sábado, 31 de março de 2012

Fifa critica, mas já vive às custas do Brasil


Joseph Blatter voltou a bater no País - que em 2011 lhe rendeu US$ 910 milhões - e acabou cobrado pelo governo

Em plena crise econômica mundial, o Brasil se transformou em uma verdadeira mina de ouro para a Fifa. A Copa de 2014 já rendeu benefícios financeiros de mais de US$ 910 milhões à organização, recorde absoluto, sustenta hoje as contas da Fifa e paga salários dos cartolas. Isso, porém, não impede que, vira e mexe, cartolas da entidade ataquem o País por conta da organização do Mundial. Ontem, o Brasil foi alvo de novas críticas e o governo federal reagiu, cobrando explicações.

O ataque partiu do presidente Joseph Blatter, que há três semanas esteve com a presidente Dilma Rousseff e saiu do encontro dizendo que todos estavam trabalhando juntos para fazer uma "copa inesquecível''. "Nem tudo estará pronto (em 2014). A bola está no campo do Brasil e precisam jogar o jogo'', disse Blatter. "Estamos esperando também ações e não apenas palavras.''

Dizer que o Brasil precisa parar de falar e começar a fazer é discurso ao qual Blatter, e o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, vêm recorrendo com alguma frequência. Faz parte da tática do "morde e assopra'' da entidade, que mescla críticas com elogios ao País.

Mas o ataque de ontem não foi bem digerido pelo governo brasileiro, que telefonou para a Fifa pedindo explicações. A reação obrigou a assessoria de Blatter, temendo nova crise, a colocar panos quentes na situação. O próprio dirigente tratou de esfriar os ânimos. "Tenho confiança no Brasil'', disse.

Enquanto Blatter demonstrava irritação com o País, Júlio Grondona, presidente do Comitê de Finanças da Fifa, estava exultante com os resultados financeiros da entidade, puxados pelo Brasil. "Os contratos fechados para a Copa de 2014 mostram que a renda planejada (com a Copa) será maior do que o previsto'', indicou. Ao Estado, Grondona havia declarado que a Copa era "da Fifa e que apenas ocorre no Brasil''. Tem razão. Pelas contas divulgadas, a entidade repassou ao País apenas 5% desses lucros em 2011.

Os gastos da Fifa com a Copa atingiram US$ 428 milhões. Desse total, US$ 58 milhões foram dados ao Comitê Organizador Local. Para a realização da Copa das Confederações, a Fifa indica que ajudará o Brasil com meros US$ 48 milhões.

A Fifa estima que a Copa de 2014 vai lhe render pelo menos US$ 3,8 bilhões, montante que não será taxado nem pelo governo brasileiro e nem pela Suíça, onde fica a sede da entidade.

O Mundial da Alemanha, em 2006, colocou nos cofres da entidade US$ 2,04 bilhões. A Copa da África do Sul garantiu US$ 3,2 bi.

A Fifa está tão bem financeiramente que suas reservas atingem US$ 1,3 bilhão, superior ao PIB de pelo menos 15 países. Da renda total de US$ 1,07 bilhão em 2011, 90% veio dos contratos vendidos pelo Brasil. Em acordos de transmissão, a Fifa já lucrou US$ 537 milhões. Mas foi no marketing que a maior explosão ocorreu. No primeiro ano de venda de patrocínio para a Copa de 2010, a entidade arrecadou US$ 223 milhões. Para o Brasil, o valor já chega a US$ 381 milhões.

O relatório recebido pela Fifa sobre o estado real das obras para 2014, com atrasos em praticamente todas as áreas, foi o motivo da reação irada de Blatter.

O cartola confirmou que é Jérôme Valcke é quem manda na Copa. Quando o Estado perguntou ao secretário-geral se ele acreditava que sua frase, recomendando "chute no traseiro'' do Brasil havia criado turbulência, Blatter reagiu. "Todo o Comitê Executivo da Fifa, inclusive seu presidente, expressaram total confiança em Valcke, que no futuro será quem está no comando da Copa de 2014'', disse Blatter.

No Brasil, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, adotou tom mais ameno. "Não faremos nada para alimentar polêmicas. Nossas posições já foram manifestadas por carta e notas", afirmou.-O Estado de S.Paulo

'Chefe', senador Demóstenes discutia ações no Parlamento com bicheiro

Um dos principais operadores da organização criminosa comandada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, o sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, tratava o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) por "chefe". Diálogo telefônico interceptado pela Polícia Federal em junho de 2009, no âmbito da Operação Vegas, mostra Demóstenes em posição de comando, passando ordens para Dadá e coordenando ações dentro do Senado.

"Entendeu o que eu falei?", indaga Demóstenes ao final da explicação sobre as ações desenvolvidas no Parlamento. "Entendi, entendi. Eu vou avisar pra eles, mas... mesmo assim ficou bom, né chefe?", responde Dadá.

Referindo-se à mobilização política que comandava para aprovação de medidas legislativas, Demóstenes atualiza o ex-sargento: "É, ficou bom porque dá pra acudir, foi bom ter trazido o tema, (mas) não dá pra fazer nada em uma semana, nada, a não ser discurso. Isso não resolve, até porque eu já tô com a lista que você me passou. É... na hora que o presidente anunciar o negócio, eu convoco uma audiência pública pra discutir o tema".

Dadá demonstra ter contatos na mídia para difundir interesses do grupo: "Aí eu aviso a imprensa".

Demóstenes encerra a ligação, de menos de três minutos: "Mas pode ter certeza que o negócio vai ser polêmico".

A operação Vegas, realizada em 2009, levantou indícios que resultaram em outra operação, a Monte Carlo, desencadeada em 29 de fevereiro passado, na qual foi desarticulara uma ampla rede de jogos ilegais comandada por Cachoeira. Ele e Dadá estão presos à disposição da Justiça.

A Vegas indiciou várias pessoas, mas a parte que alcança Demóstenes e outros parlamentares era desconhecida até agora porque, por envolver réus com prerrogativa de foro especial, a investigação dependia de pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que não foi feito na ocasião.

Gravações. As primeiras gravações da Operação Vegas foram divulgadas esta semana pelo jornal O Globo e Jornal Nacional.

Elas mostram que Demóstenes usou o mandato para intermediar interesses de Cachoeira, de quem receberia propinas, presentes caros e favores. O Globo revelou conversas em que ele acerta com Cachoeira táticas que vão da interferência em processo judicial ao lobby pela legalização dos jogos de azar. Demóstenes trata até de licitações na Infraero na época em que era relator da CPI do Apagão Aéreo.

Nas conversas, em que Demóstenes chama Cachoeira de "Professor" e é tratado de "Doutor", o contraventor, como informou o jornal, manda o senador fazer um levantamento sobre um projeto de lei relacionado a jogos de azar. Em razão das provas, o STF abriu inquérito e quebrou o sigilo bancário do senador.

Demóstenes confirmou que é amigo de longa data de Cachoeira, mas silenciou-se quando surgiram as provas do envolvimento dele com a organização. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro disse que os diálogos que incriminam o senador foram colhidos de forma ilegal e serão anulados. "O senador está muito abalado com as acusações que ferem sua imagem,mas juridicamente estamos tranquilos."

Desafetos, entre eles juízes, podem complicar defesa de Demóstenes

Enquanto mantinha imagem de seriedade, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) compôs uma lista de desafetos integrada por nomes que agora podem sentenciar seu destino. Suas críticas contundentes à postura de colegas, os ataques que fez ao comportamento de juízes e a postura de xerife criaram para ele arestas que podem levar à cassação e dificultar sua vida na Justiça.

Dois personagens centrais no comando do inquérito em que Demóstenes é investigado por corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa foram alvos de seus ataques. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi chamado de covarde pelo senador por não ter aberto inquérito para investigar o aumento vertiginoso do patrimônio do então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Demóstenes manobrou no Senado para atrasar a recondução de Gurgel para mais dois anos de mandato como procurador-geral e acusou Gurgel de fazer uma troca com o governo: pela recondução, teria aceito engavetar a investigação contra Palocci. O relator do inquérito contra Demóstenes no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, foi ironizado por ter votado favoravelmente à criação do PSD em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral. "Foi a primeira vez que eu vi um ministro de tribunal voltar aos tempos de advogado para defender abertamente a criação de um partido", disse.

A mais nova ministra do STF, Rosa Maria Weber, foi constrangida na sua sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado com esmiuçadas perguntas feitas por Demóstenes na tentativa de mostrar que ela não teria conhecimento jurídico para o cargo. Em razão da inquirição, Rosa admitiu que teria de estudar determinados temas caso fosse aprovada na sabatina. Mais discretas foram as avaliações que o senador fez em 2009, quando José Antonio Dias Toffoli foi indicado para o STF pelo ex-presidente Lula. Aos colegas de partido, dizia que Toffoli não tinha notável saber jurídico, requisito exigido para um ministro do Supremo.
 

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