domingo, 30 de maio de 2010

PF investiga prostituição de garotas de TV

O cliente do Paraná liga e diz que quer sair com "alguém consagrado". A agenciadora cita os nomes de uma modelo, de uma dançarina de um programa de TV, de uma ex-capa de revista masculina. E lista os preços: R$ 6.000, R$ 4.000...
Em outra ligação, uma famosa assistente de palco de TV relata a uma agenciadora detalhes do programa que lhe rendeu R$ 10 mil.

Diálogos interceptados pela Polícia Federal mostram que uma rede de prostituição de luxo, descoberta em uma operação de 2009, intitulada Harém, cooptou modelos, atrizes e dançarinas de programas de TV, oferecendo cachês de até R$ 20 mil.
A Operação Harém chegou a ser divulgada pela PF no ano passado, mas agora a Folha teve acesso às escutas que mostram detalhes do filão mais lucrativo da quadrilha: o das "famosas" da TV e de revistas. E também de seus principais clientes: políticos, empresários e jogadores de futebol.

Em uma das gravações, um agenciador diz que um governador está interessado em uma dançarina de um programa de TV. Outra aliciadora diz que não seria possível, pois ela estava "namorando um playboyzinho".

Em outra escuta, uma paulista que já posou várias vezes para revistas masculinas e é destaque de escolas de samba foi enviada à França pelo grupo para atender a um jogador de futebol francês. Ganhou R$ 6.000.

O preço mais alto discutido pelos agenciadores grampeados pelos agentes da Polícia Federal foi de cerca de R$ 20 mil. Eles negociaram uma a noite com uma mulher casada e com filhos.

Nas escutas, os aliciadores citam também muitas mulheres que consideram impossíveis ou difíceis de serem cooptadas pela rede de prostituição de luxo.

INVESTIGAÇÃO

Das 12 mulheres indicadas como testemunhas de acusação pelo Ministério Público, três frequentam as telas da TV e duas já foram capa de revistas masculinas.
O caso da modelo que foi para França foi usado nos relatórios da PF para comprovar que os aliciadores cometeram crimes de tráfico internacional de pessoas para exploração sexual.

De acordo com a PF, o esquema era liderado por Yzamak Amaro da Silva, conhecido como "Mazinho", e Luiz Carlos Oliveira Machado, o "Luiz da Paulista".
Ao todo, 11 pessoas foram denunciadas à Justiça por quatro crimes ligados à exploração da prostituição, além de formação de quadrilha. As penas podem chegar a 26 anos de prisão.
O processo criminal do caso está na fase de depoimento de testemunhas.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Deputados do PSDB usam robôs para aumentar seguidores no twitter e se denunciam

Nos três tweets aparece o mesmo conteúdo: um anúncio para o site de uma ferramenta que promete aumentar o número de seguidores no Twitter em até 50 mil de uma só vez. Como? A ferramenta possui um banco de usuários com cerca 130 mil contas, criadas exclusivamente para seguir quem contrata o serviço. Simples assim.

A técnica conhecida como massive follow é muito mal vista nas redes sociais, justamente por dar uma informação que não se sustenta na realidade. A comunidade que se forma em torno no usuário que contrata o serviço é expressiva apenas pela quantidade e não pela qualidade da interação e a audiência, nesse caso, é apenas número.

A mensagem enviada pelos três deputados e reproduzida acima é postada automaticamente no ato da contratação do serviço via API. Se o usuário não estiver atento para desmarcar a opção que autoriza a postagem, não adianta deletar depois como fez o Deputado Traiano PSDB, Mauro Moraes, PSDB,e Vitalzinho, também do PSDB. Há milhares de “radares” atentos a tudo que é publicado na rede.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Em São Paulo, MPF denuncia jornalista por extorquir deputado federal

O Ministério Público Federal em Marília (SP) ofereceu denúncia contra o jornalista Maurício Machado, conhecido como Palhinha, por extorsão (constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de obter para si ou para um terceiro indevida vantagem econômica) contra o deputado federal Sérgio Antônio Nechar (Dr. Nechar, PP-SP). O acusado está preso desde o dia 21 de maio na Cadeia Pública de Garça, cidade na região de Marília.

Segundo consta do inquérito policial, Palhinha, na condição de proprietário do Jornal Atualidades, em Marília, teria feito publicações inverídicas sobre a atuação de Nechar na Câmara dos Deputados, além de ter ameaçado e feito exigências indevidas contra o parlamentar e seu assessor Walter Menegon. De acordo com o apurado pela polícia, as ações criminosas se iniciaram após Nechar ter cessado a destinação de verbas publicitárias ao referido jornal.

O procurador da República Jefferson Aparecido Dias, autor da denúncia, relata que, dentre outras exigências indevidas, Palhinha teria pedido um carro para a empresa jornalística, a contratação de um jornalista para o Jornal Atualidades e o pagamento mensal de aluguel de um imóvel no valor de R$ 1,5 mil.

No dia 21 de maio de 2010, o denunciado teria exigido o pagamento de R$ 15 mil, parcelados em três vezes de R$ 5 mil, para que não publicasse notícias de teor ofensivo contra o deputado federal no Jornal Atualidades, ocasião em que foi preso.

Se condenado, Palhinha, que já foi indiciado por extorsão, difamação, injúria e calúnia na Delegacia da PF em Marília, poderá cumprir pena de reclusão de quatro a dez anos, além de pagar multa. Além da denúncia, o MPF em Marília manifestou-se favoravelmente ao pedido de liberdade provisória, formulado pela defesa do acusado, por não estarem presentes os requisitos da prisão preventiva.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

DEM na corrupção. Imprensa não toca no assunto

Rastros da movimentação das contas-correntes das supostas funcionárias fantasmas do gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB) fornecem indícios que podem levar ao nome de quem embolsou o salário de 13 meses mais os benefícios oferecidos pelo Departamento de Recursos Humanos do Senado. De acordo com extrato bancário de Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, um saque de R$ 450 foi feito em 22 de abril, uma quinta-feira, às 15h50, em um caixa eletrônico do Aeroporto de Brasília. O registro de computadores dos quais foram realizadas transferências da conta também será analisado para apurar a localização da máquina usada no desvio de dinheiro.

O inquérito da Polícia Legislativa do Senado que investiga a contratação de funcionários fantasmas no gabinete de Efraim deve ser oficialmente instaurado hoje. A polícia analisa documentos e faz trabalho de campo, buscando comprovar a atividade dos servidores que supostamente realizam “trabalhos externos”, como alega o gabinete do senador, para justificar a contratação de Kelriany e de Kelly, funcionárias que nunca apareceram na Casa para trabalhar.

Por meio de advogado, Mônica da Conceição Bicalho — comissionada que, com a irmã Kátia da Conceição Bicalho, assumiu a responsabilidade pela contratação irregular das irmãs — negocia com a polícia do Senado depoimento agendado para amanhã à tarde. Mônica e Kátia estariam fora de Brasília, mas o representante das supostas recrutadoras está preocupado com os desdobramentos do episódio caso as clientes assumam sozinhas a responsabilidade pela contratação de funcionárias fantasmas no Senado. Até mesmo o contínuo do gabinete de Efraim, Gilberto Rocha da Mota, teria complicado Mônica e Kátia em depoimento dado à Polícia Legislativa. As informações colhidas pelos agentes do Senado podem acarretar processo contra as supostas recrutadoras, com tipificação de crimes como estelionado, peculado e formação de quadrilha.

Dúvida
Apesar de o senador ter tentado demitir Kelly, Kelriany e a suposta assessora jurídica Mônica, o afastamento das fantasmas gerou dúvida administrativa na Diretoria de Recursos Humanos do Senado. Se Kelly e Kelriany fossem exoneradas no dia 18, como sugeriu Efraim, a responsabilização pelo episódio se restringiria a Mônica e as funcionárias fantasmas teriam todos os direitos de rescisão trabalhista preservados.

A Casa, no entanto, decidiu não afastar as irmãs enquanto a investigação da Polícia do Senado não for encerrada. Em caso de a apuração comprovar participação do gabinete de Efraim na fraude de contratação e na posse das funcionárias, Kelly e Kelriany serão destituídas do cargo, e não exoneradas.

Hoje, a executiva nacional do DEM vai se reunir para discutir a atuação dos diretórios regionais na campanha deste ano, mas o escândalo envolvendo o senador Efraim também deve entrar na pauta. “Ele disse que foi uma coisa que um funcionário fez, mas estamos acompanhando as investigações”, afirmou o senador Demostenes Torres (DEM-GO). Ontem, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que a Casa pode investigar Efraim Morais após a conclusão do inquérito da Polícia Legislativa.

Trâmites burocráticos à parte, a denúncia do esquema de funcionários fantasmas no gabinete de Efraim custou o emprego de Kelriany. Contratada pela mesma empresa em que Kátia trabalha como terceirizada no Senado, a estudante que teve o nome usado em esquema de contratação irregular foi demitida ontem.
Ele (Efraim Morais) disse que foi uma coisa que um funcionário fez, mas estamos acompanhando as investigações”
Demostenes Torres, senador do DEM-GO

O número
R$ 450
Valor de saque no Aeroporto de Brasília, em 22 de abril, às 15h50, de uma das contas das fantasmas de Efraim Morais

Entenda o caso
Denúncia na delegacia

O escândalo dos servidores fantasmas no gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB) surgiu depois de denúncia das irmãs Kelly Janaína Nascimento da Silva, 28 anos, e Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, à polícia de Sobradinho. Kelriany descobriu que estava lotada no gabinete do senador do DEM quando tentou abrir conta bancária durante processo admissional em empresa que presta serviços para o Ministério da Educação.

A movimentação da conta-corrente na qual o salário das estudantes era depositado aconteceu graças à procuração assinada pelas irmãs para Kátia da Conceição Bicalho, irmã da suposta assessora jurídica do gabinete de Efraim, Mônica da Conceição Bicalho. Investigação inicial da polícia do Senado apurou que as posses de Kelly e de Kelriany ocorreram de forma fraudulenta. Contínuo do gabinete do senador, identificado como Gilberto Rocha da Mota, assina a procuração específica que permitiu a posse das funcionárias fantasmas.

Apesar de as irmãs afirmarem que nunca trabalharam no Senado, na última sexta-feira, a Casa depositou o salário de Kelly. O vencimento de Kelriany foi bloqueado e posteriormente liberado. As funcionárias ainda não foram exoneradas, segundo a assessoria. O desligamento só deve acontecer após as investigações. A diretoria do Senado abriu sindicância para apurar participação de outros servidores no esquema de contratação de funcionários fantasmas.

Justiça declara devoluta fazenda de ex-prefeito no Pontal

A Justiça considerou devoluta, em última instância, a Fazenda Nazaré, em Marabá Paulista, no Pontal do Paranapanema, pertencente à família do ex-prefeito de Presidente Prudente, Agripino de Oliveira Lima (PTB). A decisão, divulgada anteontem, considera que a área, de 4,2 mil hectares, é pública.

Lima é tratado como inimigo pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) no Pontal. Em 2002, quando era prefeito de Presidente Prudente, ele barrou uma marcha de militantes comandada pelo ex-líder José Rainha Júnior, bloqueando a Rodovia Assis Chateaubriand com máquinas e caminhões da prefeitura. Lima também foi acusado de manter uma milícia com 70 homens armados na fazenda.

Processo. A ação para que as terras fossem declaradas devolutas foi proposta em 2000 pela Fazenda Pública do Estado. Em 2002, foram declaradas pertencentes ao poder público. A família Lima entrou com recurso no Tribunal de Justiça, que manteve a sentença e considerou ter havido má-fé na compra. O recurso ao Superior Tribunal de Justiça foi negado. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal não acatou o recurso especial apresentado pela família Lima.

Em março, a Justiça determinou que as terras fossem demarcadas por peritos judiciais. O Itesp informou que vai aguardar o fim dos trabalhos para definir o número de famílias que serão assentadas. Só após a demarcação as terras passarão para o domínio do Estado e da prefeitura.

O advogado da família Lima, Fernando Antonio Neves Baptista, informou que vai entrar com ação rescisória, com o objetivo de anular a decisão do TJ que declarou as terras devolutas. Segundo ele, uma lei municipal permite que a prefeitura de Marabá Paulista regularize as terras para eventuais posseiros. "A fazenda é toda produtiva e a disputa está longe de terminar", afirmou.

terça-feira, 25 de maio de 2010

PSB e PCdoB aliam-se ao PT gaúcho

O pré-candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, garantiu ontem a coligação com o PSB e o PCdoB na chapa majoritária para a eleição de outubro. A aliança foi anunciada exatamente uma semana depois que o deputado federal do PSB, Beto Albuquerque, havia desistido da candidatura própria e deflagrado uma corrida pelo seu apoio entre petistas e pemedebistas.

O acordo reforça a posição de Genro, que na última pesquisa do instituto Vox Populi, divulgada sexta-feira passada, obteve 32% das intenções de voto, contra 27% do pré-candidato do PMDB, José Fogaça. Já Albuquerque alcançou 7%, enquanto a governadora Yeda Crusius (PSDB) somou 10%. O PSB tem 12 prefeitos, enquanto o PT comanda 61 dos 496 municípios do Rio Grande do Sul.

A decisão anunciada ontem também reproduz o apoio nacional do PSB e do PCdoB à pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. Já na eleição para a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa PSB e PCdoB concorrerão coligados entre si no Rio Grande do Sul, sem a companhia dos petistas.

O acordo inclui a indicação do ex-deputado estadual e ex-prefeito dos municípios de Cristal e São Lourenço do Sul, Beto Grill, do PSB, como vice de Genro, já que Albuquerque prefere concorrer à reeleição. O PCdoB poderá ficar com a segunda vaga para o Senado (a primeira é do já senador petista Paulo Paim) e também conta com a possibilidade de receber o apoio do PT na disputa pela prefeitura de Porto Alegre em 2012.

O possível apoio ao PCdoB em Porto Alegre foi admitido por Genro na semana passada e confirmado ontem pelo secretário-geral e coordenador executivo da campanha do PT no Estado, Carlos Pestana. "A possibilidade está na mesa", reforçou o presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, que considerou "importante" a sinalização de uma "nova relação sem hegemonia" do PT com outros partidos menores de esquerda.

Ontem o diretório estadual do PP também confirmou a coligação com o PSDB no Estado, assim como já havia anunciado que vai apoiar o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. O partido aceitou a proposta do PSDB, que inclui a indicação do vice na chapa de Yeda (possivelmente o deputado federal Vilson Covatti), uma vaga para o Senado e a aliança na eleição para deputado federal. A disputa para a Assembleia ficou de fora do acordo. O PP tem 149 prefeitos no Estado e os tucanos, 20.

DEM e PSDB divergem sobre reforma política

A reforma política não encontra consenso nem mesmo entre os parlamentares da oposição. Reunidos ontem na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) para debater o assunto, tucanos e demistas divergiram sobre algumas propostas que devem constar em um eventual projeto para alterar as regras do atual sistema político nacional.

O ex-ministro Pimenta da Veiga e o deputado Arnaldo Madeira (SP), ambos do PSDB, defenderam a reeleição, ao passo que o presidente de honra do DEM, Jorge Bornhausen, e a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) manifestaram preferência ao mandato único de cinco anos. A reeleição foi aprovada no final do primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e permitiu continuidade dos tucanos no poder.

Para Madeira e Veiga, a reeleição foi positiva e funciona nas principais democracias. "A Justiça pode fiscalizar e coibir o uso da máquina pública", disse o deputado ao rebater os argumentos dos demistas de que a reeleição desequilibra a disputa eleitoral em favor do candidato que já ocupa cargo no Executivo.

Madeira também se disse favorável ao voto distrital puro. Além disso, enxerga com bons olhos o atual sistema de financiamento de campanha, que permite a doação de recursos por parte da iniciativa privada. Mais uma vez, a posição do tucano foi de encontro com os representantes do DEM.

Kátia e Bornhausen manifestaram apoio ao voto distrital misto e ao financiamento público de campanha. "Sentia-me constrangido em pedir dinheiro para fazer campanha. É profundamente humilhante, mas absolutamente necessário com o atual sistema político", avaliou Bornhausen.

Em comum, PSDB e DEM apontam para a importância de introduzir nas eleições a cláusula de barreira para os partidos. A medida seria uma maneira de filtrar a representação partidária. Bornhausen classificou as pequenas siglas como legendas de aluguel à espera de convites para compor um eventual governo.

Tucanos e demistas também concordam com relação às perspectivas de aprovação de uma reforma política. Para eles, isso só seria possível no começo de 2011, quando o presidente eleito em outubro deste ano já estiver empossado. "Ou seja, tudo vai depender da disposição do próximo presidente em fazer a reforma", disse Bornhausen.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Datafolha acende luz amarela para candidato tucano

Ao ratificar o empate de Dilma Rousseff (PT) com José Serra (PSDB), a pesquisa Datafolha confirma que a propaganda petista no rádio e na TV foi eficiente para associar sua pré-candidata a Lula. Mas as repercussões vão além disso.

As inserções de 30 segundos e o programa de 10 minutos do PT conseguiram projetar uma imagem aceitável de Dilma para mais eleitores, ampliando seu eleitorado potencial. Fizeram sua taxa de rejeição cair de 24% para 20%. E elevaram seu porcentual na simulação de 2º turno para 46%, empatando tecnicamente com Serra.

A consolidação do eleitorado de Dilma está ocorrendo mais rapidamente do que a do seu principal rival. Ela subiu de 13% para 19% entre abril e maio, chegando à liderança isolada no voto espontâneo. Hoje, metade da intenção de voto total na petista está na ponta da língua do eleitor, não é apenas "efeito memória".

Ao confirmar que Serra perdeu eleitores para Dilma, o Datafolha faz acender uma luz amarela na campanha tucana. A estratégia de assoprar por cima e morder por baixo parece ter efeito limitado. Elogiar Lula e criticar pontos específicos do governo pode não ser suficiente para sustentar a candidatura de Serra.

Após a propaganda da adversária, ele viu sua rejeição aumentar e, pela primeira vez, ficou numericamente atrás de Dilma Rousseff na simulação de 2º turno (46% a 45%, segundo o instituto Datafolha).

A soma desses resultados pode fazer parecer que Serra não tem chances na corrida eleitoral. É um erro. Vistos em perspectiva, os números não surpreendem.

Em todas as eleições presidenciais desde 1989 o candidato do PT cresceu entre março e maio. E, com exceção de FHC em 1994, nas outras três o candidato tucano caiu nesse período, como Serra agora. Isso não significou muito naqueles pleitos, já que o PSDB venceu duas das quatro eleições, e pode também não significar muito agora.

Mas as pesquisas criam fatos políticos e influenciam as campanhas: aumentam ou diminuem o moral dos militantes, o volume de contribuições financeiras e a pressão dos aliados. Não basta aos candidatos e assessores acreditar que se há chances, é preciso manter a aparência de favorito ou pelo menos de viável.

A persistir a curva espelhada da intenção de voto, o que um ganhar será à custa do que o outro perder. Em uma situação assim, a campanha de Serra ficará tentada a investir na desconstrução da imagem de Dilma para impedir que ela abra vantagem.

Ainda não deve ser esse o enfoque das propagadas pró-Serra a serem veiculadas nas próximas semanas, dentro dos horários do DEM e PSDB no rádio e na TV. A campanha ainda não começou oficialmente, o que limita as possibilidades de ataque.

As sondagens de intenção de voto imediatamente posteriores às inserções com propaganda de Serra serão o melhor indicador dos limites e potenciais da atual estratégia do tucano. Se ele não reverter a queda nas pesquisas, aumentará a pressão por um "plano B".

Marina sente o gosto amargo de ser amiga do José Serra. Gabeira chuta a candidata do PV para escanteio

Sem a presença da pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, foi lançada ontem a pré-candidatura do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) ao governo do Rio, ao lado de PSDB, DEM e PPS. Até em faixas do PV o nome de Marina foi coberto por fitas adesivas para evitar confrontações. A coligação vai possibilitar um palanque duplo presidencial. Tanto Marina quanto José Serra, pré-candidato do PSDB a presidente, terão espaço na propaganda eleitoral na TV e no rádio na chapa dos quatro partidos no Estado. "Existe uma ausência [no evento] compreensível da Marina e do Serra porque estamos na pré-candidatura. E aqui, além da minha posição favorável à Marina, há inúmeros proporcionais e majoritários que apoiam o Serra. Então seria interessante que estivessem os dois ou não estivesse nenhum", afirmou Gabeira, durante o lançamento de sua pré-candidatura, na sede do clube América, zona norte do Rio.

Segundo Gabeira, apesar das divergências partidárias, o objetivo da coligação é "quebrar a hegemonia do PMDB e de seus aliados" no Rio. O pré-candidato do PV não falou de Marina em seu discurso, mas ao citar projeto de sua autoria na Câmara, de gratuidade da entrega do coquetel de medicamentos para tratamento da Aids no país, lembrou que Serra teria se inspirado no projeto para implementar a iniciativa quando foi ministro da Saúde.

O principal rival de Gabeira no Estado é o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição aliado à pré-candidata a presidente do PT, Dilma Rousseff. Também está no páreo o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que ainda não definiu com quem vai se aliar na campanha presidencial.

Outra ausência no evento de ontem foi a do vereador Alfredo Sirkis, presidente do PV do Rio e coordenador de campanha de Marina Silva. Sirkis ficou insatisfeito com o arranjo das quatro legendas que deixou de lado o nome da vereadora do PV Aspásia Camargo para concorrer ao Senado. A coligação escolheu Marcelo Cerqueira, do PPS, e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, do DEM. No lugar de Aspásia ficou Maia. Nas eleições de 2008, Gabeira, aliado ao PSDB e ao PPS, disparou críticas à gestão Maia, que deixava o cargo após três mandatos.

No palanque do Gabeira, além de Maia, estavam os presidentes do PV, José Luiz Penna, e do DEM, Rodrigo Maia. A deputada Solange Amaral (DEM), que disputou a prefeitura com Gabeira em 2008, pediu engajamento na campanha da coligação.

Marina e Sirkis passaram o dia de ontem em São Paulo, em preparação para o debate dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria (CNI) amanhã, em Brasília. "Já estava combinado que Marina e Serra não iriam", disse Sirkis, que não escondeu seu descontentamento com o lançamento da pré-candidatura de Maia. "É público, notório e óbvio que sou contra", afirmou. Gabeira quase desistiu de disputar o governo do Rio porque tinha resistências a Maia. O acordo foi selado depois que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pressionou em favor de Maia, em nome do acordo nacional de tucanos e demistas em torno da candidatura Serra.

Marcelo Cerqueira disse que a aliança das quatro legendas é "indestrutível" e comparou o acordo com a formação do MDB, que unia vertentes políticas distintas contra a ditadura militar. "Nós somos Serra presidente, nós somos Gabeira governador", disse Cerqueira. Na avaliação de Cesar Maia, a coligação é "inusitada", pois une apoiadores de Serra e de Marina, o que "produz algum tipo de desconforto", mas avalia que "as coisas vão se acomodando". Márcio Fortes, vice tucano na chapa de Gabeira, afirmou que os partidos estão unidos porque "falam a mesma língua" e citou em seu discurso palavras de apoio às pré-candidaturas presidenciais do PSDB e do PV.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cadê o hospital, Kassab

Dos novos três hospitais prometidos pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) até o final de seu mandato, dois serão construídos anexos a hospitais existentes, ou seja, será feita uma ampliação nos serviços já prestados. Os hospitais da Vila Nhocuné (zona leste de SP) e de Parelheiros (zona sul) serão feitos em terrenos ao lado do Hospital Doutor Alexandre Zaio e do Pronto Socorro Municipal Balneário São José, respectivamente.

A superintende das autarquias hospitalares, Flávia Maria Terzian, disse anteontem, em audiência na Câmara Municipal, que a ampliação do hospital da zona leste ficará pronta até o fim do ano. Serão 156 novos leitos. Flávia também confirmou que a obra substituirá a construção de uma nova unidade.

O secretário-adjunto municipal da Saúde, José Maria da Costa Orlando, declarou --também na Câmara, em 24 de março-- que as novas unidades não terão um novo pronto-socorro, pois utilizarão a estrutura já existente.

PP, de Maluf, muda Ficha Limpa


Uma alteração no texto, proposta por presidente da sigla, livra político que já têm condenação

Uma pequena alteração na redação do projeto Ficha Limpa - proposta pelo senador Francisco Dornelles, presidente do PP -, pode salvar a tentativa de reeleição nas eleições de outubro do deputado Paulo Maluf (PP), um dos poucos políticos que teriam eventual candidatura proibida pela Justiça, caso a medida seja sancionada pelo presidente Lula.

No texto, uma emenda proposta pelo PP substituiu a expressão “os que tenham sido condenados” por “os que forem condenados”. “Se prevalecer a redação, a meu ver, é só (para) aqueles que forem condenados depois da promulgação da lei. É a leitura que se faz, pelo menos, gramatical”, disse Ricardo Lewandowski, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O projeto, aprovado pela Câmara na semana passada, vedava a candidatura de políticos com condenação por órgãos colegiados. Com a mudança, proposta pelo presidente do PP na Comissão de Constituição e Justiça, Maluf, que no mês passado foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo pelo superfaturamento na compra de frangos, estaria apto a se candidatar à reeleição.

Entretanto, Dornelles, que é sondado para ser vice de José Serra (PSDB) na disputa pela sucessão presidencial, nega que tenha feito a mudança para beneficiar Maluf. “Foi uma emenda exclusivamente de redação para unificar a linguagem, que em nada muda o sentido do projeto”, diz.

Volta à Câmara

O relator da matéria na Câmara, José Eduardo Cardozo (PT) considera que a alteração mudou o mérito do projeto, por isso, deveria retornar à Câmara para nova votação. “Criou-se uma confusão jurídica que não precisava”.

O senador Demóstenes Torres (DEM), que relatou o projeto na Casa, afirmou que a mudança não alivia punições. “Avaliar assim é coisa de quem não leu o texto aprovado na Câmara e nem o que foi votado pelo Senado. Houve apenas uma adequação de linguagem, de tempo verbal”, disse.

A interpretação da Lei ficará a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte já se prepara para receber, num futuro próximo, ações de políticos barrados em disputas eleitorais por condenações impostas por tribunais. O argumento central deve ser o que estabelece o princípio da presunção da inocência, ou seja, de que ninguém é culpado até uma decisão definitiva da Justiça.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Fogo no Butantan

Não foi por falta de dinheiro que grande parte da coleção de bichos mortos do Instituto Butantan foi destruída.

O prédio que pegou fogo no último sábado abrigava milhares de tipos de cobras, aranhas e escorpiões. Mas não tinha sistema automático de combate a incêndios.

Exemplares de espécies raras foram perdidos e pesquisas para soros e vacinas, que dependiam daquela coleção, podem ser prejudicadas.

Providências já deveriam ter sido tomadas. Entre 2007 e 2008, o Butantan recebeu quase R$ 1 milhão para melhorar sua infraestrutura.

O instituto tinha total liberdade para aplicá-lo. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que fez o financiamento, não determinou o modo como os recursos deviam ser utilizados.

Cabia ao Butantan, que deveria conhecer suas próprias carências, fazer o melhor uso possível do dinheiro.

Os acontecimentos da semana passada mostram que o risco de fogo ficou em segundo plano nos cálculos da instituição. A verba foi usada para catalogar e informatizar coleções e documentos.

Trata-se de um trabalho necessário, mas, infelizmente, a realidade demonstrou que teria sido melhor prevenir incêndios.

A verdade é que os administradores do Butantan foram negligentes.

Agora que o pior aconteceu, anunciam um novo prédio, com métodos modernos de combate ao fogo.

Como costuma acontecer, só providenciam a tranca depois que a porta já foi arrombada.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Festival de prêmios

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva despediu-se da Espanha ontem admitindo que precisaria de um alfinete para esvaziar seu ego.

Foi ao receber o prêmio "Nueva Economía Fórum 2010", em cerimônia na qual sua colega argentina, Cristina Kirchner, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, inflaram devidamente o ego do brasileiro.

Barroso considerou "espantoso" o índice de popularidade de Lula. O presidente reconheceu que não é fácil obter 83% de popularidade, mas atribuiu os méritos ao "povo brasileiro".

"Mais importante que os números das pesquisas de opinião é eu ter despertado no mais humilde dos brasileiros a certeza de que pode e deve chegar à Presidência da República".

É fácil, segundo Lula: "É só chegar e se preparar".

O discurso foi, acima de tudo, um olhar sobre toda a sua carreira política, desde os tempos em que os líderes estrangeiros tinham vergonha de se encontrar com ele, até o presidente multi-ideológico, como ele se definiu em entrevista ao jornal "El País" publicada há 10 dias.

Na verdade, é um "multi-classista", porque, segundo ele, "nunca os empresários ganharam tanto dinheiro como no meu governo; 99% dos acordos salariais resultaram em aumentos reais; e os pobres nunca tiveram um tratamento tão humano e civilizado", afirmou.

O presidente fez apenas uma referência breve sobre sua recente missão no Irã: disse que fora a Teerã seguindo a antiga regra de que "é conversando que a gente se entende". Acrescentou: "É preciso entender a posição dos outros".Folha

Teles temem perder R$ 20 bi com Telebrás

As companhias telefônicas temem perder R$ 20 bilhões anuais com a reativação da Telebrás. A cifra equivale à soma dos contratos do setor com a administração pública (federal, estadual e municipal e estatais), que representou 20% do faturamento líquido do conjunto das teles fixas e celulares em 2009 (R$ 97,8 bilhões).

Segundo a Folha apurou, a resistência das teles ao PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) advém do receio de perder as contas do governo para a Telebrás, e não da eventual atuação da estatal na oferta de acesso à internet a usuários finais em locais remotos ou pobres, onde só consideram viável o atendimento com subsídio do governo e isenção de impostos.

As operadoras alegam que o atendimento à administração pública foi um item determinante em seus planos de negócios, quando participaram do leilão de privatização do Sistema Telebrás, em 1998.

Também afirmam que reativação da estatal seria um rompimento de compromisso por parte do governo.

A Telebrás contesta os números e diz que as reclamações das operadoras não se justificam.

Lei de Licitações

Para as teles, há espaço na legislação para que a administração pública contrate a Telebrás sem licitação.

A lei nº 8.666, que regula as contratações públicas, admite a dispensa de licitação para compra de bens e serviços de estatal criada antes da aprovação da lei, em 1993. A Telebrás foi criada em 1972 e se enquadraria na exceção.

As empresas entraram em alerta a partir de comunicado (fato relevante) que a Telebrás enviou à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e à Bovespa, no dia 4, no qual informou que irá integrar o PNBL e implementar a rede privativa de comunicação da administração pública federal, o que inclui serviços de voz, dados e vídeo.
O comunicado informava que a Telebrás dará apoio e suporte a políticas públicas de conexão veloz à internet para universidades, centros de pesquisa, escolas, hospitais, postos de atendimento, telecentros e outros pontos de interesse público, em grande parte atendidos pelas empresas privadas.

E, ainda, que oferecerá conexão em banda larga a usuários finais onde não houver oferta adequada do serviço.

Justiça

As empresas de telefonia, como a Folha antecipou, preparam-se para questionar a reativação da Telebrás na Justiça e contrataram pareceres dos principais advogados especializados em telecomunicações.

Entre os quais, estão Carlos Ari Sundfeld (um dos autores da Lei Geral de Telecomunicações) e Floriano Azevedo Marques, consultor do governo federal na elaboração dos contratos de concessão de telefonia e do regulamento da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Os advogados sustentam que a Telebrás não tem autorização legal para atuar como prestadora de serviços, pois foi criada pela lei 5.792/72 só com as funções de holding (empresa-mãe das operadoras estatais que foram privatizadas em 1998).
Para mudar o objeto da empresa, afirmam, o Congresso teria que aprovar nova lei.
O governo tem entendimento oposto. O decreto 7.175, que criou o PNBL, diz que a estatal está amparada no artigo 3º, inciso VII, da lei que criou a Telebrás, segundo o qual ela poderá executar outras atividades que lhe forem atribuídas pelo Ministério das Comunicações.

Além de questionar a competência legal da Telebrás para oferecer banda larga, as teles tentam impedir que a Anatel fixe preço para a Telebrás usar as redes privadas de transmissão que interligam os municípios, o chamado ""backhaul".
A Abrafix (entidade que representa a telefonia fixa) move ação na Justiça Federal contra a tarifação do uso das redes. Alega que a banda larga é um serviço privado e que o preço deve ser livre.

Recentemente, a Anatel exigiu informações detalhadas de cada operadora sobre o preço cobrado de cada cliente para o uso de sua redes de "backhaul". As teles desconfiaram de que os dados poderiam ser repassados à Telebrás.
Deram as informações, mas notificaram a Anatel de que os 179 funcionários da Telebrás lotados na agência não poderiam ter acesso aos números.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Com economia em forte expansão, país abre 962 mil vagas entre janeiro e abril

Influenciada pelo forte nível de atividade no setor de serviços, na indústria, na construção civil e na agropecuária, a economia brasileira gerou 305 mil vagas de trabalho com carteira assinada no mês passado, resultado recorde para meses de abril. O desempenho elevou para 962,3 mil o número líquido de postos abertos no primeiro quadrimestre, o maior para esse período desde 1992, início da série do Ministério do Trabalho.

Com a performance acima do previsto para os primeiros quatro meses de 2010, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, elevou de 2 milhões para 2,5 milhões a meta do ano para a oferta de empregos com registro em carteira (descontadas as demissões). A revisão se baseia na análise de que o mercado de trabalho reage neste ano às maiores contratações em decorrência do maior ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB), e à recomposição de quadros nas empresas após as dispensas motivadas pela crise.

"Reavaliamos a meta, porque houve demissões e contenção nas contratações em 2009, principalmente no setor industrial. Este ano, o setor está sendo obrigado a fazer recomposição e a ampliar o quadro de pessoal", comentou Lupi. Nos 12 meses encerrados em abril, as contratações chegaram a 1,908 milhão.

Em abril, o número total de trabalhadores admitidos somou 1,660 milhão, contra 1,355 milhão demitidos, com resultado líquido de 305 mil. Por segmento de atividade, os destaques foram o setor serviços (96.583 postos) e a indústrias da transformação (83.059 postos). Comércio (40.725 postos), da agricultura (38.951) e construção civil (38.418) também apresentaram boa performance.

Por Estado, as maiores taxas de aumento na oferta de postos ocorreram, no mês passado, em Minas Gerais (45 mil vagas), no Rio Grande do Sul (20 mil) e em Goiás (17 mil). Em números absolutos, a primeira posição ficou com São Paulo (119,8 mil vagas).

A despeito do dinamismo do mercado de trabalho entre janeiro e abril, e da nova previsão de 2,5 milhões de trabalhadores contratados neste ano com carteira assinada, maio tende a mostrar desaceleração na oferta de oportunidades, o que sinaliza a incapacidade do mercado para manter o ritmo de contratação em base tão elevada. A estimativa oficial indica admissões entre 240 mil e 280 mil neste mês.

José Márcio Camargo, professor de economia da PUC do Rio e membro da Opus Gestão de Recursos, explicou que o nível alto de oferta de emprego neste ano é consequência do crédito farto, de juros reais baixos para padrões brasileiros e, ainda, das medidas de estímulo adotadas pelo governo.

Ele avalia que a meta de 2,5 milhões de empregos projetada para 2010 é factível e será cumprida, se a economia mantiver o ritmo elevado de crescimento. Se os efeitos da política monetária mais restritiva começarem a se materializar ainda neste ano, e houver desaceleração da expansão do PIB, a oferta de postos nos últimos meses pode ser menor que a esperada pelo governo. "A maior ou menor desaceleração dependerá do tamanho da elevação na taxa Selic. Uma política monetária mais dura tende a gerar menor oferta de emprego", avalia Camargo.

Nas ruas, turcos dizem que opção pelo diálogo ajuda o país

A visão geral de comerciantes, empresários, lideranças industriais e jovens turcos é de que a opção pelo diálogo com o Irã, em vez da imposição de sanções, é francamente apoiada. A reportagem do Valor conversou com moradores de Istambul e Ancara, respectivamente a maior cidade e a capital da Turquia. A maioria aprova a intermediação do governo turco a favor do Irã. Empresários e lideranças industriais, concentrados em Istambul, não acreditam que as conversas com os iranianos, foco internacional de discórdia, gerem problemas para os negócios. A visão geral é que a ligação com o Brasil e a opção pelo diálogo, em vez de impor sanções ao país presidido por Mahmoud Ahmadinejad, beneficia a inserção da Turquia no mundo global.

"Não há problema interceder a favor do Irã, como nosso governo e Lula estão fazendo. Não sou favorável a desenvolvimento nuclear, mas se os americanos podem, porque os iranianos não podem também?", afirma Murat Govaglü, que trabalha como comerciante em Istambul, mas vive em Anatolia, a parte oriental da cidade. Murat, com pouco mais de 30 anos de idade, espelha o pensamento majoritário dos jovens turcos. O país é grande receptor de turistas. No ano passado, foram cerca de 24 milhões de turistas, 2 milhões a menos que em 2008, devido aos efeitos da crise mundial na depreciação da renda. Neste ano, o governo turco espera receber quase 30 milhões de turistas - o Brasil, como comparação, recebe em média 6 milhões de turistas por ano.

A maior concentração de turistas é Istambul, cidade de 16 milhões de habitantes, dividida em lado ocidental e oriental, chamado de Anatolia pelos turcos. O jovem Huram Mietiniz, que trabalha no Grande Bazar, compara a recepção turística com a política diplomática. "Recebemos russos, alemães, italianos, brasileiros, e nossos irmão do Oriente Médio, como iranianos, israelenses, libaneses. Não podemos discriminá-los no país, assim como o governo não pode escolher amigos, mas conversar com todos e tentar entender todas as motivações", afirma Huram, que destacou o fato de ter vizinhos iranianos em Anatolia.

"O diálogo do governo com Ahmadinejad não interfere em nada os negócios. Pelo contrário, inclusive, uma vez que o Irã é dos nossos principais parceiros comerciais", diz Mehmet Aykut Eken, vice-presidente da Tusiad, a associação das indústrias da Turquia. Devido ao boicote de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, o Irã tem opções restritas de mercados para importar. Para os industriais turcos, que lidam com elevadas taxas de juros - atualmente em 7,7% ao ano - e câmbio valorizado - por volta de 1,52 liras turcas por dólar - a demanda garantida dos iranianos é uma importante válvula de escape para exportar.

Murat Yalçintas, presidente da Câmara de Comércio de Istambul, que une cerca de 55% das exportações turcas, avalia que os empresários do país estão se beneficiando das relações mais próximas com países como Síria, Armênia, Rússia e Irã. O vice-presidente da entidade, Dursun Topçu, afirmou que viajou ao Irã em abril e "lá pude ver uma série de produtos turcos e europeus". Para ele, "as boas relações comerciais devem ser também políticas".

sexta-feira, 14 de maio de 2010

TSE multa Dilma e cassa programa do PT para primeiro semestre de 2011

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) multou, ontem, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, em R$ 5 mil por propaganda antecipada. Além da punição imposta sobre Dilma, o tribunal multou o PT em R$ 20 mil e determinou a cassação do horário eleitoral do partido para o primeiro semestre de 2011.

Os ministros do tribunal julgaram uma representação proposta pelo PSDB e pelo DEM. Eles decidiram, por unanimidade, que Dilma tinha conhecimento prévio de que estava numa peça de campanha num período que ainda não era o eleitoral. Dilma foi multada por causa da propaganda eleitoral do PT divulgada em 10 de dezembro de 2009. A peça fez diversas comparações entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o de Fernando Henrique Cardoso. Dilma era, na época, ministra-chefe da Casa Civil, e apareceu em vários momentos da propaganda, dialogando com Lula.

Para o TSE, a comparação entre os governos Lula e FHC foi irregular, pois o horário deveria ser destinado a apresentar programas e ideias do PT, e não a fazer campanha. Por esse motivo, o tribunal condenou o partido a pagar multa de R$ 20 mil e retirou o horário da legenda no próximo semestre a que teria direito. Como o segundo semestre deste ano será de campanha eleitoral, o PT perdeu o direito ao horário que teria no primeiro semestre de 2011.

No caso de Dilma, a multa foi aplicada pelo fato de ela ter tido conhecimento antecipado da campanha. Como foi a primeira vez em que ela foi multada, o valor ficou em R$ 5 mil.

O presidente Lula já foi multado duas vezes pelo TSE por campanha antecipada, em valores que foram definidos em R$ 5 mil e em R$ 10 mil. Seguindo essa lógica, se Dilma for multada novamente, o valor pode subir para R$ 10 mil.

O relator do processo, ministro Aldir Passarinho, fez uma descrição detalhada da propaganda do PT. Ele mostrou um trecho em que um locutor diz: "Era uma vez um país que não tinha quase nada e hoje tem quase tudo". Em seguida, Dilma afirma: "Hoje, o país é bem diferente daquele que o presidente Lula encontrou sete anos atrás." A ministra cita o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e uma popular completa: "O que o Lula está fazendo não pode parar".

"Estamos em tempo de campanha eleitoral", lamentou o ministro Hamilton Carvalhido. Segundo ele, o período eleitoral começa oficialmente apenas em 5 de julho, mas há propagandas que estão ultrapassando os limites e a fixação desse prazo.

"Jamais me deparei com algo tão escancarado", criticou o ministro Marco Aurélio Mello. Ele discordou dos demais apenas num ponto. Para Marco Aurélio, Dilma também deveria ter de pagar multa maior, no valor de R$ 20 mil.

O julgamento de ontem poderia ter resultado na suspensão da propaganda do PT, que foi transmitida no rádio, às 20h, e na televisão, às 20h30. Mas, os ministros não conseguiram iniciar a sessão a tempo. A sessão estava prevista para as 19h, mas o julgamento da ação do PSDB e do DEM só começou às 20h35, quando o programa do PT estava na metade. O atraso decorreu da cerimônia de posse de Marco Aurélio como ministro do TSE. O julgamento que resultou na multa contra Dilma e o PT foi concluído às 21h55.

Posse de Marco Aurélio atrasa início de julgamento que poderia cassar programa

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não conseguiu fazer o julgamento do programa do PT antes que o mesmo entrasse no ar.

Com isso, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata Dilma Rousseff teve garantidos os seus dez minutos na televisão e no rádio. Ambos apareceram no programa.

Havia o risco de o tribunal cassar o horário em decorrência de uma ação movida pelo DEM e pelo PSDB. Os partidos de oposição alegaram que, durante o horário do PT, em dezembro de 2009, o partido fez comparações entre os governos Lula e FHC. Para a oposição, essa comparação não poderia ter sido feita durante o horário eleitoral do partido, pois esse é reservado para divulgar ideias e propostas das legendas.

O risco de o PT ficar sem o horário tornou-se forte, na semana passada, quando a Ministério Público Eleitoral pediu a cassação do horário do partido. A vice-procuradora-geral-eleitoral, Sandra Cureau, alegou que o TSE possui jurisprudência (entendimento consolidado) de que a comparação entre administrações de partidos adversários com o objetivo de exaltar uma e prejudicar outra, configura propaganda eleitoral subliminar. A punição para essa prática seria a perda do horário do partido no semestre seguinte. A consequência seria a cassação da propaganda petista de ontem.



Porém, o TSE não conseguiu julgar o caso a tempo. Após adiar o julgamento por problemas com prazos processuais, na terça-feira, os ministros deveriam iniciar a sessão de julgamento, às 19h. O problema ê que, ontem, Marco Aurélio Mello tomou posse como ministro-efetivo na Corte. Houve, então, a cerimônia de posse de Marco Aurélio, com discursos, hino nacional, e a presença de autoridades do Judiciário. Após a posse, realizada às 20h, quando o programa do PT já estava no ar no rádio, o TSE concedeu um intervalo de 15 minutos para que Marco Aurélio recebesse cumprimentos.

O julgamento começou às 20h35, quando o programa do PT estava sendo transmitido na televisão. Mas não foi concluído até às 21h. Marco Aurélio presidiu o TSE, entre 2006 e 08. Foi ele quem conduziu o tribunal durante as eleições de 2006, quando Lula foi reeleito. O ministro retornou ao TSE, dentro de um sistema de revezamento, pelo qual integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) são eleitos por seus pares para a Corte Eleitoral.

Atualmente, seis ministros do STF atuam no TSE. Há três ministros-efetivos: Ricardo Lewandowski (presidente do TSE), Cármen Lúcia Antunes Rocha e Marco Aurélio. E três ministros-substitutos: Gilmar Mendes, José Antonio Dias Toffoli e Celso de Mello.

A ação da oposição junto ao TSE irritou dirigentes do PT. É um absurdo o partido que governa o país não poder falar em continuidade na propaganda eleitoral", afirmou André Vargas, secretário de comunicação do PT.

Antes do julgamento, um assessor da campanha de Dilma admitiu que o PT pode perder espaço nos horários eleitorais, como aconteceu na campanha de Lula, em 2006. Naquele ano, Lula foi punido pelo uso indevido da imagem presidencial por governadores que disputavam as eleições estaduais. O TSE concluiu que o candidato a presidente estava participando das campanhas estaduais, o que não seria permitido.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Presidente da nova Telebrás quer empresa funcionando em dois meses

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem o Decreto que cria o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que deve ser publicado hoje no "Diário Oficial da União". O decreto torna claro qual será o modelo de governança da Telebrás e quais as políticas que vão nortear o PNBL, que tem metas para até 2014. O texto também ratifica que a Telebrás será a operadora das redes de fibra óptica do país, conforme indicava o fato relevante publicado pela estatal na semana passada, e indica as missões da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) acerca da internet rápida.

A estatal terá suas políticas indicadas pelo Ministério das Comunicações, mas definidas em um âmbito de 11 ministérios, sob coordenação da Casa Civil, conforme afirmou ontem o ministro das Comunicações, José Arthur Filardi. O ministro esteve presente na reunião do conselho da estatal que aprovou a indicação de Rogério Santanna para a presidência da Telebrás. Santanna era secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento e foi um dos maiores entusiastas da restauração da Telebrás.

Segundo Filardi, a Telebrás é uma empresa regulada, que, portanto, terá limites para atuação. Pelo decreto, a Telebrás passará a atuar exclusivamente com foco na gestão da banda larga do país. Filardi indica que participará das discussões sobre políticas para a Telebrás, mas no colegiado que indicará o seu campo de ação. O PNBL terá como instância maior o Comitê Gestor de Inclusão Digital, formado pelos ministérios.

O Ministério das Comunicações era, inicialmente, contrário à retomada da Telebrás para atuação no PNBL. "Agora é unirmos forças em torno da decisão do presidente", diz o ministro Filardi, que assumiu o posto após a desincompatibilização e regresso de Hélio Costa ao Senado. Sob o comando de Costa, o Ministério das Comunicações produziu um projeto para expansão da banda larga que não foi adotado plenamente. "Esquecemos o que foi proposto, e agora atuaremos com o todo governo, em uma unidade", diz o ministro.

Santanna espera que a Telebrás tenha condições de voltar a operar em cerca de dois meses. Hoje, a empresas tem apenas funcionários administrativos na sede. O novo presidente espera que cerca de 60 funcionários possam ser chamados de volta da Anatel, para onde foram realocados com a interrupção das atividades da estatal, em 1998.

Atualmente, 186 funcionários da Telebrás estão alocados na Anatel. Por causa da retomada das operações da estatal, deverá ser encerrado nos próximos meses o Programa de Indenização por Serviços Prestados (Pisp), um programa de demissão voluntária com verba indenizatória para os funcionários que queriam deixar a empresa.

Segundo Santanna, que, inicialmente, acumulará a presidência com a direção de relações com investidores, a meta hoje é torná-la "moderna, enxuta, transparente e inovadora". "Nós queremos levar a banda larga onde ninguém viu um negócio e onde ninguém viu solução."

Apesar de haver intenção de estimular a concorrência entre as operadoras de telefonia no setor de banda larga, o decreto assegura que a Telebrás deverá prestar serviços em condições isonômicas e não-discriminatórias, ou seja, sem benefícios fiscais em relação às operadoras privadas, que temem privilégios à estatal.

Em relatório, Jim O´Neill aponta favoritismo do Brasil na Copa

Que Grécia, que nada. O mais lido relatório do banco de investimentos Goldman Sachs neste mês não fala de crise econômica ou de recessão em países europeus. O assunto é futebol. Jim O " Neill, diretor de pesquisas econômicas globais da Goldman Sachs e criador do termo BRICs, publicou na sexta-feira um relatório de 67 páginas, chamado "2010 World Cup and Economics Report" (A Copa do Mundo de 2010 e a Economia), no qual faz previsões sobre os possíveis vencedores do Mundial. O Brasil, segundo O " Neill, é o mais cotado para vencer a disputa na África do Sul, com 13,76% de probabilidade.

"Não temos dúvida de que esse relatório é o que mais gera controvérsias", disse O " Neill, na introdução do trabalho. As apostas do economista - que é torcerdor fanático do inglês Manchester United e também faz parte de um grupo de investidores que quer comprar o time - são de que Brasil, Argentina, Alemanha e Itália deverão disputar as semifinais do torneio, que começa em 27 dias. "Para aqueles que se irritam com nossas previsões, lembramos que acertamos três dos quatro semifinalistas das Copas de 2006 e de 1998", provocou o diretor da Goldman Sachs.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lula começa por Moscou viagem

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa por Moscou, amanhã, viagem de uma semana a três países da Europa e dois do Oriente Médio que será um verdadeiro teste para seu prestígio pessoal e à confiança que a política externa brasileira construiu na comunidade internacional. Será uma das últimas das grandes viagens do presidente desde que o Itamaraty, com sua benção, retomou com intensidade a política Sul-Sul, em ritmo só comparável ao do período militar. Depois, Lula fará ainda uma longa viagem à África e deve encerrar seus oito anos de mandato com uma visita à China.

São dois os testes de Lula. O mais importante é o Irã, onde estará nos dias 16 e 17. Teerã está sob intensa pressão da comunidade internacional para abrir seu programa nuclear aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica.

O Irã recorre até a argumentos religiosos para assegurar que seu programa é pacífico. "Pela lei islâmica e por um decreto do líder espiritual a produção de armas de destruição em massa é proibida", diz o embaixador iraniano em Brasília. Moshen Shatrezadeh. Lula é contrário à aplicação de sanções econômica que devem ser impostas pela ONU e defende o diálogo entre Teerã e as grandes potências internacionais.

A viagem à Rússia tem um forte componente comercial. Mas Lula deve tratar da questão iraniana com o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e com o presidente, Dmitriy Medvedev, em conversas previstas para amanhã e depois. Os russos inicialmente tentaram ajudar o Irã, que os ignorou, mas agora devem apoiar a posição dos Estados Unidos e da França, seus parceiros no Conselho de Segurança da ONU, de aplicar sanções comerciais ao Irã.

Segundo o governo brasileiro, além dos negócios, a viagem de Lula ao Irã é uma oportunidade para o Brasil exercitar seu compromisso com a paz e demonstrar sua confiança no diálogo como sendo caminho adequado para a solução de problemas. No Palácio do Planalto afirma-se que Lula, como um ex-sindicalista, acredita na conversa "olho no olho". O Brasil já se satisfaz em mediar o diálogo entre Teerã e as grandes potências - só a China deve se abster de votar no Conselho de Segurança da ONU. Uma posição que países aliados, como a França, consideram "ingênua".

Isolada, Teerã elegeu o governo brasileiro como um parceiro confiável. As autoridades iranianas aceitariam, por exemplo, que o Brasil fosse o local para a troca de seu urânio semienriquecido por combustível nuclear, se os líderes mundiais aceitassem a proposta.

Outro problema foi a ameaça de Lula de não comparecer à 6ª Cúpula da União Europeia, América Latina e Caribe, em Madri, por causa da presença no encontro do presidente de Honduras, Porfírio "Pepe" Lobo, cuja eleição não foi reconhecida pelo Brasil. Honduras também está suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde o ano passado por causa do golpe de Estado que depôs o presidente Manuel Zelaya. O impasse foi resolvido por um arranjo de agenda que impedirá Pepe de cruzar com o brasileiro, mas era Lula quem mais tinha a perder se não fosse à cúpula: a UE já admite fazer acordos com o Mercosul, e a reunião de Madri será uma oportunidade única de negociação.

No fim do segundo mandato de governo o prestígio e o reconhecimento internacional de Lula e do país estão sendo questionados por causa do viés ideológico que passou a ser detectado em certas decisões. Lula, por exemplo, não condenou Cuba pela morte de um preso político que fazia greve de fome, é compreensivo com decisões ditatoriais de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, e agora com Teerã e seu programa nuclear, que as autoridades iranianas asseguram ter fins pacíficos

Em contrapartida, Lula não foi à posse de um presidente eleito democraticamente, o chileno Sebastián Piñera, um reconhecido direitista, em março, sob a alegação de problemas de segurança causados pelo terremoto que causou cerca de 500 mortes - o Brasil foi um dos países que mais ajudaram no socorro às vítimas do sismo.Valor Econômico

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Estava na mão do Ciro a mudança que os paulistas querem

A campanha de Geraldo Alckmin ao governo do Estado trará a bandeira da continuidade dos 16 anos de PSDB no Estado. Isso não significa, no entanto, que ele manterá as ações do atual governo. Alckmin tentará retomar aquilo que realizou em seis anos de gestão.

Um dos desafios do tucano, que completa 58 anos no fim do ano, será apresentar um discurso de mudanças, já que participou das últimas quatro gestões. Segundo pesquisa qualitativa feita pelo PSDB, para consumo do partido, 61% dos entrevistados pretendem votar pela mudança na eleição para governador em 2010. A sondagem, feita a pedido do PSDB pelo Instituto Opinião e Pesquisa, indica que um terço dos entrevistados que querem mudanças acham que seria ruim se o PT vencesse. Os outros 39% dos entrevistados pretendem votar pela continuidade na eleição para governador em 2010.

Outro desafio será retomar as marcas dos seis anos em que governou São Paulo, em parte apagadas pelo gestão José Serra/ Alberto Goldman. Quando assumiu o governo do Estado, em 2007, Serra determinou a revisão e renegociação de todos os contratos da gestão Alckmin, determinou a redução dos cargos em comissão e fez um recadastramento geral dos funcionários, para identificar eventuais servidores "fantasmas" e pagamentos indevidos.

Na Secretaria da Fazenda, a atual gestão fez mudanças na política tributária e reviu a política de incentivos fiscais que marcou a administração anterior. Alckmin destacou a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para diferentes setores da economia, que se iniciaram nos setores do álcool combustível e têxtil e depois se ampliaram nas "primaveras tributárias". Já Serra priorizou a elevação de receita por meio de substituição tributária, regime que consiste na arrecadação antecipada do ICMS no começo da cadeia produtiva, para reduzir a sonegação fiscal.

A área de Educação foi simbólica das mudanças feitas por Serra em relação à administração de Alckmin. O atual governo criticou a falta de um currículo unificado para ser seguido pelas escolas estaduais, fez ressalvas à forma como foi conduzida a progressão continuada, que evita a repetência dos alunos, e investiu em programas de valorização dos servidores pelo mérito e política de bônus por desempenho das escolas. Perderam espaço nesta administração programas como o Escola da Família e Escola em Tempo Integral, bandeiras do secretário de Educação da gestão Alckmin, Gabriel Chalita. As divergências entre os dois governos foram ressaltadas quando Chalita deixou o PSDB para filiar-se ao PSB, com críticas à descontinuidade de seus projetos.

Outra área que mostra visões diferentes dos dois governantes é Habitação. O atual governo reforçou a construção de moradias populares na capital e na grande São Paulo, que concentram o déficit habitacional do Estado. Alckmin, destacam seus aliados, focou os investimentos no interior paulista.

Na pasta de Segurança, as principais mudanças, como o modelo de gestão das penitenciárias, foram iniciadas pelo vice de Alckmin, Cláudio Lembo (DEM), que comandou o governo por nove meses depois que o tucano se desincompatibilizou para disputar a Presidência, em 2006. Lembo administrou a pior crise na área de Segurança vivida em São Paulo, com ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC. "Foi o DEM que implementou mudanças na Segurança", disse Lembo. "A filosofia da administração (de Alckmin) levou à fragilidade da disciplina (nos presídios)", disse, comentando que sob seu comando também começaram as alterações na Educação. Serra manteve iniciativas de Lembo.

De forma velada, tucanos criticam a "velocidade reduzida" dos investimentos em Transporte - foco da atual gestão, que ampliou o metrô na capital e reformou o sistema de trens na região metropolitana. Lembram ainda da "herança maldita" na área, que Serra administrou no 12 º dia de seu governo, com o desabamento de parte das obras da estação de metrô Pinheiros, que matou sete pessoas. O contrato entre o Metrô e as construtoras responsáveis pela obra foi assinado no governo Alckmin.

"Cada governante tem seu estilo e o de Alckmin é tipicamente do paulista do Vale do Paraíba", disse Cláudio Lembo. "Ele é o mineiro que escorregou pela Serra da Mantiqueira. É o mineiro que vai para a estação de trem de manhã, mesmo sabendo que só vai embarcar de tarde", brincou o dirigente do DEM. "Já Serra tem visão de governo mais nacional. Ele arrisca mais, é mais ousado", comparou.

Com o espírito de "paulista do Vale do Paraíba", Alckmin construiu uma boa relação com prefeitos do interior. Para azeitar a relação com eles, o ex-governador promovia convescotes mensais no Palácio dos Bandeirantes com prefeitos de todos os partidos. As rodadas de pizza na sede do governo paulista eram organizadas de acordo com a região dos prefeitos.

"A força dele está no interior", comenta o deputado federal Renato Amary (PSDB-SP). Os números reforçam a percepção: em 2006, quando disputou a Presidência, Alckmin teve mais de 50% dos votos válidos em 525 das 645 cidades. Juntos, esses municípios somam 20 milhões de eleitores, metade do total do Estado. O interior tem 72% do eleitorado.

Ao comparar as gestões de Alckmin e Serra, políticos ligados a eles destacam, em geral, obras que são da atual gestão, como o Rodoanel, a expansão do metrô, os investimentos em estradas vicinais e programas de saneamento no Estado. No entanto, tentam explicar o porquê de Alckmin ter saído do governo melhor avaliado do que Serra: "Ele é uma pessoa equilibrada, com uma vertente do mineiro, que não gosta dos extremos", diz Lembo. "Já Serra é o "italianinho", mais "agressivo"". Segundo o Datafolha, Alckmin saiu do governo com avaliação de 66% de "ótimo e bom". Serra saiu do governo com 55%.

Entre as críticas ao estilo "paulista do vale do Paraíba", que lhe rendeu o apelido de "picolé de chuchu" na campanha de 2006, estão: "inseguro, inexperiente, fraco, inexpressivo" e "muito devagar, não possui pulso firme para governar". As características estão registradas em pesquisa qualitativa feita para o PSDB obtida pelo Valor. A sondagem registra que as principais críticas à gestão estão relacionadas às pastas de Segurança e Saúde. A oposição, feita pelo PT, destaca também o aumento de pedágios em rodovias no Estado.


Tucano entra no encontro sob escolta

A falha de organização da Associação Mineira dos Municípios (AMM) - que não previu a repercussão que teria o primeiro encontro dos presidenciáveis em 2010 - e atos de vandalismo político cometidos por militantes do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind UTE) criaram uma atmosfera de caos no debate de ontem.

Com palavras de ordem contra o governador de Minas Gerais Antonio Anastasia (PSDB), os sindicalistas tentaram invadir o recinto e foram contidos por policiais militares, com quem trocaram socos. Houve uso de "spray" de pimenta. Aos palavrões, os sindicalistas avançaram contra o presidenciável do PSDB, o ex-governador José Serra, que teve que entrar na sala sob escolta.

Os professores de Minas Gerais estão em greve desde o dia 8 de abril. Apesar de um reajuste de 10% dado no primeiro dia de governo de Anastasia, ainda recebem abaixo do piso nacional. Os sindicalistas já haviam protestado contra o governo mineiro e Serra em Uberlândia, na semana passada, mas se dispersaram antes da chegada do pré-candidato, após luta corporal contra militantes tucanos. Desta vez, estiveram próximos de agredir Serra graças a uma falha da organização do evento, que permitiu que cerca de 200 manifestantes ficassem na área reservada para a passagens dos pré-candidatos.

A motivação política do protesto do Sind UTE realizado ontem era evidente. Os manifestantes tinham como uma de suas palavras de ordem o grito: "Serra, Aécio e Anastasia são a mesma porcaria" . O sindicalismo ligado à educação já havia promovido protestos violentos em São Paulo, nos últimos dias de Serra como governador.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dilma participa de evento católico e fala do trem bala

A petista Dilma Rousseff fez mais um movimento para se aproximar da Igreja Católica ao participar da inauguração da Central de Produção Multimídia da comunidade Canção Nova, em Brasília. Acompanhada de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, Dilma fez o sinal da cruz na hora da bênção e conversou com os bispos.

Ela ouviu o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, criticar a imprensa. "Nos tempos em que todas as notícias têm seus filtros, é muito bom termos um canal que possa colocar a nossa visão de mundo, os acontecimentos", disse o responsável pelo setor de comunicação da CNBB.

Dilma elogiou Luzia Santiago, cofundadora da Canção Nova. "Como você emagreceu", exclamou. "Estou me achando gorda. Preciso emagrecer." A petista relatou ter feito pressão para aprovar uma parada do trem bala - que vai ligar São Paulo ao Rio - em Aparecida do Norte (SP), onde está o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Admitiu, porém, não ter conseguido a parada em Cachoeira Paulista, cidade que abriga a sede da Canção Nova. Integrante da comunidade, o vereador Gabriel Chalita (PSB) atuou como espécie de mestre de cerimônias

Justiça Eleitoral nega multa ao Sensus

A Justiça Eleitoral indeferiu ontem o pedido do PSDB de aplicação de multa ao instituto de pesquisa Sensus. De acordo com a decisão do relator, não houve qualquer irregularidade no registro e prazo de divulgação da pesquisa sobre a corrida eleitoral para presidente. Os tucanos questionavam o levantamento, que apontou empate técnico entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). A pesquisa foi realizada entre os dias 5 e 9 de abril, e divulgada no dia 13. Depois de fazer uma auditoria no instituto, os tucanos entraram com uma representação no Ministério Público Eleitoral pedindo abertura de inquérito para investigar a pesquisa.

Ministério Público denuncia 47 envolvidos na Operação João de Barro

O Ministério Público Federal em Governador Valadares (MG) informou ontem que ofereceu denúncia contra 47 pessoas por crimes como corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, formação de quadrilha e fraude à licitação. Todos são acusados formalmente de envolvimento com um esquema de desvio de verbas públicas, alvo da Operação João de Barro, da Polícia Federal, em junho de 2008. O principal denunciado é o empresário e lobista João Carlos de Carvalho, apontado como o elo entre parlamentares e empresários. Pelo menos sete deputados federais foram investigados. João Magalhães (PMDB) é acusado de comandar o esquema no Congresso. De acordo com o Ministério Público de Governador Valadares, o modo de atuação era muito semelhante ao praticado pela chamada Máfia dos Sanguessugas. Os parlamentares faziam contato direto com os prefeitos beneficiários das emendas e indicavam as empresas que participariam das licitações e quais seriam as vencedoras. A movimentação financeira dos convênios investigados teriam ultrapassado o valor de R$ 2,7 bilhões.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Jornais não querem perder verbas de publicidade

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) vão procurar os candidatos à Presidência para cobrar compromisso com a liberdade de imprensa no País.

Em agosto, a ANJ convidará José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) a assinar a Declaração de Chapultepec, carta de princípios que coloca a “imprensa livre como condição para que as sociedades resolvam conflitos, promovam bem-estar e protejam a liberdade”.

A Abert não definiu a data em que procurará os candidatos, mas quer ouvir deles a promessa de que haverá respeito à liberdade de expressão no País.

PT convoca militância para duelo na web

Pré-candidato em SP, Mercadante convoca militantes para defender Dilma contra ‘guerra suja’

Pré-candidato ao governo de São Paulo, o senador Aloizio Mercadante (PT) convocou a militância petista para defender a presidenciável da sigla, Dilma Rousseff, contra a “guerra suja na internet” que estaria sendo promovida por aliados do tucano José Serra, principal adversário na disputa presidencial. “A militância, com cerca de 500 mil filiados votantes em São Paulo, é um grande patrimônio, que vai poder ajudar”, afirmou, durante caravana, ontem, na zona sul da capital.

Para Mercadante, que esteve em pré-campanha ao lado de Dilma em três eventos na última semana, nas eleições deste ano a internet será um “importante espaço de disputa, tão fundamental quanto a entrega do santinho”.

Mostrando a atenção que a coordenação da campanha petista tem dado à web, o senador apresentou números. Segundo ele, são 15,9 milhões de paulistas na rede virtual, dos quais 11,5 milhões em sites de redes sociais como Orkut e Facebook. “É nesse universo que os militantes devem trocar mensagens de apoio, com informações sobre as realizações do governo, defendendo a Dilma, o presidente Lula, a Marta (Suplicy, pré-candidata ao Senado)”, afirmou.

Mercadante ainda criticou a estrutura montada pelo PSDB na rede, criando sites como o ‘gente que mente’, que segundo tucanos tem por objetivo “desmentir os números e declarações feitas pelos governistas”. “São sites estruturados por profissionais para agredir, mas contra isso temos a militância”, afirmou o petista.

Na última sexta-feira, o PT ingressou com representações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e na Procuradoria-Geral da República contra o PSDB, para que a sigla seja multada por campanha negativa antecipada feita pela internet que, na opinião dos petistas, atinge a honra de Dilma.

Campanha paulista

Tentando acabar com a hegemonia tucana – que governa São Paulo há 15 anos e tem seu pré-candidato, Geraldo Alckmin, como líder nas pesquisas de intenção de voto – o petista criticou os levantamentos junto ao eleitorado e parte da imprensa. 'Alguns órgãos de imprensa não estão dando nenhum espaço para as candidaturas ao governo do Estado que já se apresentaram”, disse ele, que prometeu “fazer de São Paulo uma Bahia”, referindo-se às últimos eleições ocorridas naquele Estado. Na ocasião, as pesquisas apontavam que o candidato petista, Jacques Wagner, que foi eleito no primeiro turno, não levaria o pleito nem mesmo ao segundo turno.

Para isso, Mercadante vê condições favoráveis “que não existiam em eleições anteriores”. “O partido vai para a disputa unificado, sendo que nem uma prévia tenha sido necessária”.

Ele ressaltou ainda que o amplo apoio pode beneficiar sua candidatura na TV. “Podemos ter o apoio de 8 a 10 partidos, o que nos garantirá o dobro do tempo na televisão, em comparação às eleições passadas”.

Viva Lula que criou universidades e ProUni: Escolaridade do eleitor sobe mais que renda

A escolaridade avançou mais que a renda, as desigualdades diminuíram, a fatia de eleitores mais maduros, evangélicos e urbanos cresceu e a participação das mulheres aumentou. Estas são as principais mudanças registradas em dez anos no perfil do eleitorado brasileiro, que chegou a 133 milhões, o equivalente a 69% da população. Entre 2000 e 2010, os eleitores dos dois extremos da renda nacional tiveram uma evolução inversa. A faixa que ganha até um salário mínimo passou de 10% a 18% do eleitorado e a que tem renda acima de dez mínimos caiu de 19% para 9%. Hoje a maior fatia dos aptos a votar é formada por eleitores com pelo menos o ensino médio completo. Especialistas ouvidos pelo Valor veem o descompasso de um eleitor que consome mais informação e não tem ascensão social correspondente como o elemento de maior estresse na definição de voto. A esta frustração, soma-se um eleitor mais experiente. Hoje um terço tem mais de 50 anos.

A escolaridade avançou mais que a renda, a fatia de eleitores mais maduros, evangélicos e urbanos cresceu e a participação das mulheres aumentou. Estas são as principais mudanças registradas em dez anos no perfil do eleitorado brasileiro.

Cotejadas, as amostragens de duas pesquisas realizadas pelo Instituto Vox Populi, em abril de 2000 e abril de 2010, revelam essas mudanças. São igualmente levadas em consideração por pesquisadores de outras instituições, como Mauro Paulino (Datafolha), Antonio Lavareda (MCI), e Alberto Almeida (Análise).

Os especialistas levam em conta estimativas de órgãos oficiais de pesquisa, como o IBGE. A Justiça Eleitoral ainda não tem o levantamento da escolaridade do eleitor deste ano porque o prazo para a mudança de domicílio eleitoral termina na quarta-feira.

Entre 2000 e 2010, o eleitor com o primário incompleto deixou de representar o maior grupo entre os votantes do país. Nas eleições deste ano, a maior fatia dos 133 milhões de aptos a votar será formada por homens e mulheres com pelo menos o ensino médio completo. Um em cada três eleitores tem esse patamar de escolaridade. Em 2000, a parcela dos que haviam completado o ensino médio era inferior à metade daqueles que não haviam concluído o ensino fundamental.

As mudanças no perfil de renda são mais sutis. A fatia da população que ganha até um salário mínimo nas amostragens do Vox Populi subiu de 10% para 18% do total, mas este indicador é bem distinto daquele de dez anos atrás. Em abril de 2000, quando o salário mínimo era de R$ 180, comprava 1,28 cestas básicas em São Paulo. Uma década depois, compra duas. Ainda assim, o sócio diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, aposta em descompasso entre o avanço em escolaridade e renda.

"Está criado um elemento de estresse, porque a ascensão social dos segmentos que passaram mais anos na escola não foi proporcional. O eleitor está consumindo mais informação, demanda mais do poder político e permanece vivendo em um meio desigual", afirma Coimbra.

Para o especialista, a possível frustração por expectativas não atingidas de elevação social se combina com maior experiência política. O eleitorado com menos de 24 anos caiu e aquele acima de 50 cresceu. "Isto significa que o eleitor médio já votou diversas vezes e está acostumado com as polarizações políticas em curso no País. É um elemento que tende a racionalizar a escolha e levar ao descarte de "outsiders" e apostas de risco", comenta. Coimbra minimiza o maior peso evangélico no voto. "Provavelmente essas pessoas que se tornaram evangélicas ao longo da década já tinham um conjunto de convicções semelhante antes da nova opção religiosa", diz.

"Mudou a forma como o eleitor encara a eleição. O exercício do voto a cada dois anos faz com que a população apure as escolhas e a formulação do voto. Esta dinâmica faz com que o eleitor pense mais em política, esteja mais atento às ações do governo. Há uma mudança de mentalidade. O eleitor está mais crítico e mais seletivo", reforça Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Para ele, o contingente de jovens é matizado pelo avanço de tecnologias como a internet, utilizada com mais intensidade pela população que já cresceu em ambientes digitais. "A queda do número de jovens interessados por política foi revertida e muitos retomaram a participação com a internet. A rede talvez esteja substituindo a militância das ruas", afirma.

A dúvida entre os especialistas é o que este novo perfil pode significar em termos de mudança do comportamento de voto. Há apenas um consenso: o de que não existe mais uma correlação automática entre elevados níveis de renda e escolaridade: há hoje pessoas cursando universidade e no limite da pobreza. O sociólogo Antonio Lavareda, da MCI, afirma que o maior acesso a informações pode provocar uma situação paradoxal: a de que a maior volatilidade eleitoral aconteça nas faixas mais elevadas de escolaridade.

"Há elementos para pensar que as pessoas mais suscetíveis à emoção no momento da escolha eleitoral são as que mais acesso têm à informação. Estas pessoas estão mais integradas a um ambiente que fomenta a mobilização em termos emotivos , há nestes segmentos mais ansiedade em relação ao futuro e mais incertezas. A escolha mais fria acaba sendo a da população que ficou em um nível de interesse menor durante o processo eleitoral", comenta.

Em decorrência do envelhecimento da população, aumentou a participação das mulheres no conjunto do eleitorado. Como as mulheres, em média, vivem cerca de sete anos a mais do que os homens, tendem a predominar na população de faixa etária mais elevada.

Para Lavareda, o ligeiro predomínio feminino no eleitorado é um fator estabilizante, pelo padrão de voto usual das mulheres no Brasil. "As mulheres aqui tendem a levar em consideração temas como educação, saúde e segurança, normalmente deixados em segundo plano em uma dinâmica eleitoral presidencial, ao menos em seu começo. Interessam-se pouco por questões ideológicas. Assim, retardam bastante a sua definição eleitoral", afirma. Nas eleições de 2002 e 2006, diversas pesquisas comprovaram que houve maior dificuldade de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segmento feminino, mas Lavareda nega que o fato indique uma aversão das mulheres à esquerda.

"As mulheres não necessariamente são mais conservadoras; nos Estados Unidos: se dependesse apenas dos homens, Barack Obama dificilmente teria sido eleito. Também não havia diferença de gênero no voto em favor de Fernando Henrique Cardoso nas eleições de 94 e 98. É cedo para falar de Dilma, que ainda é pouco conhecida para um segmento do eleitorado que costuma fazer uma definição tardia", diz.

É um raciocínio diametralmente oposto ao de Mauro Paulino. Para o diretor do Datafolha, as mulheres influenciam no voto familiar e costumam se antecipar às tendências de voto. " Desde 2002 percebemos nas pesquisas de opinião que as mulheres registram primeiro as tendências de mudança nas eleições. A mudança no cenário eleitoral é percebida primeiro nas mulheres e depois nos homens", comenta.

No meio político, as transformações do eleitorado não impressionam os protagonistas da disputa eleitoral. "O efeito do crescimento do eleitorado feminino e de maior idade na eleição é marginal. Não temos como saber como estes fatores se dão regionalmente, na urna", afirma o pré-candidato do DEM ao Senado no Rio de Janeiro, o ex-prefeito César Maia, em entrevista por correio eletrônico. Segundo o integrante do DEM, o efeito da maior escolaridade no processo de decisão de voto tende a ser zero. "Pesquisas realizadas há cinquenta anos nos Estados Unidos já mostraram que esse tipo de ascensão não altera o padrão eleitoral", afirma.Valor

José Luiz Datena: Datena diz que deve votar em Dilma, mas faz elogio a tucano

"O Serra estaria mais preparado, mas a minha ligação com o Lula é um negócio muito legal. Acho que ele é um divisor de águas. Virou um Padre Cícero"

DE PROPÓSITO ou sem querer, foi para ele que José Serra (PSDB) falou pela primeira vez como candidato "assumido" à Presidência -momento havia meses perseguido por todos os repórteres de política do país. De olho na mesma ribalta, Dilma Rousseff (PT) venceu a timidez de debutante em eleições e para ele cantou "El Día que me Quieras". Assim, entre uma confissão e um tango, o apresentador de TV José Luiz Datena, 52, se tornou vedete da pré-campanha. Mostrados de corpo inteiro ao lado do robusto apresentador no estúdio do "Brasil Urgente", atração popular do final da tarde na rede Bandeirantes.



Com Datena, tanto Serra como Dilma puderam praticar o autoelogio, mas também tiveram de se enquadrar na agenda do programa (da epidemia de crack à violência doméstica) e, principalmente, engolir sem reclamar os veredictos do anfitrião -diante de Serra, Datena frisou que Lula "é o maior presidente que o país já teve"; quando Dilma elogiou a Força Nacional de Segurança, criada no atual governo, ouviu que a novidade "não resolveu nada".

Chamado a escolher um dos dois para votar em outubro, Datena diz que "ainda" não decidiu, mas aparentemente falta pouco: "Acho que vou votar na Dilma, por causa do Lula. E acho que a Dilma tem a capacidade para governar o país". Isso embora considere Serra "mais preparado".
FOLHA - Quem teve a ideia de entrevistar candidatos à Presidência num programa policial?
DATENA - Era um sonho antigo que eu tinha, mas, na verdade, fui procurado para entrevistá-los. Parece finalmente que os marqueteiros de plantão pegaram as caravelas e estão fazendo o que Cabral fez em 1500. Estão descobrindo o Brasil de novo, como eu tenho dito e escrito por aí. Como apresentador popular, quase sempre fui relegado a um segundo plano nas campanhas. Um jornalista de segunda classe. Mas os gênios se esqueciam de que quem vota é o povo que vê a televisão, ouve rádio e lê jornal.

FOLHA - Como é que você conseguiu tirar do Serra a admissão de que seria candidato à Presidência?
DATENA - A assessoria dele chegou a perguntar pra mim: "você não vai abordar política na entrevista, não é?". Eu respondi: "O que eu vou perguntar para ele não lhes interessa". No meio da entrevista, ele deu uma brecha. Era o aniversário dele, e tinha uma criançada cantando os parabéns. Vi que quase chorou, porque gosta do neto pra caramba. Pensei: "nossa, o Serra chora". Ali ele abriu a guarda e eu perguntei: "Se o sr está beijando criancinha é porque é candidato." Ele respondeu: "Ainda não, Datena." Eu disse: "Ainda não? Então o senhor vai ser candidato?" Ele: "Eu só pretendo lançar minha candidatura depois, em abril." Pronto. A candidatura estava lançada.

FOLHA - Mas por que ele teria dito isso ao senhor, naquele momento?
DATENA - Ninguém tira do cara o que ele não quer falar. Num momento ou outro ele falaria. Acho que o momento adequado foi criado para que ele abrisse a guarda. Alguém me perguntou : por que ele não falou para o William Bonner e falou para o Datena? Ora, quem estava ali era o Datena, não o Bonner.

FOLHA - Qual é a estratégia para tirar mais revelações de candidatos?
DATENA - Se você deixa o cara à vontade, o cara fala mais. Se você começa a falar empolado, dá espaço para ele te enrolar.

FOLHA - Qual dos dois candidatos foi melhor nas entrevistas?
DATENA - As duas foram legais. Falaram que o Lula não tinha gostado do desempenho da Dilma. Parece que isso não é a verdade absoluta. Não foi isso o que o Lula disse. O presidente recomendou a ela que se preparasse melhor. Mas o presidente não viu a entrevista. Algum cara disse a ele que ela estava insegura. Eu tenho outra impressão. Achei que a entrevista da Dilma a aproximou do povo do que estava antes. Ela foi mais solta do que de costume. Tive uma ótima impressão dela.

FOLHA - E o Serra?
DATENA - O Serra é um avião. A Dilma tem que se preparar para enfrentar o Serra porque, no pau a pau, num debate político, o Serra está muito mais acostumado do que ela. Se ela descomplicar o palavreado dela, falar simples, pode até levar. Vai ser um páreo duro. Essa eleição pode ser decidida no primeiro turno, para um lado ou para o outro. Os dois foram muito bem. O Serra foi mais seguro. Aprendi a gostar do Serra.

FOLHA - Em quem você vai votar?
DATENA - Ainda não decidi. Mas acho que vou votar na Dilma, por causa do Lula. Acho que a Dilma tem a capacidade para governar o país. O Serra estaria mais preparado, mas minha ligação com o Lula é um negócio muito legal. Acho que ele é um divisor de águas. Ele deu ao país a noção absolutamente exata de que um pobre pode ser presidente da República. O Lula virou um Padre Cícero. Mas, mesmo se o Serra ganhar, o país estará bem servido. Muito bem servido. Porque o Serra é um cara preparado.

FOLHA - Qual deles é mais de esquerda?
DATENA - O Serra é muito mais socialista do que a Dilma diz que é. Explico: a Dilma hoje é socialista porque não tem comunismo. Se tivesse comunismo ela estaria com arma na mão. Eu sou um cara de esquerda. Mas não aquele cara bobão, o comunista que escorregou para o socialismo de vergonha. Eu, ao contrário de outros, tenho plena consciência de que Stálin matou 50 milhões de pessoas, de que Mao Tsé-tung matou outros 70 milhões.

FOLHA - Entrevistar políticos é uma novidade para você?
DATENA - De jeito nenhum. Quando eu trabalhava na Globo, fazia de tudo. Apresentava um programa político chamado "A Palavra é Sua" e também fazia entrevistas variadas em outros espaços. Desde a Cicciolina ao Pavarotti, passando pelo Rei Juan Carlos, entrevistei todo mundo. Aprendi a fazer entrevistas descontraídas. Então, quando um político fala comigo, ele não tem as amarras que teria com um repórter político. O problema é que o preparo do jornalista político, que tende a ser intelectual, apesar dos poucos imbecis na área, é um preparo de muita leitura, filosofia e formalismo. Ele tem vergonha de flertar com o ridículo. Como eu atuei por muito tempo no limiar do sensacionalismo, consigo descontrair muito mais.

FOLHA - A leitura é um problema?
DATENA - Não. Também leio. Também gosto de literatura, história, filosofia. Só não fico me exibindo. Não fico citando autor. Quando Sêneca [um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano] fala que o verdadeiro problema é justamente a forma de lidar com os problemas, eu simplesmente uso isso na vida real. Não preciso falar quem é o autor. Os candidatos estão perdendo o preconceito, falando mais fácil, chegando perto do povo. Que se danem os intelectualóides e até os verdadeiros intelectuais.

FOLHA - Você gosta de apresentar programas policiais?
DATENA - Veja que ironia. Sou rotulado como apresentador sensacionalista, mas ganhei dois prêmios Herzog [ Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos]. Não gosto de fazer jornal de polícia. Nunca gostei. Gostaria muito de parar de fazer jornal de polícia. Mas, dá audiência, os caras não me tiram. Quando entrevistamos o Lula recentemente, o presidente falou. "Olha, Datena, tem muita bala, muito tiro na televisão". Eu respondi: "presidente, você tem que tirar a violência da rua, não da televisão." Disse também: "Olha, presidente, o meu medo de o senhor controlar os meios de comunicação é o seguinte: como o sr. não vai falar em política se grande parte da política está envolvida com corrupção?" A metros de onde estávamos havia um governador preso, o babaca do Arruda.

FOLHA - Sua saída da Globo em 1989 ocorreu quando você subiu no palanque do Lula na eleição contra o Collor. Conte como isso ocorreu.
DATENA - Fiz o comício do Lula porque achava que esse Collor era um xarope. Achava, não. Tenho certeza de que ele é. Por isso perdi o emprego na Globo. O diretor da época me chamou e falou: "Olhe, Datena, você sabe por que eu estou te mandando embora, né?" Eu falei: "evidente que sei". Três meses depois da eleição, após a derrota do Lula, o cara me chamou e me deu a carta de demissão.

FOLHA - A audiência cai quando se reduz a parte policial do programa?
DATENA - A audiência é a mesma, mas, quando há crimes pontuais, como esse de Goiás, que todas as emissoras exploram, a audiência sobe muito. Moral da história: a humanidade não mudou nada. Quando colocavam leões para comer os cristãos no Coliseu, ele lotava. Hoje, se pegarmos o Pacaembu, o Morumbi e colocarmos leões para comer estupradores e assassinos, vai lotar mais do que final de campeonato. Isso é triste. Eu sei. Mas, infelizmente a sociedade tem essa demanda de Justiça. O ser humano em geral.
 

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