Logo pela manhã, deparo com a minha caixa postal lotada de e-mails, com pedidos para que eu publique o conteúdo da notícia do PSDB que está hoje na Folha de São Paulo, para os assinantes. Toda a reportagem estará aqui na integra para os não assinates. leiam e obrigado por me escreverem..
O Ministério Público Federal em São Paulo encaminhou ofício à Polícia Federal, na última quarta-feira, solicitando abertura de inquérito para investigar a Gold Stone Publicidade e Propaganda, empresa que emitiu notas fiscais frias para o PSDB e para a campanha de 2002 de José Serra, então candidato tucano à Presidência. Concluída em dezembro de 2006, a fiscalização na Gold Stone é um trabalho independente da auditoria feita nas contas de partidos políticos.
A iniciativa do Ministério Público decorre de representação fiscal para fins penais enviada ao órgão pela Receita Federal, que detectou uma série de irregularidades praticadas pelos representantes da Gold Stone, empresa que nunca foi localizada pelo fisco desde sua criação (1996), nunca recolheu tributos e nunca teve registro na Junta Comercial de São Paulo, onde informou ter sede.
Segundo os auditores, a Gold Stone nunca teve existência física, ou seja, é fantasma. Apesar disso, a empresa mantinha conta bancária e foi autuada (R$ 3,280 milhões) também por ter tido receita sem origem comprovada. Investigadores ligados ao caso, que pediram para não serem identificados, suspeitam que a Gold Stone fizesse parte de esquema de lavagem de dinheiro e de venda de notas frias.
A PF informou que, com apenas dois dias da solicitação do Ministério Público, não teria como confirmar ontem em que estágio o caso se encontra. A Folha teve acesso ao termo de verificação fiscal referente à Gold Stone. Após várias tentativas, os auditores localizaram o único sócio vivo da empresa, Octavio Moia Claro. Viúvo de Maria Magdalena Paradelo Claro, representante legal da Gold Stone, Moia foi intimado no dia 26 de junho de 2006 a apresentar os documentos contábeis da empresa. No lugar da papelada exigida, enviou dois boletins de ocorrências datados de 21 de junho de 2001.
O primeiro boletim informa roubo/furto de seu veículo, com todos os livros e documentos contábeis da empresa, incluindo o talão de notas. O segundo informa a localização do veículo no dia em que a ocorrência de furto foi feita. Segundo o boletim, o carro foi encontrado em estado de abandono, faltando equipamentos. Não há menção aos livros fiscais.
Moia usou os boletins para afirmar que não possuía nenhum documento contábil da empresa desde o furto do carro. Contou também que havia se separado de Maria Magdalena em 1999 e que, antes do furto (2001), a Gold Stone "já tinha paralisado suas atividades, conforme declarações à minha pessoa pela titular".
Se as declarações forem verdadeiras, ainda que a Gold Stone tivesse existido um dia, a empresa não teria como prestar serviços ao PSDB em 2002, muito menos emitir notas fiscais. Segundo os auditores, a empresa nunca existiu de fato. O fisco expediu ofícios à Junta Comercial de São Paulo solicitando informações sobre a empresa. A Junta informou que não constavam registros.
"A multa de ofício foi qualificada em decorrência do acúmulo de indícios constatados (omissão reiterada de declaração, omissão continuada de receitas, inaptidão, inexistência no endereço cadastral, falta de registro na Jucesp, não-entrega dos livros e documentos fiscais e contábeis, movimentação financeira em valores significativos) na seleção para fiscalização e durante a ação fiscal", escreveram os auditores.
Questionado na quarta como o PSDB localizou a Gold Stone, o vice-presidente-executivo do PSDB, Eduardo Jorge, deu a seguinte resposta: "Em relação ao PSDB, eu não sei, isso é uma coisa que aconteceu há anos". Ontem, por meio da assessoria do PSDB, Eduardo Jorge disse que a empresa se ofereceu para prestar serviços. Sobre a solicitação de abertura de inquérito, disse que é uma relação da empresa com a Receita.
"Empresário" morava numa casa modesta
Único representante vivo da Gold Stone, Octavio Moia Claro leva uma vida humilde para um empresário que presta serviços para grandes partidos e candidatos à Presidência. A reportagem foi ao endereço que Octavio informou ao fisco e no qual morou até meados de 2007, segundo vizinhos: uma pequena casa de fundo, mal conservada, no Jardim Colombo, bairro de classe média baixa em São Paulo.
A nova moradora da casa, Suely Colombo, mostrou as correspondências dos antigos inquilinos. Havia várias cartas de 2008, como contas de telefone celular para Maria Magdalena Paradela Claro, mulher de Moia, morta no começo de 2006. Em seu depoimento à Receita, Moia disse que havia se separado de Maria Magdalena em 1999. Segundo os proprietários da loja vizinha Atacado dos Games, Luiz Carlos e Eliza Roque, eles moraram juntos até ela morrer.
"Era um sujeito simples. Tinha um carro bem velho, um Suzuki todo quebrado, que soltava óleo. Às vezes, nem funcionava. Um dia, quebraram o vidro para tentar roubar, mas o carro não pegou", disse Luiz. "Era uma pessoa humilde, muito boa. Pouco antes de morrer, ela estava muito feliz, pois havia arrumado um emprego. Mas a doença foi muito rápida. Ela morreu pouco tempo depois de saber que estava doente", disse Eliza sobre Maria Magdalena.
Moia disse também aos fiscais que o endereço da Gold Stone registrado no fisco "não é e nunca foi sede" da empresa, mas sim a residência de sua filha, Amanda Paradelo Claro. A reportagem foi até lá, onde hoje está instalada a loja Plena Cor Tintas, na movimentada avenida Cerro Corá. O imóvel, de um pavimento, é tipicamente comercial, bem à beira da rua. Dificilmente uma pessoa fixaria residência naquele local. Hélio Manzo, gerente da loja, sogro do dono, disse que a Plena Cor Tintas está instalada ali há cinco anos. Como em junho de 2006 Moia disse que sua filha morava lá naquela ocasião, as datas não batem. A Plena Cor já estava ali fazia três anos.A Folha não conseguiu localizar nem Moia nem Amanda. Vizinhos de Moia em Jardim Colombo lembram de tê-lo ouvido dizer que iria morar com uma filha em outro Estado .Aqui para assinante
A casa do tucano ja estava caindo ha muito tempo, só que os jornais não mostravam