quinta-feira, 31 de julho de 2008

Para governo, inflação volta à meta no próximo ano


O governo já colheu os primeiros sinais positivos de desaceleração da inflação. Nas reuniões internas, as apostas são de que, até o fim de 2009, a inflação vai convergir para a meta de 4,5%. Avalia-se também que os recentes aumentos da taxa básica de juros (Selic) vão diminuir o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, mas não a ponto de provocar uma "tragédia" na economia.

A expectativa é que, mesmo com a alta dos juros, o PIB avance em torno de 5% neste ano e de 4% em 2009. "Se crescer 3,9% no próximo ano, não será uma tragédia", diz um ministro da área econômica, lembrando que o Brasil vem crescendo, de forma ininterrupta, há quase 20 trimestres.

O governo dispõe de informações de que a alta da Selic, que subiu de 11,25% para 13% ao ano entre abril e julho, e outras medidas adotadas pelo Banco Central (BC), como a instituição de um recolhimento compulsório sobre as operações de leasing para automóveis, já começaram a surtir efeitos. O compulsório retirou R$ 42 bilhões de circulação da economia. Além disso, informa um assessor graduado do governo, as elevações da alíquota do IOF sobre várias operações também ajudaram a aumentar o aperto monetário.

Havia uma forte preocupação na equipe econômica com os preços no atacado. Ontem, a Fundação Getúlio Vargas informou que, em julho, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) subiu 1,76%, mostrando desaceleração em relação ao mês anterior, quando havia registrado alta de 1,98%. O novo índice, que registra grande influência da variação dos preços no atacado, ficou abaixo das expectativas do mercado.

A esperança cultivada no governo é de que o Índice de Preços ao Atacado (IPA), que compõe o IGP-M, captará de maneira mais forte, nas próximas medições, o recuo dos preços das commodities. Em julho, o IPA teve variação negativa, fechando o mês em 2,20%. Especialistas consultados pelo governo crêem que tanto o IGP-M quanto o IPCA, o índice oficial do regime de metas para inflação, deverão recuar nas próximas semanas.

Embora considere positivos os sinais de que a inflação começa a ceder, o governo não vai comemorar abertamente os primeiros resultados. Dois ministros próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram a discutir a possibilidade de registrar publicamente o sucesso da política monetária, mas, depois, optaram pela "serenidade". "Vamos aguardar a consolidação desse quadro positivo", disse uma fonte.

Um possível recuo da inflação fortalece a posição do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, dentro do governo. Desde o início do ciclo de altas da taxa Selic, em abril, ele e sua equipe vêm sendo duramente criticados dentro e fora de Brasília. Na semana passada, quando o Copom decidiu elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, em vez de 0,5, como esperavam o Ministério da Fazenda e alguns analistas do mercado, o BC voltou a ser criticado em alguns setores do governo.

As críticas, segundo um ministro, não sensibilizaram o presidente Lula, que, preocupado com a alta da inflação e vendo na estabilização o seu principal ativo político, reiterou apoio à diretoria do BC. "Meirelles nunca esteve tão forte no cargo como agora", assegura um ministro próximo de Lula. "A diretoria do BC amadureceu nesses anos de combate à inflação e é assim que é vista pelo presidente."

Além de aliviar o ambiente político em Brasília, uma menor pressão inflacionária facilita a ação da autoridade monetária. Hoje, o BC divulgará a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada. No documento, explicará os motivos que o levaram a promover um aperto monetário maior que o esperado. Dificilmente, a ata sinalizará alívio para as próximas reuniões, mas confirmará que o BC estava certo quando, em março e abril, alertou para o risco de o cenário benigno da inflação não se confirmar.

"O BC estava certo. O melhor cenário não se materializou e as expectativas inflacionárias se deterioraram rapidamente", disse um assessor. O movimento mais forte de juros na última reunião do Copom foi um recado claro do BC aos agentes econômicos, algo como "lembrem-se de 2003", diz um ministro. Em 2002, a inflação chegou a dois dígitos no rastro do clima de desconfiança que se abateu sobre os mercados diante da eleição de Lula. Por causa disso, muitas empresas e bancos fizeram apostas no mercado futuro, acreditando que a inflação sairia do controle no primeiro ano da nova gestão.

Lula tomou posse, nomeou um ex-banqueiro para cuidar do BC e, contra a vontade do seu partido, o PT, autorizou o Ministério da Fazenda a elevar a meta de superávit primário das contas públicas. O BC aumentou fortemente os juros e a inflação desabou. "Quem apostou no descontrole inflacionário, perdeu dinheiro. Se apostar novamente agora, perderá mais uma vez", sustenta um ministro.



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