quarta-feira, 29 de abril de 2009

Nissan fará carro barato no Brasil


A Nissan não tem ainda nem 1% do mercado brasileiro. Mas se prepara para uma guinada. A montadora japonesa vai produzir no país um carro sobre nova plataforma, que ainda está em fase de desenvolvimento mundial. Será um automóvel menor que a maioria dos carros pequenos vendidos hoje no Brasil. A informação foi confirmada ontem por Carlos Tavares, executivo escalado pelo presidente mundial do grupo Renault/Nissan, Carlos Ghosn, para assumir o comando das operações da companhia na América do Norte, América do Sul e Caribe.

A decisão de começar a produzir veículos menores do que faz hoje foi anunciada pela direção da companhia há um ano. Na ocasião, Ghosn explicou que a estratégia de expansão da marca incluiria o projeto de novas famílias de carros. "Modelos de entrada acessíveis a uma parcela maior da sociedade", explicou o executivo à época.

Uma das famílias de veículos nas quais a Nissan decidiu investir é o chamado automóvel de ultra baixo custo. Idealizado para custar em torno de US$ 3 mil, esse automóvel segue o modelo do Nano, veículo já lançado na Índia pela Tata Motors. O carro da Nissan nessa linha está em desenvolvimento junto com a marca indiana Bajaj.

A segunda família anunciada e que contemplará o mercado brasileiro será baseada no que os europeus chamam de plataforma A. Essa plataforma é menor que a chamada B, onde se incluem modelos como Logan e Sandero, da Renault, ou mesmo o Livina, carro que a própria Nissan começou a produzir no Brasil este ano.

A plataforma A envolve automóveis com características semelhantes às do Uno, da Fiat, um segmento hoje pouco explorado pelas montadoras no Brasil.

Com essa decisão, o grupo Renault/Nissan, uma parceria mundial que já completou dez anos, indica a estratégia que reserva para expandir as operações no Brasil. Embora hoje seja mais conhecida no Brasil pelos modelos mais caros, a Nissan se prepara para explorar uma faixa mais simples.

Já a parceira Renault, baseada nos modelos que herdou da Dacia, marca que adquiriu no Leste Europeu, vai concentrar a produção destinada ao mercado brasileiro nos modelos a partir de uma faixa acima dessa categoria. Com isso, a Renault não deverá mais trazer para o mercado brasileiro modelos como o compacto Twingo, vendido no passado.

A Nissan não revela detalhes do plano para o mercado sul-americano. Segundo Tavares, a plataforma A está sendo desenvolvida para inicialmente abastecer os mercados de quatro países: México, China, Tailândia e Índia. O plano, segundo a Nissan, é começar a lançar esses veículos a partir de 2010.

Sobre a montagem do veículo também no Brasil, o executivo diz: "A resposta é sim, mas não me pergunte quando". Tavares falou ontem sobre outros planos para a região que vai comandar. Segundo ele, a ideia é aproveitar o potencial de cada país para futuras sinergias nas áreas de produção, compras, gerenciamento da cadeia de fornecedores e logística. A companhia japonesa pretende aproveitar, por exemplo, os centros de engenharia que possui nos Estados Unidos e México para atuarem no desenvolvimento de produtos para os mercados que fazem parte da nova região.

Em 2008, a Nissan vendeu mais de 1,3 milhão de veículos na região das Américas. No Brasil, foram 17,3 mil unidades. A meta para o mercado brasileiro em 2009 é chegar a 25 mil.

O executivo diz que, embora o potencial de crescimento, principalmente no Brasil, seja significativo, nenhuma expansão na América Latina compensará as perdas de vendas no mercado dos Estados Unidos, provocadas pela crise econômica.

Outro plano da Nissan é ampliar o chamado programa de emissões zero nas Américas. Isso significa que o lançamento de carros elétricos abrangerá toda a região, incluindo o Brasil. "Este será um carro global e, por isso, a seu tempo também chegará no Brasil", diz. A Nissan já está desenvolvendo um carro elétrico para ser lançado em 2010 nos Estados Unidos e Japão.

Em cidades do Arizona, Califórnia, Oregon e Tennessee estão os primeiros parceiros da Nissan para os testes do chamado programa de emissões zero. Segundo a companhia, em 2012, os modelos elétricos da marca japonesa estarão disponíveis para venda em grande escala em mercados de todo o mundo.

Antes de assumir o comando da nova região das Américas, Carlos Tavares trabalhou com operações globais da companhia nas áreas de planejamento, produto, desenho, inteligência de mercado e negócios com veículos comerciais leves.

O executivo seguiu uma trajetória de formação semelhante à de Carlos Ghosn, que nasceu no Brasil, mas se formou na França. Tavares nasceu em Portugal e se formou em engenharia na École Centrale Paris, em 1981. Nos últimos tempos, ele dividiu moradia entre Japão e Estados Unidos, como também fez Ghosn.

Tavares entrou na Nissan em 2004. Antes disso, durante 23 anos trabalhou na engenharia da Renault, incluindo uma experiência no segmento de carros de luxo.

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