, nunca pagou um centavo de imposto e que o partido não comprovou a efetiva prestação de determinados serviços pela empresa -ou seja, a Gold Stone é fantasma, e as notas referentes a esses serviços, frias.

Segundo prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral, foram dois pagamentos: em agosto (R$ 100 mil) e setembro (R$ 151 mil).
Em nota divulgada anteontem, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que as despesas com a Gold Stone mencionadas na auditoria diziam respeito a atividades de responsabilidade do partido antes do período eleitoral, e não da campanha.

Ontem, o senador confirmou que a campanha de Serra também contratou a Gold Stone, mas disse que os serviços (e as notas fiscais às quais se referem) são outros e que estão devidamente comprovados na Justiça Eleitoral. "São duas coisas diferentes. Não são as mesmas notas", afirmou.

Ontem, a assessoria do governador José Serra (SP) informou que não se manifestaria sobre o assunto alegando que a responsabilidade é do partido.
Segundo auditoria da Receita nas contas do PSDB, a Gold Stone emitiu em 2002 quatro notas, no valor somado de R$ 276 mil, para o PSDB e a campanha de Serra. Não há menção a outras notas da empresa.

O comitê financeiro da campanha de Serra era presidido por Márcio Fortes, secretário-geral do PSDB. Desativada desde janeiro de 1996, a Marka Serviços de Engenharia, pertencente a Fortes, também emitiu notas para o PSDB. Procurado ontem, Fortes não foi encontrado. Sobre gastos anteriores à campanha, Fortes declarou que "as explicações já foram dadas, o serviço foi feito, não tem nenhum problema".

ONGs estrangeiras também serão coibidas


A operação coordenada pela PF não tem data ainda para ser deflagrada, mas será a primeira ação de vulto do governo para combater uma série de crimes e o marco do processo de ocupação institucional da região amazônica para afastar as ameaças de soberania já denunciadas pelas Forças Armadas. A Arco de Fogo mira quem explora ilegalmente a madeira, mas vai acertar também nas ONGs estrangeiras que há décadas atuam na região tendo como pretexto a preservação do meio ambiente, dos povos indígenas e a evangelização. No mesmo período da operação, uma força-tarefa criada por portaria do ministro Tarso Genro, da Justiça, dará início à fiscalização de entidades suspeitas de praticar a biopirataria, espionar as áreas de minério estratégico, interferir na cultura indígena e facilitar o comércio suspeito de terras na região. O governo chega à Amazônia com décadas de atraso, mas é a primeira vez que toma a iniciativa de reocupar espaços cedidos sem controle ao chamado terceiro setor.


Nos próximos dias, a PF deve entregar a Tarso Genro o relatório com a lista das principais ONGs a serem investigadas por supostas irregularidades. Não se sabe ainda que tamanho tem a lista, mas é maior que a elaborada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e encaminhada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. No grupo há entidades acusadas de deturpar a cultura indígena ao introduzir rituais religiosos estranhos às etnias e outras suspeitas de espionar e explorar recursos naturais para contrabandear remédios produzidos a partir de plantas medicinais da região. A orientação do governo, segundo o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, é fazer uma triagem para separar as entidades que prestam serviço social das que são picaretas e depois agir em cima de indícios envolvendo crime. Entidades estrangeiras que forem flagradas agindo ilegalmente terão os registros cassados e seus dirigentes, além de responder judicialmente por eventuais ilícitos, serão expulsos do país.


Cesp pode render R$ 6,6 bi ao governo


O governo do Estado de São Paulo fixou o preço mínimo do leilão de privatização da Cia. Energética de São Paulo (Cesp) no teto da faixa que era esperada pelo mercado, em R$ 49,75 por ação. Com isso, o potencial a ser arrecadado pelo governo é de pelo menos R$ 6,6 bilhões, incluindo a participação direta e indireta na estatal. O leilão foi marcado para 26 de março.

A estratégia foi adotada, segundo apurou o Valor, porque ficou claro que os grupos interessados em adquirir a geradora paulista partiriam para a formação de consórcios, diante do tamanho do ativo que está em jogo. Numa configuração de leilão com menor número de concorrentes, o preço mínimo ganhou maior relevância no processo. A expectativa no governo é de participação de um grupo reduzido de interessados - três consórcios, no máximo - com ágio não muito expressivo. Num cenário com maior número de concorrentes, a disputa no leilão tenderia a ser maior, reduzindo a importância do preço mínimo. Inicialmente, o Banco Fator, contratado pelo governo, indicou um preço de R$ 45.

O governo controla a Cesp por meio da Secretaria da Fazenda, mas também tem participações através do Metrô, da Sabesp e outras estatais. Tudo somado, entre ações ordinárias e preferenciais, chega-se a 43,7% do capital total. No entanto, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria da Fazenda, uma fatia de 8,893% de de ações preferenciais classe B (PNB) detida pelo Metrô serão entregues à BNDESPar para pagamento de uma dívida. Com isso, o governo poderá dispor de 40,66% do capital da Cesp, ou 132,967 milhões de ações. Não está claro ainda quanto disso será ofertado no leilão de privatização e quanto será vendido em posterior oferta pública aos minoritários (tag along). O edital de privatização, esperado para hoje, deve esclarecer essa dúvida.

O preço foi considerado alto por grupos interessados na compra da Cesp. Muitos vinham pressionando o governo paulista a fixar um valor mínimo mais baixo por conta do risco da renovação, em 2015, das concessões das usinas de Ilha Solteira e Jupiá, que representam 67% da capacidade de geração da empresa.

"O preço veio no limite da nossa expectativa", disse Carlos Piani, presidente da Equatorial Energia. Segundo ele, o valor parece embutir uma expectativa de renovação das concessões por parte do governo de São Paulo.

Piani confirma a tese de formação de consórcios. "Se entrarmos na disputa, não entraremos sozinhos, a Cesp é muito grande." De acordo com ele, a Equatorial tem mantido conversas com a Light, onde detém uma participação de 13%, e com o fundo Brasil Energias, gerido pelo banco UBS Pactual.

Procurada, a CPFL, maior distribuidora do país e tida como uma das grandes interessadas na privatização, informou que não comenta decisões do Programa Estadual de Desestatização (PED). A Energias do Brasil também não comentou. Na véspera da divulgação do preço mínimo, o presidente da Suez Energy, Maurício Bähr, afirmou que a Cesp está no plano de investimentos da multinacional para este ano. Ontem, o executivo não foi localizado para comentar. A Suez controla a Tractebel, a maior geradora privada do país.

De acordo com um outro executivo interessado na estatal, o preço fixado deverá estimular a formação de consórcios com um número maior de integrantes, para dividir a conta a pagar e também diluir o risco tomado.

Apesar da crítica dos interessados nos bastidores, as ações PNB da Cesp, as mais líquidas e que definem o valor da empresa, subiram ontem. Tiveram alta de 4,34% (a sétima mais expressiva do pregão), fechando a R$ 47,39 e aproximando-se do preço mínimo. No ano, o papel acumula alta de 10%. Em doze meses, enquanto o Ibovespa subiu 39,04%, Cesp PNB teve valorização de 85,95%. O comportamento dos investidores reflete uma avaliação de que o preço mínimo não fará micar o leilão.

Um executivo de banco pondera, entretanto, que há um movimento especulativo na bolsa porque os minoritários são grandes interessados no sucesso do leilão, de olho no pagamento de prêmio a que têm direito pelas regras de "tag along".

A analista Mônica Araújo, da corretora Ativa, disse que o preço mínimo veio em linha com sua expectativa. André Segadilha, da corretora Prosper também não se surpreendeu com o valor. Em relatório divulgado ontem disse esperar grande disputa pela Cesp, considerando seu mercado de atuação (Sudeste do país) e sua dívida equacionada. Já o analista Fernando Abdalla, da corretora Unibanco, retirou sua recomendação de compra do papel. Segundo ele, a ação já ultrapassou o preço alvo estimado. Além disso, ele vê melhores opções de investimento como Tractebel e Cemig, considerando que os minoritários terão que esperar um prazo de cerca de 180 dias a partir da privatização para a realização da oferta pública.

A queda de braço em torno do preço "justo" pela Cesp tem como mote o risco de renovação da concessão de suas duas maiores hidrelétricas (Jupiá e Ilha Solteira). Segundo as atuais regras do setor elétrico, suas concessões, que completam 20 anos em 2015, não poderão ser renovadas. A rigor, teriam que ir a leilão novamente. Segundo especialistas, a Cesp só conseguirá manter as duas usinas se houver uma mudança da lei ou uma nova interpretação.

O risco, entretanto, é setorial. Também em 2015 vencem as concessões de usinas de Chesf, Furnas e Cemig. Em função disso, há quem aposte em uma solução que permita a continuidade da concessão para evitar uma crise.

Nas contas de uma empresa interessada, descontado o fluxo de caixa da Cesp a partir de 2015, o preço mínimo deveria ser situado entre R$ 30 e R$ 35. Fontes ligadas ao governo, entretanto, dizem que o impacto é menor, equivaleria a um desconto de 15% no valor da companhia, porque Jupiá e Ilha Solteira representariam 50% da receita da empresa (apesar de responder por 67% da geração).

Outro risco mapeado por interessados é o endividamento da Cesp. Principalmente uma dívida de R$ 1,5 bilhão com o BNDES. O banco estatal teria sinalizado disposição de alongar o prazo para o novo controlador. Depois da reestruturação da Cesp, concluída há quase dois anos, os pagamentos anuais de dívida sofreram redução significativa. Em 2008, por exemplo, a Cesp precisará desembolsar R$ 1,1 bilhão, R$ 700 milhões a menos do que o previsto antes da reestruturação.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Três candidatos e um destino


A menos que um fato novo e relevante ocorra até maio, a eleição de São Paulo será decidida entre Geraldo Alckmin, Marta Suplicy e o atual prefeito Gilberto Kassab. A prefeitura paulistana é o troféu que realmente importa. Os três entram com a obrigação de ganhar, pois está em jogo bem mais que a sorte de cada candidato. Nunca antes uma disputa municipal envolveu tanto o destino dos partidos.

Sem Lula da Silva em 2010, o PT precisa retomar uma cidade cuja conquista, em 2000, foi o marco de uma trajetória ascendente até a Presidência da República. Os antigos pefelistas, atuais Democratas, têm no comando da cidade a chance de se transformar efetivamente em partido, e o PSDB, manter um espaço a duras penas reconquistado por José Serra em 2004.

A indicação de Alckmin é irremediável: José Serra não tem como dizer não a uma candidatura favorita, segundo as pesquisas, em defesa da aliança com Kassab.

Com Alckmin no topo, o que Serra pedia também era muito. Nenhum candidato que acha que vai ganhar uma eleição quer sair da disputa; Alckmin, nem mesmo quando tudo indica que vai perder, como bem deixou demonstrado na eleição de 2006, quando as pesquisas de opinião indicavam José Serra com mais chances numa disputa com Lula.

No quadro atual, a pergunta é se Gilberto Kassab será candidato. Atrás do tucano e da petista na pesquisas, mas com a reprovação de seu governo em baixa acentuada, Kassab só deixará de reivindicar a reeleição na iminência de um grande desastre eleitoral, o que, por enquanto, não parece ser o caso.

A expectativa de uma acomodação tucano-democrata é cada vez menor nos cálculos que o prefeito faz para se reeleger.

Alckmin se impõe outra vez a Serra no PSDB

Serra mais uma vez perdeu de Alckmin uma disputa na máquina partidária, isso é certo, por enquanto. Mas está fora de cogitação a hipótese de o governador pedir para o prefeito desistir de tentar a reeleição a fim de facilitar a evolução de Geraldo Alckmin.

Kassab, que nunca concorreu a uma eleição majoritária, portanto, é candidato: ele tem legenda para concorrer, independe da máquina do PSDB e o antigo PFL entra num jogo de vida ou morte na sua primeira eleição com a marca DEM.

São Paulo é crucial para o Democratas. Os ex-pefelistas já venceram duas vezes no Rio - onde agora não têm favoritismo, mas devem passar para o segundo turno, na eleição de outubro -, ainda têm presença forte no Nordeste e boas alianças em outros estados. Mas sempre foram um fiasco em São Paulo. Agora têm o efetivo controle da capital. Kassab pode alavancar a eleição de uma boa bancada de vereadores. A pergunta que se faz é se o DEM vira um partido ou permanece caudatário, como era o PFL.

A situação será delicada também na esfera do Partido dos Trabalhadores, se Marta Suplicy não ganhar a eleição de outubro. Uma das grandes dificuldades de Lula antes de se eleger presidente, sempre fora superar uma barreira chamada São Paulo. Quando Marta venceu a eleição para a prefeitura paulistana, em 2002, mostrou que era viável Lula ganhar a Presidência da República, dois anos mais tarde.

Em São Paulo é que a crise moral do PT, do mensalão à "Operação Vedoin", foi mais sentida. É certo que Marta não gostaria de ser candidata nas eleições municipais. Trata-se de um desafio que ela já enfrentou. O que ela quer é governar São Paulo ou até disputar a Presidência da República. Mas só Marta é que tem votos em São Paulo num volume suficiente capaz de fazer diferença nas pesquisas.

Geraldo Alckmin é outro candidato que entra com a obrigação de vencer a eleição. Se perder, vai comprometer um espaço que os tucanos deram duro para reconquistar. Além disso, é a segunda vez que Alckmin se impõe a Serra numa disputa interna: o ex-governador continua forte em São Paulo, como demonstram as pesquisas de opinião.

Aos poucos, Alckmin convence a cúpula do PSDB que uma eleição com os três candidatos é melhor para o partido. Nos cálculos do tucano, ele e Marta passam para o segundo turno. Uma aliança com o DEM e outras siglas, então, fará a diferença. É possível, apesar das seqüelas que estão sendo semeadas antes mesmo das convenções partidárias. Na disputa paulistana, ninguém está em situação confortável.


PF descarta roubo comum


O superintendente da Polícia Federal no Rio, Valdinho Jacinto Caetano, descartou ontem a hipótese de roubo comum no caso de furto de equipamentos da Petrobras, ocorrido no fim de janeiro. De acordo com o delegado, foram roubados quatro laptops e dois discos rígidos de um contêiner que continha outros equipamentos de informática e que foram deixados no local. "Roubaram informações específicas", disse Caetano. Ao ser questionado sobre a hipótese de espionagem industrial, respondeu com um sucinto "exatamente".

Caetano criticou as condições de segurança para a guarda do material no contêiner. A segurança, disse, seria adequada apenas para equipamentos que não tivessem informações estratégicas. "O sistema de segurança para o material era bastante falho e muita gente tinha acesso à informação. " O superintendente confirmou que os equipamentos estavam com a americana Halliburton, empresa que prestava serviços para a Petrobras. Segundo ele, a violação do local antes da chegada do perito dificultou a perícia. "Tecnicamente, o local se tornou imprestável para a perícia", disse Caetano.

Até o momento, a PF ouviu nove pessoas envolvidas no transporte do material de Santos para Macaé e espera ouvir outras 15. A PF não tem certeza sobre em que parte do trajeto aconteceu o furto.


Criação de emprego formal em janeiro cresce 35% em relação ao ano passado


Foram criados, em janeiro, 142.921 vagas com carteira assinada no mercado de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Isso representou um crescimento de 35,51% sobre o saldo entre contratações e demissões no mesmo mês do ano passado. A marca é recorde para os meses de janeiro e, segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, foi uma demonstração da força da demanda interna. "Vamos ter o melhor ano da história com geração de 1,8 milhão de empregos e crescimento do PIB acima de 6%, contrariando todos os doutos da economia", disse.

Apesar do otimismo, ele alertou para dois grandes riscos: o aumento da inflação se a indústria não for capaz de atender a maior demanda, e a falta de mão-de-obra qualificada. "Os números mostram um belo problema, com a demanda maior que a prevista", afirmou. Ele acha, porém, que não haverá inflação de demanda porque a indústria está se aperfeiçoando e são poucos os segmentos cartelizados. Já para a questão de mão-de-obra, Lupi teme que sem investimento firme na qualificação de trabalhadores, poderá haver um colapso no médio prazo. "Há risco de falta de mão-de-obra nas áreas mais especializadas da indústria, como mecânica, siderurgia, automobilística e alguns segmentos da construção. Mas ainda não corremos risco de ter de importar trabalhadores", avaliou.

A indústria de transformação foi o setor que mais criou empregos formais em janeiro, com saldo de 59.045 vagas. Em seguida vêm prestação de serviços (49.077), construção civil (38.643) e agropecuária (8.035). O comércio perdeu 14.144 postos porque janeiro é, tradicionalmente, mês de dispensa de trabalhadores.

O Ministério do Trabalho informou que, na indústria, os segmentos que mais abriram vagas em janeiro foram: alimentício (12.004), mecânico (8.812), metalúrgico (8.518), material de transporte (6.001), químico (4.981), calçadista (3.878) e minerais não metálicos (1.856). No setor de serviços, as empresas de alojamento e alimentação criaram 22.001 vagas, seguidas pelas de comércio, administração de imóveis e serviços técnicos, com 20.978 postos.

A análise regional dos números revelou que apenas o Nordeste teve redução de pouco mais de 7 mil empregos com carteira assinada em janeiro. O motivo foi o fim do ciclo da cana-de-açúcar. O Sudeste teve o melhor saldo positivo (77.151), seguido por Sul (48.898), Centro-Oeste (22.679) e Norte (1.206). As cidades não metropolitanas criaram 54.532 empregos formais em janeiro, diante de 46.971 vagas das nove maiores áreas metropolitanas.

O estoque de empregos com carteira assinada em janeiro foi de 29.109.111 postos de trabalho, com crescimento de 6% sobre o mesmo mês de 2007. A prestação de serviços é o setor que mais emprega (11.481.145), seguida de indústria (7.062.407), comércio (6.453.645), construção civil (1.568.737), agropecuária (1.507.098), administração pública (537.140), serviços de utilidade pública (335.341) e extração mineral (163.598).

Lupi informou que está negociando convênios para bancar metade dos custos das aulas de qualificação com Sistema S (Senai, Senac, Sesi, Senar e Senat), prefeituras, Estados e entidades não-governamentais "sérias".

O ministro enfrenta uma desgastante recomendação da Comissão de Ética Pública para que deixe o governo ou saia da presidência do PDT. Além disso, é acusado de autorizar a transferência de recursos para uma entidade de qualificação profissional ligada ao seu partido. "Não podemos criminalizar essas entidades não-governamentais. A grande maioria é séria e honesta. Quem cuida disso é a Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, não sou eu. Há um corpo técnico. Não assino autorizações para a execução desses serviços", explicou.

Além dessas parcerias, o Ministério do Trabalho conta com a aprovação de R$ 800 milhões para essa área no orçamento. Lupi espera anunciar neste mês convênios com o Sistema S vinculando as aulas com as necessidades reveladas pelas informações do seguro-desemprego.

Chantagem da oposição


Em mais uma jogada política, a oposição protocolou ontem um pedido de criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) somente no Senado para investigar o uso dos cartões corporativos do governo. O tiro tem alvo certo: obrigar o Palácio do Planalto a ceder a presidência da CPI mista (deputados e senadores), protocolada na semana passada pela própria oposição. Essa briga já dura duas semanas e, por enquanto, a investigação está só no papel.

Pressionado, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), avisou a DEM e PSDB que pretende conversar hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o assunto. O líder quer carta branca para dividir os cargos da comissão mista com a oposição. Jucá confirmou que há uma negociação com o PSDB para nomear um tucano à presidência dessa CPI, conforme revelou ontem o Correio. “Estou tentando um entendimento, e é possível entregar a presidência ao PSDB”, afirmou.

Jucá se irritou com a postura da oposição de pedir uma CPI no Senado porque solicitou a tucanos e democratas que esperassem a conversa dele com Lula marcada para hoje. O encontro era para ter ocorrido na noite de segunda-feira, mas, por problemas na agenda do presidente, foi adiado.

Ontem pela manhã, Jucá passou no gabinete do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), onde estavam outros tucanos. “Estou tentando resolver”, afirmou aos senadores. O mesmo recado fora dado, por telefone, ao líder do DEM, José Agripino (RN), pouco antes. Mas a oposição perdeu a confiança no líder governista. Alega que Jucá fez a mesma promessa na semana passada e, até agora, não deu qualquer sinal de que será cumprida.

Disposto a aumentar a pressão sobre o governo, Agripino procurou, à tarde, Guerra e o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), dentro do plenário do Senado. Os convenceu de que era preciso, pelo menos, coletar as assinaturas para uma CPI exclusiva no Senado. Ao atingir 30, três acima que o mínimo exigido, a oposição decidiu protocolar ontem mesmo o requerimento. Isso porque pode retirá-lo a qualquer momento, caso haja acordo com o governo em torno da CPI mista. “Para que adianta essa investigação? Para justificar uma eventual farsa? E nós serviríamos de bucha de canhão? Estamos agindo em legítima defesa”, argumentou Agripino.

Requisitos
O regimento não impede duas CPIs sobre o mesmo assunto, mesmo que uma delas seja mista. Antes de protocolar a do Senado, o líder do DEM levantou esse questionamento, esclarecido pelo presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). “Não há fundamento constitucional para negar seguimento a eventual requerimento de criação de CPI, desde que atendidos os requisitos estipulados pela Constituição Federal”, disse Garibaldi, que lerá hoje em plenário o documento que pede investigação por senadores e deputados.

Tucanos e democratas usam a CPI do Senado como arma porque o governo seria obrigado a dividir a presidência e a relatoria, já que o DEM tem a segunda maior bancada da Casa. Na mista, o PMDB, líder de cadeiras no Senado, fica com a presidência. O líder do partido, Valdir Raupp (RO), por exemplo, já indicou Neuto de Conto (PMDB-SC) para o cargo.

Por ser também a maior bancada na Câmara, o PMDB tem que passar a relatoria dessa CPI ao PT, segunda força na Casa. Os petistas escolheram Luiz Sérgio (PT-RJ) para a vaga. Como a margem no Senado em relação ao governo é mais apertada, a oposição diz que tem o direito político de ficar com a presidência para evitar uma CPI governista. Pelo acordo entre DEM e PSDB, o indicado, em caso de entendimento com o Palácio do Planalto, seria um senador tucano.

Clima bélico
Desde o fim de semana, Jucá tem dialogado com a oposição para chegar a um acordo. O líder conta com o apoio do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. O argumento deles é o de que pouca coisa mudará na CPI com a entrega de sua presidência ao PSDB. Pelo contrário, apostam que diminuirá o clima bélico da investigação sobre o uso dos cartões. Será esse o argumento usado na conversa que deve ocorrer hoje com Lula. Se depender de Jucá e Múcio, o acordo com o PSDB incluiria um senador tucano moderado, sem “estardalhaço”. Sérgio Guerra já ofereceu os nomes de Marconi Perillo (GO) e Marisa Serrano (MS), mas o governo prefere alguém com menos expressão e aceitaria mais fácil a indicação, por exemplo, de Cícero Lucena (PB) ou João Tenório (AL).

Jucá, no entanto, esbarra dentro da própria base do governo para convencer Lula. O PT não concorda com essa negociação. O partido, que não esconde a insatisfação com a atuação do líder no Senado, defende a manutenção da presidência da CPI mista com o PMDB. “O presidente Lula tem muito serviço. Para investigar uma mesa de bilhar não precisa consultá-lo. Desafio o PSDB a parar de lutar pela presidência e assinar a CPI para investigar os saques em São Paulo”, disse o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS).

análise da notícia
O jogo não terminou

O Congresso respira um jogo político diário. Até semana passada, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), comemorava o placar de “2 a 0” que dizia ter imposto à oposição. O primeiro gol foi quando se antecipou a democratas e tucanos e protocolou um pedido de CPI só no Senado. O segundo ocorreu, segundo ele, no acordo com o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) para desistir da investigação pelos senadores para topar uma mista.

A oposição admitiu a derrota parcial e decidiu revidar. Ontem, diminui o placar ao ressuscitar a idéia de uma CPI exclusiva dos senadores. Agora, aposta que vai empatar a partida se o governo topar entregar a presidência da CPI mista ao PSDB em troca da morte da comissão do Senado.

Enquanto a bola rola nesse campo, o Congresso começa a inserir outros temas em sua pauta de discussão e a crise dos cartões corporativos esfria a cada dia entre os parlamentares. Governo e oposição negam, mas o jogo até agora só contribuiu para atrapalhar qualquer investigação.


 

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