domingo, 15 de julho de 2012

500, 500 e 400 mil para: Marconi Ferreira Perillo Júnior


Telefonemas entre Carlinhos Cachoeira e o ex-vereador de Goiânia Wladmir Garcez, gravados de 28 de fevereiro a 1º de março de 2011, revelam o envolvimento direto do contraventor na compra da casa que pertencia ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Em diálogo com o sobrinho Leonardo Ramos, em 1 de março, Cachoeira pede que ele preencha três cheques, dois de R$ 500 mil e outro de R$ 400 mil. Leonardo é o dono da confecção Excitant, que emitiu os três cheques depositados na conta de Perillo. O primeiro foi depositado em 2 de março de 2011. O valor da venda, registrada em cartório, foi de R$ 1,4 milhão.

Em 28 de fevereiro, às 8h13m, Wladmir diz para Cachoeira que Perillo perguntou a que horas poderia ser no dia seguinte. Pelo teor do diálogo, entende-se que eles combinam um encontro. Cachoeira afirma que Wladmir pode marcar para depois do almoço e manda perguntar se pode ser às 14h. Na sequência, também pede para Wladmir saber se os cheques podem ser nominais.

- Pergunta aí, cheque nominal, escreve assim, cheque nominal - diz Cachoeira.

Às 10h13m do dia seguinte, Cachoeira dá sinais de que está preocupado com o dinheiro e com o fato de Wladmir não conseguir falar com Cláudio Abreu, então diretor da construtora Delta, sobre a verba para pagar a casa.

- Liga pro coisa aí e combina com ele lá, três cheques... Hoje, todo dia 1, os três cheques dele com o Cláudio - ordena o bicheiro.

Três minutos depois, Cachoeira entra em contato com o sobrinho Leonardo Ramos.

- O negócio é o seguinte: precisava mandar, lá é um e quatrocentos, né ?, 500, 500 e 400. Pode ser pra amanhã, mas eu mando isso hoje pra sua conta, entendeu? Três cheques é... nominais a ele, depois eu faço o contrato. Marconi Ferreira Perillo Júnior, acho que esse é o nome. Vou pegar certinho - diz o contraventor, que volta a falar com Wladmir para tirar a dúvida.

Wladmir diz que vai ligar para Antonio Pires, irmão do governador, para se certificar. Em seguida, volta a conversar com o bicheiro para avisar que Perillo "é com dois eles". Mais tarde, às 16h37m, Wladmir informa que está com o governador e pergunta se Cachoeira quer falar com ele.

sábado, 2 de junho de 2012

Cheques que pagaram casa de Perillo são de conta usada pela Delta

Peritos da Polícia Federal revelam que os cheques que pagaram o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), pela venda da casa que ele comprou em 2011 provêm de uma conta bancária que recebeu dinheiro da empreiteira Delta. Entre março e maio, o tucano recebeu três cheques nominais da Excitant Confecções, oriundos de uma conta na Caixa Econômica Federal em Anápolis. Dois eram de R$ 500 mil e um era de R$ 400 mil. A empresa pertence a uma cunhada do bicheiro Carlinhos Cachoeira. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

Segundo a PF, nesse período a Delta depositou altas quantias nessa conta por meio de uma empresa fantasma chamada Alberto e Pantoja Construções, criada pelo grupo de Cachoeira com o único fim de receber dinheiro da construtora. No dia 30 de março, por exemplo, houve um repasse de R$ 1 milhão. A assessoria de Marconi Perillo diz que ele agiu de boa-fé na venda da casa: "Se houvesse má-fé ele não teria recebido em cheques nem depositado em sua conta. (...) Não cabia ao vendedor do imóvel verificar a origem dos cheques nem dos recursos. Quem deve explicações sobre os cheques é o emitente".

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Rei da Espanha vem ao Brasil desfazer 'mal-estar' no turismo


O rei Juan Carlos I, da Espanha, desembarca em Brasília às 19h do próximo domingo e deve ficar na cidade até segunda-feira, quando ruma para o Chile. Está marcada reunião com a presidente Dilma Rousseff e parte da equipe ministerial. Disposto a desfazer o mal-estar causado pelas questões migratórias entre Brasil e Espanha, ele discursará em português e em espanhol na próxima segunda.

É a primeira viagem de Juan Carlos ao exterior desde que ele colocou uma prótese no quadril, após um acidente durante caçada na África. Ele viaja acompanhado pelo chanceler José Manuel García-Margallo, que esteve há pouco mais de duas semanas em Brasília, e mais um grupo de empresários espanhóis interessados em ampliar os negócios no Brasil.

A Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no Brasil, com estoque de capital superior a US$ 85 bilhões. Em 2011, o comércio bilateral registrou US$ 7,97 bilhões - o que representa aumento de 20% na comparação com 2010.

A visita de Juan Carlos ocorre no mesmo dia em que representantes dos governos brasileiro e espanhol se reúnem em Madri, capital da Espanha, para negociar a redução das exigências feitas para a autorização da entrada de brasileiros na Espanha e de espanhóis no Brasil.

É a primeira reunião desde que o Brasil passou a adotar, em 2 de abril deste ano, medidas mais rigorosas para o ingresso de espanhóis em território brasileiro. O governo brasileiro vai propor a instituição de um procedimento de linha direta para a redução emergencial de casos duvidosos, ou seja, situações em que a decisão foi meramente burocrática ou por problema com documentos do viajante.

As "medidas de reciprocidade" foram colocadas em prática depois dos relatos de brasileiros que se queixavam das humilhações e de discriminação ao tentar entrar em território espanhol. Apesar das medidas, o subsecretário-geral das Comunidades Brasileiras no Exterior, embaixador Eduardo Gradilone Neto, disse que ainda há denúncias de maus-tratos a brasileiros na Espanha.

Pelas regras em vigor, os espanhóis que quiserem entrar no Brasil terão de estar com o passaporte válido por, no mínimo, seis meses. Também serão exigidos os comprovantes de passagens de ida e volta, com data marcada.

O espanhol que for se hospedar em hotel deverá apresentar o documento de reserva. Caso venha a se hospedar na casa de amigos ou parentes, terá de apresentar uma carta-convite. O documento deve conter a assinatura do responsável, autenticação em cartório e um comprovante de residência dessa pessoa.

O último item das exigências refere-se à renda mínima do espanhol que pretende visitar o Brasil. Ele deve comprovar que tem condições financeiras para arcar com até R$ 170 diários de despesas em território brasileiro.

sábado, 7 de abril de 2012

DEMóstenes e Arruda, unidos para sempre



Em seus tempos de vestal, o senador Óstenes — que na época ainda era DEMóstenes —, fustigou o então governador do DF José Roberto Arruda, pego com a mão na cumbuca, com a boca em panetones e com dinheiro dentro da meia. “É um bandido, um delinquente, um vagabundo”, disse o aguerrido senador, em sua cruzada contra a corrupção. Desde então, Arruda vem comendo o panetone que o diabo amassou.
Mas agora é Óstenes quem está isolado. Se Arruda não for rancoroso, quem sabe ele convide o futuro ex-senador para compartilhar um panetone em sua masmorra…Trágico e cômico

sábado, 31 de março de 2012

Fifa critica, mas já vive às custas do Brasil


Joseph Blatter voltou a bater no País - que em 2011 lhe rendeu US$ 910 milhões - e acabou cobrado pelo governo

Em plena crise econômica mundial, o Brasil se transformou em uma verdadeira mina de ouro para a Fifa. A Copa de 2014 já rendeu benefícios financeiros de mais de US$ 910 milhões à organização, recorde absoluto, sustenta hoje as contas da Fifa e paga salários dos cartolas. Isso, porém, não impede que, vira e mexe, cartolas da entidade ataquem o País por conta da organização do Mundial. Ontem, o Brasil foi alvo de novas críticas e o governo federal reagiu, cobrando explicações.

O ataque partiu do presidente Joseph Blatter, que há três semanas esteve com a presidente Dilma Rousseff e saiu do encontro dizendo que todos estavam trabalhando juntos para fazer uma "copa inesquecível''. "Nem tudo estará pronto (em 2014). A bola está no campo do Brasil e precisam jogar o jogo'', disse Blatter. "Estamos esperando também ações e não apenas palavras.''

Dizer que o Brasil precisa parar de falar e começar a fazer é discurso ao qual Blatter, e o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, vêm recorrendo com alguma frequência. Faz parte da tática do "morde e assopra'' da entidade, que mescla críticas com elogios ao País.

Mas o ataque de ontem não foi bem digerido pelo governo brasileiro, que telefonou para a Fifa pedindo explicações. A reação obrigou a assessoria de Blatter, temendo nova crise, a colocar panos quentes na situação. O próprio dirigente tratou de esfriar os ânimos. "Tenho confiança no Brasil'', disse.

Enquanto Blatter demonstrava irritação com o País, Júlio Grondona, presidente do Comitê de Finanças da Fifa, estava exultante com os resultados financeiros da entidade, puxados pelo Brasil. "Os contratos fechados para a Copa de 2014 mostram que a renda planejada (com a Copa) será maior do que o previsto'', indicou. Ao Estado, Grondona havia declarado que a Copa era "da Fifa e que apenas ocorre no Brasil''. Tem razão. Pelas contas divulgadas, a entidade repassou ao País apenas 5% desses lucros em 2011.

Os gastos da Fifa com a Copa atingiram US$ 428 milhões. Desse total, US$ 58 milhões foram dados ao Comitê Organizador Local. Para a realização da Copa das Confederações, a Fifa indica que ajudará o Brasil com meros US$ 48 milhões.

A Fifa estima que a Copa de 2014 vai lhe render pelo menos US$ 3,8 bilhões, montante que não será taxado nem pelo governo brasileiro e nem pela Suíça, onde fica a sede da entidade.

O Mundial da Alemanha, em 2006, colocou nos cofres da entidade US$ 2,04 bilhões. A Copa da África do Sul garantiu US$ 3,2 bi.

A Fifa está tão bem financeiramente que suas reservas atingem US$ 1,3 bilhão, superior ao PIB de pelo menos 15 países. Da renda total de US$ 1,07 bilhão em 2011, 90% veio dos contratos vendidos pelo Brasil. Em acordos de transmissão, a Fifa já lucrou US$ 537 milhões. Mas foi no marketing que a maior explosão ocorreu. No primeiro ano de venda de patrocínio para a Copa de 2010, a entidade arrecadou US$ 223 milhões. Para o Brasil, o valor já chega a US$ 381 milhões.

O relatório recebido pela Fifa sobre o estado real das obras para 2014, com atrasos em praticamente todas as áreas, foi o motivo da reação irada de Blatter.

O cartola confirmou que é Jérôme Valcke é quem manda na Copa. Quando o Estado perguntou ao secretário-geral se ele acreditava que sua frase, recomendando "chute no traseiro'' do Brasil havia criado turbulência, Blatter reagiu. "Todo o Comitê Executivo da Fifa, inclusive seu presidente, expressaram total confiança em Valcke, que no futuro será quem está no comando da Copa de 2014'', disse Blatter.

No Brasil, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, adotou tom mais ameno. "Não faremos nada para alimentar polêmicas. Nossas posições já foram manifestadas por carta e notas", afirmou.-O Estado de S.Paulo

'Chefe', senador Demóstenes discutia ações no Parlamento com bicheiro

Um dos principais operadores da organização criminosa comandada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, o sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, tratava o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) por "chefe". Diálogo telefônico interceptado pela Polícia Federal em junho de 2009, no âmbito da Operação Vegas, mostra Demóstenes em posição de comando, passando ordens para Dadá e coordenando ações dentro do Senado.

"Entendeu o que eu falei?", indaga Demóstenes ao final da explicação sobre as ações desenvolvidas no Parlamento. "Entendi, entendi. Eu vou avisar pra eles, mas... mesmo assim ficou bom, né chefe?", responde Dadá.

Referindo-se à mobilização política que comandava para aprovação de medidas legislativas, Demóstenes atualiza o ex-sargento: "É, ficou bom porque dá pra acudir, foi bom ter trazido o tema, (mas) não dá pra fazer nada em uma semana, nada, a não ser discurso. Isso não resolve, até porque eu já tô com a lista que você me passou. É... na hora que o presidente anunciar o negócio, eu convoco uma audiência pública pra discutir o tema".

Dadá demonstra ter contatos na mídia para difundir interesses do grupo: "Aí eu aviso a imprensa".

Demóstenes encerra a ligação, de menos de três minutos: "Mas pode ter certeza que o negócio vai ser polêmico".

A operação Vegas, realizada em 2009, levantou indícios que resultaram em outra operação, a Monte Carlo, desencadeada em 29 de fevereiro passado, na qual foi desarticulara uma ampla rede de jogos ilegais comandada por Cachoeira. Ele e Dadá estão presos à disposição da Justiça.

A Vegas indiciou várias pessoas, mas a parte que alcança Demóstenes e outros parlamentares era desconhecida até agora porque, por envolver réus com prerrogativa de foro especial, a investigação dependia de pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que não foi feito na ocasião.

Gravações. As primeiras gravações da Operação Vegas foram divulgadas esta semana pelo jornal O Globo e Jornal Nacional.

Elas mostram que Demóstenes usou o mandato para intermediar interesses de Cachoeira, de quem receberia propinas, presentes caros e favores. O Globo revelou conversas em que ele acerta com Cachoeira táticas que vão da interferência em processo judicial ao lobby pela legalização dos jogos de azar. Demóstenes trata até de licitações na Infraero na época em que era relator da CPI do Apagão Aéreo.

Nas conversas, em que Demóstenes chama Cachoeira de "Professor" e é tratado de "Doutor", o contraventor, como informou o jornal, manda o senador fazer um levantamento sobre um projeto de lei relacionado a jogos de azar. Em razão das provas, o STF abriu inquérito e quebrou o sigilo bancário do senador.

Demóstenes confirmou que é amigo de longa data de Cachoeira, mas silenciou-se quando surgiram as provas do envolvimento dele com a organização. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro disse que os diálogos que incriminam o senador foram colhidos de forma ilegal e serão anulados. "O senador está muito abalado com as acusações que ferem sua imagem,mas juridicamente estamos tranquilos."

Desafetos, entre eles juízes, podem complicar defesa de Demóstenes

Enquanto mantinha imagem de seriedade, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) compôs uma lista de desafetos integrada por nomes que agora podem sentenciar seu destino. Suas críticas contundentes à postura de colegas, os ataques que fez ao comportamento de juízes e a postura de xerife criaram para ele arestas que podem levar à cassação e dificultar sua vida na Justiça.

Dois personagens centrais no comando do inquérito em que Demóstenes é investigado por corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa foram alvos de seus ataques. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi chamado de covarde pelo senador por não ter aberto inquérito para investigar o aumento vertiginoso do patrimônio do então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Demóstenes manobrou no Senado para atrasar a recondução de Gurgel para mais dois anos de mandato como procurador-geral e acusou Gurgel de fazer uma troca com o governo: pela recondução, teria aceito engavetar a investigação contra Palocci. O relator do inquérito contra Demóstenes no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, foi ironizado por ter votado favoravelmente à criação do PSD em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral. "Foi a primeira vez que eu vi um ministro de tribunal voltar aos tempos de advogado para defender abertamente a criação de um partido", disse.

A mais nova ministra do STF, Rosa Maria Weber, foi constrangida na sua sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado com esmiuçadas perguntas feitas por Demóstenes na tentativa de mostrar que ela não teria conhecimento jurídico para o cargo. Em razão da inquirição, Rosa admitiu que teria de estudar determinados temas caso fosse aprovada na sabatina. Mais discretas foram as avaliações que o senador fez em 2009, quando José Antonio Dias Toffoli foi indicado para o STF pelo ex-presidente Lula. Aos colegas de partido, dizia que Toffoli não tinha notável saber jurídico, requisito exigido para um ministro do Supremo.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Depois de veto de Lula, aeroporto privatizado vira realidade com Dilma

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abortou pessoalmente dois planos desenhados por seus auxiliares para abrir os aeroportos para a iniciativa privada. Em 2008, vetou estudos do BNDES para uma eventual privatização da Infraero, sugerida por empresários à então ministra Dilma Rousseff. Em 2009, o governo trabalhou firmemente no projeto de concessão do Galeão e de Viracopos, mas Lula vetou de novo a continuidade das discussões.

"Ele garantiu que honraria o compromisso de não fazer privatizações", recorda um ex-assessor que convivia com o petista no Palácio do Planalto, relativizando a magnitude dos leilões de rodovias federais realizados em sua gestão. Lula não queria perder o eixo do discurso explorado com insistência pelo PT nas últimas campanhas presidenciais: o "sucesso" das intervenções estatais contra o "liberalismo" tucano.

Nos primeiros meses de seu mandato, sob o fantasma de um vexame na Copa do Mundo de 2014 e buscando destravar investimentos necessários para atender a um crescimento da aviação comercial, que atingiu estratosféricos 118% nos últimos oito anos, Dilma decidiu romper um paradigma no PT e comprar a briga com os sindicatos. O resultado será transferir para a gestão privada dois dos aeroportos mais lucrativos do país - Guarulhos e Campinas -, além de Brasília, em leilão marcado para o próximo dia 6.

Segundo o governo, a escolha desses terminais para a concessão ocorreu por concentrarem a maior necessidade de investimentos para os próximos 30 anos para acompanhar a demanda. Hoje, os três aeroportos juntos movimentam 30% dos passageiros, 57% das cargas e 19% das aeronaves do sistema brasileiro.

"Ao fim desse processo, teremos quatro grandes operadoras aeroportuárias concorrendo entre si", explica Marcelo Guaranys, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - incluindo na conta a Infraero e ressaltando a regra que permite ao mesmo grupo privado arrematar somente uma concessão.

Influi, nos números, o peso gigantesco do aeroporto de Guarulhos, o mais lucrativo de todos. Ele integra o conjunto de apenas sete terminais lucrativos, de um total de 66 controlados pela Infraero. Considerando custos com depreciação, Guarulhos está no topo do ranking, com resultado líquido aproximado de R$ 190 milhões por ano. Campinas está em quarto lugar - depois de Congonhas e de Curitiba -, com R$ 17,9 milhões. Entre os 59 que dão resultado negativo, está o de Brasília - prejuízo anual de R$ 4,5 milhões.

Por isso, a Anac chegou a conceber um modelo em que aeroportos poderiam ser concedidos em bloco, reunindo lucrativos e deficitários em um mesmo grupo. Avaliava-se que alguns terminais menores, que hoje operam no vermelho, como Florianópolis, poderiam ser rentáveis com um "choque de gestão" da iniciativa privada. No fim, prevaleceu um formato pelo qual operadores privados assumirão os aeroportos mais estratégicos do país.

Guarulhos, o mais superlotado de toda a rede da Infraero, é a principal porta de entrada e saída do país e tenta há quase dez anos tirar do papel seu terceiro terminal de passageiros. Brasília, que também opera acima de sua capacidade, tornou-se um dos maiores centros de distribuição de voos domésticos. Viracopos, aposta do governo para o futuro da aviação brasileira, se transformará no maior aeroporto da América Latina em 2023.

Os vencedores do leilão precisarão entregar as obras da primeira fase dos contratos de concessão em 18 meses, o que inclui novos terminais de passageiros e pátios de aeronaves. "É um cronograma arriscado. Certamente precisaremos executar as obras em três turnos", afirma um alto executivo de uma construtora que participará do leilão.

O dilema das grandes empresas pode ser resumido da seguinte forma: as equipes de engenharia temem enfrentar problemas que ameacem o calendário - e gerem multas de R$ 150 milhões -, enquanto as áreas de novos negócios das empreiteiras veem boas perspectivas de retorno, se o desafio das primeiras obras for superado.

Dilma cercou-se de cuidados, políticos e técnicos, para levar adiante as concessões. Juntou uma equipe de tecnocratas conhecidos no governo pela obsessão por detalhes para tocar o plano. Nenhum deles tem carreira política. O time é encabeçado por um ex-diretor de infraestrutura do BNDES (o ministro Wagner Bittencourt), um ex-diretor do Banco Central (Gustavo do Vale, presidente da Infraero) e um economista de 34 anos, tido por colegas do Planalto como "jovem brilhante" (Guaranys).

Politicamente, o governo tomou o cuidado de banir o termo privatização de declarações públicas ou mesmo de conversas entre assessores. A ideia é enfatizar a diferença com as concessões feitas no governo Fernando Henrique Cardoso, como as de telefonia e as de ferrovias, frisando a participação de 49% da Infraero nas futuras operações de Guarulhos, Campinas e Brasília.

Outra precaução foi conceder uma série de benefícios aos empregados da Infraero. Quem migrar para as concessionárias privadas terá cinco anos de estabilidade e indenização de 1,2 salário por ano trabalhado na estatal.

Até o fim de março, o governo pretende concluir um plano de outorgas, que definirá quais aeroportos serão mantidos pela Infraero e aqueles que serão repassados a governos estaduais ou ao setor privado. É provável que o Galeão (RJ) e Confins (MG) estejam na segunda rodada de concessões, que dificilmente sairá em 2012.

Alexandre de Barros, um ex-diretor da Anac que agora dá aulas de engenharia de transportes na Universidade de Calgary (Canadá), vê um cenário de intensa competição, no médio prazo, entre cinco potenciais aeroportos privados. Brasília e Confins deverão concorrer como "hubs" de voos domésticos. Além de disputar os passageiros nacionais, os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Galeão vão competir fortemente também pelos voos internacionais, acredita Barros.
 

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