segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Um novo Brasil


Nos últimos anos, Lula vem o Brasil construindo a uma nova realidade. Aos poucos a visão de pária com que o mundo financeiro olhava para o país, sucessivamente incapaz de gerir suas contas externas, vai sendo superada. As várias declarações relativamente recentes de que não iria pagar as dívidas (1982, 1986, 1989), por estar sem condições, marcaram nossa imagem como não confiável.

Desde 2003, entretanto, a vulnerabilidade externa vem sendo reduzida, processo que foi facilitado pelo excepcional momento da economia mundial. Vivemos uma fase de altíssima liquidez. Quer dizer, há muito dinheiro guardado por aí, depositado em bancos e fundos de investimentos. Quem cuida desses recursos está procurando onde aplicá-lo e fazê-los render mais. Assim, a tal “aversão ao risco” diminuiu. Muitos dólares desembarcaram na bolsa e aplicações financeiras (depois de convertidos em reais).

O comércio mundial passou por um ciclo também exuberante. As cotações das commodities — em cuja produção somos excelentes — explodiram. A venda de soja, café, minério, entre outros, rendeu muitos bilhões de dólares, que foram acrescentados às reservas do país. Por fim, a expansão do consumo doméstico, alimentado pelo crédito fácil e o aumento da renda, atraíram os investimentos estrangeiros diretos, voltados para a produção de bens e serviços. Foram mais dólares que entraram. E o Brasil não desperdiçou a oportunidade, como disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Fora da cartilha

O 31 de janeiro fica, então, gravado no calendário nacional como o dia em que, depois de quase 186 anos, alcançamos segurança de poder pagar toda a dívida externa. Essa situação pode mudar. O país pode voltar a dever mais do que dispõe. Ainda assim, não é a questão mais importante. O que aponta como realmente valiosa é a tendência, que está sendo mantida. O Banco Central pode elevar as reservas de US$ 197 bilhões para perto de US$ 300 bilhões até dezembro, voltando ou superando o ponto de equilíbrio.

Por um lado, guardar tanto dinheiro ajuda a aliviar a desconfiança do mercado em momentos de crise financeira, como a que o planeta atravessa detonada pelo estouro da bolha de crédito nos Estados Unidos. Por outro lado, porém, “carregar” as reservas é caro e, quanto maior ficarem, mais dispendioso.

E explica o ganho de confiança dos estrangeiros, que depositam cada vez mais seu dinheiro em investimentos no país. Em 2007, batemos o recorde de aplicações diretas, acima de US$ 32 bilhões. E o conjunto aponta para o recebimento do grau de investimento pelas agências de classificação de risco, seja este ano, seja em 2009 ou 2010. A questão principal, em qualquer circunstância, é a tendência apontada, capaz de imprimir boas expectativas em quem decide sobre investimentos de trilhões de dólares.

O pensamento no Ministério da Fazenda é que deixará de ser uma ameaça de desequilíbrio com o crescimento econômico do país. À medida que o produto interno bruto (PIB) avança mais rápido que o endividamento, a relação entre os dois cai. É relação dívida/PIB o principal indicador de solvência, ou seja, da capacidade de pagar a dívida. A outra forma de lidar com o problema seria poupar mais para pagá-la. Mas, por esse caminho, seria necessário cortar despesas, item que não faz parte da cartilha oficial.

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