A menos que um fato novo e relevante ocorra até maio, a eleição de São Paulo será decidida entre Geraldo Alckmin, Marta Suplicy e o atual prefeito Gilberto Kassab. A prefeitura paulistana é o troféu que realmente importa. Os três entram com a obrigação de ganhar, pois está em jogo bem mais que a sorte de cada candidato. Nunca antes uma disputa municipal envolveu tanto o destino dos partidos.
Sem Lula da Silva em 2010, o PT precisa retomar uma cidade cuja conquista, em 2000, foi o marco de uma trajetória ascendente até a Presidência da República. Os antigos pefelistas, atuais Democratas, têm no comando da cidade a chance de se transformar efetivamente em partido, e o PSDB, manter um espaço a duras penas reconquistado por José Serra em 2004.
A indicação de Alckmin é irremediável: José Serra não tem como dizer não a uma candidatura favorita, segundo as pesquisas, em defesa da aliança com Kassab.
Com Alckmin no topo, o que Serra pedia também era muito. Nenhum candidato que acha que vai ganhar uma eleição quer sair da disputa; Alckmin, nem mesmo quando tudo indica que vai perder, como bem deixou demonstrado na eleição de 2006, quando as pesquisas de opinião indicavam José Serra com mais chances numa disputa com Lula.
No quadro atual, a pergunta é se Gilberto Kassab será candidato. Atrás do tucano e da petista na pesquisas, mas com a reprovação de seu governo em baixa acentuada, Kassab só deixará de reivindicar a reeleição na iminência de um grande desastre eleitoral, o que, por enquanto, não parece ser o caso.
A expectativa de uma acomodação tucano-democrata é cada vez menor nos cálculos que o prefeito faz para se reeleger.
Alckmin se impõe outra vez a Serra no PSDB
Serra mais uma vez perdeu de Alckmin uma disputa na máquina partidária, isso é certo, por enquanto. Mas está fora de cogitação a hipótese de o governador pedir para o prefeito desistir de tentar a reeleição a fim de facilitar a evolução de Geraldo Alckmin.
Kassab, que nunca concorreu a uma eleição majoritária, portanto, é candidato: ele tem legenda para concorrer, independe da máquina do PSDB e o antigo PFL entra num jogo de vida ou morte na sua primeira eleição com a marca DEM.
São Paulo é crucial para o Democratas. Os ex-pefelistas já venceram duas vezes no Rio - onde agora não têm favoritismo, mas devem passar para o segundo turno, na eleição de outubro -, ainda têm presença forte no Nordeste e boas alianças em outros estados. Mas sempre foram um fiasco em São Paulo. Agora têm o efetivo controle da capital. Kassab pode alavancar a eleição de uma boa bancada de vereadores. A pergunta que se faz é se o DEM vira um partido ou permanece caudatário, como era o PFL.
A situação será delicada também na esfera do Partido dos Trabalhadores, se Marta Suplicy não ganhar a eleição de outubro. Uma das grandes dificuldades de Lula antes de se eleger presidente, sempre fora superar uma barreira chamada São Paulo. Quando Marta venceu a eleição para a prefeitura paulistana, em 2002, mostrou que era viável Lula ganhar a Presidência da República, dois anos mais tarde.
Em São Paulo é que a crise moral do PT, do mensalão à "Operação Vedoin", foi mais sentida. É certo que Marta não gostaria de ser candidata nas eleições municipais. Trata-se de um desafio que ela já enfrentou. O que ela quer é governar São Paulo ou até disputar a Presidência da República. Mas só Marta é que tem votos em São Paulo num volume suficiente capaz de fazer diferença nas pesquisas.
Geraldo Alckmin é outro candidato que entra com a obrigação de vencer a eleição. Se perder, vai comprometer um espaço que os tucanos deram duro para reconquistar. Além disso, é a segunda vez que Alckmin se impõe a Serra numa disputa interna: o ex-governador continua forte em São Paulo, como demonstram as pesquisas de opinião.
Aos poucos, Alckmin convence a cúpula do PSDB que uma eleição com os três candidatos é melhor para o partido. Nos cálculos do tucano, ele e Marta passam para o segundo turno. Uma aliança com o DEM e outras siglas, então, fará a diferença. É possível, apesar das seqüelas que estão sendo semeadas antes mesmo das convenções partidárias. Na disputa paulistana, ninguém está em situação confortável.