A mesa de negociação salarial deverá contar com um novo elemento neste ano: o Produto Interno Bruto (PIB). Em tempos de inflação em baixa, o índice de preços perde força como referência para o reajuste e, agora, os sindicalistas querem que seja levada em consideração a expansão da economia do país - a exemplo do que ocorreu no salário mínimo federal deste ano. Em 2007, o índice de expansão do PIB foi de 5,4%, ultrapassando o do INPC, que ficou em 3,9%.
"O crescimento econômico é favorável à negociação, mas não está se traduzindo na relação entre o PIB e o salário. O percentual do PIB não está na mesa, mas pode vir a estar. Pode ser uma sugestão, já que o ganho real dos salários está abaixo do PIB desde 2004", afirmou José Silvestre Prado de Oliveira, supervisor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
"O aumento real do salário deve estar vinculado ao crescimento econômico, que é importante, mas com distribuição de renda", disse Carlos Cordeiro, secretário geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
De acordo com pesquisa divulgada ontem pelo Dieese, 96% das negociações salariais realizadas em 2007 asseguraram, no mínimo, a incorporação das perdas ocorridas com a inflação - medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ocorridas desde a data-base anterior. Do total, 88% pagaram algum percentual de aumento real.
"A inflação continua sendo uma variável determinante para a concessão de reajuste. Quanto menor a inflação, menor é o repasse e maior é a proporção de negociações com reajustes iguais ou superiores ao índice", explica Oliveira, do Dieese.
Entre 2003 e 2004, por exemplo, o INPC médio caiu de 17,4% para 6,6% e o percentual de reajustes iguais ou acima desse índice saltou de 42% para 81%. Em 2005, quando o índice de preços do IBGE médio correspondeu a 6%, quase 90% das negociações asseguraram resultados positivos. Em 2006 e 2007, com inflação média acumulada inferior a 4%, quase a totalidade das negociações assegurou percentuais de reajustes idênticos ou superiores ao INPC, de acordo com o levantamento da entidade.
"Há uma nítida influência da inflação sobre a negociação dos reajustes salariais, o mesmo não ocorre em relação ao PIB. Coloca-se a necessidade de incorporar o patamar de crescimento ao salário e à mesa de negociação", argumentou Oliveira.
Conforme o Dieese, comparando-se os ganhos reais obtidos nos últimos quatro anos com a taxa de expansão do PIB referente ao ano anterior, somente em 2004 (quando o índice foi de 1,1% em 2003), a proporção de negociações saltou de 42,3% (em 2003) para 80,9% (em 2004) com reajuste igual ou acima do INPC. Nos anos posteriores, a variação do PIB oscilou entre 3% e 6% e a proporção de negociações que conquistaram aumentos reais manteve o mesmo patamar.
"É neste momento que se deve pautar a necessidade de repartição dos ganhos de produtividade, através da qual os trabalhadores terão a oportunidade de elevar o patamar salarial vigente, profundamente rebaixado nas últimas três décadas", pondera o Dieese, órgão de assessoria aos sindicatos.
Do total de negociações analisadas pelo Dieese, 88% conseguiram aumento real de salário no ano passado, valor próximo do ano anterior quando o resultado foi de 86%, mas ainda assim o melhor resultado da série que foi iniciada em 1996. "Três fatores contribuíram para o resultado. O primeiro é a taxa de inflação baixa e controlada, o segundo é o ambiente econômico propiciado pelo crescimento da economia e o terceiro é a ação sindical que decorre desse ambiente", afirmou Oliveira.
De acordo com os dados do levantamento, nas categorias profissionais vinculadas ao setor industrial 94% dos resultados foram maiores do que os do INPC-IBGE. No ano anterior menos de 90% das categorias no setor obtiveram resultado semelhante. No comércio, o resultado foi de 85% em 2007, e 91% no ano anterior. O pior desempenho ficou com o setor de serviços com 12% das negociações iguais ao INPC.
"O setor industrial teve melhor desempenho porque é o mais estruturado da economia e em 2007 tivemos crescimento econômico mais consistente, melhor distribuído no qual os setores de atividade industrial que produzem para o mercado doméstico tiveram melhor desempenho", afirmou Oliveira.