O Banco Central (BC) voltou ontem a comprar dólares no mercado à vista, pela segunda vez em menos de uma semana. Mas, como na sexta-feira passada, a intervenção não conseguiu segurar as cotações. A taxa de câmbio caiu ainda mais após a ação da autoridade monetária e fechou com queda de 0,44%, a R$ 2,059. Segundo estimativas das mesas de câmbio, teriam sido adquiridos cerca de US$ 100 milhões. A ida do BC às compras foi novamente motivada pela forte oferta de dólares no mercado. Estrangeiros interessados nas ações e títulos brasileiros e exportadores são os principais responsáveis pela entrada dos recursos, que se acentuou nos últimos dias. A intervenção do BC ocorreu por volta das 15h30 e os dólares foram comprados por R$ 2,0607. O valor foi 0,85% menor que o pago pela própria autoridade monetária no leilão da sexta-feira. Minutos após a operação, o dólar caiu um pouco mais e fechou o dia próximo da mínima de R$ 2,052.O gerente de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel, avalia a atuação como "necessária para tentar evitar distorções nas cotações". "Se o BC não tivesse atuado desde a semana passada, o dólar já poderia estar abaixo de R$ 2." Segundo ele, o principal problema criado pela queda brusca é o "travamento" dos negócios, já que as empresas temem fechar contratos diante da possibilidade de uma cotação mais vantajosa no dia seguinte.
Entre analistas, o ingresso de investidores para o mercado acionário e de renda fixa é explicado pela "janela de oportunidade" criada pela recente melhora das condições de mercado. Essa relativa tranquilidade permitiu, por exemplo, a emissão brasileira de US$ 750 milhões no mercado internacional na semana passada. Originalmente, seriam US$ 500 milhões, mas a demanda foi maior e o Tesouro Nacional aumentou a oferta. No comércio exterior, o ingresso tem sido motivado por uma ligeira reação das vendas e pelo chamado "movimento manada" de algumas empresas. Ao acompanharem a queda das cotações, exportadores com dinheiro em caixa correm para vender os recursos e colocam os dólares a qualquer preço com medo de que as cotações possam cair ainda mais nos próximos dias.
As intervenções do BC no mercado de câmbio começaram há uma semana com a compra de US$ 3,4 bilhões no mercado futuro. Na sexta, foi feita compra de dólar no segmento à vista pela primeira vez desde 10 de setembro de 2008. Em nota, o BC disse que o objetivo da estratégia é reforçar as reservas internacionais, atualmente em US$ 201,9 bilhões.