A volta do ingresso líquido de dólares no Brasil, associada ao desmonte de posições dos estrangeiros no mercado futuro de câmbio, patrocina o mais recente ciclo de desvalorização da moeda norte-americana frente ao real. Neste ano, a divisa acumula baixa de 9,23%, negociada ontem a R$ 2,11.
Na BM&F, os investidores estrangeiros que passaram meses na posição “comprada”, apostando na alta do dólar, agora estão “vendidos” em US$ 1,237 bilhão, em uma clara aposta na volta dos fundamentos que favorecem o real. Já o fluxo de dólares para o País ficou positivo em US$ 1,43 bilhão em abril, o melhor resultado desde setembro de 2008.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apesar de destacar a melhora no ambiente externo e a volta do fluxo positivo de dólares, mantém a cautela. “Não devemos confundir isso com o fim da crise.
Sabemos que não é assim, e ainda tem muito trabalho pela frente”, advertiu.
Fluxo cambial positivo em abril, o maior desde setembro, colabora para a alta do real
A melhora no ambiente externo — com a volta do ingresso líquido de dólares no País — associada ao desmonte de posições dos estrangeiros no mercado futuro de câmbio patrocinam o mais recente ciclo de desvalorização da moeda norte-americana frente ao real.
Neste ano, a divisa acumula baixa de 9,23%, negociada ontem a R$ 2,11. Desde que o dólar atingiu seu pico no patamar de R$ 2,50 nos momentos mais dramáticos da crise, vem ocorrendo uma melhora gradual na percepção de risco do investidor estrangeiro.
A saída de dólares do País, que chegou a US$ 7 bilhões em novembro, foi sendo lentamente estancada. Além de o fluxo cambial ter voltado a ser positivo, a confiança de que os fundamentos do Brasil irão prevalecer — o que é favorável ao real — levou estrangeiros a reverterem suas posições no mercado futuro.
“As posições especulativas contra o real começaram a ser desfeitas em março e foram praticamente encerradas no final do mês passado.
E isto só não foi feito antes porque faltava liquidez no mercado”, comenta o economista Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da corretora NGO. “Desde 9 de março, quando o fluxo de dólares para o País voltou a ser positivo, a certeza do investidor estrangeiro de que o câmbio não seria um problema reforçou as apostas no real, que vem se recuperando.” Desde o acirramento da crise global, em setembro passado, as posições dos estrangeiros em dólar futuro, que até então eram “vendidas” — aposta na queda do dólar — foram alteradas. Os estrangeiros passaram a exibir posições “compradas” em dólar futuro, uma aposta na alta da moeda americana. O mercado vê, agora, o retorno das posições vendidas em dólar futuro. Dados mais recentes da BM&F mostram os estrangeiros vendidos em US$ 1,237 bilhões. Já a exposição líquida do estrangeiro — dólar futuro mais contrato de cupom DDI — ainda é comprada, mas vem sendo desfeita. Saiu de US$ 3,179 bilhões na segunda para US$ 2,48 bilhões ontem.
Para Nehme, o mercado de câmbio, após viver dois momentos de forte especulação — antes da crise em favor do real e depois contra a moeda local — experimenta agora um momento único.
“Tanto o dólar a R$ 1,50 quando a R$ 2,50 eram irreais, estavam fora do ponto de equilíbrio. Agora, depois de muito tempo, a cotação reflete de fato o fluxo de moeda para o País e caminha para o ponto de equilíbrio, que acredito seja entre R$ 2 e R$ 2,10”, diz.
Desde que a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro passado, o Brasil tem exibido mensalmente saídas líquidas de dólares do País. A situação começou a melhorar em fevereiro, quando o fluxo ficou positivo em US$ 841 milhões.
Em março voltou a ser negativo, com a saída de US$ 797 milhões. Já no mês passado, o ingresso de recursos superou a saída em US$ 1,43 bilhão, o melhor resultado desde setembro de 2008. O desempenho em abril foi conseguido com a diferença entre a entrada líquida de dólares via comércio exterior, de US$ 4,917, e saída financeira líquida de US$ 3,487 bilhões “A volta do fluxo positivo de dólares para o Brasil é decorrente da melhora no ambiente externo, que reduziu a aversão ao risco por parte dos investidores”, comenta Mario Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez. “A queda atual na cotação do dólar é um movimento saudável, fruto dos fundamentos do País que voltam a imperar”, diz Paiva, afirmando que o dólar deve enfrentar alguma resistência para cair abaixo de R$ 2,10.
O movimento recente de depreciação do dólar fez com que o BC voltasse a fazer um leilão de swap cambial reverso — espécie de compra de moeda no mercado futuro — após oito meses sem realizar esse tipo de operação. Na última segundafeira, o BC vendeu US$ 3,412 bilhões em swaps reversos. A operação, em que o BC para aos bancos a variação da Selic e recebe a variação do dólar, é questionada por Nehme.
“Se o BC quer segurar o dólar deveria atuar no mercado à vista, enxugando o excesso de liquidez.
Com a venda de swaps reversos, o BC acaba estimulando a volta de um movimento especulativo”, comenta.
“Na prática, quem compra os swaps reversos age no sentido de apreciar o real para obter duplo ganho, da Selic e da variação cambial implícitas nas transações.” Mario Paiva, da Liquidez, tem uma opinião diversa. “O papel do BC não é conter o dólar, mas evitar a excessiva volatilidade nos mercados que prejudica a todos”, diz. “Os leilões não impedem a queda na cotação, mas suavizam o movimento. É função do BC agir quando julgar necessário.”