Os países emergentes, com China e Brasil à frente, foram os destaques da reunião bimestral dos presidentes de bancos centrais, encerrada ontem, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), em Basileia, na Suíça. O encontro, descrito como "o mais otimista em um ano", sobre o futuro do crescimento mundial, foi marcado pelos elogios aos dois países, que já teriam superado o "ponto de inflexão" da crise econômica.
As constatações foram feitas por diferentes autoridades monetárias que participaram das reuniões de domingo e ontem e confirmadas pelo presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles. Para os banqueiros, o estado da economia mundial ainda inspira cuidados, mas os chamados "sinais antecipados" - indicadores econômicos parciais - da China e do Brasil despertaram o clima positivo nas análises.
O primeiro a ressaltar que a economia global pode estar iniciando o período pós-crise foi Jean-Claude Trichet, presidente do BC Europeu (BCE). Falando na condição de presidente do comitê de autoridades monetárias do BIS, ele afirmou que há um consenso de que a crise começa a ser revertida.
"No que se refere ao crescimento, estamos próximos do ponto de inflexão", disse, referindo-se à queda do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre de 2008 e no primeiro trimestre deste ano. "Em alguns casos, já se vê a retomada; em outros, a queda continua, mas em ritmo mais lento."
Indagado sobre a situação de países emergentes, como China e Brasil, Trichet argumentou que, como de praxe, não comentaria a situação específica de nenhum país, mas a seguir afirmou: "Eu diria, sobre o conjunto das economias emergentes, que algumas estão muito perto do ponto de inflexão e outras já estão além do ponto de inflexão". Ele lembrou ainda que esses países já haviam provado a grande capacidade de resistir à crise.
O presidente do BC saudita, Mohammed al-Khaser, confirmou que os elogios feitos aos países emergentes no BIS se referiam à China, ao Brasil, à Índia e ao seu próprio país. "Esses são os países emergentes que já começaram a inverter a curva do crescimento do PIB", afirmou al-Khaser. "Foi a reunião mais otimista em um ano."
MEIRELLES CONCORDA
Henrique Meirelles confirmou a avaliação positiva das autoridades monetárias sobre Brasil e China, mas ressaltou que o momento ainda é de incertezas. "Não há dúvidas de que há sinais de que as economias dos países industrializados começam a desacelerar as quedas e o ponto de inflexão pode estar chegando", disse, resumindo o teor das discussões no BIS. "Brasil e China são considerados os grandes sinais de que o mundo pode estar se aproximando da inflexão."
Meirelles não quis mencionar os sinais da tendência de aquecimento da economia brasileira, mas acabou citando o consumo de energia e a venda de veículos. "O que foi enfatizado é que o Brasil dá sinais antecipados, na margem (desempenho de um mês ante o mês anterior), mas ainda não são dados consolidados."
Quatro medidas adotadas por Brasília após o início da crise teriam sido avaliadas positivamente pelas autoridades monetárias: empréstimos de reservas para empresas privadas, que totalizam até aqui US$ 23 bilhões; liberação de depósitos compulsórios para pequenos e médios bancos; redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis; e a injeção de US$ 33 bilhões pelo BC no mercado de derivativos (contratos de swap). "Esses foram casos de sucesso analisados pelos presidentes de BCs", disse Meirelles.