O governo está preparando uma radiografia dos gastos e investimentos da máquina pública, desde o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para fazer a disputa política com a oposição. De olho nas eleições de 2010, Lula disse a auxiliares que, de posse do levantamento, desmontará "versões" sobre o inchaço da máquina pública em seus dois mandatos. O documento conterá dados sobre o número de contratações e até sobre crescimento salarial do funcionalismo público desde que Lula foi eleito pela primeira vez, em 2003.
Irritado com acusações de que seu governo montou uma "república de sindicalistas", o presidente quer que o balanço sirva de munição para os partidos da base aliada rebaterem os ataques do PSDB e do DEM na campanha eleitoral. Embora a radiografia ainda não esteja pronta, Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vão abordar o assunto amanhã durante reunião com o Conselho Político, formado por presidentes e líderes dos 14 partidos da base aliada.
"Não tem inchaço da máquina", garantiu o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, até agora o homem mais cotado para presidir o PT na campanha de 2010. Carvalho conta com o apoio declarado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão de Lula, mas ainda não foi liberado pelo presidente para a tarefa.
Dados preliminares sobre as contas públicas - investimentos, repasses a Estados e municípios, despesas de custeio e pagamento de funcionalismo - foram apresentados ontem a Lula na reunião da coordenação do governo pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Reportagem publicada ontem pelo Estado mostrou que, de dezembro de 2002 a fevereiro deste ano, o crescimento dos salários do setor privado foi de apenas 8,7% em termos reais - descontada a inflação -, enquanto a remuneração média dos servidores públicos, no mesmo período, atingiu patamar 8,5 vezes maior, chegando a 74,2%.
"O presidente quer que todos tenham conhecimento sobre os dados do governo", insistiu o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. No encontro de amanhã com líderes dos partidos que compõem a coalizão governista, Lula vai mais uma vez tentar juntar os aliados, divididos em intermináveis disputas por cargos, verbas e prestígio.
A maior preocupação do presidente é atrair o PMDB para o palanque de Dilma, mesmo que seja necessário sacrificar candidatos petistas a governos estaduais. Depois das cobranças de Lula e da própria Dilma, a cúpula do PT baixou resolução na sexta-feira suspendendo a definição de candidatos do partido nos Estados até fevereiro de 2010, para facilitar a montagem dos palanques.