quinta-feira, 20 de março de 2008

Novo recorde na agricultura


A agricultura brasileira deve bater mais um recorde na safra 2007-2008, apesar do atraso das chuvas e do plantio na última primavera. As águas chegaram atrasadas, mas ainda a tempo de permitir uma produção superior a 139 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas - algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo e algumas lavouras de menor porte. No segundo levantamento, realizado em fevereiro, o IBGE estimou uma produção total de 139,6 milhões de toneladas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, calculou uma safra pouco menor, de 139,3 milhões, mas também recorde.

As duas instituições têm colaborado nesse trabalho e suas estimativas tendem a convergir. As diferenças atuais são muito menores do que haviam sido até a última temporada.

O bom desempenho da agricultura deverá garantir mais um ano de resultados favoráveis no comércio exterior. No ano passado, o superávit comercial do agronegócio - diferença entre a receita da exportação e o dispêndio com a importação - chegou a US$ 49,7 bilhões, segundo as contas do Ministério da Agricultura. Esse resultado, 16,3% superior ao de 2006, foi facilitado pela forte demanda internacional de alimentos, sustentada principalmente pela prosperidade chinesa. Neste ano, as projeções dos especialistas indicam a manutenção de bons preços no mercado internacional.

Internamente, as perspectivas de bons ganhos para a agricultura permitem prever, por enquanto, boas vendas para o comércio varejista no interior e, também, a continuação da forte procura de equipamentos agrícolas. Os fabricantes de tratores, colheitadeiras e implementos tiveram bom desempenho no ano passado e em 2008 o cenário deve continuar favorável ao setor.

A produção de grãos e oleaginosas será 5,8% maior que a da safra anterior, segundo a Conab, ou 5,1%, de acordo com o IBGE. A diferença está nas bases de comparação. Seja como for, as novas estimativas superam as de janeiro e as notícias provenientes das zonas onde se processa a colheita da soja são animadoras.

A perspectiva de preços pelo menos tão bons quanto os de 2007 estimulou a expansão da área plantada da soja, do milho e do trigo. Mas o crescimento da produção deve resultar principalmente do aumento da produtividade: 2,7% para o algodão em pluma, 9,9% para o amendoim, 6,3% para o arroz, 3,3% para o feijão (consideradas as três safras anuais), 4,1% para o milho (nas duas safras), 0,5% para a soja e 65,7% para o trigo (severamente prejudicado, no ano anterior, pelo tempo desfavorável).

A boa produção deve permitir não só a exportação de volumes consideráveis de matérias-primas e de produtos transformados, mas também um abastecimento interno tranqüilo. Como os preços foram altos na última temporada, não deverá haver problemas importantes para o consumidor nacional neste ano. Alguns preços poderão até baixar. O do feijão já recuou no varejo, em fevereiro, e poderá continuar em queda a partir de abril, com a entrada da segunda safra. Esta foi a avaliação do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, feita na apresentação do novo levantamento da Conab.

Stephanes chamou a atenção, também, para um detalhe de considerável importância: a expansão das lavouras de cana, estimulada pelo programa de biocombustíveis, não está impedindo o crescimento da produção de alimentos. As lavouras de grãos e oleaginosas, disse o ministro, estão avançando em regiões de pastagens degradadas. Além disso, o aumento da safra de grãos e oleaginosas continua dependendo mais dos ganhos de eficiência do que da ampliação da área plantada. A Conab estimou em 1,2% o aumento da área destinada a essas lavouras. Está prevista, no entanto, uma produção 5,8% maior que a do ano anterior.

O ministro poderia ter acrescentado um detalhe nem sempre lembrado pelos envolvidos na discussão sobre o etanol: as decisões de plantio continuam sendo amplamente determinadas pela evolução dos preços e isso contribuiu, nos últimos tempos, para deter o avanço da cana, mas não o da soja e o do milho.


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