quarta-feira, 30 de julho de 2008

Em campanha, mas a distância


Uma polêmica tomou conta da cidade de Padre Bernardo, distante 111km de Brasília. Candidato a prefeito, Wayne Faria (PSC) não mora no município. Há menos de dois anos, ele alugou a casa de um de seus coordenadores de campanha para fazer o registro da candidatura.

Wayne, 79 anos, é empresário em Brasília e foi prefeito de Padre Bernardo entre 1993 e 1997. Hoje, ele é dono de um hotel no Setor Hoteleiro Norte, onde fixou seu escritório de trabalho. Em setembro de 2006, alugou por 32 meses uma casa de Simonal Rosa de Freitas, seu aliado no município. Segundo o contrato, o valor total do aluguel é de R$ 13.500.

O Correio esteve ontem no imóvel e foi recebido por dois senhores que jogavam dominó. Um deles, José da Cruz Santos, disse que cuidava da casa para Wayne. Informou que o patrão aparece de vez em quando no local. “Uma hora está aqui, outra na fazenda. Ele fica pelo mundo”, disse.

Pelas ruas de Padre Bernardo, todos conhecem a amizade entre Wayne e Simonal. Ao ser encontrado pela reportagem, Ezequiel Rezende, vice na chapa de Wayne, conversava por telefone com Simonal. Tratavam de dinheiro. Indagado sobre o domicílio eleitoral do candidato a prefeito, Ezequiel admitiu a estratégia. “Ele fez isso para disputar a eleição, mas se ganhar vai continuar morando na casa”, disse. “Isso não tem nada a ver. A pessoa que quer administrar pode morar onde for”, defende.

Ezequiel já foi vice-prefeito de Padre Bernardo, justamente na gestão de um adversário deles nessa disputa: Cyro de Melo (PSDB). Ex-prefeito, Cyro agora tenta voltar ao cargo. E joga todas as fichas para derrubar Wayne: pediu à Justiça que a candidatura do adversário seja impugnada devido à polêmica em torno do domicílio eleitoral e também por ter tido contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Mas Cyro também tem seus problemas. Sua candidatura corre risco. Suas contas acabaram rejeitadas quando foi prefeito da cidade, entre 1997 e 2004. A Justiça Eleitoral deve decidir sua vida e de Wayne Farias até 16 de agosto. Enquanto isso, a campanha ainda não pegou para valer na cidade. Todos aguardam a manifestação dos pedidos de indeferimento.

Além dos dois, há outros três candidatos em Padre Bernardo: Dimazão (PT), Dr. Alfredo (PRB) e Professor Claudiênio (PR). Por enquanto, eles estão garantidos pela Justiça Eleitoral. E torcem para que Cyro e Wayne tenham suas candidaturas canceladas. O atual prefeito, Daniel de Fátima (PTB), preferiu não tentar a reeleição para apoiar Cyro de Melo.

O Correio procurou Cyro pela cidade. Não o localizou, mas deixou recado no seu telefone celular. O candidato não retornou até o fechamento dessa edição. Já Wayne Faria foi encontrado em Brasília, no seu hotel.

O candidato rebateu as acusações. Alegou que mantém seu título eleitoral desde 1986 em Padre Bernardo, e disse que não vê problemas em não residir na cidade. “As acusações são infundadas. Eu voto lá há mais de 20 anos. Meu título de eleitor é meu maior documento Aluguei a casa porque queriam que eu voltasse para lá”, disse. Ele garantiu ainda que vai morar em Padre Bernardo se vencer a disputa em outubro. “Eu vou morar lá. O desejo do povo é pela minha volta.”

Jurisprudência
Embora não more na cidade, Wayne pode ser beneficiado pelas recentes decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quando questionados, os ministros do TSE têm, na maioria das vezes, entendido que o domicílio eleitoral pode ser um local onde a pessoa tem vínculos políticos, sociais ou afetivos, sem a necessidade de instalar residência. No caso, Wayne já foi prefeito de Padre Bernardo e manteve seu título eleitoral no município.

FICHA TÉCNICA
Município de Padre Bernardo (GO)

Distância de Brasília 111km
População 26 mil
Eleitorado 15 mil
Candidatos a prefeito 5
Candidatos a vereador 112

Ajudinha da família

Na eleição em Padre Bernardo, a campanha é em família. Pelo menos dentro do PT. O candidato do partido à prefeitura da cidade, Antônio Odimar, o Dimazão, leva a tiracolo nas ruas seu filho, Kélvin Feliciano, que disputa uma das nove vagas da Câmara Municipal.

A arma de campanha é uma Kombi azul. O veículo será usado para divulgar as candidaturas e até fazer os comícios. Dimazão, aliás, se intitula o “candidato da vassoura”. “Vamos limpar a sujeira da cidade”, diz ele, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município.

Sujeira, porém, é o que não deve ter nessa campanha em Padre Bernardo. Assim como em outros municípios do Entorno, foi estabelecido um código de conduta entre todos os candidatos. Estão proibidos, entre outras coisas, pichação de muros, uso de faixas, cartazes, bonecos, e até mesmo camisetas para os cabos eleitorais.

E mais: não haverá propaganda eleitoral gratuita em rádio, nem pagamento de divulgação de candidatura na imprensa escrita. Carros de som serão permitidos somente até as 19h. Quem descumprir as regras terá que pagar multa de R$ 20 mil, valor que será destinado ao conselho da comunidade da cidade.


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