O tradicional julgamento do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), que ocorre todas as quartas-feiras, teve que ser interrompido às pressas na tarde de ontem. Desta vez, o motivo não foi o horário avançado por conta do voto mais extenso de algum ministro, como costuma acontecer. Um bate-boca entre o ministro Gilmar Mendes, presidente da Corte, e o ministro Joaquim Barbosa, causou grande espanto em todos os presentes e, temendo que a briga se agravasse ainda mais, os ministros Marco Aurélio de Mello e Ayres Britto pediram para que a sessão fosse encerrada. À noite, o ministro Gilmar Mendes conduziu uma reunião com os ministros a portas fechadas, e chegou a dizer que daria uma coletiva para esclarecer a briga.
Às 21h40, após cerca de três horas de reunião, os ministros do Supremo - à exceção da ministra Ellen Gracie, que se encontra em viagem, e do próprio Joaquim Barbosa - elaboraram uma nota na qual reafirmam "o respeito e a confiança ao Sr. Ministro Gilmar Mendes em sua atuação institucional como presidente do STF, lamentando o episódio ocorrido nessa data". A nota foi entendida como uma advertência ao ministro Joaquim Barbosa. A gravidade da situação levou a sessão de hoje a ser cancelada. Ao final da noite de ontem, já havia estudantes em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal manifestando apoio a Joaquim Barbosa. É esse tipo de reação que pode vir a ser ponderada na discussão de uma eventual punição ao ministro.
Os ânimos começaram a se exaltar durante o julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) ajuizada pelo Estado do Paraná, quando o ministro Joaquim Barbosa divergiu de um entendimento do ministro Gilmar Mendes e este, por sua vez, entendeu que estava sendo acusado de sonegar informações sobre o processo. "Vossa excelência não tem direito de dar lição de moral a ninguém", disse Gilmar Mendes. E "Vossa excelência não está falando com seus capangas do Mato-Grosso", disse o ministro Joaquim Barbosa. As tentativas dos demais ministros em intervir na briga foram fracassadas, e a discussão tomou um rumo mais sério. " Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país. Saía à rua ministro Gilmar", disse o ministro Barbosa. "Eu estou na rua", respondeu Gilmar Mendes. "Vossa excelência está é na mídia", respondeu. A esta altura, os seguranças do plenário se aproximaram dos ministros e, sob um clima de grande tensão, findou-se a sessão.
Esta não é a primeira vez que os dois ministros entram em conflito. Em certa ocasião, em 2007, o ministro Joaquim Barbosa acusou o ministro Gilmar Mendes de que a sua decisão era, na verdade, o famoso "jeitinho" brasileiro, que deveria ser combatido, o que provocou uma grande discussão. No mesmo ano, o ministro Joaquim Barbosa chegou a insinuar que seus colegas praticariam promiscuidade ao receber advogados para despachar sobre processos.