Tomo o título emprestado do ótimo Cinema, aspirinas e urubus (Brasil, 2005), de Marcelo Gomes, como recurso para atrair sua atenção ao que escrevo. É esse o desafio diário do jornalista. Além do dever de informar, ele precisa cativar o cidadão que lê jornal, assiste à tevê, navega na internet. Senão, o trabalho perde o sentido. E ele perde o emprego.
O preâmbulo é uma tentativa de entender por que, muitas vezes, o jornalista sucumbe à mídia de espetáculo. Como ocorre agora no caso do assassinato de Isabella. O fato: a menina, que na sexta-feira passada completaria 6 anos, foi jogada do 6º andar de um prédio de classe média alta em São Paulo em 29 de março.
Logo a seguir, o pai e a madrasta de Isabella foram apontados pela polícia como principais suspeitos. Nada mais natural que a onda de indignação e as cobranças por justiça que se seguiram ao crime. Até aí, tudo bem. O que não está certo é o circo em que veículos de comunicação transformaram a tragédia, alimentando a sede de vingança de uma multidão que, antes mesmo de qualquer prova, já havia condenado o casal pelo crime.
Fica claro, no episódio, que aprendemos pouco com o caso Escola Base. Em março de 1994, em São Paulo, a mídia noticiou que donos da escola infantil e colaboradores abusaram sexualmente de alunos. Veio o circo. Uma multidão indignada invadiu e depredou o colégio. A reputação e a vida dos acusados foram arruinadas.
Vale destacar que a maior parte das informações que levaram à execração pública dos proprietários da Escola Base foi fornecida pela polícia. Mais tarde provou-se que tudo era mentira. Mas, aí, já era muito tarde. Como deve agir o jornalista numa cobertura como essa? Uma coisa é certa: não pode cercear o direito do cidadão à informação nem atropelar a ética. O desafio de atrair o leitor são outros quinhentos