O inquérito que investiga crimes financeiros e tentativa de suborno supostamente praticados pelo banqueiro Daniel Dantas está longe de acabar. O procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelo caso no Ministério Público Federal (MPF), vai pedir uma série de diligências à Polícia Federal (PF) para apurar suspeitas que ainda não estão comprovadas. Segundo o procurador, a falta de condições oferecidas pela cúpula da PF e a saída do delegado Protógenes Queiroz do caso vão atrasar a conclusão do inquérito.
- Posso adiantar que vou pedir novas diligências. O tempo que isso vai demorar depende dos recursos que a Polícia Federal oferecer. Quanto mais recursos, mais rápido a gente termina - afirmou o procurador.
Segundo ele, o material recolhido pela PF no dia 8, quando a operação foi deflagrada, continua praticamente intocado devido à falta de pessoal e de equipamentos para analisar os documentos apreendidos.
- Não foi analisado praticamente nada, a não ser os documentos relacionados à acusação de corrupção ativa - informou o procurador.
Força-tarefa com CVM, Coaf, Receita e Banco Central
Entre os motivos para a demora no término do inquérito, está a saída de Protógenes.
- Essa saída provocou atraso - disse De Grandis.
O procurador pretende articular na semana que vem uma grande força-tarefa, com Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Receita Federal, PF, Banco Central (BC) e Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para analisar o material recolhido.
Fontes na PF informaram que, na quarta-feira à noite, depois das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considerou uma "questão de honra" a conclusão do inquérito, a cúpula da PF em Brasília colocou à disposição do chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, Ricardo Saadi, toda a estrutura necessária para o término da investigação.
O pedido de novas diligências significa que o delegado Protógenes não deve fazer o relatório final do inquérito, conforme foi cobrado pelo diretor do Setor de Combate ao Crime Organizado da PF, Roberto Trocon Filho, em reunião que selou o afastamento do delegado do caso, na segunda-feira.
Os pedidos do procurador também indicam que o ministro da Justiça, Tarso Genro, estava errado ao dizer que o inquérito estava "99,9% pronto".
Delegado já vira necessidade de desdobramentos
O próprio delegado relata, no inquérito, que encontrou indícios que precisarão ser investigados mais tarde, em futuras "pernas" do corpo inicial da investigação. É o caso, por exemplo, de um possível tráfico de influência em favor de Dantas, que teria sido promovido pelo ex-deputado e petista histórico Luiz Eduardo Greenhalgh com autoridades como a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff; com o governo do Pará, de Ana Júlia (PT), sobre aquisições de grandes áreas naquele estado; ou dos contatos de Greenhalgh com o secretário pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho.
Há ainda suspeitas de um suposto pagamento de propinas, envolvendo o advogado Wilson Mirza Araham, cujos pagamentos seriam fictícios e serviriam para o repasse de dinheiro. Há ainda uma suposta conexão do grupo de Dantas com o mensalão, já investigada em outra frente.
Outra perna da investigação são os doleiros denunciados dentro do grupo de Nahas. A primeira medida será o cruzamento de dados da Operação Satiagraha com o banco de dados do caso Banestado, investigado pelo MPF do Paraná desde 1997 e que resultou na CPI do Banestado, entre 2003 e 2004, segundo o MPF.
É preciso ainda investigar um esquema de mais de 700 empresas "de prateleira" - ou seja, de fachada - que seriam usadas por Dantas. O objetivo é descobrir o caminho do dinheiro que teria sido lavado no exterior pelo Opportunity Fund.