O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis expor a delegação do País ao fracasso que se anunciava em Copenhague e trouxe consigo de volta para o Brasil não apenas os ministros que haviam ido a Copenhague para defender os interesses brasileiros, mas também todos os altos representantes das negociações por parte do Brasil. Até mesmo o negociador-chefe brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, deixou a conferência pouco depois das 21h, convocado por Lula.
Nos bastidores, a informação que circulava é que Lula preferiu poupar Figueiredo, um negociador internacionalmente respeitado, de se comprometer com um acordo que não atende a maioria das reivindicações brasileiras. Para encerrar as negociações restaram o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o número dois entre os negociadores, André Carvalho, e mais alguns delegados.
Os negociadores viraram a madrugada no plenário da Organização das Nações Unidas (ONU) para tentar dar forma ao acordo político firmado pelos países emergentes - Brasil, África do Sul, China e Índia - e os Estados Unidos. Na falta de uma solução melhor, a União Europeia endossou a proposta, mas não sem lamentá-la. "Foi o único acordo possível em Copenhague", disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, antes da abertura da sessão para a votação.
A Europa, que apareceu em Copenhague com propostas ambiciosas, como a redução de 30% das emissões até 2020, saiu de mãos vazias e ainda como coadjuvante de um acerto orquestrado por Estados Unidos e China - justamente os dois maiores poluidores do planeta.
O presidente americano, Barack Obama, chegou a admitir que não adiantava fixar as metas de 2050 se os Estados Unidos não poderão cumprir. "A respeito das metas de redução que estão sendo negociadas, nós sabemos que elas não serão suficientes por si mesmas de acordo com o que nós precisamos até 2050. É por isso que digo que isso está sendo um primeiro passo", afirmou Obama.
Pobres unidos, e em fúria
A manobra deixou furiosos os países pobres, excluídos do processo. Comandados pelo Sudão, que exerce a presidência do G77 (grupo dos países em desenvolvimento), se recusaram a endossar a proposta que não prevê nenhuma meta de redução de emissões, nem compromissos formais com a diminuição do aquecimento global. Até mesmo a meta de redução global de 50% das emissões de CO2 por parte dos países até 2050 acabou sendo derrubada - a maior discussão das duas semanas de conferência era a redução até 2020, algo que não chegou nem perto de um acordo mundial.
Aliados do Brasil, mas adversários declarados dos Estados Unidos, países latino-americanos se juntaram ao protesto dos africanos. Venezuela, Bolívia, Cuba, Costa Rica e Nicarágua também anteciparam que não assinariam o tratado.
O "Acordo de Copenhague" - que, apesar de não nascer do consenso, será chamado desta forma e especificará exatamente quais países aderiram - propõe em três páginas a criação de um fundo de U$S 100 bilhões até 2020 para as ações de mitigação nos países pobres, mas não estabelece nenhum compromisso ou cronograma de ação. As nações se comprometeram a continuar discutindo o tema, deixando o acordo definitivo para 2010.
COP-15
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, de 7 a 18 de dezembro, que abrange 192 países, se reuniu em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo era traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto.