sábado, 23 de junho de 2007

14 controladores são afastados pela FAB


Plano prevê reforço de pessoal no Cindacta-1 e prioridade para rotas mais procuradas nos aeroportos brasileiros Brasília - Após quase nove meses de crise na aviação, a Força Aérea Brasileira (FAB) decidiu intervir ontem (22) de forma mais dura no impasse com controladores e afastou 14 sargentos do Cindacta-1, centro de monitoramento de vôo de Brasília. O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, divulgou à tarde um plano de emergência, com nove medidas, disciplinares e técnicas, para pôr fim à operação padrão iniciada terça-feira. "O momento é de extrema gravidade."

Logo depois do anúncio, houve suspensão de decolagens em aeroportos de São Paulo, Brasília e Minas e longas filas em outros terminais. Até 21h30, 42,9% dos 1.784 vôos programados tiveram atrasos ou foram cancelados. Naquele horário, o comando da Aeronáutica acreditava que a situação caótica nos aeroportos deveria se estabilizar até a tarde de hoje - para especialistas, porém, isso só deve ocorrer na segunda-feira (25).

O aeroporto que mais preocupava a Aeronáutica à noite era o de Cumbica, em Guarulhos. Lá o espaçamento de vôos era de 15 minutos. Os passageiros mais prejudicados eram os que pretendiam embarcar para o Nordeste. Nos demais aeroportos do País, o espaçamento de partidas e aterrissagens era de 5 minutos.

O risco de o pacote de emergência agravar o caos nos aeroportos num primeiro momento foi admitido por Saito. "Peço a compreensão de usuários e passageiros." Ele disse que a FAB já tinha definido as linhas gerais do plano havia seis meses, mas admitiu que a operação padrão desta semana precipitou as mudanças. O pacote de emergência - bem recebido por técnicos e oficiais - será mantido pelo menos até dezembro.

Os 14 afastados estavam no grupo responsável pelo motim que paralisou a aviação comercial do País em 30 de março. Deles, apenas o vice-presidente da Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta), Moisés Gomes de Almeida, recebeu voz de prisão. Os demais tiveram como punição a transferência para o Comando de Operações Militares, onde ficarão em outras áreas que não a de monitoramento do tráfego aéreo.

Outros três controladores, que se declararam sem condições de trabalhar após o anúncio dos afastamentos, também podem ser punidos. Mas a FAB considerou uma vitória o fato de dois sargentos, que chegaram a se afastar das operações , terem decidido voltar ao trabalho. "Os que contaminam não chegam a 10% (do pessoal do Cindacta-1)", afirmou o comandante.
Saito, que voltou ontem (22) de Paris, já tinha recebido na quinta-feira carta branca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para combater a operação padrão. Ele procurou tratar a crise como assunto estritamente militar e evitar interferências políticas, rechaçando ontem a proposta de deputados da CPI do Apagão de negociar um acordo com os sargentos.

Nesse aspecto, a nota de Saito foi dura ao comentar a greve branca desta semana, na qual os controladores denunciavam problemas técnicos nos consoles (terminais) do Cindacta-1 como um artifício para interromper o serviço . "De forma intransigente, um pequeno grupo desses sargentos passou a recusar o trabalho em equipamentos, mesmo em flagrante choque com os pareceres técnicos que asseguravam a plena qualidade do serviço", afirmou.

À noite, a FAB comemorou o fato de, pela primeira vez em duas semanas, o Cindacta-1 ter dez consoles em operação simultaneamente. Desses, quatro atendiam ao espaço aéreo do Rio, três ao de São Paulo e outros três, ao de Brasília.
A reação da FAB intimidou s controladores.

Ameaçado de prisão, o presidente da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), Wellington Rodrigues, divulgou nota pedindo calma aos colegas. Mas a Força Sindical e a Confederação Geral dos Trabalhadores ofereceram ajuda à categoria caso seja convocada uma greve geral.

O Brasil de Serra a Renan, passando pelos bancos e todo esse esquema do "show da vida"

A Polícia Militar invadiu e retirou os estudantes que ocupavam a sede da reitoria da UNESP. Muitos foram algemados, conduzidos a uma Delegacia e lá prestaram depoimentos. Típica característica do governo Serra, de qualquer governo tucano.

Outra Polícia, a Federal, encontrou diferença de 600 mil reais nas notas entregues pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, para provar que pagou do seu próprio dinheiro a pensão a Mônica Veloso, mãe de uma filha do senador. Nada a ver com a Construtora Mendes Júnior.

O senador José Sarney, antigo desafeto de Renan, luta com todas as forças possíveis para evitar que o presidente da chamada Câmara Alta seja condenado e forçado a renunciar. Primeiro à presidência, depois ao próprio mandato. É que a Polícia Federal dá sinais de que mesmo no esquema de notas fiscais montado para livrar a cara de Renan existem indícios de que a figura esteja envolvida em outras maracutaias, essas referentes à Operação Hurricane.

O que Sarney quer é que o caso seja enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) e julgado por lá. Isso pouparia os senadores do desgaste de absolver sua excelência. Daria uma "sobrevida"; na prática, tempo para Renan ajeitar alguns esquemas e sobreviver. Com amigos como Sarney, Renan Calheiros não precisa de inimigos.

O senador Waldir Raupp, do PMDB, retirou o projeto que pretendia excluir os negócios bancários do Código de Defesa do Consumidor. Foi alertado que na atual conjuntura isso soaria como grande negociata, afinal, banqueiros são os principais controladores do Estado brasileiro.

Vão ter que procurar outra forma de poder continuar a cobrar juros extorsivos, taxas mágicas para aumentar o lucro. A saída vai ser promover um encontro em Comandatuba uma vez por ano, ou duas e tentar segurar o esquema por lá.

Há cerca de uma semana um juiz disse mais ou menos o seguinte numa ação de uma cliente contra o banco Itaú. É que tinham sumido cem reais da conta da cliente em questão e, segundo o banco, foram presidiários que usaram o esquema de internet via celular para colocar cartões pré-pagos em suas maravilhas tecnológicas.

Disse o juiz: o fato existiu, o dinheiro foi subtraído, a segurança do banco falhou, a cliente foi lesada, o banco negou-se em princípio a restituir o valor, havia o dano moral evidente, mas, sempre o "mas", condenava o banco a restituir apenas os cem reais. Deu a entender que o banco não tem culpa e nem tem responsabilidade nesse tipo de negócio.

Em qualquer parede de qualquer organização dessas, senadores desses, deputados daqueles, Serras da vida, pode ter certeza, vai ter um diploma qualquer de melhor isso, melhor aquilo, exemplo disso, exemplo daquilo.

É a característica do modelo. O importante é o diploma na parede e o currículo de realizações e benfeitorias que qualquer agência de publicidade vende, pois sabe onde estão os trouxas, sabe o tamanho do palco da "sociedade do espetáculo".

A decisão de desocupar a reitoria da UNESP foi tomada num momento que o governo Serra avaliou que, se assim não fosse feito, todo o projeto de acabar com a autonomia das universidades estaduais iria por terra. Isso levando em conta a ocupação da reitoria da USP, onde, na avaliação do governador, o assunto foi mal conduzido e transformou-se num abacaxi nacional para o "eficiente" líder tucano.

A prisão de estudantes à guisa de prestar depoimentos tem o nítido caráter intimidatório, faz parte do repertório udeno/tucano.

Deve ter sido aconselhamento dos policiais do FBI (Federal Bureau of Investigation), que tanto operam na segurança dos Jogos Pan-Americanos, como "ensinam" a policiais brasileiros a lidar com motins, manifestações contra governos, garantir o direito à propriedade privada, uma série de providências que precede a oficialização do País como Roça de Cana, mais novo estado agregado do Texas.

A Ordem do Cruzeiro do Sul vai ser substituída, nesse esquema, pela Ordem Zé Pastinha e vai ser conferida àquele que melhor encaçapar bolas dos mais variados matizes e valores no velho esquema Ademar de Barros: "para a frente e para o alto na direção do Planalto".

No mais, a grande preocupação da GLOBO neste momento é com o IBOPE da nova novela das sete. Ainda não emplacou, e isso é grave. Do contrário, como continuar mantendo as pessoas convictas de que comprar nos shoppings do PROJAC confere diploma e status de cidadão de primeira linha.

Isso acaba em Camp David, no Texas. Ou num botequim onde só se entra de nariz tampado e por vários motivos. Não é só pelo cheiro que exala do sanitário, não. É pelo que passa por baixo da mesa.

Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Para onde vai o dinheiro?




Gustavo Gantois
Isto é Dinheiro num. 0508
20/6/2007

Estão sobrando R$ 55 bilhões. Isso é resultado do ganho de arrecadação e da queda no gasto com juros. As alternativas são abater a dívida, reduzir impostos ou acelerar as obras

Para quem sempre viveu da mão para a boca, como a maioria das famílias brasileiras, o Tesouro Nacional vive uma situação atípica. A se confirmar o crescimento do Produto Interno Bruto em torno dos 4,5% e a continuidade da redução da taxa de juros, o governo pode chegar ao final do ano com uma folga de caixa estimada em cerca de R$ 55 bilhões - ao menos, na comparação com os números do ano passado. A divulgação da arrecadação do primeiro trimestre trouxe os primeiros sinais positivos. Foram R$ 148,5 bilhões que entraram nos cofres - R$ 18 bilhões a mais que o mesmo período do ano passado. Em projeção feita pela RC Consultores, a pedido da DINHEIRO, o excesso de arrecadação até o final do ano pode ficar entre R$ 20 bilhões e R$ 32 bilhões. Dois fatores contribuem diretamente para isso: o contingente de trabalhadores formais está aumentando, o que significa maior arrecadação, e o Ministério do Desenvolvimento tem previsto um grande salto das importações, o que resulta em mais impostos. "A arrecadação está crescendo mais rapidamente do que a despesa", avalia o ministro Guido Mantega, da Fazenda. Na mesma esteira, o gasto com os juros da dívida interna, que foi de R$ 123 bilhões no ano passado, deverá ficar em R$ 90 bilhões em 2007.

Com isso, a folga poderá ser de R$ 33 bilhões adicionais.

CORRENTE PRÓ-PAC: a ministra Dilma Rousseff quer ampliar os gastos, mas o Tesouro prefere reduzir o déficit nominal

Essa redução da despesa com juros é o fenômeno mais significativo. A queda da Selic propicia não apenas uma sobra de dinheiro, mas uma liberdade extra para os investimentos de que o País precisa. O peso dos juros sobre o PIB encontra-se, atualmente, perto dos 7%. Esse índice chegou a superar os 10% há três anos e, na previsão de analistas, pode encerrar o ano em 6%. "No dia em que estiver em 3%, o déficit nominal ficará zerado", analisa Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. "Isso pode ocorrer já em 2010." É aí que entra o apetite dos que vêem na montanha de dinheiro o futuro de seus projetos. Já há quem, seguindo os preceitos da ministra Dilma Rousseff, queira destinar esta sobra para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento. O problema é que o governo já admitiu que não conseguirá alcançar a meta para este ano, de R$ 15 bilhões. "Há um claro conflito dentro do governo entre os pró-gastos e os pró-austeridade", afirma o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas. "O PAC, então, nem sequer terá a velocidade que se pretendia." Seguindo este embate, há os que cobram mais agilidade do governo com a reforma tributária, reduzindo impostos. "Como eles sempre dizem que a reforma faria o governo perder dinheiro, é num momento de folga que isso deve acontecer", cobra Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores. "O governo está avançando sobre o bolso do contribuinte da forma mais desabrida possível". De fato, a carga fiscal avançou mais que o dobro do PIB no primeiro trimestre:10,42% sobre um crescimento econômico de 4,3%.

O discurso oficial do Tesouro, contudo, é o de que não há sobra de dinheiro, uma vez que o Brasil ainda tem um déficit orçamentário nominal. "Mesmo que haja uma sobra, não podemos apresentá-la dessa forma, sob o risco de ver o dinheiro sendo gasto em qualquer coisa", admite um técnico do Tesouro. E, de fato, os gastos correntes do governo também têm aumentado - subiram 4% no primeiro trimestre. Para a Fazenda, o argumento é o mesmo. Se existe déficit, não há folga. Esse é um pensamento simplista, mas compreensível. De qualquer forma, quando se faz a comparação entre os números de 2006 e os de 2007, fica claro que o quadro fiscal é hoje muito mais confortável. O que deveria abrir uma saudável discussão sobre como encolher o pantagruélico Estado brasileiro.

Um dia de muitas lições


Foi um dia pleno de lições para o governador Roberto Requião, ontem, em Brasília, quando ele conversou pela primeira vez com a bancada e teve audiências com ministros de Lula. O assunto era um só: como conseguir o perdão da multa de R$ 10 milhões que a União cobra do estado por conta do não-pagamento dos títulos podres de Santa Catarina, Osasco e Guarulhos.

• Primeira lição: o Paraná e o seu governo só têm a ganhar se, ao invés de brigar com todo mundo, agir sempre no sentido de somar forças e nunca dividir.

• Segunda lição: não é dono absoluto da verdade. Outras pessoas podem ter idéias melhores que ele.

• Terceira lição: negociar é sempre melhor do que agir com truculência para impor a própria vontade.

• Quarta lição: reconhecer que, ao ser tratado com respeito até pelos adversários, deve retribuir com a mesma moeda.

Este é o resumo conceitual dos acontecimentos de ontem em Brasília. Já nos primeiros momentos, Requião pôde constatar a boa vontade unânime dos parlamentares quando se trata de defender o interesse do estado. E pôde perceber também que a idéia que levou – a de pedir à bancada que apresentasse um projeto de lei para isentar o estado da multa – não teria condições de prosperar. Preferiu, então, acatar a sugerida pelo senador Osmar Dias e pelo deputado Osmar Serraglio, que propuseram, com o apoio de todos os demais parlamentares, que se fizesse uma emenda à MP 368 com o mesmo objetivo.

O projeto de lei levaria um século para ser debatido e levado à votação, com a desvantagem suplementar de ter poucas chances de aprovação pelo plenário das duas Casas do Congresso. Já a MP, que já se encontra em tramitação, pode ser aprovada logo, contemplando o interesse específico do Paraná. Só há uma incerteza: no fim do dia, Requião não conseguiu vencer a frieza dos ministros Guido Mantega, Dilma Roussef e Paulo Bernardo. Em uníssono, prometeram “estudar” o assunto.

Compreensão e reciprocidade

É possível que Requião tenha entendido também que deve dispensar ao governo de outros o mesmo tratamento que exige para o seu. Por exemplo: se não quer retaliações, ainda que legais, à sua administração por não cumprir obrigações financeiras assumidas, por que impor retaliações à prefeitura de Curitiba por motivo semelhante? – perguntaram-lhe os deputados Gustavo Fruet e Valdir Rossoni.

Como se sabe, as transferências de recursos estaduais para a prefeitura foram suspensas (desde que Beto Richa embarcou na oposição) porque estaria inadimplente em relação à dívida que contraiu há 30 anos para implantar a Cidade Industrial.

A herança maldita

Com as finanças públicas fortemente combalidas por razões até agora não esclarecidas, o Paraná pode sofrer gravíssimas conseqüências se não resolver logo o problema de sua dívida mobiliária. Ou paga o que deve – o que inclui o mico dos títulos podres que assumiu e as multas decorrentes – ou em pouco tempo estará com sua capacidade de endividamento totalmente esgotada.

Isto é, não poderá assumir nenhum novo empréstimo junto a instituições nacionais e estrangeiras para financiar programas de desenvolvimento. Aliás, pelo jeito, já nem se arrisca a isso, como prova a inexistência de qualquer novo projeto importante no atual governo.

Será, nesse caso, que transferirá para o sucessor a “herança maldita” que diz ter recebido: um estado ainda mais endividado e sem condições de livrar-se da estagnação a que fatalmente estará condenado.

A máfia dos remédios existe?

De onde o governador Roberto Requião tirou a conclusão de que existe uma máfia de advogados e laboratórios por trás das liminares que obrigam o governo a fornecer remédios especiais para pacientes idem?

Ele mesmo identificou sua suposta fonte durante a reunião da comissão Mãos Limpas, na última segunda-feira. Foi, segundo Requião, de um relatório que lhe foi encaminhado pela procurador-geral do estado, por onde passam todas as ações judiciais.

Pois bem: o relatório em questão aponta que existem 500 processos da espécie tramitando na Justiça. Do total, 76 são atendidos por uma advogada e 42 por outro profissional. Nenhum é sócio ou relacionado com o outro. O restante dos processos é dividido por cerca de uma dúzia de diferentes e não correlacionados advogados.

A PGE e a Secretaria da Saúde, no entanto, não fizeram nenhum cruzamento entre a atuação dos dois principais advogados e os medicamentos pleiteados, assim como com os respectivos laboratórios. Logo, a inferência quanto à atuação de uma “quadrilha de advogados e laboratórios” foi de responsabilidade exclusiva do governador. Não significa que ele não esteja correto. Mas, segundo fontes que tiveram acesso à documentação, o relatório da PGE não autoriza a sua dedução.

Aliás, nem mesmo o secretário da Saúde, Cláudio Xavier, põe a mão no fogo para socorrer o governador. Indagado ontem pelo deputado Ney Leprevost, em audiência da Comissão de Saúde da Assembléia, Xavier preferiu sair de fino: “Não nego mas também não confirmo”, disse ele.


O Brasil que cresce e prospera


Apesar do catastrofismo dos economistas e da choradeira contra o câmbio, alguns setores avançam mais que a China e a Índia

Nem só de más notícias vive o mundo dos negócios. Embora o Brasil tenha crescido apenas 3,7% em 2006, bem abaixo de outros países emergentes, como China e Índia, alguns setores da economia não têm do que reclamar. Em meio aos resultados decepcionantes do país como um todo, às denúncias de corrupção na esfera política e às dificuldades de alguns exportadores com a valorização do real diante do dólar, eles formam uma espécie de arquipélago em que ilhas de prosperidade esbanjam dinamismo e vitalidade.

Em 2007, o desempenho da economia deverá ser superior ao do ano passado. De acordo com números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, o Produto Interno Bruto (PIB) – a soma das riquezas produzidas no país, uma referência usada pelos especialistas para medir a força das economias – cresceu 0,8% no primeiro trimestre do ano. Com isso, a estimativa de crescimento neste ano subiu para 4,2% (veja o quadro abaixo). É um pouco mais que a taxa de 2006, embora ainda abaixo da média mundial, em torno de 5%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O índice de crescimento do PIB representa uma média do que acontece na economia. Como toda média, esconde o que fica acima e o que fica abaixo. Há, portanto, atividades que crescem pouco ou quase nada. Um exemplo: nos ramos de vestuário, pecuária e bens de consumo houve queda de 5%, 0,8% e 0,4%, respectivamente, em 2006, de acordo com dados setoriais. Mas há também uma economia pujante dentro do Brasil, que nada fica devendo a estrelas emergentes como China e Índia. Entre os setores que mais crescem, destacam-se: construção civil, comércio eletrônico, higiene e beleza, móveis, turismo, veículos e, claro, toda a cadeia produtiva do álcool, ou etanol, o “combustível verde”. Com menor impacto que o petróleo no aquecimento global, ele promete ser uma das locomotivas da economia nos próximos anos. O setor aéreo, apesar dos percalços que transformaram num inferno a vida de milhares de passageiros nos últimos tempos, cresceu 42% em 2006. Neste ano, deverá continuar a crescer no mesmo ritmo. Considerando que, no Brasil, o catastrofismo dos economistas e a choradeira compulsiva dos empresários costumam dar o tom do noticiário econômico, é sempre estimulante constatar que as coisas, ao final, não são tão ruins quanto podem parecer à primeira vista. “Não vai faltar capital para o Brasil crescer 6%, 7% ou 8% ao ano”, afirma Rodolfo Riechert, responsável pelo braço de investimento do Banco UBS Pactual, o mais ativo do país na emissão de ações de empresas na bolsa de valores.

Em ritmo acelerado
Alguns ramos de atividade estão crescendo bem acima da média nacional (em %). Em 2007, os setores de informática e comércio eletrônico deverão crescer um pouco menos que no ano passado. Mesmo assim, muito mais que a previsão do Produto Interno Bruto (PIB)

(1) Estimativa (2) Projeção com base no desempenho do primeiro trimestre de 2007


Fontes: IBGE e associações empresariais

No início de junho, na tentativa de minorar os problemas dos setores exportadores, prejudicados pelo câmbio, como calçados ou eletroeletrônicos, o governo anunciou medidas de auxílio no valor de R$ 1 bilhão. O efeito de longo prazo tende a ser quase nulo. “Isso é dinheiro de pinga, só para o governo dizer que está fazendo alguma coisa”, diz o economista Luís Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações no governo FHC e hoje dedicado a sua empresa de investimentos, a Quest. “A matriz produtiva do Brasil vai mudar de um jeito ou de outro. O importante agora é identificar os setores em que queremos ser competidores globais, por termos maior eficiência e produtividade.”

O objetivo desta reportagem é ajudar a identificar aquelas atividades que deverão continuar a crescer acima da média. Quem quiser entender o Brasil de hoje precisa prestar atenção às áreas que estão prosperando. Elas mostram o que poderá ser o Brasil de amanhã. Aquele Brasil onde estarão os investimentos e os empregos.

AÇÚCAR E ÁLCOOL
Na onda da energia limpa

UMA CURVA À FRENTE
Centro de pesquisa de cana-de-açúcar do Grupo Votorantim em Campinas, no interior de São Paulo: inovação tecnológica

Estimulado pelo aumento dos preços do açúcar no mercado internacional e principalmente pela maior demanda de álcool combustível, o setor apresentou um crescimento de 7,9% em 2006, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É mais que o dobro da média nacional. Em 2007, de acordo com estimativas dos especialistas, a produção de álcool poderá crescer bem mais que isso. Há quem fale em 20%. Os motivos: a crescente preocupação com os efeitos negativos do petróleo no aquecimento global e o aumento da procura mundial pelo etanol. Grandes investidores mundiais estão de olho no álcool brasileiro. Só o bilionário de origem húngara George Soros anunciou recentemente investimentos de US$ 900 milhões em projetos ligados ao álcool no Brasil. “O etanol é uma alternativa atraente”, diz Soros.

As principais vantagens oferecidas pelo Brasil aos investidores são o mercado interno pujante e o pioneirismo tecnológico, presente em centros de pesquisa inovadores, como o da Votorantim em Campinas, no interior de São Paulo. Outra empresa pioneira no setor é a Dedini, fabricante paulista de equipamentos para usinas de álcool. Diante das crescentes encomendas, ela está ampliando seu parque para produzir 33 usinas por ano até 2010, em vez das 24 produzidas atualmente. Com isso, o quadro de funcionários deverá aumentar 15%, de 4.800 para 5.500, em 2007. O faturamento, por sua vez, deverá passar de R$ 1,1 bilhão, em 2006, para R$ 1,8 bilhão, neste ano, um aumento de 60%. Com o crescente interesse mundial pelo álcool nacional, a Dedini já exporta seus equipamentos para 25 países, entre eles Estados Unidos, México e Canadá. “O momento é tão bom que estamos negociando até com a Austrália e o Sudão, na África”, afirma Sérgio Leme, vice-presidente da empresa.

COMÉRCIO ELETRÔNICO
Tudo sem sair de casa

Os antigos manuais de marketing rezavam que, para vender, era preciso atrair o consumidor para a loja. Hoje, uma saída mais eficiente é levar a loja até a casa do comprador – mais especificamente ao computador dele. O comércio eletrônico disparou no Brasil. No ano passado, cresceu 70% em relação a 2005, de acordo com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. O volume total de vendas on-line, que era de R$ 2,5 bilhões em 2005, atingiu R$ 4,4 bilhões em 2006. Neste ano, se as previsões se confirmarem, deverá dar um novo salto, de 52%, para R$ 6,7 bilhões. O ritmo de alta será um pouco menor que em 2006, mas, ainda assim, será quase 12 vezes o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 4,2%. As causas são o aumento no número de internautas e a entrada já anunciada de poderosos varejistas, como a rede Wal-Mart, no comércio eletrônico.

R$ 6,7 bilhões é a previsão do total de vendas pela internet em 2007

No total, segundo a entidade, há 6,5 milhões de pessoas comprando por meio da internet cerca de 200 mil produtos de 20 categorias. Uma das áreas que se reinventaram com o comércio eletrônico foi o comércio de livros. A Livraria Cultura, uma das líderes de mercado, informa que registra um aumento anual de cerca de 50% nas vendas pela web. Hoje, segundo a empresa, 18% do faturamento vem de vendas de livros pela rede. “Até a chegada da internet, era difícil o acesso a livros em muitas partes do país”, diz Pedro Herz, presidente da Cultura. “Num país onde não há bibliotecas suficientes, a expansão da internet facilita o acesso dos leitores aos livros.”

O avanço das vendas on-line também é fruto do aumento da confiança dos brasileiros nas transações pela internet, proporcionado por sistemas mais eficazes contra fraudes. Até o governo está estimulando o envio de dados sigilosos pela web, como a declaração de Imposto de Renda. “Todo mundo investiu em segurança”, diz Herz. “Hoje, é mais arriscado você pagar uma conta de restaurante, em que o garçom some de sua vista com seu cartão de crédito, que comprar pela internet.” A eficiência dos Correios também colabora para o resultado positivo. “Os Correios deixaram de ser uma empresa que só entrega correspondências para virar uma das mais importantes empresas de logística do mundo”, afirma Manuel Mattos, presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.

CONSTRUÇÃO CIVIL
Quem quer dinheiro?

No início de fevereiro, a Tecnisa, de São Paulo, uma das construtoras mais dinâmicas do país, lançou ações nas bolsas de valores para reforçar o capital e financiar sua expansão. Captou ao todo R$ 791,3 milhões. Com o dinheiro, pretende lançar novos empreendimentos imobiliários no Estado de São Paulo e começar a expansão em outras regiões do país. Já possui projetos em Curitiba e Fortaleza. No ano passado, a empresa faturou R$ 717 milhões, 42% a mais que em 2005. Neste ano, pretende chegar a R$ 1 bilhão em vendas, repetindo o crescimento de 2006. “Queremos diversificar nossa atuação geográfica”, diz Andrea Ruschmann, diretora-financeira da Tecnisa.

O caso da Tecnisa é um exemplo da explosão de negócios na área da construção civil. Muitas outras empresas tradicionais do setor decidiram vender ações na bolsa para reforçar o caixa, como Camargo Corrêa, JHSF e Even. Segundo estimativas de executivos do mercado financeiro, as companhias do setor captaram cerca de R$ 10 bilhões nas bolsas desde o ano passado. “O setor está capitalizado”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), João Cláudio Robusti. Com medidas de redução de impostos, o crédito imobiliário, restrito até há pouco tempo, ressurgiu de forma generosa. O volume total de financiamentos chegou a R$ 9,4 bilhões, o triplo do valor de 2005. Os juros, entre 12% e 13% ao ano, tornaram-se mais amigáveis e os prazos de financiamento mais longos, de até 30 anos.

As indústrias de materiais de construção registraram um crescimento de 6,35%, em média, no faturamento líquido em 2006, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Para 2007, as previsões de crescimento são ainda mais otimistas. Se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sair do papel no segundo semestre, o setor deverá crescer no mínimo 8%

HGIENE E BELEZA
Vaidade para todos

A indústria da beleza faturou no total R$ 17,3 bilhões no ano passado, com um crescimento de 12,3% em relação a 2005, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), que reúne os fabricantes do setor. Em 2007, de acordo com dados da entidade, o desempenho deverá ser ainda melhor, em torno de 15%. Tudo por conta, principalmente, do aumento do consumo nas classes C, D e E. Segundo uma pesquisa da Latin Panel, os produtos para enxaguar a boca estão entre os mais desejados pelas classes D e E. “O crescimento da renda nas faixas mais baixas multiplicou o número de consumidores”, diz João Carlos Basilio da Silva, presidente da Abihpec. “É um pequeno luxo a que um número cada vez maior de brasileiros pode se dar.”

As exportações de cosméticos brasileiros também cresceram no ano passado, mesmo com o dólar desfavorável. Os números da Abihpec mostram que o país exportou US$ 500 milhões em produtos de beleza em 2006, 20% a mais que em 2005. “Como o mercado brasileiro é um dos maiores e mais dinâmicos do mundo, funciona como um laboratório de testes de produtos globais”, diz Silva. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo.

Grandes marcas mundiais estão instalando no Brasil seus departamentos de pesquisa de mercado na América Latina. A francesa L’Oréal é uma delas. A empresa não comenta o assunto, mas já estuda a localização do novo centro. A alemã BDF Nivea realiza há alguns anos os testes com consumidores brasileiros. “O Brasil é um mercado prioritário”, afirma Nicolas Fischer, presidente da BDF no país. Ele diz que alguns produtos desenvolvidos aqui deverão ser incorporados ao portfolio global da empresa. Um deles é um sabonete em barra brasileiro, chamado Flow Pack, que agora deverá ser fabricado na Rússia. “Como o mercado brasileiro é muito desenvolvido e muito competitivo, temos de lançar novos produtos constantemente”, diz Fischer. “A consumidora brasileira entende muito de cosméticos.” Em 2005, a empresa inaugurou uma fábrica em Itatiba, interior de São Paulo. É a indústria mais moderna da BDF no mundo. No fim do ano passado, a empresa anunciou um investimento de R$ 10 milhões para ampliar sua capacidade de produção. Segundo Fischer, 25% da produção da BDF no Brasil é exportada. “Nosso lema é inovar, inovar e inovar”, diz ele.

INFORMÁTICA
O micro ficou barato

POPULARIZAÇÃO
Loja de hipermercado no bairro paulistano do Morumbi. Os preços baixos puxaram as vendas de computadores

Com a popularização da internet e a globalização das informações, as vendas de computadores no país explodiram. Só no ano passado, foram vendidos 8,3 milhões de micros – entre eles, 7,6 milhões de computadores de mesa, segundo dados da Abinee, a entidade que reúne as empresas do setor eletroeletrônico. O resultado foi 47% superior ao de 2005. A vedete do momento são os notebooks. As vendas em 2006 apresentaram expansão de 113%. Neste ano, a previsão é que elas tripliquem, para 1,5 milhão de notebooks.

Nos últimos dois anos, os preços de computadores caíram em média 20%. O governo deu sua contribuição: reduziu os tributos, como o PIS e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), para computadores de até R$ 2.500. Hoje, é possível comprar um bom modelo por pouco mais de R$ 1.000, valor impensável até pouco tempo atrás. Os preços dos notebooks também caíram. Na internet, há fabricantes e lojas oferecendo máquinas de desempenho razoável por menos de R$ 2 mil. A queda do dólar ajudou a baratear ainda mais os micros, pois boa parte dos componentes usados na produção é importada. Outro fator essencial: o aumento na escala. Quanto mais máquinas são produzidas – e vendidas –, mais barata tende a ficar cada uma. A tecnologia também tende a baratear com o tempo. Por fim, a exemplo do que acontece em outros setores, há o crédito. O consumidor dispõe de planos vantajosos para pagar o equipamento em prestações.

113% foi quanto cresceram as vendas de notebooks no país no ano passado

Uma das empresas que mais se beneficiaram com o novo cenário foi a Positivo Informática, do Paraná, líder do mercado no país. O faturamento, segundo a empresa, aumentou de R$ 614 milhões, em 2005, para R$ 1,1 bilhão no ano passado, o equivalente a 79%. Além de à redução dos preços, o sucesso da empresa se deve, em boa medida, às parcerias com grandes empresas do varejo. No fim do ano passado, a Positivo lançou ações na bolsa e captou R$ 600 milhões para investir na produção. Com o aumento do limite de isenção de tributos para computadores de até R$ 4 mil, em vigor desde janeiro, a Abinee estima que cerca de 10 milhões de máquinas serão vendidas em 2007 – entre computadores de mesa e notebooks. Se confirmado, o resultado será 20% superior ao alcançado em 2006.

MÓVEIS
Precisava ajudar?

Apesar de ter sido contemplada pelo pacote editado pelo governo para compensar os setores supostamente prejudicados pela queda do dólar, a indústria de móveis tem registrado um desempenho invejável, puxado pelo aumento das vendas de casas e apartamentos. No ano passado, mesmo com uma pequena queda nas exportações, a indústria de móveis somou um faturamento de R$ 14,1 bilhões, um crescimento de 17,3% em relação a 2005, segundo dados da Abimóvel, entidade que reúne os fabricantes do ramo. Outro fator que impulsionou as vendas de móveis no país foi a redução dos juros dos financiamentos oferecidos por lojas e magazines.

A Única, holding de Bento Gonçalves, no interior do Rio Grande do Sul, reúne as fábricas das marcas Dell Anno e Favorita. Seu faturamento alcançou R$ 165 milhões no ano passado, um crescimento 60% acima do PIB. Ela exporta seus produtos para 20 países e está ampliando seus investimentos para tentar aproveitar o bom momento do mercado. A empresa informa que, em 2006, abriu 200 novas lojas em todo o país, somando um total de 550. “O mercado interno tem capacidade de absorver os produtos que seriam vendidos no exterior”, diz Frank Zietolie, presidente da empresa. Para alavancar o crescimento, a Única investiu R$ 7,8 milhões em novas máquinas e pretende ampliar em 20% seu parque fabril. De acordo com Zietolie, as fábricas estão operando em dois turnos para atender à demanda. A idéia é passar a produzir 1.250 cozinhas por dia no fim de 2007, em vez das 750 unidades atuais. “Estamos muito otimistas”, afirma.

TURISMO
O dólar jogou a favor

Desde que o preço do dólar começou a cair, depois das eleições presidenciais de 2002, muitos empresários passaram a reclamar do câmbio desfavorável à exportação. Quem não reclama são os empresários do setor de turismo. O real valorizado barateia as viagens ao exterior e Brasil. “Os hotéis brasileiros abaixaram os preços das diárias para não perder os turistas, que, com o dólar baixo, podem viajar para fora”, diz Valter Patriani, presidente da CVC, a maior empresa de pacotes turísticos do país.

45% é quanto deverá crescer o setor de transporte aéreo em 2007

Segundo uma pesquisa feita pelo Ministério do Turismo, em parceria com a Embratur e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), as 80 maiores empresas do setor faturaram R$ 29,6 bilhões no ano passado, 29,3% a mais que em 2005. Em 2007, elas deverão faturar cerca de R$ 40 bilhões. “Quando as grandes empresas de turismo crescem, puxam o crescimento das pequenas e médias que dependem delas”, diz José Francisco Lopes, diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas da Embratur. “A indústria do turismo vive um ciclo de crescimento há cinco anos.”

Além do dólar, as empresas aéreas reduziram o preço das passagens, pressionadas pelo modelo de operações de baixo custo adotado pioneiramente pela Gol. Em 2006, a redução foi de cerca de 4%, segundo a TAM. “Milhares de brasileiros fizeram sua primeira viagem de avião nos últimos dois ou três anos”, diz Patriani, da CVC. A empresa informa que cresceu 18% no ano passado e, neste ano, espera crescer 15%, transportando 1,5 milhão de passageiros, 200 mil a mais que em 2005.

VEÍCULOS
Movido a crédito

VAI LEVAR?
Feirão da GM, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. As promoções atraem clientes de todas as faixas de renda

Nunca se vendeu tanto carro no Brasil quanto agora. No ano passado, foi 1,9 milhão de unidades, 12,4% a mais que em 2005, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea). Neste ano, o ritmo está ainda mais frenético. Nos cincos primeiros meses de 2007, foram vendidos 885 mil veículos, número 24% acima do registrado no mesmo período de 2006. Se o atual desempenho se mantiver nos próximos meses, será um ano único para a indústria automobilística brasileira.

O fator fundamental para o crescimento foi a oferta de crédito a juros baixos e o alongamento dos prazos de financiamento. Os juros praticados no setor, na faixa de 20% ao ano, são menores que a média de mercado, pois os próprios carros servem como garantia em caso de inadimplência. Os prazos, que chegaram a ser de seis meses na época da hiperinflação, hoje são de até 72. “Se os consumidores estiverem certos da manutenção de seus empregos, eles compram mesmo”, diz Luiz Montenegro, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).

A fábrica da Fiat em Betim, Minas Gerais, que produz 2.500 carros por dia, trabalha em três turnos para dar conta da demanda. De cada quatro veículos fabricados no mundo pela empresa italiana, um sai do Brasil. Apesar de a tributação chegar a quase 40% do preço final no país, um número crescente de compradores tem procurado modelos mais caros, vendidos à prestação. Hoje, 55% dos carros da montadora têm motor 1.0. No fim dos anos 90, esse índice chegava a 70%. Cresceu também a venda de acessórios como ar-condicionado, direção hidráulica e tocadores de CD.

VIAGENS AÉREAS
Crise? Que crise?

Num período em que as empresas de aviação passam pela mais grave crise de sua história, o setor registra números exuberantes. No ano passado, o faturamento cresceu 42,4%, segundo uma pesquisa feita pelo Ministério do Turismo, em parceria com a Embratur e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 2007, o bom desempenho deverá se repetir, com crescimento em torno de 45%.

De acordo com o coordenador da pesquisa, José Francisco Lopes, o desempenho só não foi melhor por causa dos problemas financeiros da Varig, que levaram a uma redução na oferta de assentos aos passageiros. Mesmo assim, em 2006, quase 50 milhões de passagens aéreas foram vendidas no Brasil, onde apenas 10% da população voa de avião. “A demanda por viagens aéreas é bem maior que a oferta”, diz Lopes. “Há muito espaço para crescer.”

Há cerca de cinco anos, o setor aéreo vem apresentando taxas de crescimento acima dos 10%. Desde que a Gol entrou no mercado nacional com seu modelo de baixo custo, em 2001, as demais empresas tiveram de reduzir as tarifas para se manter no mercado. As promoções agressivas, como vôos domésticos a R$ 1, também fortaleceram o crescimento. Com o aumento dos prazos do crédito, a redução dos juros e a queda do dólar, ficou mais fácil viajar de avião.

O desempenho da TAM, que está lutando contra a Gol para se manter na liderança do mercado, reflete o bom momento do mercado. Em 2006, o lucro da empresa cresceu quase 200% em relação ao ano anterior. “Estamos investindo no crescimento”, diz Paulo Cezar Castello Branco, vice-presidente de planejamento e alianças da TAM. Nos últimos anos, o caixa foi reforçado com R$ 3 bilhões, por meio de captação em bolsa e empréstimos para financiar a expansão.

CINCO MILHÕES QUEREM O GOVERNO COMO PATRÃO


CINCO MILHÕES QUEREM O GOVERNO COMO PATRÃO

Gabriela Carelli
Veja num. 2013
20/6/2007

Tornar-se um funcionário público voltou a ser um dos sonhos da classe média brasileira. Só neste ano, 100 000 novos cargos serão disputados em concursos que atraem milhões em busca de bons salários, estabilidade, ascensão na carreira e até prestígio profissional

OPÇÃO PELO SETOR PÚBLICO
O carioca Renato Travassos, de 31 anos, estagiou em empresas privadas e hoje é analista do BNDES: "No setor público, tenho um bom salário e um trabalho desafiador, mas que não me obriga a abrir mão da qualidade de vida"

Até pouco tempo atrás a ordem natural das coisas no Brasil era que, em busca de progresso social e econômico, os melhores filhos de pais funcionários públicos procurassem carreiras como profissionais liberais ou em grandes empresas privadas. Hoje o sentido da corrida se inverteu. Um dos grandes sonhos da classe média brasileira que começa a vida economicamente ativa é passar em um concurso que dá acesso a um emprego público na União, no estado ou na prefeitura. Pelo volume e pela qualidade dos cargos oferecidos, a corrida por cargos públicos não tem precedentes na história brasileira. Trabalhar para o estado tornou-se a opção preferencial de um enorme contingente de jovens recém-saídos da faculdade e até de profissionais sem maiores chances de ascensão no setor privado.

A proporção de funcionários públicos entre os trabalhadores com carteira assinada no Brasil passou de 17%, na década de 80, para 22%, hoje. É uma proporção maior do que a do Chile, da Argentina, dos Estados Unidos, da Inglaterra. Ela só é menor do que na França (23%), entre as democracias industriais modernas do Ocidente. Parte disso se explica pela cruel lei das burocracias, segundo a qual, deixadas à própria sorte, elas crescem de tamanho e ampliam indefinidamente seus privilégios. Outra parte se explica pelo gigantismo do estado brasileiro, que obriga os cidadãos a trabalhar 145 dias por ano, ou cinco meses, ou, para ficar ainda mais claro, de janeiro a maio, só para custear as despesas do governo. Mas a questão não se esgota nisso. do lado positivo, as novas levas de funcionários públicos estão ajudando a criar burocracias mais eficientes e menos delinqüentes do que aquelas que tornaram a palavra guichê sinônimo de inferno no Brasil.

No ano passado, 5 milhões de brasileiros inscreveram-se em três centenas de concursos promovidos no país para preencher vagas em repartições federais, estaduais e municipais. Isso representa 43% a mais de candidatos do que no início da década. Em 2007, as inscrições para concursos públicos devem bater novo recorde, já que 100.000 empregos estão previstos até o fim do ano. Diz o economista Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas, especializado em gestão pública: "O setor público, pela primeira vez em décadas, tornou-se mais desejado do que o privado. Essa preferência é um marco na história dos empregos no Brasil e no perfil da força de trabalho".

DESESPERO POR UMA VAGA
A fila para inscrição em concurso público na Bahia, em abril, deu voltas no quarteirão do Instituto de Cacau, em Salvador

O estado brasileiro emprega hoje mais de 9 milhões de cidadãos, segundo o IBGE. "Os governos voltaram a ser os maiores e melhores empregadores do país", diz o cientista político José Matias Pereira, da Universidade de Brasília (UnB). "Em nenhum outro lugar um funcionário vai encontrar salários tão bons, acompanhados de benefícios." Pereira, autor de um estudo sobre o perfil do funcionário público entre 1970 e 2004, acredita que a valorização da carreira pública que se verifica hoje só é similar à registrada há três décadas. "Nos anos 60 e 70, fase do chamado milagre brasileiro, o setor público oferecia salários altos para conquistar talentos. Isso voltou a acontecer", diz ele. Nos cursos preparatórios para concursos, essa mudança de perfil fica ainda mais clara. "Há dez anos, o aluno-padrão tinha entre 40 e 60 anos. Hoje, nossas salas se parecem com as dos cursinhos para vestibular. Estão lotadas de jovens de 25 anos, mais da metade deles recém-saídos das universidades", diz Thiago Sayão, diretor da Meta Concursos, uma das maiores escolas preparatórias para concursos do país. O carioca Renato Travassos, de 31 anos, analista do BNDES, optou pelo serviço público mesmo com boas possibilidades de sucesso no setor privado. Filho de pai médico e mãe professora, ele se formou em economia e direito. Em seu currículo constam estágios em empresas como o banco Itaú e a Shell. Ele depõe: "Tive a chance de experimentar os dois ambientes e compará-los. No setor público, tenho mais oportunidade de progredir".

SOLUÇÃO PARA O DESEMPREGO
A designer Thais Monteiro, de 26 anos, passou a estudar para concursos públicos depois da tentativa frustrada de conseguir emprego em empresas privadas: "É uma forma de ganhar um bom salário logo"

O mercado de trabalho privado está muito mais competitivo. Com a multiplicação dos cursos superiores no país, a quantidade de jovens que saem com um diploma nas mãos em busca de emprego cresce em proporção geométrica. Com uma taxa nacional de desemprego na casa dos 10%, é natural que a pressão seja aliviada pelo retumbante setor público brasileiro. Mas só isso não explica o fascínio que o funcionalismo exerce nos brasileiros. O principal motivo pelo qual tanta gente se inscreve nos concursos é que trabalhar para o governo oferece hoje um pacote de recompensas muito maior do que no passado. Nos últimos dez anos, o salário médio de um funcionário público da esfera federal passou de 1 400 para 4 700 reais. Essa remuneração é 97,3% maior do que a média do setor privado. De acordo com um levantamento recente, entre 1992 e 2005 o salário do setor público aumentou 254% em relação ao do setor privado, considerando-se empregados com a mesma escolaridade, idade, cor e sexo. Dados do Ministério do Planejamento revelam que 35% dos servidores federais recebem salário entre 2.500 e 6.500 reais. Oito por cento deles ganham 8.500 reais ou acima disso.

UMA VIDA JUNTO AO ESTADO
Pedro Paulo Scoffano começou na Petrobras como estagiário e de lá saiu como assistente da presidência da Gaspetro, um dos braços da estatal. Aposentado em 2001, voltou a atuar na empresa como consultor, aos 58 anos

Os candidatos a cargos públicos são seduzidos por privilégios impensáveis nas empresas privadas – a estabilidade no emprego é o mais típico deles. Entre 1999 e 2005, a oferta de vagas no setor privado cresceu mais do que no público – 31,5%, contra 16,3%. A rotatividade dos funcionários nas empresas privadas é, por definição, cada vez maior em razão das exigências conjunturais por aumento da eficiência, produtividade e dos cortes de custos. O servidor do estado raramente é demitido. A Constituição de 1988 determina que todos os funcionários públicos tenham estabilidade plena. Podem ser afastados apenas em casos graves, como insubordinação e abandono de emprego. Estima-se que menos de 1% dos funcionários públicos brasileiros perca o cargo a cada ano.

O SALÁRIO COMPENSA
Em busca de estabilidade, a administradora Alexandra Macedo se demitiu da multinacional onde trabalhava para apostar na carreira pública. Hoje, como auditora-fiscal da Receita Federal, ganha quatro vezes mais do que antes e tem emprego garantido


O maior e mais novo atrativo do setor público brasileiro é a possibilidade de crescimento profissional e pessoal. Seja por promoções e concursos internos, seja pela prática, já consagrada entre os chamados "concurseiros", de saltar para outra carreira pública mais atrativa. Um exemplo é o da economista carioca Beatriz Gaspary, de 41 anos. Em 2000, ela perdeu o emprego numa firma privada. Desde então vem galgando degraus no funcionalismo. No mesmo ano, prestou concurso para oficial de cartório da Polícia Civil, cargo que exige formação apenas no ensino médio e garantia a ela 1.100 reais mensais – pouco menos que os 1.300 que recebia na iniciativa privada. Nos anos seguintes Beatriz prestou outros quinze concursos diferentes até ingressar, em 2004, na Polícia Rodoviária Federal. Diz ela: "Atualmente estudo para o concurso de perito contábil da polícia, em que poderei atuar na minha área de formação e ganhar mais".

Até meados da década de 90, era quase impossível para um servidor progredir na carreira. Havia gratificações por tempo de trabalho, mas não promoções por mérito. Isso começou a mudar no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na época, iniciou-se uma reforma administrativa destinada a diminuir as distorções do serviço público. Extinguiram-se as gratificações por tempo de serviço e instituíram-se aumentos salariais de acordo com o desempenho individual em mais de quarenta carreiras. Para atrair bons profissionais, servidores com mestrado ou doutorado, o estado elevou seus vencimentos em até 40%.

"O aumento dos salários nas carreiras com maior qualificação serviu também para apagar a imagem do serviço público como um celeiro de empregos de segunda categoria", diz o pesquisador Marconi, da FGV. Essa imagem foi superada. Basta ver o contingente de classe média alta que procura uma vaga no estado não mais como um complemento salarial ou um prêmio, como no passado. O escritor Graciliano Ramos e o poeta Carlos Drummond de Andrade ganhavam o sustento dando expediente em repartições públicas. O pintor Di Cavalcanti foi agraciado pelo presidente João Goulart com uma sinecura na embaixada brasileira em Paris dias antes do golpe militar de 1964. Horas depois de chegar à França, soube que o governo que o nomeara não existia mais.

"Hoje, dependendo do órgão, o servidor tem uma carreira de verdade, que pode ser planejada, com desafios e estímulos para melhorar, como na iniciativa privada", diz o advogado João Geraldo Piquet Carneiro, presidente do Instituto Helio Beltrão, ONG que desenvolve estudos para melhorar a eficiência da administração pública. O advogado gaúcho Gerson dos Santos Sicca, de 33 anos, foi um dos muitos beneficiados pelas mudanças no funcionalismo. Há cinco anos, ele ganhava 1.500 reais como professor na Universidade Federal de Pelotas. Depois de prestar quatro concursos públicos, conseguiu uma vaga como auditor do Tribunal de Contas de Santa Catarina e recebe 19.900 reais. Avalia ele: "O salário é excelente, mas não é só isso que importa. Meu trabalho é estimulante e me proporciona realização profissional".

Quando a economia brasileira girava em torno dos ciclos extrativistas e da monocultura, o serviço público era formado por carimbadores cujo maior mérito era não atrapalhar os negócios. No primeiro governo de Getúlio Vargas, a burocracia começou a se tornar mais organizada e se expandiu, ajudando a dar suporte às mudanças que romperam com a República Velha e desencadeariam o nascimento do Brasil moderno. O mesmo ocorreu nos anos de Juscelino Kubitschek. O funcionalismo voltou a ser valorizado nos governos militares, quando o estado ampliou a infra-estrutura do país e investiu em setores-chave da indústria nacional, como o petroquímico. Na década de 80, por causa da crise fiscal e da inflação crônica, o prestígio do funcionalismo foi achatado junto com os salários dos servidores. O setor público se eclipsou – só optava por ele quem não conseguia emprego na iniciativa privada. Foi também na década de 80 que se formou a percepção de que a corrupção está inapelavelmente entranhada no funcionalismo público brasileiro. Claramente ela se dá em maior escala nos chamados cargos comissionados, para os quais não é necessário prestar concurso. São as funções "políticas", aquelas alvo das indecentes disputas que os partidos travam à luz do dia oferecendo em troca "apoio" ao governo. No Brasil essa categoria, predominantemente uma cleptocracia, tem hoje 25.000 cargos. Nos Estados Unidos são menos de 5.000. Na França, 1.000, e na Inglaterra, em torno de 100. Aqui a vigilância sobre o serviço público é feita quase que exclusivamente pela imprensa. Nos países mais avançados as corregedorias são para valer e nenhum servidor se sente fora do alcance da lei.


VETERANA DOS CONCURSOS
A economista carioca Beatriz Gaspary é policial rodoviária federal desde 2004. Antes da aprovação para o cargo, prestou quinze concursos diferentes. Mas ela ainda não está satisfeita. Atualmente, estuda para a prova de perito contábil da polícia: "Assim volto a trabalhar na minha área e posso ter um salário maior"

"O concurso público representa uma opção para o jovem que não consegue o primeiro emprego, para quem saiu do mercado de trabalho, para quem está descontente com os salários baixos da iniciativa privada ou para quem quer simplesmente um pouco de tranqüilidade no país das incertezas", diz o juiz fluminense William douglas, da 4ª Vara Federal de Niterói, especialista em concursos públicos. Além disso, argumenta o juiz, o concurso é uma das formas mais democráticas de ascensão social. "As provas só levam em conta o desempenho do candidato. Ninguém liga para a cor, aparência ou idade do pretendente à vaga." No ano passado, aos 62 anos, o engenheiro Marcus Meira Bannwart, de Minas Gerais, conseguiu uma vaga de agente fiscal do estado de São Paulo. Formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Bannwart fez carreira na IBM e acabou por aderir a um plano de demissão voluntária. Recusando-se a vestir o pijama, decidiu prestar concurso público e hoje ganha cerca de 10.000 reais por mês. Diz o engenheiro: "Sempre associei o serviço público a gente folgada, que cultiva a preguiça, mas fiquei surpreso ao constatar que ele abriga muitas pessoas esforçadas".

A "doutorização" do serviço público é muito positiva, mas não é ainda a bala mágica contra a ineficiência e a corrupção. O governo brasileiro gasta com pessoal 48% da receita disponível (impostos pagos pela população menos as transferências para estados e municípios). O valor é alto, mas não um descalabro. O desastre mesmo é como o dinheiro é distribuído. "No serviço público, faltam procedimentos rotineiros de qualquer empresa privada, como dimensionar a demanda por um determinado serviço, estabelecer metas, cronogramas e acompanhar resultados", diagnostica Paulo Tafner, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Eis aí um desafio à altura dos novos doutores do serviço público.


CONCURSO PÚBLICO COM LUCRO PRIVADO


ENTRE LIVROS E CIFRAS
William douglas: milhares de seguidores em busca de um lugar no funcionalismo

Concurso público hoje não é um bom negócio apenas para quem consegue ser aprovado. Trata-se de um mercado milionário para escolas preparatórias, empresas que organizam concursos e editoras especializadas em material didático. Nos últimos dez anos, o número de alunos em escolas preparatórias triplicou. Segundo pesquisa da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), a cada ano meio milhão de pessoas se matriculam em cursos especializados – e isso responde por apenas 10% do total de candidatos. Quem não tem tempo ou dinheiro para estudar em escolas preparatórias recorre a livros e apostilas. Há até uma nova vertente no mercado de livros de auto-ajuda dedicada especificamente a concursandos. O fluminense William douglas é a estrela desse setor. Com sete aprovações em concursos públicos, douglas – que atualmente é juiz federal da 4ª Vara de Niterói – já fez palestras a um total de 600 000 pessoas, o que dá em média 5 000 concursandos por audiência. O primeiro livro de douglas, Como Passar em Provas em Concursos, está na vigésima edição e já vendeu mais de 110 000 exemplares. Faturamento alto também têm as organizadoras de concursos. Até o fim do ano, essas empresas privadas – responsáveis, entre outras coisas, por elaborar as questões das provas – vão arrecadar 500 milhões de reais em taxas de inscrição dos candidatos.

ESCOLA DE PRESIDENTES

A SEDE DA ENA: apenas 7 000 alunos desde 1945

Na França, a missão das escolas públicas é transferir saber de forma neutra – sem ideologia ou religião – para formar cidadãos da República. Já a prestigiosa Escola Nacional de Administração (ENA), criada em 1945 pelo general Charles de Gaulle, é um ambiente restrito para a criação de uma elite de funcionários públicos – é a "enarquia", a monarquia dos barnabés.

O objetivo da ENA, quando criada, foi democratizar o acesso ao comando do setor público francês, um gigante com 5 milhões de funcionários, e transformar impostos e contribuições sociais dos cidadãos em serviço de qualidade. Em média, 120 alunos remunerados são formados a cada dois anos e 2 500 altos funcionários do estado recebem aperfeiçoamento profissional permanente na ENA.

Em um país de 64 milhões de habitantes, apenas 7 000 se formaram na ENA. O privilégio de estudar lá é inegável: os três últimos presidentes franceses e dez primeiros-ministros mais recentes são "enarques". O novo presidente, Nicolas Sarkozy, é uma rara exceção. "Os alunos da ENA tornaram-se uma casta hereditária semelhante aos mandarins da China medieval", diz Bernard Zimmern, ex-aluno da escola e presidente da Ifrap, grupo independente de vigilância do funcionalismo público francês. A maioria dos estudantes que irão ocupar o alto escalão do governo é composta de filhos de ex-alunos da ENA. A escola também criou uma situação de distância social entre seus alunos e o resto da população: raros negros ou descendentes de árabe conseguem entrar na ENA. No ano de 2003 nenhum conseguiu.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Leia essas

CARNAVAL - MOMO PESADO

Não é preciso ser policial federal para saber que a parceria de bicheiro com o poder público daria em coisa que não presta. Há dez anos a Prefeitura do Rio de Janeiro pôs nas mãos da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) os desfiles de Carnaval - e quem manda na Liga é o pessoal da borboleta, da cobra, do cachorro, etc. Até que demorou, mas agora deu zebra. O delegado da PF Emanuel Henrique de Oliveira denunciou fraude no resultado do desfile de Carnaval desse ano, do qual a Beija-Flor sagrou-se campeã. Segundo o delegado, o novo detalhe desse enredo, contido no relatório que está na Justiça Federal, são ameaças de morte feitas contra alguns jurados no sambódromo se eles não obedecessem às ordens (em troca de presentes) do bicheiro Anísio Abraão David: dar o título à Beija-Flor.

ME DÁ UM DINHEIRO AÍ
Contrato firmado entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e a Liga Independente das Escolas de Samba: além da receita de bilheteria e da publicidade interna e externa do Sambódromo, foi dado à Liga um adiantamento de R$ 10 milhões. Pagável em dois meses. Sem juros.

EDUCAÇÃO
SÓ A ÍNDIA TEM MAIS CURSOS DE MEDICINA QUE O BRASIL
Um levantamento realizado pela Associação Médica Brasileira (AMB) revelou que o número de cursos de medicina no País cresceu 45% em quatro anos e que o total de faculdades só é superado pela Índia. Bom e ruim ao mesmo tempo: há estudantes que por si só se fazem excelentes profissionais cursando faculdades medianas e há gente que se torna péssima cursando instituições cinco-estrelas. A AMB acredita que, no geral, a proliferação de faculdades é um risco à saúde pública porque boa parte desses cursos é precária - 58% estão nas mãos de universidades particulares.

FACULDADES PELO MUNDO
Índia.......222
Brasil.....167
China.....150
EUA........125
México.....84
Japão.......80

LINGUAGEM RETA
A Voz do Brasil entrou na campanha do governo federal a favor da vasectomia. A locutora foi direto ao ponto - o que é elogiável quando o assunto é saúde pública. Disse ela: "Ninguém fica broxa."

TCU
FARRA PÚBLICA
Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU): no primeiro trimestre desse ano, 367 pessoas (ligadas à gestão do dinheiro público) foram condenadas ao recolhimento de débitos ou pagamento de multas. Valor total: R$ 89, 3 milhões - equivalente a R$ 1 milhão por dia.

ESTATÍSTICA DOS CRIMES
28% envolvem danos ao erário provocados por gestão ilegítima ou antieconômica

28% devem-se à infração às leis em geral

25% correspondem a desvio de dinheiro e desfalque

19% envolvem não-prestação de contas



"Relaxe e goze. Depois você esquece todos os transtornos" - De Marta Suplicy, ministra do Turismo, para os passageiros que enfrentam atrasos de vôos nos aeroportos do País


"Tenho medo de que ser gay vire algo obrigatório" - Marcelo Crivella, senador (PRB-RJ), ao afirmar que a homossexualidade é muito enaltecida atualmente

R$ 300 mil - é quanto a viúva do guerrilheiro Carlos Lamarca, Maria Pavan, irá receber do governo como indenização pelo assassinato de seu marido em 1971. Terá direito também a uma pensão mensal de R$ 12.125. Lamarca, que era capitão do Exército, foi promovido a general após a Lei da Anistia

VOSSA EXCELÊNCIA, O DELEGADO

O presidente do sindicato dos delegados do Distrito Federal, Mauro César Lima, enviou à Polícia Civil de Brasília um ofício em que pede que os delegados passem a ser chamados de Vossa Excelência. Ele tece uma longa explicação e sublinha: "Não é questão de vaidade, mas de profissionalismo e valorização do trabalho dos policiais."

CINQÜENTINHA

"Os visitantes devem reservar R$ 50 para dar ao ladrão na eventualidade de sofrer um assalto." Essa recomendação a turistas que pretendem visitar o Brasil consta do site da embaixada francesa

Lula: "O Brasil vive o melhor momento da República"


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no programa de rádio semanal Café com o presidente, que o Brasil vive o melhor momento econômico desde a proclamação da República. Falou sobre crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano em comparação com igual período anterior, de 4,3%.

Nos quatro primeiros anos do governo Lula, o PIB real do Brasil cresceu 3,3% em média. Mais alto do que nos anos de Fernando Henrique, cuja média foi de 1,08%.
Eu posso dizer ao povo brasileiro, com muita tranqüilidade, mesmo àqueles que são pessimistas ou que querem torcer contra o governo, que o Brasil vive o melhor momento desde que a República foi proclamada - disse Lula. - Não tenho dúvida de dizer isso.

Lula exaltou a queda da inflação, o aumento da oferta de crédito e a melhora da credibilidade externa. Lembrou do crescimento de 7,2% dos investimentos, como revelou o IBGE na divulgação do PIB, e da geração de 302 mil empregos com carteira assinada só em abril. O que indica esse número, agora, de 4,3%, do 1º trimestre? Que nós crescemos um pouco mais do que no último trimestre do ano passado. Que nós temos uma possibilidade de crescimento ainda no 2º trimestre, no 3º e no 4º. Portanto, indica uma melhor situação para a economia brasileira - comentou Lula.


Cogitada privatização de terminais do país

A crise aérea repercutiu em São Paulo durante o seminário "Um novo modelo de Gestão do Transporte Aéreo", organizado pela direção dos Democratas (DEM). O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, afirmou que admite a possibilidade de privatizar aeroportos do país, mas que um eventual processo precisa levar em conta o que ocorrerá com terminais pouco rentáveis.

Precisamos pensar primeiro no interesse público, ou o povo brasileiro continuará sofrendo. Quem aceitará investir em um aeroporto como o de Imperatriz (MA), ou o de Tabatinga (AM)? - questionou.

A deputada Solange Amaral (DEM-RJ) propôs que os contratos prevejam o atrelamento da "meia dúzia de aeroportos rentáveis do país" a outros menores.

Essa é uma questão a ser estudada, mas quem for administrar o Santos Dumont (RJ), por exemplo, pode ficar também com outros cinco ou seis terminais menores - sugeriu.

Durante o seminário, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que o Ministério da Defesa hoje tem apenas um papel simbólico na crise aérea do País. Além disso, para o senador, o ministro da Defesa, Waldir Pires, é "incompetente" para o cargo.

O Ministério hoje tem um papel apenas simbólico - criticou.

Certo da absolvição, Renan pensa no futuro

O destino do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), será selado amanhã com a votação, no Conselho de Ética da Casa, da representação do PSOL por suposta quebra de decoro parlamentar. O julgamento estava marcado para hoje mas foi adiado, a pedido do presidente do colegiado, senador Sibá Machado (PT-AC). O intenção foi a de dar mais tempo para divulgação e avaliação da perícia, a cargo da Polícia Federal, sobre os documentos apresentados por Renan para comprovar rendimentos de R$ 1,9 milhão com venda de gado, os quais teriam custeado gastos com a jornalista Mônica Veloso e a filha de ambos, de 3 anos.

Apesar da indefinição que ronda o julgamento da representação no conselho - cujo placar até ontem estava apertado, embora ligeiramente favorável ao peemedebista - Renan já pensa em como administrar o dia seguinte a uma provável absolvição pelo colegiado. De acordo com aliados do senador, o calvário pelo qual passou o presidente do Senado nas últimas semanas deixará seqüelas que exigirão muita habilidade política para serem superadas.

Renan tem se queixado a interlocutores do comportamento radical de senadores com quem mantinha um relacionamento cordial, como José Agripino Maia (DEM-RN), Demóstenes Torres (DEM-GO), Marconi Perillo (PSDB-GO), Lúcia Vânia (PSDB-GO) e Renato Casagrande (PSB-ES). Diz-se vítima de uma "confluência de interesses" responsável por unir setores da oposição e até do PT no propósito de fragilizá-lo politicamente. Cada qual com sua particularidade.

Por exemplo, Renan afirma acreditar ser alvo dos parlamentares do PSDB goiano pelo fato de ter sido atribuído a ele a indicação do ex-senador Maguito Vilela (PMDB), adversário políticos dos tucanos no Estado, para a vice-presidência de Governo do Banco do Brasil. Já o comportamento do líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que pede o afastamento de Renan da presidência enquanto durar as investigações, estaria relacionado ao suposto interesse do parlamentar em sucedê-lo no comando da Casa.

Também haveria, no entendimento de pessoas próximas a Renan, uma pressão oriunda de setores do PT em favor do endurecimento do discurso contra o peemedebista. Motivo: se Renan for cassado ou renunciar à presidência, quem assume de forma interina é o vice-presidente, Tião Viana (PT-AC). Com isso, o PT ficaria até a eleição de um sucessor de Renan com as presidências do Senado e da Câmara.

Por tudo isso, na avaliação de senadores próximos a Renan, reconstruir as pontes e aparar as arestas no Senado no pós-crise não será tarefa fácil, podendo comprometer até o andamento dos trabalhos na Casa.

Vamos deixar encerrar o processo, não está nada resolvido para que se possa fazer uma avaliação do dia seguinte - ponderou Agripino, para em seguida reconhecer o estremecimento da relação. - É natural que o processo de investigação tensione as relações.

Renan passou o dia ontem no gabinete da presidência da Casa. A amigos e senadores próximos, disse já ter prestado todos os esclarecimentos ao conselho. Acredita que, se o exame técnico inocentá-lo da acusação de uso de documentos frios para justificar o repasse de dinheiro, como tudo indica que irá ocorrer, o caminho estará aberto para a absolvição.


sexta-feira, 8 de junho de 2007

Militantes do PSOL invadem pista do Galeão

Trinta e dois militantes do PSOL invadiram ontem a pista do aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão) após a TAM não providenciar transporte gratuito ao aeroporto Santos Dumont.
Três militantes e dois funcionários da empresa foram levados à delegacia para depor. Todos registraram queixa por agressão. À polícia, passageiros e funcionários acusaram-se mutuamente.
O Santos Dumont, destino original do vôo, foi fechado por duas horas pela manhã em razão de um nevoeiro que cobria a pista de pouso do local. Os passageiros tiveram que desembarcar no Galeão.
Os militantes chegaram ao Rio para participar da abertura do 1º Congresso Nacional do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que começou ontem e vai até domingo.
Segundo Albanise Reis, integrante da executiva do partido em Pernambuco, os passageiros foram informados, dentro do avião, que a empresa pagaria transporte ao Santos Dumont. Já no saguão, ao procurar outro funcionário, a resposta foi negativa.
Os militantes forçaram a porta que separa o saguão da pista, onde estava um funcionário da TAM. Conseguiram passagem e ficaram dez minutos na pista até serem retirados por policiais federais.
O major da PM Wagner Moretzsohn, à paisana no local, entrou na confusão e chegou a dar voz de prisão a três militantes.
Segundo a TAM, não há obrigação de providenciar transporte em caso de mudança de local de pouso na mesma cidade

Com informações da Folha SP

PMs estão entre os suspeitos de matar jornalista

Policiais militares estão entre os suspeitos do assassinato do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, morto a tiros em 5 de maio em Porto Ferreira (228 km ao norte de São Paulo).
Barbon denunciou esquema de exploração sexual de menores, o que levou à condenação de seis vereadores, três empresários e um funcionário público. Ele apontou ainda irregularidades em contratos da prefeitura.
No inquérito conduzido sob sigilo pela Delegacia de Investigações Gerais de São Carlos -o governo de SP retirou a apuração da polícia local, para evitar pressões-, uma das principais linhas de investigação é a de que o crime pode ter PMs como autores.
A major Marli Rossi Silva dos Reis, da PM de São Carlos, informou que a corporação "desconhece o envolvimento de policial militar na morte".

terça-feira, 5 de junho de 2007

De “companheiros” a “sócios”

Brasil-Venezuela

Em Londres, Lula se refere a Hugo Chávez como “parceiro de bons negócios” e se distancia das afinidades políticas. Atrito com Senado brasileiro sobre cassação de TV realça divergências crescentes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem enterrar a troca de acusações iniciada na semana passada entre o governo de Hugo Chávez e o Congresso brasileiro. Em Londres, em entrevista ao programa de TV Hard talk, da BBC, ele ressaltou que o mandatário venezuelano “é um parceiro do Brasil” e “não representa perigo para a América Latina”. Apesar da postura conciliatória, Lula deixou claro que a relação com a Venezuela avança na senda do pragmatismo econômico e se afasta do discurso ideológico que marcou o primeiro mandato. “Chávez tem sido um parceiro do Brasil”, disse Lula. “Nós temos grandes negócios na Venezuela, estamos fazendo refinarias conjuntas.”

Essa espécie de polarização política, que não significa necessariamente confrontação, fica cada dia mais evidente. E revela duas visões de mundo bastante distintas. Chávez e Lula não se entendem sobre temas centrais da integração sul-americana (leia quadro). O editorial de ontem do diário britânico The Guardian captou parte desse espírito, ao opinar que Chávez “vem animando muita gente de esquerda com sua dramaticidade, mas é o multilateralismo impulsionado por Lula que fará mais para mudar o mundo”.

Intitulado “Duas visões de progresso”, o editorial traça semelhanças entre os dois: “São progressistas radicais reeleitos pelos pobres, em sociedades marcadas pelas terríveis diferenças de oportunidade”. Mas ressalta que “Lula se envolveu com o sistema político internacional, ao invés de desafiá-lo”. Nesse sentido, os Estados Unidos surgem como ponto de inflexão entre as diplomacias de Brasília e Caracas. Lula marcou essa diferença ao comentar à BBC que “Chávez tem suas razões para brigar com os Estados Unidos, e os Estados Unidos têm suas razões para brigar com a Venezuela”, mas “o Brasil não tem nenhuma razão para brigar com os Estados Unidos ou a Venezuela”.

Questionado se hoje na América do Sul havia dois modelos políticos e econômicos — um de Chávez e outro de Lula — disputando espaço e áreas de influência, o presidente afirmou que o importante é as nações sul-americanas terem crescimento econômico. “O sonho da América Latina é que todos cresçam economicamente, façam distribuição de renda e melhorem a vida do povo. É assim que pensa o presidente Kirchner, é assim que pensa o presidente Chávez, é assim que pensa o presidente Lula”, resumiu.

Descompasso
Mas, enquanto o ex-sindicalista pondera sobre liberdade de imprensa e soberania, o militar radicaliza e se diz alvo de seguidos planos de magnicídio, supostamente arquitetados por Washington, mas sobre os quais nunca apresentou provas. Ao desembarcar em Nova Délhi, na Índia, Lula expressou o desejo de que a polêmica entre Chávez e o Congresso brasileiro seja resolvida logo. Na semana passada, o presidente venezuelano chamou os parlamentares de “papagaios de Washington”, em resposta ao pedido formal aprovado pelo Senado para que Chávez renovasse a licença da emissora RCTV.

Ao justificar o comentário, o mandatário venezuelano disse que apenas havia respondido a uma “grosseria”. Para Lula, não houve grosseria. “Eu não vi nada disso ontem (nos jornais). Eu fiz a resposta e vamos ver o que vai acontecer. Eu acho que o Congresso não foi grosseiro, porque a nota do Congresso pede a compreensão, apenas”, argumentou Lula, reafirmando que não vai procurar Chávez para tratar do assunto. “Deixa eu voltar ao Brasil. Há muita coisa que pode ser feita (para não complicar as relações)”, afirmou.

Na tribuna do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) voltou ao assunto, ressaltando que a defesa da democracia não pode ter fronteiras. Já os líderes do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e dos Democratas, senador Agripino Maia (RN), anunciaram em plenário que os dois partidos vão determinar a obstrução da votação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, que está em tramitação, caso Chávez não se retrate publicamente.

As diferenças

Principais discordâncias públicas entre Brasília e Caracas

Integração regional

Chávez embarcou no Mercosul mas defende sua transformação em união política. Já falou em “enterrar” o bloco comercial, que a diplomacia considera como alicerce do processo de integração continental

Etanol

O presidente venezuelano fez coro prontamente a Fidel Castro nas críticas ao acordo Brasil-EUA para expandir a produção de biocombustíveis na América Latina, alegando que condenaria “milhões” à fome no mundo

Banco do Sul

O governo brasileiro mantém sua reticência a apoiar a iniciativa de Caracas pela criação de uma instituição regional para fomentar o desenvolvimento, missão que se sobrepõe à de instituições como o BNDES

Estados Unidos

Enquanto Chávez aposta no confronto com Washington, reeditando uma visão de mundo bipolarizada, Lula se mantém fiel a uma diplomacia multipolar, em que há lugar para relações amistosas com pólos conflitantes entre si

Bate-boca na OEA

A 37ª Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) se transformou ontem em campo de batalha entre Estados Unidos e Venezuela. A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, solicitou o envio imediato de uma missão a Caracas para investigar o episódio da não renovação da concessão da emissora privada RCTV. O gesto da secretária foi interpretado pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, como “intervencionismo inaceitável” de Washington.

“Pedimos ao secretário-geral que viaje para a Venezuela para consultar todas as partes e apresentar um relatório completo”, sugeriu Rice. “A intervenção da representante dos Estados Unidos constitui um intervencionismo inaceitável nos assuntos internos de uma república democrática e soberana”, respondeu Maduro. Em seguida, ele pediu “respeito” e sugeriu que a OEA crie uma comissão especial “para estudar a violação diária dos direitos humanos nas fronteiras do sul dos Estados Unidos”, em referência à construção de um muro na divisa com o México.

A tréplica não demorou. “Em qualquer assunto, estou certa de que será difícil para qualquer comissão debater, investigar e criticar mais as políticas dos Estados Unidos do que já se faz todas as noites na CNN, ABC, CBS, NBC e em vários canais americanos menores”, provocou Rice. Ela argumentou que nos EUA “os cidadãos têm a garantia de uma imprensa livre e independente”, e concluiu: “Isso é democracia”. A secretária abandonou a sessão, sem ouvir a estocada seguinte de Maduro, sobre violações dos direitos humanos na base americana de Guantánamo, em Cuba.

Governo federal autoriza SP a obter R$ 4 bi em créditos para investimento

O governo federal autorizou ontem o Estado de São Paulo a contratar R$ 4 bilhões em crédito para novos investimentos. "Essa decisão não fere nenhum dispositivo fiscal como a Lei de Responsabilidade Fiscal ou a lei 9.496", afirmou ontem à noite o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O governador de São Paulo, José Serra, no entanto, considera o valor ainda insuficiente. "O Estado de São Paulo cumpre os requisitos para obter crédito no valor de R$ 6,7 bilhões", argumentou. Serra disse também que continuará a negociar a autorização para os R$ 2,7 bilhões restantes. Questionado sobre se essa decisão seria um alívio para o Estado, Serra afirmou que "alívio é quando entra dinheiro no bolso. Nesse caso, o que temos é autorização para pegarmos financiamento".

Mantega explicou que a liberação foi possível graças à atual situação das contas públicas do Estado e às projeções para os próximos anos. Atualmente, a relação entre a dívida líquida corrente do Estado e a receita líquida corrente está em 1,89, abaixo do valor limite estipulado pela União que é de duas vezes. "A meta de superávit primário acordada com São Paulo será cumprida mesmo com a contratação de empréstimos nesse valor autorizado", explicou o ministro.

As estimativas apresentadas pelo governo de São Paulo aos técnicos do Tesouro nacional também foram levadas em conta. "Até 2020, a relação deve cair para 1", argumentou o governador. O ministro da Fazenda afirmou que o espaço fiscal aberto para a liberação da concessão de crédito se deu devido à melhora da relação dívida/receita e lembrou que o governo acompanhará a evolução das contas do Estado nos próximos anos.

A autorização dada a São Paulo abre espaço para que outros Estados também consigam ampliar os valores para contratação de crédito. Mantega não quis adiantar quais Estados poderão conseguir isso, mas afirmou que na próxima semana visitará, junto com uma equipe do Tesouro, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

O ministro explicou que o Estado que estiver com as contas favoráveis, com a relação dívida/receita em queda, tem o mesmo direito que o Estado de São Paulo. Ele disse que o governo federal está empenhado em dar uma flexibilidade maior aos investimentos dos Estados. "É claro que isso ainda passa pelo Senado, mas não acredito que teremos problema em aprovar."

Com o valor liberado, Serra pretende investir no transporte ferroviário, na ampliação do metrô e nas estradas vicinais que cortam o interior paulista. A idéia é conseguir empréstimos junto a bancos internacionais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e JBIC, o Banco Japonês para Cooperação Internacional. E, dentro do Brasil, com o BNDES.

Como o Estado precisa entrar com uma contrapartida nos investimentos, Serra estima que os valores gastos com essas obras possam chegar, até o final do mandato, a R$ 7 bilhões. A intenção do governador é já fechar algum acordo ainda neste ano, para que os recursos sejam usados já em 2008. Para ele, a liberação não é resultado de um bom relacionamento político com o governo federal, mas sim de uma boa administração das contas públicas, "que vem desde o governo Alckmin, seguiu no de Lembo e persiste com o atual."



Lula vai destacar tecnologia e desmatamento no G-8

Na sexta de manhã, antes do almoço às margens do Mar Báltico, o presidente Luis Inácio Lula da Silva tentará mostrar a outros 12 líderes mundiais que o Brasil está fazendo sua lição de casa contra o aquecimento global: deixou de emitir 600 milhões de toneladas equivalentes de carbono nos últimos oito anos com a adição de álcool à gasolina e evitou lançar à atmosfera outras 400 milhões de toneladas de CO2 ao conter o desmatamento da Amazônia em 2005/2006. Lula deve ainda pedir recursos para a combater o desmatamento e defender a necessidade urgente de se transferir tecnologia dos países ricos aos em desenvolvimento.

Não há discursos previstos na reunião do G-8+5. A cúpula é uma conversa entre líderes dos países mais ricos do mundo e a Rússia (o G-8), com cinco emergentes convidados ao encontro em Heiligendamm, na Alemanha (Brasil, China, África do Sul, Índia e México). Cada um fala por 4 ou 5 minutos. O presidente Lula terá à mão papeizinhos com informações concisas preparados pelo Itamaraty para usá-los se achar conveniente.

Será a primeira vez que Lula mencionará a proposta brasileira de receber incentivos positivos para evitar o desmatamento, idéia já apresentada pela ministra Marina Silva, no Quênia, em 2006. A base da proposta é que um hectare de Amazônia retêm de 120 a 200 toneladas de carbono, liberadas quando a floresta é cortada ou queimada. Isso poderia significar recursos para o gerenciamento e fiscalização das matas, tomando como referência o preço do carbono no mercado internacional.

Uma taxa de referência, calculada pela média do desmatamento numa série de anos, serviria de parâmetro. Quando o desmatamento for menor que a taxa, os países em desenvolvimento com florestas teriam direito a recursos; se superar o índice, não receberiam nada até compensar o aumento. O dinheiro viria de países ricos que, pela convenção do clima, devem ajudar com recursos e tecnologia para que os outros, em desenvolvimento, possam crescer sem poluir.

Segundo críticos, o ponto frágil da proposta é que os países ricos teriam de doar recursos de forma voluntária. Outra idéia, de atrelar recursos para combater o desmatamento aos mecanismos de comércio de carbono, não agrada ao Brasil. "Com projetos de combate do desmatamento da Amazônia daríamos licenças para as nações industrializadas poluírem", diz uma fonte do governo brasileiro. "Isto afetaria a integridade ambiental do protocolo". Também derrubaria o preço do carbono no mercado internacional.

É possível que o G-8 encampe a idéia de o Banco Mundial de criar um novo fundo, o Forest Carbon Partnership (FCP), para reduzir as emissões de gases-estufa do desmatamento. Este pode ser um ponto de divergência. O fundo, que ainda está em estudo no Bird e só seria criado por volta de 2010, é uma fonte de financiamentos; a idéia brasileira é que ela se sustente por "doações" dos países ricos, dadas a título de "incentivo" para deter o desmatamento.

No G8+5, Lula deve falar muito em etanol e biodiesel. Tocará ainda num ponto nevrálgico: a necessidade de ampliar a cooperação tecnológica. Transferência tecnológica sempre está em pauta nas negociações, mas parece um tópico fadado a ficar na retórica. Uma trava é que as patentes costumam ser privadas. "Sem dúvida, o setor privado é componente importante neste processo. Mas há muita tecnologia em laboratórios governamentais e em privados mas com financiamento público", diz a autoridade brasileira. "É uma questão de desenhar modalidades para facilitar a transferência de tecnologia, de ter vontade política para isso." A questão da propriedade intelectual é complexa, mas tem que ser enfrentada, aposta o governo brasileiro. "Ou enfrentamos isso ou teremos, nos próximos anos, um processo de desenvolvimento de países emitindo e que não vão abrir mão do direito de crescer."

Lula usou a entrevista ontem no programa Café com o Presidente para eximir os países em desenvolvimento da responsabilidade pelo aquecimento global. Para ele, os países ricos emitem muito mais gases poluentes e desmataram muito mais. "Portanto, cabe a eles maior responsabilidade para despoluir o planeta". O Brasil rejeita metas para suas emissões de gases. Os países ricos emitem 65% dos gases-estufa. "A Europa tem só 0,03% de floresta, e o Brasil ainda tem mais que 60%", citou. Lula afirmou que, nos últimos dois anos, o Brasil diminuiu em 52% o desmatamento.

Impasse pode deixar Petrobras fora da mídia

O impasse entre a Petrobras e o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre um item da licitação para que a estatal possa contratar novas agências de publicidade garante a permanência da conta de R$ 250 milhões da estatal nas mãos das atuais contratadas, incluindo a Duda Publicidade, do publicitário baiano Duda Mendonça (responsável pela campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002), até o dia 30 de novembro deste ano. Vencido este período, a estatal terá que ficar fora da mídia por falta de agência.

O atual contrato com a Duda, a Quê e a F/Nazca foi assinado em dezembro de 2003, por dois anos, prorrogáveis por até mais dois. No fim de 2006, a Petrobras decidiu não renovar o contrato no último ano e iniciou processo licitatório para escolher novas agências. A partir de então, os compromissos com as atuais contratadas passaram a ser renovados por períodos mais curtos e com cláusulas de rescisão "imotivada", para que pudessem ser substituídas pelas vencedoras da concorrência em curso.

Segundo Luiz Antônio Vargas, gerente de publicidade e promoções da estatal, a última renovação foi feita em março, com vigência até 30 de agosto. Ele disse que se este prazo se aproximar sem uma definição do processo, a última prorrogação, até 30 de novembro, será feita. Não há data limite para a renovação. O executivo da Petrobras estima em cerca de dois meses o prazo necessário para fazer a concorrência e assinar novos contratos a partir da solução do impasse legal.

O problema começou quando, em atenção a uma manifestação da Associação Brasileira das Agências de Propaganda (Abap) e do Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp), a empresa retirou do edital a palavra "bonificação" de uma cláusula na qual a Petrobras exigia o repasse pelas agências de parte das vantagens que elas recebessem dos clientes especificamente relacionadas com a conta. Uma parte do mercado entendeu que a estatal queria parte do chamado "bônus de volume" (BV), negociado entre agências e clientes pela quantidade total de anúncios, de todos os clientes, feitos ao longo de um período.

Em fevereiro, o TCU acabou suspendendo a licitação por entender, não só que a empresa deveria cobrar uma parcela do BV, como também que, para viabilizar essa cobrança, deveria ter sempre uma pessoa participando diretamente das negociações entre as agências e os veículos. A Petrobras entende que o cumprimento dessas exigências é inexeqüível.

Na segunda quinzena de abril foi publicado um acórdão do TCU determinando que a Petrobras fizesse as modificações exigidas. A estatal então recorreu da decisão e está aguardando o julgamento do recurso. O gerente de publicidade da empresa afirma que não há nenhuma intenção de cancelar a atual concorrência.


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Novos tempos de estabilidade

A queda do dólar põe alimentos novos na mesa do brasileiro. Produtos como azeite, presunto e manteiga são alguns dos que ficaram mais acessíveis graças à desvalorização da moeda americana.

O cardápio do brasileiro mudou. Produtos, que antes eram considerados de luxo, agora entram na lista de compras do supermercado. Há mais variedade e qualidade na mesa do consumidor brasileiro. A explicação é simples: os preços caíram – efeito da queda do dólar.

Produtos como azeite, presunto e manteiga são alguns dos que ficaram mais acessíveis graças à queda do dólar. A desvalorização da moeda americana também teve influência na inflação. Nos últimos doze meses, o reajuste no preço dos alimentos ficou abaixo dos 2%.Uma boa maneira de economizar no supermercado é prestar atenção nas promoções ou comprar produtos no melhor momento: frutas da época, legumes da estação e, agora, alimentos com preços menores por causa do dólar.

Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra como os preços de alguns produtos que sofrem influência da taxa de câmbio caíram de maio de 2006 a abril de 2007. O açúcar, cotado no mercado internacional, ficou 16,76% mais barato. A carne de porco, exportada pelo Brasil, caiu 3,23%.

Os preços do macarrão (2,72%) e das massas prontas (2,87%), que têm como base o trigo importado, estão quase 3% menores. O óleo de oliva importado caiu quase na mesma proporção (2,64%), seguido do presunto, praticamente 2,5% mais em conta. No mesmo período, o preço da manteiga caiu 1%.

De acordo com a pesquisa, os produtos que não têm relação direta com a taxa de câmbio tiveram aumentos mais suaves. “Eles regulam bastante de um mês para o outro”, diz uma senhora. “A gente acaba comprando mais quando os preços não sobem”, comenta um senhor.

O que o consumidor vê no supermercado está expresso nos índices de preço. Em doze meses, a alta no preço dos alimentos foi de 1,8%, abaixo da inflação no período, que foi de 2,8% no Brasil.

Já nos Estados Unidos, os alimentos estão pressionando os índices de preço. Lá, eles subiram 3,7%, mais do que a inflação do período, que foi de 2,5%. Na Inglaterra, os alimentos aumentaram 6%, mais do que o dobro da inflação: 2,8%.

“Toda vez que você tem uma diminuição da taxa de inflação, isso melhora o poder aquisitivo. O poder de compra deste salário tende a aumentar. Isso é uma coisa que a gente já tem verificado, e parte disso tem a ver exatamente com esta valorização cambial”, explica o economista da FGV, Salomão Quadros.

Em um ano, a desvalorização do dólar no Brasil é de quase 18%. A moeda americana está cotada no menor valor desde novembro de 2000: cerca de R$ 1,90.
 

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