O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) sabe onde as corujas dormem. O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, nos velhos tempos de repórter de política, costumava dizer que sempre é bom prestar atenção no que ele fala. Poucos conhecem os bastidores das relações do governo Lula com o Congresso como ele. Nos discursos da tribuna ele manda recados para os adversários. “Ele é um boêmio da política”, dispara um de seus amigos, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), num misto de crítica e elogio. Em sua opinião, Heráclito se mete em confusão até por diletantismo. “Ele é capaz de pegar carona num jatinho só para comer uma buchada de bode em Petrolina (PE)”, explica Guerra.
Andar no jatinho de Daniel Dantas é uma das acusações contra Heráclito no relatório do delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha. Na eleição passada, foi abordado por policiais federais no interior do Piauí ao saltar do jatinho de Dantas. “Quebraram a cara, não sou um aloprado”, se diverte. “Fui apresentado a Dantas pelo Guilherme Sodré, que me ajudou no marketing de campanha”, justifica. Heráclito se diz próximo mesmo é do ex-marido de Verônica Dantas, Carlos Rodenburg. “Nossas filhas são muito amigas”, explica.
Foi a pedido de Rodemburg que Heráclito procurou o diretor da Agência Brasileira de Inteligência(Abin), Paulo Lacerda, para cobrar explicações sobre os arapongas que seguiram Verônica e acabaram flagrados pela Divisão Anti-Seqüestro da Polícia Civil fluminense. A mesma operação motivou a ligação do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado de Dantas, grampeada pelo delegado Protógenes Queiroz. Heráclito faria parte do grupo de lobistas a serviço de Dantas, segundo Protógenes. O senador nega a acusação e desafia que provem sua participação nos negócios do banqueiro.
Se defende atacando o governo. Boa parte das razões pelas quais o presidente Luís Inácio Lula da Silva meteu a colher na Operação Satiagraha pode ser encontrada nas entrelinhas do discurso em que Heráclito, na tribuna do Senado, assumiu ser amigo de Dantas. Estão lá as referências às supostas operações clandestinas da Abin, ao inquérito da Justiça italiana sobre o pagamento de propina a políticos brasileiros pela Telecom Itália, entre outros.
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Gravações no inquérito
O nome do senador Heráclito Fortes é citado várias vezes nos relatórios de inteligência que compõem o inquérito da Operação Satiagraha, principalmente por causa das escutas telefônicas realizadas com autorização da Justiça. Numa das ligações interceptadas pela Polícia Federal, em 27 de março, o publicitário Guilherme Sodré, apontado pelo delegado Protógenes Queiroz como lobista a serviço de Daniel Dantas, conversa com o próprio parlamentar e agradece pela “grande ajuda”, dizendo que todas pendências teriam sido resolvidas. Não se sabe sobre o que conversam, mas o policial suspeita de assunto de interesse do dono do Opportunity. Num outro telefonema monitorado pelos agentes, em 28 de março, Sodré conversou com o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh e disse a ele que “Heráclito Fortes foi a plenário para fazer a defesa da ministra”, que a PF entendeu se tratar da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e enxergou ali, também sem dizer o porquê, negócios de interesse de Dantas, no caso a fusão da Brasil Telecom com a Oi.