sábado, 5 de dezembro de 2009

Durval, um homem perfeito para o crime

O homem certo no lugar certo. Para quem desejava montar um esquema de corrupção aos moldes do Mensalão do Demo, Durval Barbosa era o operador perfeito, com todas as qualificações que a posição exigia. Delegado aposentado da Polícia Civil, Durval tem experiência de sobra com o crime organizado. Desde a década de 1980, quando esteve à frente da Polícia Especializada, ele era o responsável por todas as delegacias importantes da capital federal, como as de homicídios, entorpecentes e roubos e furtos, por onde cruzavam as ramificações da alta roda do crime. Além da expertise, Durval tem uma personalidade perfeita para fazer render o ilícito: segundo um ex-colega da polícia, é “ousado e sangue-frio”.

O que o governador José Roberto Arruda jamais percebeu é que Durval, de acordo com o mesmo policial ouvido por ISTOÉ, era um ás da investigação. E esse trunfo na manga o delegado soube sacar na hora certa. Mas esses são apenas alguns dos atributos de Durval que podem ter seduzido Arruda. Há outros ainda mais importantes para a finalidade do serviço prestado. Sua família é uma das que mais concentram informações sobre o que se passa no submundo dos Três Poderes. O irmão de Durval, Milton, é delegado aposentado e elegeu-se deputado distrital pelo PSDB. Só que, ao contrário de Durval, é tímido, pacato e tranquilo. Milton foi diretor-geral da Polícia Civil. Durval, portanto, tem acesso – mesmo que informalmente – a investigações sobre quase todos os crimes de Brasília. Tem ainda ligações com o doleiro Fayed Traboulsi. O braço direito de Durval, Marcelo Toledo, já dividiu escritório com Traboulsi.

Arruda deve ter avaliado também o currículo de Durval, pois sua atuação já era notória desde o governo de Joaquim Roriz. Boa parte das 33 ações que responde na Justiça e que o levaram a optar pela delação premiada teve origem no governo Roriz, quando presidiu a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central, um dos eternos focos de corrupção do Distrito Federal. A empresa foi criada para fazer pesquisas e projetos, mas descambou para a área dos polpudos contratos de informática. Na Justiça, ele é alvo de ações por dispensa de licitação, formação de quadrilha e improbidade. No início do ano, foi condenado por improbidade administrativa, mas Arruda, mesmo assim, o manteve no governo. ISTOÉ apurou que o volume de recursos desviados na gestão de Durval chegaria perto de meio bilhão de reais. No governo anterior, uma das mais rumorosas ações contra Durval é pelo seu envolvimento na compra de urnas eletrônicas falsas que ensinariam o eleitor a votar em Roriz nas eleições de 2002.

Foi durante a gestão de Roriz que o delegado passou a fazer negócios obscuros com o Instituto Candango de Solidariedade, uma organização pela qual teriam sido desviados cerca de ­R$ 2 bilhões. Durval contou aos promotores Clayton Germano e Sérgio Bruno Fernandes que, com o aval de Roriz, começou a atuar nos bastidores para que Arruda conseguisse recursos para a eleição em 2006. Além do Instituto Candango, ele ajudou o novo pupilo a criar ramificações dentro do Banco de Brasília, da Companhia de Eletricidade de Brasília e do Metrô. Segundo o Ministério Público, Durval aparelhou os órgãos públicos com maior potencial para arrecadar.

Na campanha de Arruda de 2006, Durval ajudou o governador a montar seu staff. Parte da estrutura serviu para a campanha de Roriz ao Senado. Conforme apurou ISTOÉ, o homem-bomba do DF decidiu denunciar a corrupção porque sentiu que Arruda queria alijá-lo do governo. O delegado achou que não recebeu o apoio necessário quando foi indiciado pela CPI das Escutas Ilegais. As pressões familiares também pesaram na decisão de denunciar o esquema. Durval disse aos promotores que sua esposa não entendia por que se falava de tanto dinheiro desviado por ele se ela vivia “limitada financeiramente”. Durval também não se conformou em ver a filha, Júlia, de cinco anos, reclamar que os coleguinhas a chamavam de “filha de bandido”. Foi aí que Durval decidiu mostrar a Arruda que ele, talvez, não fosse o homem tão apropriado para pagar sozinho uma conta coletiva.IstoÉ

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