Enquanto o fluxo cambial registrou em abril o melhor resultado desde setembro do ano passado, segundo dados do Banco Central a Bovespa teve a maior entrada de investimentos estrangeiros em um ano. Para especialistas, os números mostram o potencial do país para depois da crise. Em Washington, o FMI divulgou estudo segundo o qual os países da América Latina e do Caribe retomarão o crescimento mais rapidamente do que as economias desenvolvidas.
Abril registrou maior saldo positivo no fluxo cambial desde setembro de 2008, com US$ 1,43 bi
O fluxo cambial em abril registrou saldo positivo de US$ 1,43 bilhão, no melhor resultado desde setembro de 2008, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. Paralelamente, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou em abril a maior entrada de investimentos estrangeiros em um ano, com saldo positivo de R$ 3,778 bilhões.
Para o analista André Luiz Sacconato, da Tendências Consultoria, os resultados positivos já representam uma sinalização do potencial do Brasil no cenário pós-crise, embora seja cedo para afirmar que haja um real direcionamento de capital estrangeiro para o país, ou que estejamos próximos do fim da turbulência.
– O leilão de swap reverso efetuado pelo Banco Central na segunda-feira já havia sinalizado uma mudança nos rumos da política cambial – diz Sacconato. – Como o BC tem informações privilegiadas, isso pode significar que a entrada de capital continuará alta. Estamos experimentando, talvez, indícios do novo posicionamento do Brasil na economia mundial.
O bom resultado cambial em abril deveu-se ao fluxo comercial, positivo em US$ 4,917 bilhões. Já o fluxo financeiro registrou perdas de US$ 3,487 bilhões, no 13º mês consecutivo de resultado negativo. No acumulado do ano o fluxo cambial mantém-se negativo em US$ 1,544 bilhão.
– O cenário ainda está complicado, mas com algumas boas notícias o mercado reage. Tivemos a nova queda nos juros, boas notícias na China e nos EUA, mas não dá ainda para afirmar que não teremos mais volatilidade – avalia o professor Paulo Di Blasi, do Ibmec-RJ.
O setor financeiro tem déficit acumulado de US$ 12,968 bilhões, enquanto a parte comercial registra superávit de US$ 11,424 bilhões.
Bolsa
O balanço mensal do pregão da Bovespa mostra que investidores estrangeiros fizeram em abril compras de R$ 37,01 bilhões e vendas de R$ 33,232 bilhões.
O saldo positivo de R$ 3,778 bilhões da Bovespa representa mais que o dobro do registrado em março, de R$ 1,44 bilhão, o que levou o Ibovespa – o termômetro dos negócios – a alcançar a maior valorização mensal desde maio de 2008.
O gerente de operações da corretora Um Investimentos, Rodrigo Cunha da Silveira, acredita que o resultado mostra que os investidores consideram o período atual adequado para reposicionarem o capital retirado no ano passado, no auge da crise. Segundo o especialista, essa realocação destina investimentos aos aos países emergentes, em especial a China, mas ainda é preciso confirmar a sustentação da liquidez no mercado mundial.
– O mercado antevê uma série de negócios, mas ainda tem muita água para passar debaixo da ponte – diz Silveira.
Sacconato, da Tendências, acrescenta que o aumento dos recursos vindos de fora sugere que os investidores estrangeiros agora veem o Brasil como um país mais estável. Já o professor Di Blasi destaca que o mercado caiu consideravelmente desde o início da crise, e uma recuperação era esperada cedo ou tarde.
Período favorável
O resultado da Bovespa só não superou abril do ano passado, quando as compras dos investidores estrangeiros superaram as vendas em cerca de R$ 6 bilhões. Esse número, entretanto, pode ser considerado, segundo especialistas, um ponto fora da curva, pois foi um mês marcado pela conquista do grau de investimento pelo Brasil junto às agências de classificação de risco.
Abril foi o terceiro mês consecutivo em que as compras de papéis por parte dos estrangeiros superaram as vendas, após a significativa saída de recursos externos registrada desde meados do ano passado. O saldo acumulado no ano de investimento internacional chega a R$ 5,11 bilhões. É o valor mais alto para o período desde 2005, e mais de 20 vezes superior aos R$ 225 milhões acumulados em investimentos estrangeiros na Bovespa entre janeiro e abril do ano passado.
