A reação negativa do mercado financeiro à comoção provocada pela venda do banco de investimentos americano Bear Stearns ao JP Morgan Chase deu tom mais cuidadoso ao discurso do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ontem, ao comentar a forte queda das bolsas em todo o mundo, ele admitiu que os sinais são de uma crise de grandes proporções, mas manteve-se otimista ao dizer que o Brasil é um "porto seguro".
"A cada dia ela parece um pouco maior. Alguns já começam a falar numa crise parecida com a de 1929. A diferença é que, atualmente, temos mais instrumentos de política econômica que neutralizam os efeitos. Então, ela nunca será da mesma magnitude em termos de repercussões", afirmou.
Esse alerta já havia sido feito pelo ministro pela manhã, durante reunião da coordenação política de governo. Ao comentar a recepção positiva dos mercados às medidas cambiais anunciadas pelo governo na semana passada, Mantega lembrou que a conjuntura internacional ainda inspira cuidados, apesar da situação brasileira ser tranqüila. "Quando nós vemos que o quinto maior banco americano precisou ser comprado para não quebrar, vemos que a jogatina foi maior do que a imaginada", completou um ministro palaciano, que acompanhou o relato de Mantega.
Segundo o mesmo ministro, os próprios especialistas avaliam que o prazo para se avaliar o tamanho da crise é de seis a oito meses. "Estamos no auge da crise, embora o país não tenha ainda sido afetado", afirmou o auxiliar do presidente.
Mantega não vê necessidade de aumentar juros no Brasil e ponderou que as taxas estão sendo reduzidas nos Estados Unidos. A preocupação, na sua visão, é com o nível de atividade e com o crédito e os bancos centrais americano e europeu têm de evitar que esses problemas contaminem toda a economia.
O Brasil, na avaliação de Mantega, nunca esteve tão preparado para enfrentar uma crise como a atual. As reservas estão em US$ 195 bilhões e a economia continua merecendo a confiança de todos os investidores. Ele ressaltou que o jornal inglês "The Guardian" qualificou o país como um porto seguro.
O ministro da Fazenda admitiu que, no Brasil, há uma "movimentação" nos mercados de renda variável e pode haver alguma saída de capitais externos. Esse dinheiro é de instituições financeiras que precisam desses recursos para cobrir perdas. Apesar disso, não há, por enquanto, repercussão sobre investimentos, consumo e atividade.
A crise, na interpretação de Mantega, funciona por "solavancos". Há uma onda e, depois, vem a calmaria. Nas ondas anteriores, disse que os mercados de renda variável se recuperaram. "O Brasil tem condições de forte e rápida recuperação, mesmo que haja conseqüências maiores", concluiu. Ele avisou que o governo está vigilante e tomará as medidas se a crise se agravar ainda mais.
Há muita ansiedade por novas medidas do banco central americano (Fed). O ministro da Fazenda disse aguardar que seja determinada, na reunião de hoje do BC americano, nova redução de 0,75 ponto a um ponto percentual nos juros americanos, o que pode acalmar os mercados. Ontem, o Fed diminuiu em 0,25 ponto a taxa de redesconto e ampliou a possibilidade de crédito não só para instituições financeiras, mas para instituições periféricas.