O senador Mão Santa (PMDB-PI) tem sido um paradoxo no Senado. Segundo relatório divulgado na semana passada, foi o campeão de discursos em 2007, com 132 pronunciamentos. E o lanterninha na apresentação de projetos: zero. “Atentai” é o seu bordão preferido. Chama o presidente da República de “Luiz Inácio”. E recorre ao primeiro nome de cada senador ao citá-los em plenário. Médico e ex-governador do Piauí, Mão Santa é figurinha carimbada no plenário inclusive nos dias em que poucos senadores aparecem para trabalhar.
Foi o primeiro a subir na tribuna na manhã da última sexta-feira. Este ano já discursou 28 vezes desde o dia 6 de fevereiro, quando começaram os trabalhos do Congresso. Citações da Bíblia são recorrentes nas falas. Mão Santa leva o título também no quesito “aparte”, que é quando um senador interrompe a fala de outro. Utilizou esse artifício 379 vezes no ano passado. Em 2008, não perdeu a mania.
Na última quinta-feira, por exemplo, pediu a palavra durante discurso de Kátia Abreu (DEM-TO). Antes, ainda declamou um poema em homenagem à mãe do colega Expedito Júnior (PR-RO), que estava no plenário. “Vi minha mãe rezando aos pés da Santa Virgem Maria. Era uma santa rezando e outra escutando o que ela dizia.”
Irritação
Mão Santa se irritou quando foi questionado sobre os números. “Arthur Virgílio não falou mais do que eu?”, perguntou. Não. O líder do PSDB aparece em sexto lugar com 108 pronunciamentos. Mão Santa culpa a pauta trancada com as medidas provisórias pela ausência de projetos apresentados em 2007, e também em 2006, segundo o relatório de trabalhos legislativos daquele ano. “Eu tenho muitos projetos, mas não os fiz nesses anos porque nada anda com as medidas provisórias”, disse. “Eu sou preparado, escreve aí.”
Outros três senadores não apresentaram projeto em 2007: Renan Calheiros (PMDB-AL), ACM Júnior (DEM-BA) e João Ribeiro (PR-TO). O primeiro passou o ano passado enrolado com cinco processos de cassação de mandato, que o levaram a renunciar à presidência do Senado. O segundo assumiu o mandato em julho após a morte do pai, dono da vaga de titular. Já Ribeiro não foi localizado para comentar o assunto.
No ranking de discursos, aparecem logo atrás de Mão Santa os senadores Flexa Ribeiro (PSDB-PA), com 130 pronunciamentos, Papaléo Paes (PSDB-AP), com 111, e Paulo Paim (PT-RS), com 110, seguidos de Romero Jucá (PMDB-RR) e Arthur Virgílio, que fizeram 109 e 108 discursos, respetivamente.
O último colocado em 2007 foi Gim Argello (PTB-DF), com apenas uma fala. Líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA) fez três pronunciamentos em 2007, ganhando apenas de Gim e Eliseu Resende (DEM-MG).
Eu tenho muitos projetos, mas não os fiz nesses anos porque nada anda com as medidas provisórias. Eu sou preparado, escreve aí
