domingo, 6 de dezembro de 2009

A vez dos panetones



Pelo menos para a população, que tem que amargar a impunidade dos envolvidos. O recente escândalo político que invadiu o cenário nacional há pouco mais de uma semana - o "mensalão" do DEM no Distrito Federal - resolveu inovar e trouxe à cena o panetone. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, foi flagrado em gravações da Polícia Federal recebendo R$ 50 mil. O dinheiro, segundo investigações da PF, vinha de empresas que tinham contrato com o governo e era destinado ao pagamento da base aliada em troca de apoio.

Flagrado, Arruda disse que o dinheiro seria usado para comprar panetones.

As justificativas para os maços de dinheiro não declarados seriam graciosas, não fossem bizarras. Mas uma coisa não dá para negar: os escândalos, de maneira geral, são saborosos. Em 2005, quando José Adalberto Vieira da Silva foi preso com R$ 440 mil na cueca, afirmou que o dinheiro era fruto da venda de verduras. Para quem não lembra também teve o mensalão do PSDB do senador Eduardo Azeredo, seguido pelo mensalinho do Severino Cavalcanti.

Este último, aliás, é duplamente saboroso. Começou e terminou em comida porque surgiu com a extorção mensal que Severino, então presidente da Câmara dos Deputados, impunha ao empresário que tinha a concessão dos restaurantes da Casa. E terminou em pizza. Afinal, Severino não foi cassado. Renunciou ao mandato para não perder os direitos políticos. E não perdeu.

A vitória de Severino em João Alfredo é só um fato entre milhares que levam a população brasileira a não confiar na punição de políticos que se envolvem em esquema de corrupção, mas o brasileiro não perde o bom humor. Por isso, já circulam na internet o e-mail intitulado "o novo rei de Brasília". A mensagem eletrônica traz uma foto do governador Arruda com uma coroa de panetones.

Possivelmente para tentar provar o que falou, Arruda licitou a compra de panetones exatamente no dia em que a PF deflagrou a operação. A licitação prevê a compra de 120 mil panetones para serem doados para pessoas carentes. Os R$ 50 mil recebidos por Arruda na gravação de Durval seriam suficientes para comprar cerca de 12 mil.

A quantidade é pequena perto do que daria para comprar com os recursos que correram em outros mensalões.

Só com o que foi encontrado na cueca de Adalberto, daria para comprar 88 mil panetones. Por falar em cuecas, é preciso lembrar que Enivaldo quadrado, um dos réus do mensalão, foi preso no ano passado, no aeroporto de Cumbica (SP), com cerca de R$ 1,2 milhão na roupa de baixo. O dinheiro daria para comprar 240 mil panetones para o papai-noel entregar a todos os habitantes de Ceilândia, cidade mais populosa do Distrito Federal.

Ainda é pouco perto do que poderia ser adquirido apenas com o dinheiro dos 38 carros apreendidos pela Polícia Federal durante a operação Navalha, que desbaratou um esquema de corrupção que fraudava licitações de obras públicas. Se fossem transformados em panetones, os R$ 2,5 milhões - valor dos 38 carros - comprariam 500 mil unidades do produto. O mensalinho de Severino, mais singelo, cerca de R$ 10 mil por mês, daria para comprar dois mil panetones. Ao final do ano, 24 mil.

O suficiente para agraciar todas as famílias de João Alfredo.

No Distrito Federal, parte da população faz piada da situação. A outra, menor que a primeira, manifesta publicamente a sua indignação porque não quer que o esquema corrupto que envolve um terço da Câmara Legislativa termine em pizza. Ou melhor, em panetone. Afinal, já é natal.

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