O momento do Brasil desempenhar um papel importante nas exportações de software e serviços relacionados "está chegando de forma assustadora", diz o brasileiro que é responsável por desenvolvimento de estratégias de terceirização da indiana Infosys nos Estados Unidos, Humberto Andrade. O executivo tem autoridade para falar disso. Há dez anos nos Estados Unidos, para onde foi para fazer especialização em administração de negócios (MBA), Andrade foi contratado por uma consultoria de TI, quando conheceu os principais executivos da indústria de terceirização de TI mundial, e acabou contratado pela Infosys em 2002.
Hoje ele é responsável na indiana por conversar com os conselheiros de negócios - que direcionam as empresas que compram serviços de terceirização aos provedores -, além de trabalhar no atendimento a contratos de valores acima de US$ 50 milhões e cinco anos de duração.
A Infosys é a segunda maior indiana do segmento, só atrás da Tata Consultancy Services (TCS). "Mas somos a maior se excetuarmos os contratos que TCS presta dentro do grupo Tata", diz. O crescimento da empresa vem se mantendo em cerca de 35% anualmente. Quando Andrade chegou, ela faturava US$ 1,6 bilhão, e, no ano passado, ultrapassou os US$ 4 bilhões. Mantendo o ritmo, como é a meta global, este ano ela terá US$ 5,5 bilhões e vai passar os US$ 6 bilhões em 2009.
"Vendo de fora do dia-a-dia, vejo as oportunidades para as empresas brasileiras, que ficam discutindo muitas questões, como o custo da mão-de-obra, e têm de se mover agora se quiserem exportar", diz. "O investimento para chegar na Europa é alto. A empresa precisa decidir se isso vai ser prioridade, até porque o mercado brasileiro também tem oportunidades." Ele revela que na Índia vender fora era a única opção, tanto que, com 27 anos de atuação, a Infosys começou a buscar contratos no próprio país apenas em setembro do ano passado.
"As brasileiras devem continuar explicando ao governo que precisam de flexibilidade para a contratação e demissão de pessoas", reconhece. "Mas mesmo com a mão-de-obra mais cara [em relação à Índia e outros países em desenvolvimento], há áreas em que os brasileiros são os melhores do mundo."
Ele cita os serviços relacionados a mainframe (grandes servidores). Outras áreas de qualidade local são os serviços para manutenção de sistemas de gestão, e o conhecimento nos setores financeiro e de telecomunicações, diz. Segundo Andrade, um projeto como o de pagamento pelo celular, criado pela Oi poderia ser exportado aos Estados Unidos, mas como a operadora ainda está muito voltada a sua atuação em São Paulo, vender no exterior é apenas "a sétima ou oitava prioridade".
"O mercado de terceirização de TI movimenta US$ 50 bilhões, com potencial para US$ 600 bilhões. Em 2010, será de US$ 100 bilhões, dos quais a Índia quer ter entre 70% e 80%", diz. "Os pequenos nichos de mercado representam mais de US$ 1 bilhão."
Enquanto a TCS já tem operações crescentes no Brasil, para utilizar mão-de-obra e buscar contratos locais, a Infosys estuda o País, mas Andrade prefere ainda não dar detalhes. O grande centro da América Latina vem sendo montado em Monterey, no México, como forma de atender aos 40 milhões de pessoas que falam espanhol nos Estados Unidos.