terça-feira, 22 de abril de 2008

Cerimônia com clima eleitoral em Minas


A festa de 21 de abril, Dia de Tiradentes, na cidade histórica de Ouro Preto (MG), tornou-se palco para a defesa da candidatura de um político mineiro nas eleições presidenciais de 2010. Não se falou em nomes, mas ninguém ignorou a referência ao governador Aécio Neves (PSDB), pré-candidato e principal estrela da cerimônia. E quem puxou o coro a favor da candidatura mineira foi o vice-presidente José Alencar. Ele disse que os brasileiros têm saudade de ter um mineiro no Palácio do Planalto. Lembrou que desde Juscelino Kubitschek, não há um presidente eleito que seja mineiro, já que Itamar Franco assumiu com o impeachment de Fernando Collor.

O vice emendou o discurso falando da liderança do governador Aécio Neves (PSDB), cotado para disputar o cargo. Mas, apesar do clima eleitoral na praça Tiradentes, que tinha faixas de apoio e bandeiras do PSDB, o tucano negou ter colocado para o partido sua disposição de disputar à Presidência.

“Quando participamos dessa festa, vem-nos inevitavelmente o sentimento da saudade que impregna o coração de todos nós, nascidos em Minas Gerais. Saudades dos tempos em que Minas conduzia os destinos da pátria”, afirmou Alencar. O vice disse ainda que os mineiros precisam se unir em torno de uma candidatura que represente o estado. No entanto, voltou a afirmar que acredita que o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja um desejo dos brasileiros.

Apesar do discurso do vice-presidente, Aécio disse que sua candidatura ainda não foi colocada, como anunciou o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). De acordo com o dirigente tucano, o mineiro teria evidenciado a ele sua intenção de disputar a presidência. Aécio desconversa. “Eu tenho dito sempre que Minas vai estar presente na sucessão, pode ter candidato ou pode não ter candidato e participar do processo. Eu acho apenas que é muito difícil que se construa um projeto de Brasil, na dimensão do que o Brasil precisa, sem que Minas tenha uma presença e uma palavra de muito vigor.”

Aliança
Segundo Aécio, a fala de Alencar mostra que os mineiros podem construir caminhos comuns. As articulações com vistas ao pleito de 2010 também ficaram evidentes na lista de agraciados que, incluía representantes de vários partidos políticos. O PCdoB, por exemplo, esteve representado pelos deputados federais Aldo Rebelo e Manuela D’Avila. Militantes do partido comunista estenderam faixas na praça, disputando espaço com as bandeiras tucanas. Quatro ministros do governo Lula foram agraciados com a comenda, mas apenas Sérgio Machado Resende, da Ciência e Tecnologia, compareceu a cerimônia.

Deputados, senadores, empresários e artistas incluíam a lista de 254 homenageados. O presidente do PMDB, Michel Temer, que estaria “assediando” o governador para retornar ao partido para concorrer à presidência em 2010, também foi agraciado com a medalha. Mas, alegou que está só conversando com o Aécio e que seria indelicado tanto da parte do partido em fazer um convite, quanto do governador em aceitar. Em compensação, Temer confirmou que as conversas entres os dois estão se intensificando.

A tradicional celebração da Inconfidência Mineira deixou o público de fora esse ano. O esquema de segurança montado, principalmente por conta da presença do presidente em exercício José Alencar, fez muita gente desistir de acompanhar a festa de perto. Manifestantes reclamaram que não puderam chegar na praça central com faixas de protesto. Alguns grupos distribuíram folhetos que criticavam o atual governo nas ruas paralelas à praça.

Análise sobre a estratégia de Aécio Neves no Blog do Krieger

Articulação municipal
A entrega das medalhas da Inconfidência ontem, em Ouro Preto, mostrou que, apesar das divergências com os partidos aliados, o governador Aécio Neves (PSDB) ainda pretende atrair PMDB e o PRB, do vice-presidente José Alencar, para a aliança com o PT na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, nas eleições de outubro. Além de conversar com os líderes peemedebistas agraciados com a comenda, o governador aproveitou a cerimônia para fazer vários afagos a Alencar (presidente em exercício, já que Lula continua na África) e mandar um recado aos críticos da dobradinha. “Os mineiros sempre souberam que existem questões maiores, em torno das quais diferenças menores devem ser postas momentaneamente de lado”, afirmou.

Dirigindo-se a Alencar, a quem se referiu como “excelência em tudo que faz”, Aécio afirmou que a construção da história de Minas mostra ser preciso ter “generosidade, desprendimento e coragem” para projetos maiores. O vice foi um dos que reclamaram com Lula, por ter sido excluído das conversas sobre a aliança que poderá reunir tucanos e petistas na capital. “Sabe o ilustre conterrâneo que, em Minas, não confundimos coragem com temeridade nem fechamos os olhos às virtudes daqueles que eventualmente podem estar em trincheiras políticas opostas às nossas”, afirmou o governador.

Depois da confirmação, sábado, do nome do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Márcio Lacerda, como candidato do PSB à prefeitura, o trabalho de incluir o PMDB, que reivindicava a cabeça de chapa, fica mais complicado. Aécio voltou a tratar do assunto com os presidentes estadual do partido, Fernando Diniz, e nacional, Michel Temer, e o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e ficou otimista. Para ele, a aliança está avançando: “Eu acho que as coisas caminham muito bem para que essa aliança seja ainda mais ampla”. O governador voltou a dizer, no entanto, que aqueles que quiserem se somar ao processo terão que ter desprendimento.

Depois do encontro, Temer afirmou que, antes de decidir sobre a participação na aliança, os peemedebistas mineiros precisarão resolver seus problemas internos. A bancada estadual do partido rompeu com as negociações sobre a dobradinha e avisou que, independentemente das conversas, pretende levar a candidatura própria, representada pelo deputado estadual Sávio Souza Cruz, à convenção.

O presidente do PT em Minas Gerais, deputado federal Reginaldo Lopes, admitiu que o fato de o PSDB querer participar formalmente da chapa pode ser mais um entrave nas negociações internas. Até então, o posicionamento da direção estadual foi de que a aliança era com o PSB.

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