O consultor em engenharia urbana Luis Célio Botura, 69 anos, afirma que a calha do Tietê está com metade da capacidade comprometida. Em 2006, a vazão era de 1.000 m3 por segundo. Hoje, esse número diminuiu para 500 m3 por segundo. "A calha está muito comprometida. Hoje, o rio recebe mais água do que pode suportar. Para escoar tanta água, é preciso manter a calha limpa e ter piscinões. É como varrer uma casa, tem que ser constantemente. Por sorte, há bocas de lobo e outras pequenas piscinas na cidade que ajudam a conter a chegada da água no rio. O problema é que eles também estão entupidos", critica.
Botura lembra que, nessa época do ano, o aumento de obras na cidade piora o risco de alagamento. "A quantidade de sujeira e entulho das obras acaba indo para o rio. O assoreamento (lixo que se acumula no fundo do rio) nessa época é ainda pior.
O engenheiro Julio Cerqueira Cesar Neto, 80 anos, professor aposentado da Escola Politécnica da USP, prevê enchentes mais catastróficas para São Paulo nos próximos meses. "Estamos no período de estiagem. De agora em diante é que começam as grandes vazões. Mais enchentes estão por vir no verão", diz o professor.
Para ele, há dois problemas com a cheia do rio Tietê. O primeiro está relacionado com o assoreamento do rio. "Como a água do rio transita muito devagar, quando ela chega à capital, a quantidade de material sólido que vai ao fundo deixa o rio com profundidade de 3 a 4 metros, quando seria necessária uma profundidade de 6 a 7 metros para dar vazão às águas", afirma César Neto. Para ele, o segundo problema está na limpeza da calha. "Hoje, retira-se 400 mil m3 de terra e sujeira do fundo do rio por ano. Seria preciso retirar, pelo menos, 2,5 milhões de m3 para manter o rio limpo", afirma. O plano inicial, segundo Cesar Neto, previa a retirada de 1.000 m3 de sedimentos do rio, por ano, o que não ocorreu. Nos dez últimos anos, esse número aumentou para 1.400 m3, o que também não ocorreu.
